Posts vendem ilusão de que o governo atapeta o país a toque de caixa
A Folha mostrou que o investimento federal em rodovias está no menor nível desde 2014, e isso causou especial irritação em Brasília.
O governo valeu-se da hashtag #MaisComMenos para responder. “Dizer que há menos para investir é algo óbvio, herdamos um país quebrado”, afirmou o ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura. “O que não é lógico é associar isso como demérito do governo. Tivemos que fazer muito com pouco.”
Uma ilha de ponderação na Esplanada, o ministro ganhou lugar cativo nas redes presidenciais. Entre seus méritos, está o de ter atraído para as rodovias uma atenção que havia muito não recebiam.
Mas seus posts vendem a ilusão de que o governo atapeta o país a toque de caixa e que o Exército é capaz de resolver problema desse tamanho e urgência —dimensionados pelos 75 mortos no feriado da República, número maior do que no ano passado.
Tome-se a BR-163, uma das preferidas de Tarcísio. Ele fala muito do trecho paraense, finalmente pavimentado. Uma voltinha mais ao sul, porém, ajuda a lembrar que a empresa que assumiu o trecho de MT no governo Dilma até hoje não entregou a duplicação prometida, e vai ficando tudo por isso mesmo.
O ministro gosta de pensar grande. “Se fizermos um diagrama e colocarmos em um círculo todos os países com área maior que 5 milhões de km², em outro todos com mais de 200 milhões de habitantes e um terceiro com [os de] PIB acima de US$ 1 trilhão, você só vai encontrar na interseção 3 países: EUA, China e Brasil. A nossa vocação é ser grande”, diz ele. Na China há um ditado: “Quer ficar rico? Primeiro construa estradas”. Nesta década, os chineses dobraram sua extensão de autopistas.
Por aqui, há pouco dinheiro para investimento público. A malha rodoviária federal soma 76 mil km, só 13% deles são administrados pela iniciativa privada, e o governo Bolsonaro até agora concedeu apenas 437 km. O feed das redes rola mais suave do que o fluxo nas pistas reais.
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