Após governar por três mandatos, Geraldo Alckmin é um ilustre desconhecido fora de SP
Se nos basearmos na experiência dos últimos governos, parece evidente que a projeção do Brasil no mundo fica favorecida com um presidente com trânsito nas instâncias internacionais. Foi o caso com FHC, apreciado pelas elites do atlântico norte, e Lula, respeitado no sul global.
Dilma Rousseff evitava as sonolentas cimeiras internacionais, enquanto Michel Temer consegue ser ainda mais impopular nos círculos diplomáticos. Ele legará ao próximo presidente um Brasil profundamente desprestigiado.
Nesse contexto, as sólidas credenciais internacionais dos candidatos e prováveis candidatos do arco republicano são uma boa notícia. Guilherme Boulos é uma referência incontornável para a esquerda da península ibérica. Fernando Haddad tem boas relações com o atual presidente argentino, Mauricio Macri, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg. Marina Silva conta com o apoio de influentes ONGs internacionais. Por fim, Ciro Gomes estudou em Harvard e tem entre seus assessores um dos intelectuais brasileiros mais conceituados no exterior, Mangabeira Unger.
But what about Geraldo? O governador de São Paulo parece muito mais confiante numa reunião do Sindicato Rural de Ribeirão Preto do que numa reunião do G20 em Hamburgo. Uma qualidade inegável para um candidato em campanha, sobretudo no Brasil, onde as relações internacionais estão longe de ser uma pauta eleitoral.
Porém, se for eleito presidente, ele terá de saber se mostrar ao mundo para reconquistar a confiança dos investidores internacionais. E, feito notável, após governar por três mandatos uma potência econômica da América Latina, ele continua sendo um ilustre desconhecido fora de São Paulo.
A indicação da senadora Ana Amélia para vice revela que, para os estrategistas de Alckmin, a credibilidade internacional constitui um não problema. Em abril deste ano, a senadora gaúcha inventou uma comparação entre a A Jazeera e o "exército islâmico". Ela não é a primeira política brasileira a ridicularizar-se ao abordar assuntos internacionais.
Só no último ano, Temer chamou os russos de soviéticos, e Dória tratou uma selfie com Emmanuel Macron como uma reunião bilateral. O ridículo não mata, como diz o ditado, mas poderia ter deflagrado um incidente diplomático no caso da senadora.
A Al Jazeera é propriedade do governo do Catar, um importante aliado ocidental na luta contra o terrorismo global. No mais, a comparação deixa a entender que, para a senadora, todos os árabes são terroristas em potencial. Um antecedente inconveniente para uma vice-presidente.
Sabemos que a percepção de um país pode mudar subitamente. Os EUA perderam todo o capital de simpatia conquistado por Barack Obama com alguns tuítes de Donald Trump. A França, conhecida pela sua aversão ao livre mercado, tornou-se a capital mundial da inovação tecnóloga sob a liderança de Macron.
Para acelerar a economia, o próximo presidente terá de batalhar para mudar a imagem do Brasil. Para tanto, o anestesista de Pindamonhangaba terá de sair da sua zona de conforto.
Mathias Alencastro
Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento e doutor em ciência política pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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