segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Clube da Esquina, morre aos 73 anos em Belo Horizonte, g1

 Por g1 Minas — Belo Horizonte

 

Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, morre aos 73 anos

Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, morre aos 73 anos

Morreu, aos 73 anos, em Belo Horizonte, o cantor e compositor Lô Borges, um dos nomes mais importantes da música brasileira. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (3), pela família do artista.

Lô Borges estava internado na Unidade Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro. Ele foi hospitalizado devido a uma intoxicação por medicamentos e precisou de ventilação mecânica. No dia 25 de outubro, passou por uma traqueostomia.

Em parceria com Milton Nascimento, Lô foi um dos fundadores do Clube da Esquina.

O mineiro coleciona sucessos atemporais como "Um girassol da cor do seu cabelo", "O trem azul" e "Paisagem da Janela" (leia mais abaixo).

Lô Borges — Foto: Flávio Charchar

Lô Borges — Foto: Flávio Charchar

Vida e obra

Sexto filho de uma família de 11 irmãos, Salomão Borges Filho nasceu no bairro Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, e se mudou ainda criança para o Centro da cidade, durante uma obra na casa em que vivia. A mudança temporária transformou, para sempre, a vida de Lô e a música brasileira.

Aos 10 anos, nas escadas do Edifício Levy, na Avenida Amazonas, ele conheceu o vizinho Milton Nascimento.

"Sentei na escadaria, dei de cara com um carinha tocando violão, era o Bituca. Eu tinha 10 (anos), e ele tinha 20. [...] Fiquei vendo o Bituca tocando violão, e ele assim comigo: 'Você gosta de música, né, menino?'", contou Lô Borges em entrevista ao programa Conversa com Bial, em 2023.

A moradia no centro ainda rendeu outro encontro.

"Dois meses depois, ao acaso também, andando pelas ruas do Centro de BH, eu conheci o Beto Guedes, que também tinha 10 anos, andando numa patinete. Eu fiquei encantado pela patinete, abordei o cara, o cara era Beto Guedes", disse.

Clube da Esquina

A família Borges voltou a morar no Santa Tereza, e Lô, já mais velho, seguiu os passos dos irmãos e tomou gosto pela música nas ruas do bairro boêmio.

Milton Nascimento, que já não era mais vizinho, continuava frequentando a casa da família Borges.

"Tocou a campainha lá na casa da minha mãe, era o Milton Nascimento falando: 'Cadê o Lô?'. 'Ah, o Lô tá na esquina, num lugar que eles chamam de 'clube da esquina', ele está lá'. Aí o Bituca veio com o violãozinho dele, comecei a mostrar a harmonia que eu estava fazendo, era uma harmonia do Clube da Esquina, ele começou a fazer a melodia, e aí a gente fez a parceria Clube da Esquina. E na época ele já era famoso, eu era anônimo", contou Lô Borges.

E foi nas esquinas das ruas Divinópolis com Paraisópolis que músicas conhecidas mundo afora foram escritas. O Clube da Esquina se transformou em movimento musical e, em 1972, virou o nome do disco que foi considerado, mais de 50 anos depois, o maior álbum brasileiro de todos os tempos.

O disco também foi eleito o nono melhor de todos os tempos de todo o mundo no ranking da revista norte-americana "Paste Magazine", que listou 300 discos icônicos da história da música mundial.

No mesmo ano em que assinou o álbum Clube da Esquina, Lô Borges gravou e lançou o primeiro disco solo, o Disco do Tênis.

Pausa e retomada

O sucesso repentino fez com que Lô Borges desse um tempo dos palcos. O artista viveu um período em Arembepe, na Bahia.

"Eu estava vivendo a minha vida, tocando violão, eu não parei de compor, as canções foram se avolumando na minha vida, aí eu voltei em 78, com muito mais maturidade e fiz um álbum que eu considero um dos melhores álbuns que eu já gravei, que já compus, que é o Via Láctea".

Em 1984, Lô Borges fez sua primeira turnê por todo o Brasil com o disco Sonho Real. Na década de 1990, uma parceria com Samuel Rosa, na música "Dois Rios", trouxe Lô de volta aos holofotes.

Desde 2019, o artista mantinha a tradição de lançar um álbum de músicas inéditas por ano. O último foi Céu de Giz, em agosto de 2025, uma parceria com Zeca Baleiro.

Castro faz campanha junto a governoTrump para transformar Comando Vermelho em terrorista, Malu Gaspar - O Globo

 O governador Cláudio Castro está há pelo menos seis meses em campanha junto à gestão de Donald Trump para que os Estados Unidos declarem o Comando Vermelho organização narcoterrorista e apliquem às facções criminosas as sanções previstas para esse tipo de organização. Entre os cartéis de droga considerados terroristas pelo governo americano estão o venezuelano Tren de Aragua e o mexicano Los Zetas.


O governo Lula , porém, se opõe a essa classificação, porque teme que abra espaço não só para algum tipo de sanção contra empresas e bancos ou mesmo contra a União - como ocorre com o Irã , caso os EUA considerem por exemplo que o país não tem feito o suficiente para coibir o crime organizado. A mudança também poderia dar justificativa a uma ação mais invasiva dos EUA sobre o território brasileiro a pretexto de combater o narcoterrorismo, como vem ocorrendo com a Venezuela .

Castro e outros governadores de direita, porém, pretendem insistir no pleito, agora visando a aprovação de uma emenda no projeto de lei antifacção que o Palácio do Planalto está enviando ao Congresso.

No início de 2025, o governo do Rio entregou à embaixada dos Estados Unidos no Brasil um relatório em que lista o que seriam os benefícios da mudança de classificação. No documento confidencial obtido pela equipe da coluna, intitulado "Análise Estratégica: Inclusão do Comando Vermelho nas listas de sanções e designações dos EUA", a gestão Castro argumenta que "a crescente sofisticação, transnacionalidade e brutalidade do Comando Vermelho colocam esta organização dentro dos critérios estabelecidos pelas autoridades dos EUA para sanções econômicas, designações terroristas e bloqueio de ativos", conforme exigido pelo marco legal do país.

O relatório afirma ainda que a designação como organização terrorista "facilitaria pedidos de extradição de chefes do CV refugiados em países como Paraguai e Polícia", "abriria caminho para parcerias com Interpol, DEA, FBI e ONU no combate às redes de trafico e armamento pesado e "ampliaria o alcance de sanções para empresas de fachada e aliados econômicos do CV no exterior".

Esse último ponto é especialmente sensível aos integrantes do governo Lula envolvidos no debate. Para esses auxiliares do presidente, as sanções poderiam levar, por exemplo, à retirada de algum banco brasileiro do sistema swift de pagamentos globais caso os EUA definam que algum correntista faz parte ou está relacionado ao Comando Vermelho mesmo que não haja provas suficientes. "Seria uma tremenda irresponsabilidade", diz um auxiliar de Lula.

O exemplo sempre citado é a inclusão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes entre os alvos da Lei Magnitsky por supostas violações aos direitos humanos nas condenações de Jair Bolsonaro e os condenados pelos ataques de 8 de janeiro às sedes dos Tres Poderes em Brasília .

Como publicamos no blog em maio, o assessor do Departamento de Estado dos EUA David Gamble esteve no Brasil para discutir "organizações criminosas transnacionais e programas de sanções dos EUA voltados ao combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas".

No entanto, nenhum representante da Polícia Federal aceitou se encontrar com ele. A proposta é defendida por alas do Ministério Público de São Paulo , entre os quais a figura mais conhecida é o promotor Lincoln Gakiya, integrante do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP e jurado de morte do PCC.

Dias depois da visita de Gamble ao Brasil, Castro ainda esteve no escritório de Nova York da Drug Enforcement Administration (DEA), a divisão de combate às drogas do governo americano, para tentar fechar um acordo de cooperação com o governo estadual.

Hoje, porém, qualquer intercâmbio de informações ou equipamentos da DEA com o Brasil precisa passar pela Polícia Federal, que é o representante da União para a discussão internacional sobre o crime organizado.

A megaoperação da semana passada sobre os complexos do Alemão e da Penha e a chegada do projeto de lei anti facção ao Congresso deram novo fôlego aos defensores da nova classificação, que vão trabalhar para colocar essa proposta no centro do debate.

domingo, 2 de novembro de 2025

No mundo que comanda o País, retórica malandra de Oruam ganha do grito desesperado de Dona Joelma, Fernando Schuler, OESP

 

Atualização: 

“Foi um fracasso, um horror inominável”, disse a ministra Macaé Evaristo, sobre a operação no Rio de Janeiro. A ministra acertou na palavra, mas errou no alvo. O fracasso não é da operação. É do país inteiro. Se 130 pessoas perdem a vida em uma operação policial, há muito já nos convertemos em um fracasso. O drama carioca nos ensina algumas coisas. O crime se instala onde o Estado é frágil. Enquanto o caos se instala no Rio de Janeiro, lemos que São Paulo vem registrando o menor índice de homicídios e latrocínios dos últimos 25 anos. A esquerda não vai gostar da notícia pois é o outro lado que está no governo. E é aí que vive nosso problema. Jogamos pela janela o aprendizado sobre o que funciona, porque nossa prioridade é o proselitismo político.

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Outra coisa que sabemos: o Estado não pode abrir mão do controle territorial. Estudo recente mostrou que perto de um quarto de nossa população vive em áreas com forte controle do crime. Andamos no topo da América Latina, neste quesito. Foi exatamente o que assistimos. As favelas, no Rio, funcionam como uma espécie de estado de natureza, e não é por acaso que as pesquisas mostram um forte apoio de seus moradores à operação. Na base da sociedade, há um desejo de ordem. No mundo idealizado de certa elite ainda vigora uma irresponsável glamourização da violência. O tipo que mora em Ipanema, termina a noite do Sushi Leblon e pede, entre uma e outra taça, a “desmilitarização das PMs”. Uma glamourização do universo marginal que vem do fundo da nossa cultura. Da fronteira tênue entre o malandro, o herói e o bandido. Do “seja marginal, seja herói”, na obra de Hélio Oiticica sobre o bandido Cara de Cavalo. No fundo, o desvio ético consentido. Da violência que, de longe, não soa assim tão violenta. Da vida das pessoas que é um inferno, no mundo real, mas que por vezes serve como destino exótico, em um domingo de verão.

Sua prima-irmã é a filosofia Oruam. “Meu pai é reflexo da sociedade”, diz ele, falando do Marcinho VP, do Comando Vermelho, e um dos criminosos mais perigosos do Brasil. A frase vale para qualquer coisa. Mas, usada para justificar o crime e nossa inércia com a violência, se converte na armadilha perfeita. Sua negação veio da Joelma, a mãe do Artur, traficante jovem que teve a sorte de ser preso, na operação. “Você não é vítima da sociedade! É vítima de suas escolhas!”, gritou ela para o filho, cabisbaixo, no canto de uma delegacia. Do jeito que só uma mãe sabe dizer, ela dizia que acreditava nele, que a pobreza não produzia o crime, que havia um espaço para a escolha e a responsabilidade individual.

É o mesmo que penso sobre o Brasil. Vítima de suas próprias escolhas. Se o crime tomou conta da favela, é porque fomos escorregando, por conta própria, como o Artur. E não por falta de aviso. O ponto é que no mundo que comanda o País, a retórica malandra de Oruam ganha fácil do grito desesperado de Dona Joelma. E isto não deveria ser assim.