sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Diretor do BNDES rebate Janaína Paschoal e nega apoio a investimento da JBS, FSP

 

Brasília

O diretor de Planejamento e Relações Institucionais do BNDESNelson Barbosa, negou nesta sexta-feira (22) haver financiamento do banco de fomento em investimento anunciado pela JBS na Nigéria, em resposta a uma postagem feita pela ex-deputada estadual Janaína Paschoal.

Entrada da fábrica da JBS em Rolândia, norte do Paraná
Fábrica da JBS em Rolândia, norte do Paraná: empresa anunciou investimentos na Nigéria - JBS/Bruno Franco

Em uma rede social, Janaina, que se elegeu vereadora por São Paulo, questionou a origem dos recursos do investimento de US$ 2,5 bilhões anunciado na Nigéria.

JBS assinou acordo que prevê o desenvolvimento de um plano de investimento de cinco anos que inclui a construção de seis fábricas na Nigéria, sendo três de aves, duas de bovinos e uma de suínos.

"Eu só quero saber uma coisa: esse novo investimento na Nigéria tem dinheiro do povo brasileiro envolvido? Há financiamento do BNDES, do BB [Banco do Brasil], como havia na época de Dilma [Rousseff]?", perguntou Janaina.

"Algum senador/deputado federal pode, por favor, solicitar esses detalhes? Agentes privados podem investir onde quiserem, mas se houver dinheiro público, seja por financiamento, seja por isenção, é assunto nosso!"

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Barbosa negou haver dinheiro do banco nessa operação. "A iniciativa não conta com qualquer apoio do BNDES, que é a instituição mais transparente da República, tanto pelo TCU [Tribunal de Contas da União], quanto pela CGU [Controladoria-Geral da União]", afirmou. "Qualquer cidadão pode consultar o portal do banco e verificar as operações que apoiamos."

De acordo com dados do banco, entre 2003 e 2017 o grupo J&F havia recebido desembolsos do BNDES no valor total de R$ 17,6 bilhões (na época). Desse total, R$ 9,5 bilhões foram em empréstimos e R$ 8,1 bilhões de investimento em ações da JBS e da Bertin (que posteriormente passou a fazer parte do grupo).

Retirada das luminárias japonesas da rua dos Aflitos foi um pequeno passo, Douglas Nascimento ,FSP

 O noticiário sobre São Paulo nos últimos dias teve como um dos principais assuntos a remoção das luminárias japonesas de um pequeno beco do bairro paulistano da Liberdade, a chamada rua dos Aflitos.

A imagem mostra uma rua estreita em obras, com diversos equipamentos e obstruções. No lado esquerdo, há um mural colorido e lojas com portas fechadas. No centro da rua, há um carro estacionado e uma máquina de trabalho. Vários postes de luz e canos estão espalhados pelo chão, além de blocos de concreto. O céu está limpo e azul, e ao fundo, é possível ver um edifício com uma torre.
Luminárias japonesas são substituídas por outras de LED na rua dos Aflitos, na Liberdade (região central de São Paulo), a pedido do movimento negro e indígena - Ale Watanabe

Por aí muito se escreveu sobre o tema usando a palavra "polêmica" junto ao assunto, algo que não farei aqui pois não vejo polêmica alguma, mas a reparação de um apagamento histórico que finalmente começou a acontecer.

As luminárias japonesas do bairro da Liberdade foram instaladas na década de 1970 pela prefeitura paulistana e tiveram sua conclusão no ano de 1974. Foi o ato final de um gesto que unia a comunidade oriental do bairro, na época quase na totalidade de japoneses, com a prefeitura no objetivo de formar ali, meio que artificialmente, o bairro oriental da capital paulista, na esteira de copiar modismos estrangeiros que o brasileiro adora. Em plena ditadura militar, não consta que a comunidade negra foi ouvida à época sobre o que pensava a respeito.

Os anos e as décadas foram se passando e gerações cresceram. Entendo que o bairro da Liberdade era dos japoneses desde sempre. Eu mesmo, quando criança, visitava o bairro com meus pais e nunca sequer imaginei que a história daquele bairro era mais antiga, profunda e dolorosa do que eu conhecia. O apagamento da identidade negra, se intencional ou não, obteve grande êxito.

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A Capela dos Aflitos, no bairro paulistano da Liberdade, região central de São Paulo, em fotografia dos primeiros anos do século 20 - Divulgação

Nos últimos anos os movimentos de consciência negra e uma melhor compreensão das origens do bairro pelos paulistanos vem trazendo de volta uma história que parecia relegada ao esquecimento: as reais origens da Liberdade.

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Ainda que eu concorde e saliente a importância inegável da contribuição japonesa para o desenvolvimento e reconhecimento do bairro como uma das principais atrações turísticas e gastronômicas de São Paulo, é inegável que aqueles que ocuparam o bairro após 1912, data que a presença japonesa começou de fato por ali, pouco fizeram para preservar o legado dos primeiros habitantes da região.

Como pouco ou nada fizeram quando em 2018 o então governador de São Paulo, Márcio França (PSB), alterou através de decreto o nome da estação Liberdade do Metrô para Japão-Liberdade. Ideia alias que surgiu primeiro na Câmara Municipal paulistana em projeto de lei dos vereadores Ota e Milton Leite. Notem que o primeiro nome estação, o mais fácil de memorizar, ficou Japão e não Liberdade.

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As placas da antiga estação Liberdade, da linha 1- azul do metrô foram substituídas em 2018, a mudança foi decretada pelo governador Márcio França. - Marcelo Justo/Folhapress

Nos últimos anos esforços de coletivos negros e de paulistanos abnegados estão trazendo à tona a tão sofrida memória negra há tanto esquecida e fragmentada. A escultura da sambista Madrinha Eunice, o início da restauração da Capela dos Aflitos e a remoção das luminárias do beco são apenas os primeiros atos.

Agora é preciso urgentemente desfazer a grande injustiça que foi renomear a estação do Metrô, proibir a entrada de veículos na rua dos Aflitos e levar recursos da prefeitura à baixada do Glicério, região do bairro da Liberdade que nunca teve luminárias orientais e sempre foi esquecida pelo poder público. Outro ato importante é instalar uma placa do inventário Memória Paulistana na antiga sede do clube Paulistano da Glória.

Infelizmente existem duas Liberdades: a oriental sempre lembrada e a negra, sempre esquecida. É hora disso acabar de uma vez por todas, e o primeiro passo, ainda que pequeno, foi dado.

Haroldo Ceravolo Sereza - Contra a perda de leitores, a Lei Cortez precisa avançar, FSP

 

Haroldo Ceravolo Sereza

Editor da Alameda e diretor da Libre - Liga Brasileira de Editoras

Entre 2019 e 2024, o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitura recém-divulgada. O dado é grave e mostra a necessidade de o país repensar sua relação com o livro.

Um problema desse tamanho não se resolve com uma só medida, mas toda medida deve ser considerada. E há uma proposta muito avançada sobre o tema que o Senado analisa desde 2015. É a chamada Lei Cortez, ou Lei do Preço Comum do Livro.

Dados da pesquisa Retratos da Leitura - 2024
Número de leitores (em milhões) segundo a pesquisa Retratos da Leitura - 2024 - www.prolivro.org.br

No dia 11 de novembro, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) retirou um pedido que, na prática, interrompia a tramitação do projeto. Ele já fora aprovado nas comissões de Constituição e Justiça, de Assuntos Econômicos e de Educação do Senado, o que permitiria que chegasse à Câmara sem passar pelo plenário do Senado. No mesmo dia, no entanto, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) protocolou pedido semelhante ao feito por Moro, bloqueando o avanço da lei.

A lei mexe com uma pequena parcela do mercado editorial: os lançamentos, ou cerca de 6% dos títulos à venda no país. Por ela, livros mais recentes —até um ano depois da publicação— teriam descontos limitados a 10% do preço definido pelo editor.

Nesta Folha, lemos recentemente um editorial e um artigo de Hélio Schwartsman contra a medida. O argumento é que a medida obrigaria o leitor a pagar mais pelo livro. Essa é uma avaliação comum –e desmentida por variadas pesquisas empíricas.

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Mas como a limitação ao desconto pode não resultar em aumento de preços? Embora o texto da lei seja simples, seus resultados são "contraintuitivos" quando deixamos de olhar apenas para o livro recém-lançado e observamos o conjunto do mercado editorial, em que livros com dez anos ou até mais continuam a circular.

Dados da pesquisa Retratos da Leitura - 2024
Leitura de livros no Brasil (em 2024, nos meses de maio a julho) - www.prolivro.org.br

A proposta se inspira em leis adotadas na Alemanha, em Portugal e na Argentina e, sobretudo, na experiência francesa, onde existe desde 1981.

Os números mostram que os livros na França e na Alemanha são, hoje, comparativamente mais baratos que no Reino Unido, onde não há regra semelhante. O pesquisador Markus Gerlach, em 2021, apontou que entre 1996 e 2018 o preço de capa do livro aumentou 80% no Reino Unido, que não adota a lei, ante 24% na França e 29% na Alemanha.

Numa análise publicada em 2024 no Journal of Competition Law & Economics (Oxford) e encomendada pela Direção Geral para a Competição da Comissão Europeia, Rhys J. Williams avalia que, no longo prazo, os números não seriam tão evidentes, mas que, entre 2008 e 2019, países com políticas de limitação de descontos tiveram um crescimento de preços menor que os outros.

Dados da pesquisa Retratos da Leitura - 2024
Percentual de leitores no Brasil por região, segundo a pesquisa Retratos da Leitura - 2024 - www.prolivro.org.br

Por que isso ocorreria? A medida favorece a existência de pequenas livrarias, e com elas cresce a venda de livros, ampliando a competição. Uma hipótese não discutida por Williams, mas levantada por outros estudos, é que ao "reduzir" a disputa nos lançamentos, os livros mais antigos passam a circular mais, fortalecendo o mercado contra práticas de marketing improdutivo, dumping e tendências monopolizantes que geram ao fim preços mais altos.

Preço baixo não é, no entanto, a única necessidade do leitor. Ter uma livraria perto de casa pode ser a grande diferença entre a pessoa ler ou não ler, assim como ter acesso à bibliodiversidade –diferentes linhas de pensamento e projetos editoriais.

Lei Cortez não é uma lei anti-Amazon ou corporativista ou anticoncorrencial. Pelo contrário, é uma lei que corrigirá distorções que, ao fim e ao cabo, enfraquecem e podem mesmo aniquilar o mercado editorial hoje existente no Brasil.

Pensar na existência da livraria perto de casa como um direito, como é direito do cidadão ter acesso a um posto de saúde, a um café, a uma praça, é democratizar o livro e a leitura.

Por tudo isso, ousamos dizer: na prática, quem se opõe a essa lei com o argumento de que ela prejudica o consumidor de livros ataca o interesse dos leitores brasileiros que ainda restam.