terça-feira, 1 de outubro de 2024

Transição energética gera empregos, mas adaptação do mercado de trabalho global ainda é desafio, FT FSP

 

Rachel MillardRob Rose
Londres e Joanesburgo | Financial Times

Simon Quack seguiu os passos de seu pai, juntando-se à equipe da usina a carvão da RWE em Bergheim, na região da Renânia do Norte-Vestfália, que alimentou a economia alemã por décadas.

Mas, à medida que a potência industrial da Europa começa a abandonar o carvão, sua carreira tomou um caminho diferente. O jovem de 28 anos agora trabalha na crescente divisão de energias renováveis da RWE, ajudando a gerenciar aprendizes. "Eu queria não apenas falar sobre a mudança, mas ajudar a moldá-la", disse ele.

A mudança de carreira de Quack representa uma tendência do mercado de trabalho em todo o mundo, à medida que os países se afastam dos combustíveis fósseis e desenvolvem indústrias "verdes" na busca por emissões líquidas zero de carbono.

A imagem mostra trabalhadores instalando painéis solares em uma plataforma flutuante sobre a água. Quatro homens estão envolvidos na instalação, usando coletes refletivos e chapéus. Um dos trabalhadores está usando uma furadeira, enquanto outro ajusta um painel. Ao fundo, vê-se um lago e uma área verde.
Trabalhadores em uma fazenda de energia solar na Alemanha - Ralf Hirschberger - 29.ago.2024/AFP

Em números absolutos, o emprego nas novas indústrias verdes está crescendo. A Irena (Agência Internacional de Energia Renovável) contabiliza 13,7 milhões de empregos diretos e indiretos em energia renovável globalmente em 2022. A tendência foi impulsionada pela energia solar, que representou mais de um terço do total. Cerca de 41% dos empregos verdes estão na China, segundo a agência.

A Agência Internacional de Energia estima que 8 milhões de postos em energia limpa serão adicionados globalmente até 2030. Empregos em combustíveis fósseis devem cair em 2,5 milhões no mesmo período.

Embora isso represente um aumento líquido de 5,7 milhões, os trabalhadores enfrentam desafios. Um relatório da OCDE deste ano descobriu que, embora empregos altamente qualificados "impulsionados pelo verde", como engenheiros e negociadores de carbono, tendam a ser melhor remunerados do que aqueles em outros setores, o mesmo não é verdade para funções menos qualificadas, como reciclagem ou transporte de carga.

Também houve preocupações sobre o impacto nas comunidades quando o emprego mudou para locais alternativos. As indústrias verdes também são menos sindicalizadas.

Especialistas alertam que o impacto da transição no mercado de trabalho deve ser cuidadosamente gerido. "Temos que garantir que a política de mercado de trabalho para ajudar os diretamente afetados esteja no centro das estratégias de transição verde", disse Stefano Scarpetta, chefe da diretoria de emprego da OCDE.

O relatório anual Perspectivas de Emprego da OCDE, publicado no mês passado, estima que mais de 25% de todos os empregos nos países membros serão "fortemente afetados pelas políticas de emissões líquidas zero", tanto positiva quanto negativamente.

As projeções também sugerem que os empregos em indústrias de grandes emissões na UE (União Europeia), como fornecimento de energia derivada de combustíveis fósseis, mineração e manufatura intensiva em energia, cairão 14% até 2030. Embora representem uma parcela relativamente pequena, esses postos tendem a ser relativamente bem remunerados e sindicalizados.

A transição verde ocorre enquanto os trabalhadores também enfrentam outros desafios, como IA (inteligência artificial) e automação, que estão transformando práticas de trabalho e empregos de maneiras difíceis de prever.

Na província oriental de Mpumalanga, na África do Sul, o fechamento da usina a carvão de Komati em 2022 serviu como um teste decisivo para como um dos países mais dependentes do carvão do mundo poderia gerenciar a transição verde.

Com a ajuda de uma doação de US$ 2,2 milhões (R$ 12,2 mi) do Bezos Earth Fund, 250 funcionários da usina foram requalificados em soldagem, instalação de painéis solares, armazenamento de baterias e outras habilidades em tecnologias renováveis, com mais 400 certificações previstas até novembro.

Shoki Mbowane, que trabalhou na estação de energia de Komati como técnica e gerente de operações, disse que experimentou uma curva de aprendizado acentuada desde que começou o treinamento em armazenamento de baterias e tecnologias solares.

"Foi assustador no início porque eu não sabia nada", disse ela. "Alguns dos meus colegas optaram por se mudar para outras estações de energia em vez de se requalificarem. Acho que provavelmente estavam com medo. Estou feliz por ter feito essa escolha."

A África do Sul, que ainda obtém 85% de sua eletricidade do carvão, garantiu US$ 8,5 bilhões (R$ 47,3 bi) em 2021 de um grupo de países desenvolvidos, incluindo Reino Unido, Estados Unidos e França, como parte de um acordo histórico para financiar a transição climática.

Mas as mudanças enfrentaram oposição de sindicatos pró-carvão e políticos.

Gwede Mantashe, ministro de recursos minerais e petróleo da África do Sul e feroz defensor do carvão, disse que qualquer sugestão de que o carvão atingiu sua data de validade é "um mito". A África não deve ser "ditada" por outras nações, disse ele em uma conferência de petróleo e gás em 2022, alertando que, se a transição fosse mal implementada, correria o risco de criar "cidades fantasmas".

"O governo foi pressionado pelo Banco Mundial a fechar usinas de energia", disse Bizzah Motubatse, presidente da filial do Sindicato Nacional dos Mineiros perto de Komati, ao Financial Times.

Nos EUA, enquanto isso, defensores dos trabalhadores dizem que estão encorajados pelos incentivos na Lei de Redução da Inflação de Joe Biden. O pacote de US$ 369 bilhões (R$ 2 tri) subsidia empregadores para criar empregos verdes em comunidades onde a mineração de carvão está em declínio e pagar salários em níveis prevalecentes entre trabalhadores de indústrias semelhantes.

O salário dos mineiros de carvão dos EUA é 50% acima da média salarial, segundo a Associação Nacional de Mineração.

No entanto, alguns esquemas não conseguiram decolar, desapontando comunidades que esperavam um aumento no emprego. "Os empregos são muito necessários na minha cidade", disse Gary Stevenson, ex-prefeito de Paulsboro, em Nova Jersey, onde a desenvolvedora dinamarquesa de energia eólica offshore Ørsted cancelou dois projetos próximos no ano passado.

"Trabalhei com combustíveis fósseis toda a minha vida", acrescentou Stevenson, a quarta geração de sua família a trabalhar na refinaria de petróleo de Paulsboro, que cortou postos, mas continua sendo um grande empregador. "Sou um grande defensor dos combustíveis fósseis, mas temos que seguir em frente."

Líderes sindicais também têm preocupações sobre a representação dos trabalhadores. "Estamos preocupados que esta economia de baixo carbono seja uma indústria com baixa base sindical", disse Kan Matsuzaki, secretário-geral adjunto da IndustriALL Global Union. "Muitas novas empresas começaram a dominar este mercado —nem sempre temos uma base sindical suficiente para negociar."

Com os países se preparando para a próxima cúpula climática anual da ONU em novembro, os apoiadores da transição esperam que eles coloquem compromissos em torno de empregos verdes, como treinamento da força de trabalho, em planos de ação climática.

Quack, da RWE, disse que os trabalhadores não devem temer a transição. "Eles serão necessários", disse ele, acrescentando: "A vista é incrível do topo de uma turbina. É algo realmente especial."

Pela primeira vez o mundo precisa de fato da América Latina, diz presidente do BID, FSP

 

São Paulo

O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Ilan Goldfajn, afirmou nesta quarta-feira (18) que, pela primeira vez, o mundo precisa realmente da América Latina e do Caribe.

Durante seminário sobre economia promovido pelo grupo Lide, Goldfajn comentou sobre os desafios que o Brasil e países vizinhos enfrentam na comparação com economias desenvolvidas. Segundo ele, agora essa interação também apresenta oportunidades.

"A relação tem sido assimétrica. A América Latina precisa de investimentos, de financiamento, de que as empresas venham para cá", disse. "Desta vez o mundo também precisa da América Latina. Em que sentido? Primeiro da transição energética. Toda a necessidade de energia limpa não vai surgir sem a América Latina. Os minerais estão aqui, e a capacidade de gerar energia limpa precisa dos grandes países da região", acrescentou.

Ilan Goldfajn, presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), conversa com jornalistas durante encontro de líderes financeiros do G20, no Rio de Janeiro - Tita Barros - 26.jul.2024/Reuters

Participando do evento por videoconferência, Goldfajn também destacou o potencial da região em entregar soluções para a pobreza e a fome no mundo, visto que parte relevante da produção de alimentos está em países latino-americanos.

Segundo ele, o mundo está muito fragmentado, e a América Latina não parece tão mal. Além de ser mais democrática do que outras regiões, com menos conflitos e guerras, há também uma conjuntura de estabilidade que não era comum no passado recente.

"Não temos mais tanto problema hiperinflacionário. Então, a percepção é de uma região em que você pode ter as cadeias de crescimento", disse, acrescentando a posição estratégica do Brasil na agenda da transição climática.

"Agora, ter oportunidade não significa que ela vai ser aproveitada. Nós já perdemos muitas", afirmou.

Para o presidente do BID, é fundamental trabalhar questões jurídicas e de segurança pública, problema que está afetando os investimentos na região, inclusive na amazônia.

"O cenário que temos hoje é muito desafiador, mas também é um cenário promissor para o Brasil. Vejo muito ruído, muita discussão de curto prazo, mas temos que mudar o canal", acrescentou.

A arte de prosperar, ficar rico e ser feliz, Ruy Castro, FSP

 Neste momento, há 101 influenciadores sendo investigados pela polícia no país. Alguma coisa a ver, talvez, com a biografia deles?

Pablo Marçal, 37 anos, chegado a cadeiradas por motivo justo, integrava em jovem uma quadrilha que desviava dinheiro de bancos. Depois, foi guia turístico em excursões de risco sem as devidas precauções, idealizador do imaginário kit gay e criador de um banco fantasma que aceitava depósitos. Até que se tornou coach digital e autor de livros como "A Arte de Prosperar", doutrinando seus seguidores a serem ricos e felizes. Para dar o exemplo, ele próprio prosperou, ficou rico e feliz. Hoje tem 29 empresas, um patrimônio de R$ 193 milhões e é ex-futuro prefeito de São Paulo.

Deolane Bezerra, 34, também deu duro para se realizar —quase três anos. Foi o tempo que levou para angariar 20 milhões de seguidores, conquistados um a um com vídeos sobre suas joias, roupas, festas, viagens e 12 mansões, fruto, segundo ela, de "lances ousados" em sites de apostas. "Sou viciada em vencer", explicou. É o segredo para quem quiser chegar aos píncaros como ela: apostar e vencer, vencer sempre. Deolane está atualmente atrás das grades, por suspeita de promover jogos ilegais e lavagem de dinheiro.

E o juiz Marcelo Bretas, 53, bolsonarista, evangélico e bombado (postou fotos recentes de seus músculos ao espelho), famoso por condenar o ex-governador do Rio Sergio Cabral a 500 anos, também vai bem. É professor de cursos de "impulsão profissional", em que ensina os alunos a "despertar a excelência contida em cada um" e "conquistar autoridade, respeito e influência". E nem precisam sair de casa —basta pagar R$ 2.700 por suas 25 aulas online. Está afastado do cargo de juiz, respondendo a processos por irregularidades no exercício da profissão.

Marçal, Deolane e Bretas são as estrelas da atividade que mais cresce no Brasil: a dos coaches e influenciadores digitais. É uma ciranda: a cada turma que eles "diplomam", saem mais coaches e influenciadores. Mas, se você acha que, com isso, não sobrará ninguém para influenciar, engana-se. Nasce um otário por minuto.

Pablo Marçal antes de debate na TV Cultura - Rubens Cavallari - 15.set.24/Folhapress