terça-feira, 2 de julho de 2024

Historiadores e familiares buscam reconhecimento de feitos de pracinhas da FEB, enviados à guerra há 80 anos, FSP

 

SÃO PAULO

Foi sem alarde e praticamente em segredo que em 2 de julho de 1944 o governo brasileiro enviou os primeiros soldados e oficiais rumo à Itália para lutar contra o nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial. O início da missão completa 80 anos nesta terça-feira (2), mas historiadores e familiares ainda buscam reconhecimento da sociedade sobre os feitos dos chamados pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

O Brasil foi o único país da América do Sul a mandar soldados para o campo de batalha —o México enviou alguns por via aérea. Dos cerca de 25 mil pracinhas que foram para a Itália, em torno de 90% eram civis da reserva. Ou seja, foram convocados por telegrama. Largaram seus empregos, suas vidas comuns e partiram sem a certeza de voltar. E muitos realmente não voltaram: 451 morreram em confrontos.

Soldados da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália durante a 2ª Guerra Mundial, em 7 de setembro de 1944 - Arquivo Nacional

A decisão de criar a FEB e enviar os pracinhas foi tomada após o Brasil declarar guerra à Alemanha, em agosto de 1942. O professor Francisco Ferraz, do Departamento de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina), afirma que houve uma espécie de clamor para que o governo brasileiro agisse, principalmente depois dos ataques alemães a navios na costa do Nordeste.

Mas foi somente em janeiro de 1943, em um encontro entre o então presidente Getúlio Vargas e seu homólogo americano Franklin Roosevelt, que o Brasil selou sua efetiva participação. Segundo Ferraz, o governo brasileiro sabia que "uma coisa era romper relações e outra era enviar tropas" ao conflito.

O historiador César Maximiano, autor de "Barbados, Sujos e Fatigados" (Grua Livros, 2010), diz que os pracinhas deixaram o Brasil sem saber ao certo o que iriam encontrar. Na Itália, enfrentaram o frio, pois começaram a combater apenas em setembro de 1944 e adentraram o inverno no hemisfério Norte. O terreno era montanhoso e acidentado, e o principal inimigo era o Exército alemão.

Mesmo com as adversidades, as tropas da FEB tiveram vitórias importantes, como a tomada do Monte Castello, em fevereiro de 1945. Na batalha de Fornovo, em abril do mesmo ano, quase 20 mil soldados alemães se renderam aos soldados brasileiros em uma "manobra ágil e rápida", segundo Maximiano.

"Isso [batalhas da FEB na guerra] é extremamente digno de ser relembrado, porque a tropa brasileira percebe a natureza do regime que está combatendo e tinha consciência de lutar uma guerra justa", afirma Maximiano. Ferraz também ressalta o combate ao nazismo como um dos motivos para haver mais reconhecimento dos pracinhas no Brasil.

Filho de um dos expedicionários, o baterista João Barone, dos Paralamas do Sucesso, afirma que esse legado dos soldados brasileiros deve ser celebrado para "poder aprender com as lições do passado" e não deixar que "essas coisas horrorosas se repitam".

Para manter viva a história do funcionário público João de Lavor Reis e Silva (1918-2000), Barone escreveu "Soldado Silva" (Panda Books, 2022), que conta a história de seu pai na campanha italiana. O baterista sugeriu à Prefeitura do Rio de Janeiro uma homenagem no Porto Maravilha, na região central da cidade, onde será instalada uma placa alusiva ao envio das pracinhas. Confeccionada em bronze, a homenagem foi feita pelo artista plástico Mário Pitanguy e será exposta ao público nesta terça-feira, para marcar os 80 anos.

Apesar dos feitos contra o nazifascismo, o professor Ferraz cita algumas circunstâncias que, em sua visão, levaram os pracinhas a não ter uma distinção maior por parte da maioria dos brasileiros. Quando voltaram da Europa, houve grande festa no porto do Rio, com milhares às ruas para recebê-los. Mas na volta à vida comum, diz Ferraz, os civis não tiveram a mesma assistência médica dada aos militares. Já o apoio financeiro só veio anos depois, quando muitos já estavam aposentados e não podiam acumular benefícios.

Além disso, após testemunharem os horrores da guerra, muitos não conseguiram se adaptar à rotina familiar e profissional, com casos de violência, alcoolismo e até suicídio. Para evitar desentendimentos, a maioria preferiu guardar para si as lembranças dos combates. "Com isso, as conquistas foram esquecidas simbólica e concretamente", declara Ferraz, autor de "A Guerra Que Não Acabou" (Editora Eduel, 2012).

Ele também afirma que outro "esforço de desvalorização" da FEB ocorreu após o golpe militar de 1964. Segundo o professor, havia uma "má vontade", principalmente entre os setores acadêmicos, de não enaltecer parte dos militares da FEB porque alguns deles participaram do movimento que levou à ditadura.

Como um dos que buscam resgatar a imagem dos expedicionários, Barone se lembra de uma conversa que teve com o aviador franco-brasileiro Pierre Clostermann (1921-2006), que lutou na Segunda Guerra. "Ele [Pierre] disse que o Brasil entendeu que a guerra não era uma guerra de mocinhos e bandidos. Era uma guerra para defender a escolha da maneira de viver entre os homens, e o Brasil entendeu isso como uma grande nação", diz.

Para economizar em conta de R$ 3 bi, cassinos de Las Vegas buscam energia renovável, FSP

 

LAS VEGAS

Hoje em seu terceiro mandato como prefeita, Carolyn Goodman anunciou, em dezembro de 2016 que Las Vegas seria a primeira grande cidade americana a usar 100% de energias renováveis. Parecia grandioso. Mas o desfecho foi decepcionante.

"Toda a cidade? Inclusive a Strip?", foram as perguntas dos jornalistas.

A imagem mostra uma vista noturna da Las Vegas Strip, com destaque para o hotel e cassino MGM Grand, iluminado com luzes verdes. À esquerda, há uma réplica da Estátua da Liberdade. A rua está movimentada com muitos carros. Placas de neon e letreiros iluminados são visíveis, incluindo um que menciona 'David Copperfield'
Telão anuncia o Super Bowl deste ano no Hotel MGM, na Strip, trecho da Las Vegas Boulevard onde estão os cassinos mais famosos da cidade

Não, a Strip não estava incluída. A notícia divulgada pela prefeita era importante. São 140 prédios, iluminação pública centros comunitários e estações do corpo de bombeiros que passaram a ser servidos apenas por energia solar ou hidroelétrica. Mas sem incluir as áreas que tornam Las Vegas, a "cidade do pecado", o que ela é, o impacto foi bem menor.

Oito anos mais tarde, resorts, cassinos e atrações turísticas locais se movem em direção a fontes renováveis.

"Não existe uma escolha entre ser luxuoso ou sustentável. É possível ter as duas coisas: ser um resort com entretenimento e ter responsabilidade", disse Brandon Morrison, diretor de sustentabilidade do Resorts World, rede de hotéis de luxo que tem uma unidade no lado sul da Las Vegas Boulevard.

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O endereço é o que passou a ser chamado "the Strip", a maior atração da cidade, motivo principal pela qual ela recebeu 41 milhões de turistas no ano passado e movimentou US$ 79 bilhões (R$ 447 bi) em 2022.

É o espaço de 6,8 quilômetros, em linha reta, em que estão os mais famosos cassinos e resorts do país. É onde também acontecem os principais shows de Las Vegas. São letreiros, imagens e luzes que piscam sem cessar. Compõem a paisagem que faz visitantes enfrentarem o calor sufocante de julho (com temperaturas superiores a 40º C) para irem de um cassino ao outro, perdendo US$ 6 bilhões por ano (R$ 34 bi) em apostas pelo caminho.

O Resorts World iniciou processo, em 2021, para chegar ao uso de 100% de energia solar em suas instalações, incluindo o hotel com 3.500 quartos.

O MGM Resorts International usa energia produzida por placas solares instaladas em fazenda no Arizona, estado vizinho a Nevada. Estas são capazes de gerar 100 megawatts de energia distribuídas em suas 13 propriedades em Las Vegas. Segundo o vice-presidente de sustentabilidade do grupo, Michael Gulich, seria o suficiente para abastecer 27 mil residências.

O engajamento de cassinos, hotéis e demais empreendimentos da Strip é fundamental para que o estado de Nevada consiga atingir o objetivo determinado em lei assinada em 2019: que toda a energia do estado venha de fontes renováveis até 2050. Antes disso, a meta é atingir 50% em 2030.

De acordo com a NV Energy, empresa de fornecimento de energia que atua em Nevada, no final de 2023 o uso de fontes renováveis estava em 37,6%.

"Mais empresas vão seguir pelo mesmo caminho. Até 2030, a Strip estará em 50%", afirmou, em comunicado, Tony Sanchez, vice-presidente de desenvolvimento de negócios e relações externas da NV Energy.

A empresa acredita que terá mais 1.440 megawatts de energia solar em 2024 para oferecer resorts a empreendimentos locais.

A quantidade de luzes é o que faz Las Vegas ser Las Vegas. O cartões postais da cidade nasceram apoiados na exuberância visual. A atração dos cassinos, além da exploração do sonho do turista de ganhar ganhar milhões, está na combinação da ventilação, máquinas de jogos e ambiente iluminado. Isso custa caro.

Dados da US Energy Information Administration apontam que a Las Vegas Strip usa 8 mil megawatts de eletricidade por dia. Somada, a conta de energia dos hotéis e cassinos da região, incluídos os que estão fora da zona mais badalada, chega a US$ 1,2 milhão a cada 24 horas (R$ 6,7 milhões). São US$ 547,5 milhões por ano (R$ 3 bilhões).

Os cassinos consomem 20% de toda a energia produzida em Las Vegas, uma cidade de 660 mil habitantes.

É uma necessidade econômica também. O governo de Nevada oferece incentivos econômicos para as empresas que entram na transição energética. A dedução de impostos pode chegar a US$ 1,80 (R$ 10,1) por metro quadrado.

A imagem mostra uma grande cúpula iluminada à noite com uma exibição de luzes coloridas e padrões abstratos. As cores predominantes são verde, azul, vermelho e laranja, criando um efeito visual vibrante e dinâmico. O fundo é um céu noturno escuro, destacando ainda mais as luzes da cúpula.
Visão exterior do Sphere, em Las Vegas, onde acontecem eventos e shows - Joe Camporeale-28.jun.24/USA Today/USA TODAY Sports via Reuters Con

Allegiant Stadium, sede do Los Vegas Raiders, da NFL, a liga nacional de futebol americano tem o teto feito de material plástico sustentável, que permite a entrada de apenas 10% da luz solar. O calor é bloqueado. Menos energia é necessária para resfriar o complexo.

O gramado é levado para fora do estádio com o uso de trilhos para receber calor, iluminação natural e economizar nas lâmpadas de alta intensidade.

A arena, que recebeu a partida da seleção brasileira contra o Paraguai na última sexta-feira (28), pela Copa América de futebol, foi construída ao custo de US$ 1,9 bilhão (R$ 10,7 bilhões).

Tudo o que é jogado fora, até mesmo bitucas de cigarro, é renovado. Sede do Super Bowl, a final da NFL, neste ano, o Allegiant fez propaganda de ser o primeira decisão da liga realizada com energia sustentável.

Foi mais barato que a Sphere, o espaço de entretenimento mais caro da história, aberto em 2023 ao custo de US$ 2,3 bilhões (R$ 13 bilhões) com 40 shows da banda irlandesa U2. O exterior tem 1,2 milhão de luzes de LED quadrados de luzes de LED. A empresa que administra o empreendimento anunciou acordo por 25 anos com a NV Energy para obter "a maior porcentagem possível de energia solar."

O repórter viajou a convite da Unilever