sexta-feira, 1 de março de 2024

Não se deu bola, mas emprego e salário começaram bem em 2024, VTF, FSP

 Não se deu muita bola, mas os números de emprego e salário em janeiro foram muitos bons. A soma do que todo mundo declara ganhar no trabalho aumentou 6,26% no trimestre encerrado em janeiro, diz a Pnad do IBGE, aumento real, além da inflação, em relação ao mesmo período de 2023 (trata-se aqui do que a estatística oficial chama de "massa de rendimento real" efetiva de todos os trabalhos).

O número de pessoas empregadas cresceu 2%, maior ritmo desde março do ano passado, quando o ritmo de aumento de emprego era grande por causa da recuperação da crise da epidemia. O rendimento médio aumentou a 4% ao ano.

É forte. Esperava-se que a taxa de desemprego começasse a aumentar em abril de 2023 e uma desaceleração relevante do crescimento do salário e do número de empregados.

Número de pessoas empregadas cresceu 2%, maior ritmo desde março do ano passado - Gabriel Cabral/Folhapress

O desemprego não aumentou, ao contrário. A desaceleração aconteceu, mas o pé no freio foi suave; lá por outubro, a velocidade voltou a aumentar.

Está mais do que sabido do erro grande das previsões pessimistas de 2023, extravagantes em particular na primeira metade do ano passado. Mas estamos tratando aqui do quarto final de 2023 e do comecinho de 2024.

Também positivo, ao menos por ora, salário médio e massa de rendimentos crescem com inflação ainda declinante, embora baixando cada vez mais devagar.

PUBLICIDADE

Sabemos que parte menor do erro de estimativa se deveu ao desempenho melhor do que o previsto da produção agropecuária e do comércio exterior —o aumento de gasto do governo federal era sabido.

O restante do erro está muito mal explicado. O bom ritmo do emprego, em particular, ainda em parte é mistério (salários ainda relativamente baixos e reforma trabalhista podem contar parte da história).

Isto posto, fora mistérios, quais as diferenças mais óbvias de 2023 para 2024?

Não se vai poder contar com o crescimento da agropecuária, que diretamente contribuiu com quase um terço do aumento do PIB em 2023. A contribuição do comércio exterior deve ser menor.

Há insondáveis aqui, como de costume. Difícil dizer o que será do preço de commodities, em especial de petróleo, ora essencial para a economia do Brasil, e do ritmo da economia mundial.

O gasto do governo ainda vai aumentar, mas bem menos. No ano passado, o gasto federal cresceu 1,64 ponto percentual do PIB (R$ 239,4 bilhões, em termos reais). Sem considerar a despesa com precatórios, o gasto federal cresceu 1,16 ponto do PIB.

A maior parte da despesa extra foi para Bolsa Família (0,66 ponto) e gastos previdenciários e assistenciais do INSS (0,43 ponto do PIB). Não haverá aumento significativo do Bolsa Família neste ano.

De vento a favor pode haver um aumento do crédito, pois o nível de endividamento crítico das famílias e as taxas de juros diminuem.

Setores que dependem mais de crédito, que em geral não foram bem 2023, podem ter recuperação (indústria de transformação, "fábricas", construção civil) ou padecerem menos (investimento produtivo). Os efeitos desse alívio relativo, porém, seriam mais notáveis no segundo semestre.

O varejo cresceu, mas ainda devagar mesmo quando o ritmo do aumento do valor das vendas é comparado ao dos anos posteriores aos da Grande Recessão (2014-2016).

Neste 2024 há eleição municipal. Em tese, as prefeituras costumam gastar mais, como em obras. Também aqui é difícil medir o tamanho desse impulso. O pagamento de precatórios federais no final do ano passado deve ter efeito nesse primeiro trimestre, como um anabolizante de curtíssimo prazo.

O PIB de 2023 sai nesta sexta-feira (1º), com expectativa quase geral de estagnação ou pequena baixa. Deve dar alguma ajuda ao entendimento do se passa na economia do país. De sabido é que o primeiro mês de 2024 ainda teve surpresa positiva.


PIB do Brasil fecha 2023 com alta de 2,9%, mas fica estagnado no segundo semestre, FSP

  

RIO DE JANEIRO e SÃO PAULO

Influenciada pela agropecuária, a economia brasileira fechou o ano de 2023, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com crescimento acumulado de 2,9%.

É o que apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado ficou levemente abaixo da variação de 2022 (3%) e da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 3% para 2023.

Os dados do IBGE também mostram uma desaceleração da atividade econômica no segundo semestre, após o impulso da agropecuária, concentrado no início do ano.

Máquina agrícola é usada em lavoura de milho no município de Maringá, no Paraná - Rodolfo Buhrer - 13.jul.2022/Reuters

Considerando somente o quarto trimestre de 2023, o PIB ficou estagnado (0%) em relação aos três meses imediatamente anteriores. A expectativa mediana de analistas era de variação de 0,1%, conforme a Bloomberg.

O PIB também ficou estagnado no terceiro trimestre de 2023, na comparação com os três meses imediatamente anteriores. O IBGE revisou o desempenho nesse período de 0,1% para 0%.

Mesmo com a perda de força, o PIB fechou o ano passado com um desempenho superior ao projetado inicialmente por analistas.

Ao final de 2022, o mercado financeiro esperava um crescimento de apenas 0,8% para o acumulado de 2023, conforme a mediana do boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central). As previsões foram ajustadas para cima ao longo dos meses.

AGRO DÁ IMPULSO NO ANO

O ano de 2023 foi marcado pela ampliação da safra agrícola. Assim, o PIB contou com impulso da agropecuária no início do ano passado.

Puxada pela soja e pelo milho, a agropecuária cresceu 15,1% e bateu recorde no acumulado de 2023, segundo o IBGE. A série histórica começa em 1996.

"A agropecuária teve papel fundamental na economia brasileira", afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Os serviços (2,4%) e a indústria (1,6%) também avançaram no período. Dentro da indústria, o instituto ressaltou a influência positiva da indústria extrativa.

Essa atividade teve alta de 8,7% devido ao aumento da extração de petróleo, gás natural e minério de ferro. Tanto a agropecuária quanto o setor extrativo têm grande impacto do mercado externo.

CONSUMO AVANÇA NO ANO COM EMPREGO AQUECIDO E TRANSFERÊNCIAS

Pela ótica da demanda, o destaque veio do consumo das famílias, que avançou 3,1% em relação a 2022.

Palis disse que esse resultado teve influência da melhora do mercado de trabalho, com aumento da ocupação e da massa salarial, além da trégua da inflação.

"Os programas de transferência de renda do governo colaboraram de maneira importante no crescimento do consumo das famílias, especialmente em alimentação e produtos essenciais não duráveis", acrescentou a pesquisadora.

O patamar elevado dos juros, por outro lado, representou um entrave para um avanço maior do consumo. O ciclo de cortes da taxa básica, a Selic, só teve início em agosto.

PERDA DE RITMO AO LONGO DE 2023

No quarto trimestre de 2023, a estagnação do PIB (0%) veio acompanhada por avanços de 1,3% na indústria e de 0,3% no setor de serviços.

A agropecuária, por outro lado, caiu 5,3%. O IBGE ponderou que safras importantes, como soja e milho, estão concentradas no primeiro semestre, o que ajuda a explicar o resultado negativo.

Com os juros ainda elevados, o consumo das famílias perdeu fôlego no quarto trimestre. O componente recuou 0,2%, após alta de 0,9% no terceiro trimestre.

Os investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), avançaram 0,9% nos três últimos meses de 2023.

O aumento dos aportes veio após queda de 2,2% no terceiro trimestre. No ano de 2023, os investimentos acumularam baixa de 3%.

CENÁRIO DE DESACELERAÇÃO EM 2024

Para o PIB de 2024, a expectativa, por ora, é de desaceleração. Analistas do mercado projetam um avanço de 1,75%, segundo a mediana da edição mais recente do Focus, publicada na terça (27) pelo BC.

As estimativas, contudo, vêm subindo. Ao final de 2023, por exemplo, o mercado esperava um crescimento de 1,52% para o PIB de 2024.

Neste ano, a atividade econômica não deve contar com o mesmo impulso da agropecuária, já que fenômenos climáticos extremos jogam contra a produção no campo. O Brasil viveu episódios como ondas de calorseca e tempestades em regiões produtoras nos últimos meses.

Os juros, por outro lado, estão em ciclo de queda. O corte é visto como possível estímulo para o consumo em 2024, 

Reação do governo a pedido de impeachment é caçada inútil a animal bizarro, Bruno Boghossian, FSP

 O governo anunciou que vai dedicar energia à caça de animais raros, talvez folclóricos. O líder de Lula na Câmara, José Guimarães, avisou a partidos da base aliada que o Planalto vai tirar cargos e verbas de deputados que assinaram um pedido de impeachment apresentado por políticos bolsonaristas contra o petista.

Se o governo abriu espaço em sua máquina para algum parlamentar interessado em derrubar o presidente ou disposto a embarcar num factoide da oposição, deveria corrigir em silêncio a própria lambança. É mais provável que Guimarães tenha tentado inventar uma espécie exótica de inimigo e, no fim das contas, fabricado apenas uma trapalhada.

O pedido de impeachment contra Lula por suas declarações sobre Israel tem as assinaturas de um punhado de deputados de partidos que integram a base de Lula. A lista de 139 nomes explica muita coisa sobre as condições em que o governo opera politicamente e não revela nada sobre aqueles parlamentares.

O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula (PT) na Câmara - Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O União Brasil tem três ministérios e uma salada de deputados em suas fileiras. O governo não vai encontrar em seus cargos nenhum afilhado de Kim Kataguiri ou Rosângela Moro. Já deputados do PSD catarinense ganham mais exibindo nas redes suas assinaturas no pedido de impeachment do que ao lado de Lula.

O jogo de Guimarães não foi combinado com o Planalto. O ministro Alexandre Padilha mal conseguiu passar pano para a barbeiragem. Disse que seria "muito estranho" e "muito inesperado" encontrar algum signatário do impeachment com cargos no governo. "Algo bizarro", resumiu.

O risco de impeachment é zero. O governo poderia trabalhar discretamente para desidratar o pedido e aproveitar a nominata para fisgar um ou outro deputado permeável às regalias do poder.

Pode ser que alguém encontre um traidor na lista do impeachment. Fará pouca diferença para Planalto e oposição. O único efeito da ameaça é transportar um assunto da Terra plana bolsonarista para as relações políticas do governo no mundo real.