Não se deu muita bola, mas os números de emprego e salário em janeiro foram muitos bons. A soma do que todo mundo declara ganhar no trabalho aumentou 6,26% no trimestre encerrado em janeiro, diz a Pnad do IBGE, aumento real, além da inflação, em relação ao mesmo período de 2023 (trata-se aqui do que a estatística oficial chama de "massa de rendimento real" efetiva de todos os trabalhos).
O número de pessoas empregadas cresceu 2%, maior ritmo desde março do ano passado, quando o ritmo de aumento de emprego era grande por causa da recuperação da crise da epidemia. O rendimento médio aumentou a 4% ao ano.
É forte. Esperava-se que a taxa de desemprego começasse a aumentar em abril de 2023 e uma desaceleração relevante do crescimento do salário e do número de empregados.
O desemprego não aumentou, ao contrário. A desaceleração aconteceu, mas o pé no freio foi suave; lá por outubro, a velocidade voltou a aumentar.
Está mais do que sabido do erro grande das previsões pessimistas de 2023, extravagantes em particular na primeira metade do ano passado. Mas estamos tratando aqui do quarto final de 2023 e do comecinho de 2024.
Também positivo, ao menos por ora, salário médio e massa de rendimentos crescem com inflação ainda declinante, embora baixando cada vez mais devagar.
Sabemos que parte menor do erro de estimativa se deveu ao desempenho melhor do que o previsto da produção agropecuária e do comércio exterior —o aumento de gasto do governo federal era sabido.
O restante do erro está muito mal explicado. O bom ritmo do emprego, em particular, ainda em parte é mistério (salários ainda relativamente baixos e reforma trabalhista podem contar parte da história).
Isto posto, fora mistérios, quais as diferenças mais óbvias de 2023 para 2024?
Não se vai poder contar com o crescimento da agropecuária, que diretamente contribuiu com quase um terço do aumento do PIB em 2023. A contribuição do comércio exterior deve ser menor.
Há insondáveis aqui, como de costume. Difícil dizer o que será do preço de commodities, em especial de petróleo, ora essencial para a economia do Brasil, e do ritmo da economia mundial.
O gasto do governo ainda vai aumentar, mas bem menos. No ano passado, o gasto federal cresceu 1,64 ponto percentual do PIB (R$ 239,4 bilhões, em termos reais). Sem considerar a despesa com precatórios, o gasto federal cresceu 1,16 ponto do PIB.
A maior parte da despesa extra foi para Bolsa Família (0,66 ponto) e gastos previdenciários e assistenciais do INSS (0,43 ponto do PIB). Não haverá aumento significativo do Bolsa Família neste ano.
De vento a favor pode haver um aumento do crédito, pois o nível de endividamento crítico das famílias e as taxas de juros diminuem.
Setores que dependem mais de crédito, que em geral não foram bem 2023, podem ter recuperação (indústria de transformação, "fábricas", construção civil) ou padecerem menos (investimento produtivo). Os efeitos desse alívio relativo, porém, seriam mais notáveis no segundo semestre.
O varejo cresceu, mas ainda devagar mesmo quando o ritmo do aumento do valor das vendas é comparado ao dos anos posteriores aos da Grande Recessão (2014-2016).
Neste 2024 há eleição municipal. Em tese, as prefeituras costumam gastar mais, como em obras. Também aqui é difícil medir o tamanho desse impulso. O pagamento de precatórios federais no final do ano passado deve ter efeito nesse primeiro trimestre, como um anabolizante de curtíssimo prazo.
O PIB de 2023 sai nesta sexta-feira (1º), com expectativa quase geral de estagnação ou pequena baixa. Deve dar alguma ajuda ao entendimento do se passa na economia do país. De sabido é que o primeiro mês de 2024 ainda teve surpresa positiva.