domingo, 15 de outubro de 2023

Bruno Boghossian - Lula ainda busca fórmula para lidar com o novo mundo do trabalho, FSP

 Lula tinha uma ideia fixa antes de sair de cena para a cirurgia no quadril. Nos dez dias que antecederam a operação, o presidente falou oito vezes sobre o que já chamou de "novo mundo do trabalho". Afirmou estar incomodado com empregos precários e bateu na tecla da regulação dos aplicativos de entregas.

"Tem muita gente trabalhando em condições quase subumanas", disse. "A gente não está naquela de exigir que tenha carteira profissional assinada se não quiser. [...] O que a gente tem preocupação é garantir para ele um sistema de seguridade social, que, quando ele estiver numa situação difícil, tenha o Estado para dar um suporte de sobrevivência."

O mundo do trabalho é hoje bem diferente daquele com que Lula conviveu até 2010. Ainda que uma política para o salário mínimo e o incentivo à abertura de vagas na construção civil tenham efeitos positivos, formuladores petistas reconhecem que o governo precisa encontrar soluções que representem uma atualização de sua plataforma.

O presidente Lula (PT) com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, durante cerimônia de sanção da lei que atualiza o valor do salário mínimo, em agosto de 2023 - Lucio Tavora/Xinhua

A gestão de Lula ainda patina. Nas últimas semanas, o ministro do Trabalho lançou provocações aos aplicativos (propondo uma ideia incipiente de concorrência estatal e sugerindo que as empresas podem ir embora se quiserem) e retomou a pauta do financiamento de sindicatos.

Aliados do presidente admitem que os desafios são maiores e que faltam planos para enfrentar temas como a qualificação profissional para a economia verde e para setores dependentes de novas tecnologias. No caso dos aplicativos, o perigo é aborrecer uma parcela de trabalhadores que temem perder autonomia e rejeitam o controle do governo.

PT considera o assunto delicado porque sua relação política com a classe trabalhadora mudou depois de 2013. Além das transformações nas relações entre patrão e empregado, a última década foi marcada por uma expansão de visões conservadoras sobre o papel do Estado, pelo enfraquecimento do movimento sindical e por uma perda de espaço do partido nas periferias.

Juca Kfouri - Até quando insistir com Neymar?, FSP

 


Terminada a Copa no Qatar, a rara leitora e o raro leitor leram aqui que seria bom se na convocação seguinte da seleção brasileira a ausência de Neymar preenchesse uma lacuna.

Os parças socialites dele na mídia reagiram: só um herege, um louco, ou um estúpido abriria mão dos melhores pés entre os jogadores do país.

Até fazia sentido, porque, de fato, como fazer um bom time ao abdicar do único extraclasse nascido no Patropi?

Candidamente, a resposta é: abdicando.

Achar que o interino Fernando Diniz teria coragem para barrar Neymar era pura ingenuidade - Nelson Almeida - 12.out.23/AFP

Porque Neymar raramente jogou futebol para o conjunto. Invariavelmente jogou para si mesmo, com exceção dos tempos de Barcelona porque, ali, Xavi, Iniesta e Messi não deixavam.

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No PSG foi o que se viu, e ainda para seu azar Mbappé o superou até individualmente.

No Santos, é verdade, ele estava ainda tão bem fisicamente que bordoada alguma o tirava de prumo. E veio a Libertadores.

Tão gratos são os santistas que o perdoam pela traição inominável de ter feito contrato com os catalães antes de disputar a final do Mundial de Clubes da Fifa.

Já pela seleção jamais foi coletivo, e sua grande façanha se resumiu à medalha de ouro olímpica, num time que esteve longe de ser brilhante e que ganhou apenas nos pênaltis da equipe C da Alemanha.

Ao comemorar o título no Maracanã, você há de se lembrar, deu declaração cafajeste, repleta de ressentimento.

Maior artilheiro do time da CBF em jogos oficiais, desses autoenganos que nós, brasileiros, adoramos repetir, lembre atuação dele em jogo decisivo, cascudo, em que tenha luzido.

Não teve culpa em ser alijado da Copa de 2014, virou meme mundial em 2018, ao jogar mais deitado que em pé, e em 2022 até poderia ter levado o Brasil adiante ao fazer o gol contra a Croácia, mas os deuses dos estádios castigam a soberba, a falta de educação e o individualismo.

Achar que Fernando Diniz teria coragem para barrá-lo era pura ingenuidade, pois, se nem Tite, depois da vergonha que Neymar passou nos gramados russos, decidiu enquadrá-lo no Qatar, o interino tem mais mesmo é de se curvar.

Daí que Neymar castra eventuais estrelas como Vinicius Junior.

Castra emocional e taticamente, ao embolar o lado esquerdo e ao exigir, pela mera presença em campo, que a bola passe por ele para tentar driblar um, dois, três, perdê-la e reclamar com a arbitragem.

Mestre Tostāo deve achar um absurdo o que lê aqui, se é que é dos raros leitores porque, repleto de razão, zela pelos craques.

Pior é que nada impede Neymar de calar os críticos nesta terça-feira (17) em Montevidéu pois, mesmo gordo, é capaz de fazer um par de gols como o belíssimo contra os croatas, depois de tentar umas 20 vezes.

Mas ter ficado até o fim no que deveria ser mero treino contra a Venezuela, e foi pesadelo, diminui a confiança depositada em Diniz por muita gente.

Neymar faz questão de que a bola passe por ele para tentar driblar um, dois, três, perdê-la e reclamar com a arbitragem - Nelson Almeida - 12.out.23/AFP

Pode apostar em Neymar amarelado ou avermelhado contra os uruguaios, que não ganham da seleção desde 2001. Já são 12 jogos, com, no máximo, três empates.

Será interessante ver quem fica mais com a bola, se os comandados de Loco Bielsa ou os de Diniz, mas o dado será irrelevante se ficar um tempão com Neymar só por ficar, sem nenhuma objetividade ou para cavar faltinhas longe da área.

Felipão cometeu a insanidade de excluir Romário da Copa em 2002. Com o que provou quão produtiva pode ser a loucura.

Terá Carlo Ancelotti a mesma lucidez daqui a um ano?

Um canal de TV para falar de mudança climática é a aposta do antigo dono da Climatempo, FSP

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

Em abril, Carlos Magno do Nascimento e Ana Lúcia Frony concluíram a venda, para a StormGeo, das ações da Climatempo, empresa que fundaram no fim dos anos 1980, em uma negociação cujo valor não foi divulgado. Vender a empresa foi uma decisão pensada e natural, diz Carlos Magno. "Entendemos que continuar como uma empresa familiar em um ambiente altamente competitivo não fazia mais sentido."

Meses após a conclusão da transferência da empresa referência em meteorologia no Brasil, o casal recomprou os direitos da TV Climatempo, que agora é C3 TV —Climate Change Chanel— e onde mais importante do que o boletim de previsão do tempo será discutir o futuro.

Carlos Magno do Nascimento, fundador do Climatempo, atualmente à frente da C3 TV
Carlos Magno do Nascimento, fundador do Climatempo, atualmente à frente da C3 TV - Divulgação

Recomprar os direitos da TV já era um plano?
Não houve interesse por parte do grupo que adquiriu a Climatempo de continuar a operação da TV e, por isso, seria colocada à venda.

Decidimos então recomprar os direitos pois já tínhamos o plano de transformar a TV Climatempo em uma TV sobre mudanças climáticas. Foi um processo praticamente contínuo de gestão. A TV Climatempo foi o primeiro canal de TV da América do Sul com foco em informações meteorológicas.

Com a criação da C3 TV, completamos a transição de uma cultura de previsão do tempo e prestação de serviços para um conteúdo mais compatível aos dias atuais.

Os boletins de previsão do tempo continuam sendo divulgados, mas as mudanças climáticas e os eventos extremos são protagonistas da programação.

Quanto custou comprar os direitos da TV? Quem mais investiu no canal?
O valor da transação foi de R$ 2 milhões de reais e os investidores são os fundadores da Climatempo [Ana Lúcia e Carlos Magno].

As condições atuais, de eventos climáticos extremos mais frequentes, foram variáveis no planejamento do canal?
Sim, há algum tempo estamos acompanhando com preocupação o que vem acontecendo com o planeta e o impacto na sociedade. O momento não poderia ser mais propício de forma não proposital: temperaturas recordes no planeta, incêndios florestais e em cidades de forma nunca vistas, enchentes catastróficas.

Parece que o tipping point [ponto de inflexão], tão temido pelos cientistas, chegou em 2023. O Climate Change Channel chega para trazer luz a todos os eventos que não são normais, mas estão se tornando cada vez mais frequentes.

O canal reúne documentários sobre o desenvolvimento do planeta e traz análise de especialistas das ciências ambientais, explicando de forma didática os fenômenos climáticos extremos e seus impactos nas diferentes áreas da vida, como saúde, economia, agricultura, turismo e infraestrutura.

Como foram as primeiras semanas de programação?
Neste primeiro momento, temos o C3.News, boletim que nossa equipe produz diariamente, e documentários assinados pela Produtora Brasileira, Grifa Filmes, Duto e MediaLand. A recepção foi muito positiva.

Como será o financiamento da programação?
Uma vez que estreamos oficialmente nas operadoras e nos apresentamos ao público, estamos agora buscando patrocinadores que abracem a causa da comunicação climática. Queremos parceiros alinhados ao nosso propósito de ajudar a sociedade a enfrentar as mudanças climáticas com informação e conhecimento científico.

Para os próximos meses traremos novos formatos de conteúdos, como um programa semanal de entrevistas em que receberemos protagonistas das mudanças climáticas. Novos documentários, de outras produtoras, também devem ser inseridos na grade.


RAIO-X | Carlos Magno do Nascimento, 62

Formação: meteorologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Carreira: trabalhou no Ministério da Agricultura de 1985 a 1990 e fundou a Climatempo em 1998, empresa da qual foi CEO por 35 anos; é sócio-fundador da C3 TV, canal de TV por assinatura dedicado às mudanças climáticas.