domingo, 2 de julho de 2023

Apesar de rachas, grupo de Andrés busca se manter no poder no Corinthians, FSP

 


SÃO PAULO

Quando o ex-presidente Mario Gobbi (2012-2015) pediu a palavra em reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians, em 19 de setembro de 2022, foi para se dirigir ao atual mandatário Duilio Monteiro Alves, a poucos metros de distância. Ambos foram eleitos pela Renovação e Transparência, o movimento político que controla o clube há 16 anos.

"Estou magoado com você. Você está mentindo", acusou Gobbi, tom de voz alterado, insinuando que Duilio planejava o que seria um golpe.

Andrés Sanchez após ser eleito presidente do Corinthians pela primeira vez, em 2007
Andrés Sanchez, após ser eleito presidente em 2007 - Danilo Verpa - 9.out.07/Folhapress

Não houve aliado a se levantar para defender o atual presidente. O único a fazê-lo foi o oposicionista Romeu Tuma Júnior.

Nenhum grupo político está há tanto no poder em um grande clube do país quanto a Renovação e Transparência, grupo criado à esteira da saída de Alberto Dualib do poder, no final de 2007. Movimento que se mantém na presidência apesar das brigas e rachas internos e que se une a cada três anos para eleições por causa do nome que é a cola que mantém o movimento, apesar de tudo, unido: Andrés Sanchez.

"Pode colocar aí. A gente democratizou o Corinthians. Além dos títulos, do estádio, de dois centros de treinamento, ninguém democratizou o Corinthians como a gente fez", afirma Andrés, presidente em 2007-2011 e 2018-2020.

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Nesta terça-feira (4), a Renovação deve lançar como candidato ao pleito de final de ano um dos seus fundadores: André Luiz Oliveira. Conhecido no clube como André Negão, ele resistiu a todas as tentativas de que outro nome fosse imposto. Apresentou um simples argumento. É o seu momento. Aliado fiel de Sanchez, ele já queria ter sido o escolhido na eleição do final de 2020, vencida por Duilio.

"É a hora do André", define Andrés.

"Eles criaram uma democracia de conveniência, alicerçada no interesse de meia dúzia. Quando alguém diverge ou ousa questionar essa prática, é expurgado sob os mais indignos adjetivos", reclama Tuma Júnior. "É uma democracia soviética, que só foi contra a reeleição por desconfiança dos próprios fundadores da Renovação, porque havia combinação prévia de que eles mesmos se sucederiam na presidência do clube por décadas, beneficiando seus próprios interesses."

Conselheiros e ex-dirigentes ouvidos pela Folha têm opiniões divergentes sobre a possibilidade de Duilio usar uma brecha para buscar a reeleição. Ele poderia, na teoria, basear-se em item incluído como disposição transitória na reforma estatutária. Este permitiria, a quem estivesse naquele momento no poder, buscar mais um mandato. Apesar de ser transitório, o trecho não foi retirado do estatuto.

Um documento interno a defender essa tese reuniu a assinatura de dezenas de conselheiros. Andrés fez uma reunião no Parque São Jorge em que questionou as adesões ao projeto que não tinha o envolvimento pessoal de Duilio, mas de aliados. Quase todos retiraram o apoio. Mas dentro do núcleo da Renovação e Transparência, que defende o credo de que reeleições devem ser proibidas, aquilo foi visto como traição.

Rachas, abandonos e reencontros por conveniência não são incomuns no grupo político que controla o Corinthians desde 2007. Hoje em dia, um dos argumentos para o abandono político a Duilio é que, na verdade, ele nem fazia parte da Renovação e Transparência. Era da chapa 22, outra chapa eleitoral. Mas nem mesmo eles conseguem negar que o atual mandatário era o candidato da situação no pleito mais recente e contou com o apoio de Andrés Sanchez,

Na eleição de 2020, Mario Gobbi foi um candidato da oposição. Ele agora apoia André Luiz. Gobbi e Roberto de Andrade foram para a presidência, em grande parte, tendo Andrés como fiador. Ele depois se sentiu traído por ambos, o que provocou rompimento —interrompido nos meses anteriores a cada pleito.

O argumento de defensores de Duilio é que ele passou os três últimos anos pagando contas e estabilizando a dívida do clube, hoje em R$ 930 milhões. Este seria o motivo para o time em campo não conquistar títulos. O último foi o Paulista de 2019. Ele mereceria, então, a chance de, com a casa arrumada, ter um novo mandato para ser campeão.

Para a Renovação e Transparência e, principalmente, Andrés, este número é uma fantasia. Inclui débitos com o governo, que já estão parcelados. A dívida real seria, então, de cerca de R$ 400 milhões. A questão do estádio, após o perdão da Odebrecht e o acordo com a Caixa, também estaria resolvida.

Eles formam o grupo político que mudou a história do Corinthians. Em campo, foram cinco Paulistas, uma Copa do Brasil, três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial. Foi o período em que a agremiação conseguiu ter seu estádio, um centro de treinamento para o profissional e outro para a base. O clube revolucionou o mercado interno do país ao conseguir a contratação de Ronaldo Fenômeno no fim de 2008.

Durante a Copa América de 2011, na Argentina, Sanchez afirma ter ido à concentração da seleção brasileira em Los Cardales, nos arredores de Buenos Aires, com uma carta de crédito de R$ 130 milhões emitida pelo BMG. Ele queria convencer Neymar a jogar pelo Corinthians. O valor seria referente à multa rescisória do atacante, que, no entanto, havia assinado contrato na semana anterior com o Barcelona.

Quase todos os que desafiaram o poder da Renovação nas urnas perderam. Paulo Garcia venceu ação judicial apontando que a eleição de 2018 foi irregular, mas, na hora de assinar o termo de execução da sentença, recusou-se. Teria de haver uma nova votação. Sob a pressão de seus aliados já eleitos para o Conselho Deliberativo, recuou e deixou como estava. Augusto Melo, segundo colocado em 2020, deverá ser o nome da oposição neste ano.

Ainda há possibilidade de uma terceira via. Paulo Garcia, apesar de ter detectado o que considera fragilidade e desgaste inéditos da Renovação, ainda não sabe se vai apresentar candidatura.

André Luiz Oliveira é o provável candidato da Renovação e Transparência neste ano
André Luiz Oliveira é o provável candidato da Renovação e Transparência no próximo pleito - Marisa Cauduro - 24.nov.11/Folhapress

"Tem hora em que eu fico pensando: ‘P... que pariu, esse Augusto podia ganhar mesmo, já tirava o meu da reta, e ninguém ia falar que eu mando no Corinthians", disse Andrés ao Canal Coringão, no YouTube.

Há entre os oposicionistas quem considere que isso seja bravata e que, no final de tudo, Sanchez será o candidato da Renovação para manter o movimento no poder por mais três anos. Ao deixar o cargo, no fim de 2020, ele jurou, em entrevista à Folha, que não seria mais presidente do Corinthians.

"Não sou [candidato]. Não serei eu", sustenta hoje em dia.

Apesar da pressão de outras pessoas, Andrés assegura à reportagem que, para a Renovação e Transparência, não há espaço para reeleição nem para a volta de quem já se candidatou no passado.

"É a vez do André", jura.

Sepúlveda Pertence, ministro do STF por 18 anos, morre em Brasília, aos 85 anos, FSP

 Matheus Teixeira

BRASÍLIA

O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Sepúlveda Pertence morreu neste domingo (2), em Brasília, aos 85 anos.

Sepúlveda estava internado no hospital Sírio Libanês, na capital Federal.

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O ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence durante sessão solene de abertura dos trabalhos do Judiciário na corte em 2020 - Pedro Ladeira 3.fev.2020/Folhapress

Nascido em Sabará, Minas Gerais, em 21 de novembro de 1937, Sepúlveda foi secretário Jurídico no STF, no gabinete do Ministro Evandro Lins e Silva, e procurador-geral da República, antes de ser indicado para a corte.

Sepúlveda foi indicado à corte em 1989, no governo de José Sarney (MDB). Ele ficou no STF até 2007, quando se aposentou e, a partir de então, voltou a exercer a advocacia.

"É triste a notícia da partida de José Paulo Sepúlveda Pertence, um dos maiores que já passaram pelo STF. Brilhante, íntegro e adorável, influenciou gerações de juristas brasileiros com sua cultura, patriotismo e desprendimento. Fará imensa falta a todos nós", escreveu o ministro Luís Roberto Barroso em uma rede social

Pertence foi um dos ministros do STF mais influentes da história. Sempre foi visto como um magistrado com grande capacidade de articulação nos bastidores e, nos mais de 17 anos que ficou no tribunal, teve grande influência nos mais importantes julgamentos dos quais participou.

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Pertence sempre foi uma peça estratégica, por exemplo, nas escolhas de presidentes para o Supremo. A ministra Cármen Lúcia, por exemplo, chegou à corte, grande parte, devido ao apoio que teve do ex-ministro para ser indicada pelo presidente Lula para o posto, em 2006. Eles eram primos de terceiro grau.

Em 2018, ele assumiu a defesa de Lula pouco antes de o Supremo julgar o habeas corpus que poderia evitar a prisão do petista. Cristiano Zanin, que era o advogado criminal de Lula e agora foi aprovado para o Supremo na primeira vaga que o chefe do Executivo pôde indicar em seu terceiro mandato, nunca deixou a defesa de Lula.

No entanto, o ingresso de Pertence foi uma tentativa de melhorar a relação do petista com o Supremo devido ao bom trânsito que ele tinha com os ministros. A ajuda de Pertence, porém, não foi suficiente e a corte acabou rejeitando o habeas corpus.

O ex-ministro também foi presidente da Comissão de Ética da Presidência da República. Além disso, Pertence foi promotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Em 1969, foi cassado do MP pela ditadura militar.

"Com um aperto no coração, mas cientes do caráter inexorável do destino, informamos que nosso amado pai, Sepúlveda Pertence, faleceu na madrugada deste domingo, no hospital Sírio Libanês, onde estava internado há mais de uma semana", escreveram os filhos Evandro, Eduardo e Pedro Paulo Pertence.