sexta-feira, 2 de junho de 2023

PF chegou a assessor de Lira ao seguir casal que fazia entregas em dinheiro vivo, FSP

 Paulo Saldaña

BRASÍLIA

Polícia Federal chegou ao mais próximo assessor de Arthur Lira (PP-AL) após seguir o dinheiro movimentado pela Megalic, empresa suspeita de desviar verba de contratos de kits de robótica assinados no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Na investigação, iniciada a partir de reportagem da Folha publicada em abril do ano passado, a PF afirma ter descoberto que um casal de Brasília operava os desvios por meio de empresas de fachada, sendo que essas atuavam como receptoras de valores repassados pela Megalic.

O casal foi preso nesta quinta (1º) em operação que também fez buscas contra Luciano Cavalcante, auxiliar de Lira.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), durante cerimônia no TSE
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), durante cerimônia no TSE - Gabriela Biló-7.mar.23/Folhapress

Com base nas transações da Megalic, a PF passou a monitorar o casal de Brasília e descobriu uma intensa movimentação de saques em espécie em agências bancárias e posteriores entregas. A suspeita dos investigadores é que os valores tenham agentes públicos como destino.

Entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, a polícia acompanhou e filmou ao menos uma dezena de idas do casal a agências bancárias e entregas de valores em Brasília, cidades próximas e em Maceió (AL).

Em um desses monitoramentos secretos na capital alagoana, em janeiro de 2023, a PF flagrou o veículo utilizado pelo casal para ir a agências bancárias e depois usado para deslocamentos a possíveis locais de entrega de dinheiro.

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Nesse episódio de janeiro, a PF mapeou R$ 115 mil em saques feitos pelo casal e ao menos uma suposta entrega de valores em um hotel.

Ao investigar o veículo, a PF descobriu que o carro formalmente estava em nome de uma pessoa, mas era utilizado e ficava na residência de Luciano Cavalcante (auxiliar direto de Lira) e sua esposa, Glaucia.

* Na imagem abaixo, Lira e seu assessor Luciano Cavalcante em evento em Alagoas

Arthur Lira e seu assessor Luciano Cavalcante (de branco) em evento em Alagoas em outubro de 2022
Arthur Lira e seu assessor Luciano Cavalcante (de branco) em evento em Alagoas em outubro de 2022 - oficialarthurlira no Instagram

Nesse episódio de janeiro flagrado pela PF, o casal de operadores de Brasília foi flagrado indo até a casa do assessor de Lira. Glaucia foi filmada dirigindo o veículo com os dois durante deslocamentos em Maceió.

O advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, disse que analisa os fatos. Afirma, porém, que "as simples imagens mencionadas não demonstram qualquer atividade ilícita do investigado" e que Cavalcante não tem ligação com a Megalic.

A Megalic, empresa que fornecia os kits, funcionava em uma pequena casa no bairro de Jatiuca, em Maceió, com capital social de R$ 1 milhão. A empresa é apenas uma intermediária, embora tenha fechado contratos milionários, ao menos R$ 24 milhões. Ela não produz os kits de robótica.

A Megalic está em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD). A proximidade do vereador e de seu pai com Lira é pública. Além da empresa e de Edmundo Catundo, foram alvos da PF outros aliados de Lira em Alagoas.

  • Na imagem abaixo, Edmundo Catunda e Arthur Lira em reunião em Alagoas

homens sentados em torno de uma mesa retangular
Arthur Lira (PP-AL), de camisa branca, à direita na mesa, e aliados, como o vereador João Catunda (à direita de Lira) e o pai, Edmundo Catunda (primeiro à esquerda), dono da empresa Megalic, que vende kits de robótica pra prefeituras - Reprodução

A PF investiga possíveis fraudes que podem ter gerado prejuízo de R$ 8,1 milhões aos cofres públicos com os kits de robótica.

Após mapear as transações suspeitas entre a Megalic e empresas de pessoas ligadas a Lira, a PF solicitou em março deste ano as buscas e prisões. A operação Hefesto cumpriu nesta quinta-feira 26 mandados de busca e dois de prisão temporária.

De acordo com a nota da PF, a investigação identificou "que foram realizadas, pelos sócios da empresa fornecedora e por outros investigados, movimentações financeiras para pessoas físicas e jurídicas sem capacidade econômica e sem pertinência com o ramo de atividade de fornecimento de equipamentos de robótica, o que pode indicar a ocultação e dissimulação de bens, direitos e valores provenientes das atividades ilícitas".

Segundo a PF, os crimes teriam sido cometidos entre 2019 em 2022 em contratos de 43 municípios alagoanos.

Como mostrou a Folha à época, os kits foram contratados com recursos, em boa parte, das bilionárias emendas de relator do Orçamento —naquele momento, durante o governo Bolsonaro, Lira era responsável por controlar em Brasília a distribuição de parte desse tipo de verba.

O TCU já havia apontado fraude nos processos de compras de kits de robótica no governo Bolsonaro e suspendeu os contratos.

A área técnica do tribunal identificou, no total, 253 empenhos em valor total de R$ 189 milhões para a compra de kits de robótica. A maior parte é relacionada a recursos de emendas de relator, e nem tudo isso foi de fato pago.

ESTADÃO / POLÍTICA Lula visita fábrica de empresário que confessou propina na gestão petista de Celso Daniel, OESP

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da inauguração das instalações da Eletra - Tecnologia de Tração Elétrica, nesta sexta-feira, 2, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Companhia do setor de transporte público com produção de ônibus elétricos, a fábrica tem como um dos donos empresário que já confessou pagamento de propinas ao Partido dos Trabalhadores no passado.

João Antonio Setti Braga, sócio da Eletra, foi um dos personagens de um dos primeiros escândalos de corrupção em gestões petistas, antes de Lula ser eleito pela primeira vez, em 2002. Em julho de daquele ano, em meio às eleições presidenciais, ele prestou depoimento à comissão parlamentar de inquérito criada para investigar o pagamento de propinas a agentes da gestão Celso Daniel (PT), morto em janeiro daquele ano.

Lula cumpre agendas em São Bernardo do Campo nesta sexta, 2
Lula cumpre agendas em São Bernardo do Campo nesta sexta, 2 Foto: TABA BENEDICTO

O empresário admitiu ter feito pagamentos de R$ 2,5 milhões em valores da época a secretários do então prefeito. Setti Braga chegou, durante o depoimento, a especular se Celso Daniel teria sido assassinado por “queima de arquivo”, o que nunca ficou comprovado pelas autoridades responsáveis pela investigação.

Esta versão foi endossada anos depois, quando o empresário a reiterou à CPI dos Bingos no Congresso Nacional, que ficou conhecida por deflagrar esquemas que ligavam políticos à máfia de caça níqueis ligada ao contraventor Carlinhos Cachoeira. Os fatos envolviam uma outra empresa de viação da família.

Lula participou de uma conversa breve com executivos do grupo. A irmã de Setti Braga, Maria Beatriz – sua sócia na companhia –, participou da reunião com o presidente. Por motivos de saúde, segundo uma fonte ligada à diretoria da Eletra, Setti Braga não estava presente.

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Ao lado de ministro da Educação, Camilo Santana, e da primeira-dama, Janja, Lula participou de inauguração de laboratórios da UFABC
Ao lado de ministro da Educação, Camilo Santana, e da primeira-dama, Janja, Lula participou de inauguração de laboratórios da UFABC Foto: Taba Benedicto/Estadão

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O petista ganhou miniatura de ônibus da Eletra e exaltou Maria Beatriz, por ser empresária mulher e pioneira no setor de veículos elétricos. Lula disse que Maria Beatriz é uma mulher “persistente”. “Eu a conheço há mais de 20 anos e desde aquela época ela já falava do desafio de implantar ônibus elétrico.”

UFABC

A conversa se deu na fábrica após o evento de inauguração de laboratórios da Universidade Federal do ABC (UFABC), no câmpus de São Bernardo do Campo. O petista discursou ao lado de nove ministros, que incluem nomes como Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação), Marcio França (Portos e Aeroportos) e Luciana Santos (Ciência e Tecnologia).

Durante o encontro, em uma garagem da fábrica, Lula foi convidado a dar uma pequena volta pela empresa em um de seus ônibus. O Estadão procurou a assessoria de imprensa da Eletra, que até a publicação desta reportagem ainda não havia se pronunciado.

ESTADÃO / BLOG DO FAUSTO MACEDO Entenda o cerco da Justiça a Arthur Lira, que acusa retaliação após atritos com Lula, OESP

 

LIRA   BRASÍLIA DF 31.05.2023  MP MINISTÉRIOS/ GOVERNO LULA    POLITICA OE  - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) no  Plenário da casa  em Brasília,  durante  a sessão de  votação da medida provisória (MP)  que reorganiza os ministérios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). FOTO WILTON JUNIOR/ ESTADÃO
LIRA BRASÍLIA DF 31.05.2023 MP MINISTÉRIOS/ GOVERNO LULA POLITICA OE - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) no Plenário da casa em Brasília, durante a sessão de votação da medida provisória (MP) que reorganiza os ministérios do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). FOTO WILTON JUNIOR/ ESTADÃO Foto: WILTON JUNIOR

Em meio a atrito com o governo Lula em razão do que considera ‘falta de articulação política’ do Executivo, o presidente da Câmara dos Deputados teve uma semana difícil na Justiça: viu um de seus aliados principais ser alvo da Polícia Federal nesta quinta-feira, 1º; ficou mais próximo de um julgamento no Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva na Lava Jato; e sofreu revés em uma ação em que atribui crime contra a honra ao senador Renan Calheiros, um de seus principais opositores.

A sequência de golpes ao parlamentar levou seus aliados a levantarem teorias sobre o momento político do alagoano. Entenderam que a Operação da PF pode interessar a adversários de Lira não só em seu estado natal, mas no Planalto.

A Operação Hefesto foi aberta nesta quinta-feira, 1º, para investigar supostas fraudes de R$ 8,1 com o superfaturamento da compra de kits de robótica por mais de 40 municípios de Alagoas. Um dos principais alvos da ação foi Luciano Cavalcante, ex-assessor do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Ele ainda trabalha na liderança do PP na Casa, recebendo R$ 14,7 mil de salário.

Enquanto lida com o rescaldo da ofensiva, que apreendeu mais de R$ 4 milhões em endereços de investigados, o presidente da Câmara se prepara para julgamento no STF na próxima semana. A Corte máxima marcou para o dia 6, próxima terça-feira, a análise um recurso do parlamentar em caso que pode torná-lo réu por suposto recebimento de propina de R$ 106 mil do ex-presidente da Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), Francisco Colombo.

Segundo o Ministério Público Federal, o pagamento se deu em troca de apoio político. O montante foi apreendido pela Polícia Federal com um assessor parlamentar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2012. A denúncia foi recebida pelo STF em 2019. Depois, a PGR mudou de entendimento e defendeu o arquivamento da própria acusação. Enquanto isso a defesa de Lira alega esvaziamento da denúncia.

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Enquanto o STF acelera a análise da denúncia contra Lira, uma outra ação de interesse do deputado foi travada. Na quarta, 31, o ministro André Mendonça, do STF, suspendeu ação em que o presidente da Câmara atribui ao senador Renan Calheiros - seu opositor - crimes contra a honra em razão de ataques durante a campanha.