Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos para analisar a conjuntura dos materiais plásticos, seus resíduos e impactos. No final do último mês fomos apresentados a um dos relatórios mais abrangentes e analiticamente robustos já produzidos sobre plásticos nos oceanos: Quebrando a Onda de Plásticos (em inglês - Breaking The Plastic Wave).
O estudo foi publicado no dia 23 de Julho pela The Pew Charitable Trusts e pela SYSTEMIQ, em parceria com a Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas.
No estudo somos apresentados a números alarmantes, como a previsão de 600 milhões de toneladas de plástico descartados no mar até 2040, caso não façamos nada para mudar nossos processos. Apesar do triste cenário, o relatório propõe uma solução: a transição para a Economia Circular como grande chave para mudarmos as chocantes previsões.
Quebrando a Onda de Plásticos traz diversas contribuições fundamentais para conhecermos o momento atual e futuro do plástico nos mares ao redor do mundo. Entenda os principais pontos apresentados no relatório e conheça melhor a solução proposta, apresentada pela perspectiva da Fundação Ellen MacArthur.
O cenário da crescente onda de plástico
Peixe preso em luva plástica
O plástico se tornou muito presente em nosso dia a dia: o encontramos nos mais diversos produtos, dos alimentícios aos cosméticos. Este material é amplamente usado porque é versátil, barato e conveniente. Contudo, essa conveniência tem um preço - e ele não é só financeiro.
Cerca de 11 milhões de toneladas de plásticos estão sendo descartados nos oceanos a cada ano, segundo o Breaking The Plastic Wave. Para piorar, o estudo prevê que, caso não sejam tomadas medidas urgentes, o volume de resíduo plástico poderá triplicar até 2040. Como consequência, espera-se que os 11 milhões de toneladas de plásticos nos oceanos virem 29 milhões de toneladas por ano. Dessa forma, a quantidade de plástico nos oceanos pode atingir um total de mais de 600 milhões de toneladas até o mesmo período. Esse número preocupante representa 50kg de lixo marinho por metro de costa no mundo todo.
Os impactos dos resíduos plásticos nos oceanos
À medida em que aumentamos a produção e o uso do plástico sem mudanças para processos mais sustentáveis, o descarte indevido do material nos oceanos também aumenta, prejudicando cada vez mais a vida marinha. O acúmulo desse resíduo nos mares, costas e outros componentes do ecossistema marinho pode danificar suas funções.
Estima-se que recifes de coral, trincheiras de mar profundo, ilhas remotas e pólos estão sendo todos afetados pelo volume de resíduo plástico presente no oceano. Essa realidade é bastante preocupante, uma vez que esse material pode permanecer no oceano por centenas de anos ou até não se decompor.
Além disso, mais de 800 espécies marinhas já são conhecidas por serem afetadas por poluição plástica. Isso inclui todas as espécies de tartarugas marinhas, que podem ingerir fragmentos do material ou se ferirem, mais de 40% das espécies de cetáceos e 44% por cento das espécies de aves marinhas.
Os danos não são exclusivos para as águas salgadas, afetando corpos de água doce e também nossa saúde. Os resíduos podem bloquear rios e sistemas de drenagem, causando inundações e aprisionamento de água estagnada, agravando assim a propagação de doenças em comunidades próximas.
Um triste cenário, mas há solução!
Se por um lado os números assustam, por outro, o estudo aponta que é possível revertê-los. Para que isso aconteça, será preciso um esforço conjunto e políticas mais firmes no combate à poluição plástica, ao mesmo tempo que evitemos soluções equivocadas.
Por exemplo, segundo o relatório, uma forma equivocada de se lidar com o descarte do material é queimando-o. Essa técnica emite produtos quimicamente tóxicos, gases de efeito estufa e transfere a carga de poluição para o ar e a água. Em 2016 a queima de plástico emitiu o equivalente a 1 gigaton do dióxido de carbono e gases de efeito estufa, elementos prejudiciais à saúde de todos os ecossistemas.
Caminhando para soluções, a Fundação Ellen MacArthur, uma das colaboradoras do estudo, lançou uma perspectiva do cenário intitulada "A Solução de Economia Circular Para a Poluição de Plástico". A Fundação estabelece ações urgentes e precisas para empresas e governos, incluindo:
- Eliminar os plásticos de que não precisamos, não apenas removendo os canudos e sacolas, mas rapidamente dando escala a modelos de entrega inovadores, que entregam produtos aos clientes sem embalagem ou usando embalagens reutilizáveis.
- Projetar todos os itens feitos de plástico para que sejam reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. É também crucial financiar a infraestrutura necessária, aumentando rapidamente a nossa capacidade de recolher e circular estes itens. Isto exigirá cerca de US$ 30 bilhões em financiamentos anuais recorrentes, no melhor dos cenários.
- Inovar a uma velocidade e escala sem precedentes em direção a novos modelos de negócios, design de produtos, materiais, tecnologias e sistemas de coleta para acelerar a transição para uma economia circular.
Todas essas medidas apontam a necessidade de adaptarmos nossos processos em direção a um único caminho: a economia circular.
Economia Circular como grande aliada
O estudo afirma que a adoção da economia circular é a grande solução para o desperdício e a poluição causada pelo plástico. Esta visão é compartilhada por mais de 850 organizações signatárias do Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico e da rede do Pacto do Plástico.
Mas afinal, o que é economia circular e como ela interfere na gestão de resíduos? Diferentemente do modelo tradicional, linear, o novo modelo econômico funciona de uma forma em que o descarte seja mínimo e todos os elementos da cadeia produtiva são reaproveitados na fabricação de novos produtos, reduzindo a extração de matérias-primas da natureza e os impactos nocivos dos resíduos.
Economia Linear vs Economia Circular
Economia Linear x Economia Circular
Enquanto o modelo de economia linear segue o padrão “extrair-produzir-descartar”, a economia circular, como o nome sugere, faz com que a economia funcione como um ciclo.
O modelo linear se baseia na extração crescente dos recursos naturais. O crescimento econômico depende do consumo de recursos finitos, o que traz risco iminente de esgotamento de matérias-primas. Além claro, do volume exacerbado de resíduos que são descartados na natureza.
Já na economia circular a vida útil dos produtos é estendida pelo maior tempo possível. Isso é viabilizado pela aplicação dos conceitos de reparo, remanufaturamento, reciclagem, renovação. Nesse modelo, a geração de resíduos e a utilização de recursos reduzem-se ao mínimo e, quando os produtos atingem o final da sua vida útil, os recursos mantêm-se na economia para serem reaproveitados e voltarem a gerar valor.
Quando essa ferramenta é aplicada à gestão de resíduos, o plástico é reinventado, aproveitando suas qualidades e garantindo um uso mais responsável dos recursos.
De acordo com o líder do relatório Quebrando a Onda de Plástico, Sander Defruyt, a transição para uma economia circular do plástico poderia gerar uma redução de custo anual estimada em US$ 200 bilhões, em comparação ao cenário atual, além dos benefícios ambientais e climáticos. O estudo também aponta que essa solução poderia reduzir a produção do lixo em mais de 80%.
As medidas para chegarmos na Economia Circular são diversas. Passam pela redução da produção e do consumo de plástico, alternativas biodegradáveis, até reciclagem e a limpeza dos oceanos. No contexto da reciclagem, a logística reversa vem se apresentando como uma boa ferramenta para efetivar a recuperação e reaproveitamento dos materiais após o descarte. Já explicamos aqui no Blog sobre como a logística reversa de embalagens possibilita essa operação.
Um trabalho conjunto em direção à recuperação
Quebrando a Onda de Plástico é uma campanha para encorajar todos os acionistas a terem um papel ativo na luta contra a poluição do plástico. Como cidadãos, nós devemos estar atentos ao impacto de nossas escolhas e adotar um estilo de vida que minimiza o impacto ambiental. As empresas precisam olhar em direção a um futuro sustentável de forma que transforme todo o processo de fabricação dos produtos em um processo minimamente danoso ao meio ambiente e prioritariamente circular.
Para a Ellen MacArthur, a solução tem que ser encontrada muito antes que o plástico chegue aos oceanos. Ela reiterou que uma mudança em direção a uma economia circular, com a máxima reutilização do plástico, ampliação da coleta e reciclagem, e a substituição do produto sempre que possível, permitiria que, até 2040 o volume nos oceanos caísse para 5 milhões de toneladas por ano.
Se você quiser acessar o estudo "Breaking The Plastic Wave" na íntegra, em inglês, basta clicar aqui. Para ler a perspectiva "A Solução de Economia Circular Para a Poluição de Plástico", lançada pela Fundação Ellen MacArthur com versão em português, clique aqui.
Referências
Breaking the Plastic Wave - A COMPREHENSIVE ASSESSMENT OF PATHWAYS TOWARDS STOPPING OCEAN PLASTIC POLLUTION
Perspectiva sobre o estudo “Breaking the Plastic Wave” - A SOLUÇÃO DA ECONOMIA CIRCULAR PARA A POLUIÇÃO POR PLÁSTICOS, por Fundação Ellen MacArthur
Surfrider Foundation Europe - Break the plastic wave
Revista Exame - Humanidade já produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico
Folha de Pernambuco - Plástico nos oceanos pode chegar a 600 milhões de toneladas em 2040
Ideia Circular - O Que É Economia Circular?
Hypeness - Quantidade de Plástico Nos Oceanos Deve Triplicar Até 2040
Fundação Ellen MacArthur - Estudo confirma necessidade urgente de se fazer a transição para uma economia circular dos plásticos
Fonte: https://www.creditodelogisticareversa.com.br/post/quebrando-a-onda-de-plastico-estudo-aponta-a-economia-circular-como-solucao-para-lixo-marinho