sexta-feira, 8 de julho de 2022

Fusão Nuclear em 2025?, Rodrigo Tavares (FSP)

 

Rodrigo Tavares

Fundador e presidente do Granito Group; professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

Para expiar as culpas e apaziguar os nossos fogos internos, a humanidade lança-se na busca de soluções totalitárias que nos salvem de nós próprios. Por séculos, encontrar o Santo Graal era uma profissão de fé e o expediente para a redenção dos pecados. Por décadas, o uso da violência e a opressão política foram justificadas pela necessidade de se construir uma ordem socioeconômica alicerçada nos princípios da propriedade comum dos meios de produção, do igualitarismo e da ausência de classes sociais.

E agora que a humanidade enfrenta a possibilidade técnica de extinção devido às mudanças climáticas, procuramos uma nova solução universal e radical que se sobreleve às mesquinhezes governativas e aos impasses individuais. Para enfrentar as mudanças do clima, a pergunta que se faz é: como podemos ter acesso a energia barata, ilimitada e verde?

Solar, eólica, nuclear, hidrogênio verde? Nenhuma das respostas possíveis gera conforto. A Universidade de Princeton lançou o estudo "Net-Zero America", o primeiro a modelar com profundidade as necessidades energéticas dos EUA até 2050, e nenhum dos cenários é otimista. Viveremos às escuras se continuarmos na trajetória atual.

Imagem mostra interior circular, com paredes metálicas, de um reator de fusão nuclear
Interior do tokamak para fusão nuclear JET (Joint European Torus), no Centro de Ciência Culham, no Reino Unido - AFP

A solução mais revolucionária para resolver os problemas energéticos da humanidade reside na fusão nuclear. Mas a ciência é tão complexa que a maior parte dos físicos olha para esta possibilidade de forma jocosa. O estudo de Princeton ignorou-a por completo. "Há 30 anos que ouço que a fusão nuclear será desenvolvida daqui a dez anos", disse à coluna um professor catedrático de física português, entre sorrisos.

A fusão é o processo que alimenta estrelas como o sol e possibilita a geração de uma fonte de energia limpa, segura e quase ilimitada a longo prazo na Terra. Corresponde à junção de núcleos de átomos, um processo inverso ao que está na base dos atuais reatores nucleares, caracterizado pela separação de núcleos atômicos de elementos radioativos. A fusão é alimentada a água e consegue produzir grandes volumes de energia sem emissão de carbono.

Desde a década de 50, coalizões de governos e de cientistas têm desenvolvido projetos imperiais que visam testar a viabilidade da fusão nuclear como fonte de energia. Todos em estágio embrionário e experimental. O mais conhecido é o reator Iter (International Thermonuclear Experimental Reactor), localizado em França, cuja construção começou em 2010. O experimento junta União Europeia, Índia, Japão, Rússia, China, Estados Unidos e Coreia do Sul. Um cientista do Iter, entrevistado pela CNN Portugal, disse acreditar que a fusão poderá estar ao nosso alcance, em nível industrial, em 40 a 50 anos. O Iter é o "maior projeto de sempre da humanidade em termos científicos", rematou.

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Mas há quem acredite que não precisaremos esperar meio século. Na semana passada, também em Princeton, uma das funcionárias mais sêniores da Commonwealth Fusion Systems (CFS) fez uma apresentação reservada para 40 pessoas sobre os planos da empresa, criada a partir do MIT. O objetivo é atingir a fusão em três anos.

A empresa utiliza a tecnologia de eletroimã supercondutor de alta temperatura e argumenta que é muito mais barata e eficaz do que os supercondutores de baixa temperatura usados pelo Iter. Enquanto o desenvolvimento da primeira opção custa cerca de US$ 2 bilhões, a segunda tem um orçamento de US$ 50 bilhões, dos cofres públicos. O hardware e tecnologia de alta temperatura permitem criar campos magnéticos muito mais fortes, com uma infraestrutura 40 vezes menor.

A CFS é uma startup criada em 2018. Sua meta inicial era se capitalizar. Meta atingida. Fez uma rodada de captação de US$ 1,8 bilhão, a maior já realizada no estado de Massachusetts (onde estão localizadas Harvard, Tufts e o MIT), com capital de bilionários americanos, fundos de VC globais, fundos soberanos asiáticos, uma multinacional de energia europeia e fundos de pensão europeus. Os nomes foram revelados ao público, em caráter reservado.

A segunda meta, prevista para 2021, era demonstrar com sucesso um imã de alta temperatura supercondutor (HTS, em inglês) a produzir um campo de energia com força de 20 tesla, o mais poderoso deste gênero. Meta atingida.

A próxima meta, prevista para 2025, é produzir energia por intermédio da fusão nuclear de forma comercialmente viável. Isso será atingido com o desenvolvimento do Sparc, um dispositivo a energia de fusão que consegue criar um campo de plasma, produzindo mais energia do que a que consome. "O nome Sparc foi inspirado no 'reator arc' do Homem de Ferro da Marvel" disse a executiva. Meta atingível? A empresa está otimista com os resultados científicos, mas está preocupada com os estrangulamentos atuais nas cadeias de suprimentos, difíceis de prever e de controlar.

A partir de 2030, a empresa quer desenvolver uma central de fusão nuclear, chamada ARC, e começar a injetar energia na rede elétrica. O centro industrial da CFS está em construção numa pequena cidade a cerca de 50 km de Boston. Será a partir de lá que será produzida a energia limpa que será vendida aos grandes consumidores do planeta. Milhares de pequenas centrais de fusão nuclear serão construídas pela CFS nas décadas seguintes.

Obviamente, tudo pode dar errado. Mas se der certo, será uma startup e não as maiores potências a resolver o maior problema da humanidade. Será a ciência e não a política. O mundo será verde e não de alta intensidade carbônica. E os EUA reganharão vigor geopolítico, atrasando o deslocamento do eixo do poder para a Ásia.


Senador diz que recebeu R$ 50 milhões do orçamento secreto por apoiar eleição de Pacheco OESP

 BRASÍLIA - O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse ao Estadão que recebeu R$ 50 milhões em emendas do orçamento secreto por ter apoiado a campanha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado, em fevereiro do ano passado. Relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023, do Val afirmou que os recursos seriam uma forma de “gratidão” pelo apoio e declarou ter sido informado sobre a verba por Davi Alcolumbre (União-AP), articulador da campanha de Pacheco ao comando do Senado, após o resultado da disputa.

As afirmações de do Val expõem, pela primeira vez, como são feitos, nos bastidores, os acordos em torno da divisão do orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão. A lei estabelece que a distribuição dos valores deve ser igualitária e impessoal entre os congressistas.

O orçamento secreto fere a Constituição por não respeitar a “transparência” na divisão das verbas, na avaliação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU). O modelo também distorce as regras ao permitir que os presidentes da Câmara, do Senado e o relator do Orçamento decidam quem vai indicar as emendas parlamentares e receber dinheiro público.

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Procurado pela reportagem, o presidente do Senado disse desconhecer o assunto. Davi Alcolumbre não quis se manifestar. Após a publicação desta entrevista pelo site do Estadão, do Val divulgou uma nota na qual afirmou ter sido “mal interpretado”. O senador destacou, ainda, que todo recurso recebido foi destinado ao Espírito Santo. “Pelo desculpas por eventual mal entendido”, escreveu.

Senador Marcos do Val (Podemos-ES); parlamentar expõe acordos de bastidores em torno da divisão do orçamento secreto
Senador Marcos do Val (Podemos-ES); parlamentar expõe acordos de bastidores em torno da divisão do orçamento secreto Foto: Gabriela Biló/Estadão - 12/11/19


Senador diz que recebeu R$ 50 milhões do orçamento secreto por ter apoiado eleição de Pacheco

Marcos do Val (Podemos-ES) relatou que teve o poder de indicar as emendas como ‘gratidão’ ao apoio dado na eleição para a presidência do Senado

Qual foi o critério de divisão das emendas do orçamento secreto no Senado?

O Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: “Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão”. E ele me passou isso porque eu fui um dos que ajudei ele (sic) a ser eleito presidente do Senado. E aí eu falei: “Pô, legal, está transparente e tal”. Aí ele falou: “Olha, se a gente conseguir mais uma gordura, eu direciono para você”. Não foi uma coisa (do tipo): “Mas eu preciso que você me apoie”.

O Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: “Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão’.”

Marcos do Val, senador (Podemos-ES)

Isso foi quando?

Quando ele assumiu. Ele já tinha sido eleito.

E como funcionou?

Ele chamou os quem eram os mais próximos, que apoiaram a campanha dele, os líderes, e aí ele tornou: “Olha, o meu critério vai ser esse”. E todo mundo concordou. Então, ficou uma coisa transparente, assim, (e) não: “Pô, quem será que ganhou mais?”

Ele falou em valores?

Não, porque ele não sabia o que viria, o que o Executivo iria encaminhar, mas que era em proporcionalidade. E, assim, de todo o coração, o Rodrigo para mim é um cara fora da curva, um cara corretíssimo, muito equilibrado. Vamos dizer assim, distensionou as cordas entre os Poderes. Então, eu até perguntei para ele se ele pensa em se reeleger. Ele falou que está pensando. Eu falei: “Olha, então você vai ter um cabo eleitoral porque eu vou brigar para que você continue”. Então, muita gente que era contrária a ele, o Podemos, que era contrário, hoje a maioria fala: “Pô, você me surpreendeu”. E eu dizia para o Podemos: “Viu? Eu falei para vocês”.

Lira cria ‘sala secreta’ para liberar verbas do orçamento secreto às vésperas da restrição eleitoral

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Qual foi a proporção que ele prometeu para o Podemos? Ou era individual?

Eu não sei qual é a conversa que ele teve em valores com os outros. Para mim, quem me ligou dizendo foi até o Davi (Alcolumbre), não foi nem o Rodrigo. E aí com o Davi que eu perguntei. Eu achei até muito para eu encaminhar para o Estado (Espírito Santo), mas como (é) questão de saúde, eu não vou negar. Eu perguntei: “Mas teve algum critério?” Ele só falou: “Aquele critério que o Rodrigo falou para vocês lá no início”. “Ah, tá, entendi.” Mas ele falou: “Só que o Rodrigo te colocou no critério como se você fosse um líder pela gratidão de você ter ajudado a campanha dele a presidente do Senado”. Eu falei: “Poxa, obrigado, não vou negar e vou indicar”.

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado; parlamentar afirma que desconhece o assunto
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado; parlamentar afirma que desconhece o assunto Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado - 22/6/22

Quanto foi o valor, senador?

Foi R$ 50 milhões.

Foram R$ 50 milhões do orçamento do ano passado?

Isso. Do ano passado, para ser executado neste ano.

E esse relato que o sr. está dando pode ser em on (jargão jornalístico para se referir a declaração a ser publicada com o nome do entrevistado)?

Pode, pode ser em on. É público, eu já comuniquei isso ao Ministério Público na época (os valores e a destinação dos recursos). É o valor que todo mundo dizia que é o tal do orçamento secreto, da compra de votos. Eu acho, porque eu não pedi para levantar isso, que foi o mesmo valor que os líderes receberam. E o critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele (sic) enquanto outros não apoiavam. Mas ele não prometeu. Em nome da minha filha, eu tenho uma, tem 16 anos, em nome dela eu te digo (que) em momento algum ele me prometeu um real tipo assim: “Me apoie que eu te dou um real”. Ou: “Me apoie que eu te dou a presidência de uma comissão”. Nada, nada. Absolutamente, nada.

E o critério que ele colocou para mim foi o critério de eu ter apoiado ele enquanto outros não apoiavam.”

Marcos do Val, senador (Podemos-ES)

O termo usado pelo Davi (Alcolumbre), então, foi gratidão?

É, isso, boa, palavra excelente. Vou usar, se você me permitir.

Estou perguntando a palavra porque eu lembro que o sr. citou isso.

Gratidão, você resumiu. Gratidão, gratidão.

Mas não é a mesma coisa (do que compra de voto), só que ao contrário, senador?

Olha, assim, no critério que ele tinha colocado, eu acho que eu ia receber... Era assim: a minha parte seria de R$ 10, 15, 20 (milhões), alguma coisa assim, entendeu? Então, como ele me colocou, me deu essa gratidão, como você falou, eu recebi. E aí, pode ser que eu esteja enganado, vocês que levantam tudo, eu acho que eu recebi o mesmo que os líderes.

A minha parte seria de 10, 15, 20, alguma coisa assim, entendeu? Então como ele me colocou, me deu essa gratidão, como você falou, eu recebi.”

Marcos do Val, senador (Podemos-ES)

Pelo fato de o sr. ter apoiado (Pacheco)?

Com base (no apoio), certeza. É porque, como eu tornei transparente... Eu não sei os outros.

O sr. indicou emendas de relator neste ano?

Até agora, não, nada. Boa pergunta. Eu até tenho de ver para correr atrás.