sábado, 7 de maio de 2022

Ruy Castro - A prova do amor eterno, FSP

 Cada um escolhe a quem dedica a vida, e conheci no Rio três pessoas que dedicaram grande parte dela a Frank Sinatra. Um deles, Flavio Ramos. Em 1939, ele tinha 12 anos e escutou um 78 rpm da big band de Harry James, "All or Nothing at All", com o novo crooner Frank Sinatra. Ali Flavio decidiu que viveria em função de Sinatra ou em torno dele. Em 1962, sua boate Bon Gourmet, em Copacabana, acolheu por 40 noites o maior show da história da bossa nova: "O Encontro", com João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas. E, em 1980, Flavio apertou a mão de Sinatra no camarim deste, no Maracanã.


Um amigo de infância de Flavio ouviu com ele o 78 de Sinatra: Ronaldo Bôscoli, no futuro um dos pais da bossa nova. Flavio chamou-o a acompanhá-lo ao camarim de Sinatra no Maracanã, mas Ronaldo tremeu e não foi. Ronaldo ficaria famoso também como namorador, embora dissesse: "Gosto mais de Frank Sinatra do que de mulher". Sabendo disso, a então sra. Bôscoli, Elis Regina, vingou-se de suas escapadas jogando seus LPs de Sinatra no mar.

E Roberto Quartin, produtor musical, foi um dos grandes colecionadores de Sinatra no mundo. Seu acervo incluía edições alternativas de LPs, prensadas, digamos, em Honolulu, com diferenças que só outro colecionador identificaria. E Roberto conheceu Sinatra, que o autorizou a copiar a íntegra das fitas originais de seus LPs na Capitol, com tudo o que não saiu nas versões finais.

Mas nenhum deles supera o radialista americano Sid Mark. Ele também se apaixonou pelo cantor em criança e, durante 43 anos, desde 1979, apresentou quatro programas semanais dedicados a Sinatra em emissoras de Filadélfia. Isso significa 8.600 programas. Quando Sinatra o via na plateia de seus shows, apontava-o e dizia ao microfone: "Eu amo esse cara!".

Sid Mark morreu há duas semanas, aos 88 anos, feliz, na ativa e provando que o amor eterno existe.

Capa da revista Life com Sinatra, LP de colecionador e ingressos do show no Maracanã - Heloisa Seixas

‘Único nome a ser testado é o de Simone Tebet’, afirma Eduardo Giannetti, OESP

 


Por Cristiane Barbieri

Para economista, senadora tem vantagem na terceira via por ser mulher e do Centro-Oeste

Eleito em dezembro membro da Academia Brasileira de Letras pela obra na qual faz reflexões sobre os caminhos do Brasil, o economista e escritor Eduardo Giannetti disse ao Estadão que esperava que forças políticas se unissem para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro. Não viu o movimento acontecer. Na terceira via, Giannetti vê dificuldade de encontrar um nome com capacidade de diálogo com o eleitor suficiente para quebrar o cenário polarizado. Entre os nomes que se apresentam, avalia que Simone Tebet (MDB-MS) leva vantagem por ser mulher e ainda não ter sido testada em disputa majoritária. A seguir os principais trechos da entrevista.

Há alguém na terceira via que pode se tornar competitivo até outubro?

Os ingleses têm um ditado que diz “uma semana é um tempo longo na política”. A política tem uma dinâmica e uma temporalidade muito acelerada e, portanto, é perfeitamente possível. Agora, quanto mais a gente se aproxima da eleição, mais remota parece essa possibilidade. Principalmente diante da ausência de um nome que seja realmente capaz de catalisar a parte ponderável do eleitorado que preferiria ter uma alternativa à polarização de Bolsonaro e Lula. A dificuldade é encontrar um candidato que consiga galvanizar esse eleitorado que não deseja repetir em 2022 a polarização raivosa que houve em 2018 e que está se anunciando mais uma vez.

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Qual é o problema da disputa entre Lula e Bolsonaro?

Ambos dividem o Brasil, cada um à sua maneira e por distintas razões. Não é bom ter uma eleição em que os candidatos representam um País rachado ao meio e despertam rejeição do outro lado, em níveis muito altos. O perigo disso descambar para um cenário de violência e de conflito é grande.

Pré-candidatos dialogam pouco com o eleitor, afirma Giannetti.
Pré-candidatos dialogam pouco com o eleitor, afirma Giannetti. Foto: Helcio Nagamine/Estadão

O fiasco das manifestações de 1.º de Maio é reflexo do cansaço com a política?

Nenhum político brasileiro hoje consegue mobilizar a população para a rua. Bolsonaro que pareceu erroneamente, em 2018, ser alguém que vinha de fora, um outsider, na verdade nunca o foi. Ele estava havia 30 anos no Congresso, onde não fez absolutamente nada, exceto propor a autorização da pílula do câncer. É preciso colocar o Bolsonaro dentro de um contexto mais amplo. Não é algo isolado de um processo que está ocorrendo em escala planetária, que é a ascensão de uma direita populista. Esse fenômeno se reflete em muitos países com características distintas, mas com substrato comum.

Por que os outros candidatos não conseguiram conquistar o eleitor?

A alternativa não surge por uma série de razões que vão de fogueiras das vaidades até falta de lideranças que consigam se comunicar com o brasileiro comum. Esse é um fenômeno muito sério na política brasileira. Gostemos ou não, só dois líderes brasileiros fazem com que o brasileiro comum sinta que estão falando com ele: Lula e Bolsonaro.

João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) têm apelo que fale com o brasileiro?

O único nome que ainda está por ser testado é a Simone Tebet e o fato de ser uma mulher do Centro-Oeste é um ativo. Mas precisaria ter um vice com um perfil muito forte e popular e com penetração na Região Nordeste para ter uma chapa competitiva.

Em tempos de redes sociais, qual a influência do relacionamento entre as lideranças econômicas e os candidatos?

O efeito é mínimo. Em alguns casos é até contraproducente. As lideranças tradicionais dos partidos, quando falam, parecem estar se dirigindo à zona sul do Rio, aos Jardins, ao câmpus universitário. Não estão falando com o brasileiro comum. Isso não é uma coisa que se improvisa ou um golpe publicitário. É uma experiência de vida, que dá à pessoa a condição de se fazer entender. O eleitor brasileiro é altamente movido por afeto, por sentimento, por emoção. Não é movido por ideias e planos de governo. É um eleitor profundamente emocional, que muda de opinião. Muita gente que votou no Bolsonaro tinha votado no Lula. E agora possivelmente vai votar no Lula, tendo votado em Bolsonaro.

Só mais três anos, José Renato Nalini, OESP

 A ONU leva a sério a mudança climática gerada pelo aquecimento global. Tanto é que um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima – IPCC, anunciou que a humanidade só tem até 2025 para reduzir as emissões de gases venenosos. É urgente acabar com o desmatamento, reflorestar as áreas dizimadas, investir em energias renováveis e novas tecnologias. Sem isso, o carbono continuará a sua sanha assassina de acabar com qualquer espécie de vida sobre este planeta.

Como durante 2010 a 2019 a emissão cresceu assustadoramente, o remédio seria forçar a queda nestes próximos três anos, para que a humanidade chegasse a 2030 com redução de 43% em relação a 2019.

Alguém acredita que uma sociedade humana imersa em guerra, com políticas armamentistas a incentivar violência, um consumismo irresponsável e um egoísmo galopante possa se compenetrar do perigo que está cada vez mais próximo?

Parece que nos próximos anos teremos mais calor, secas, desertificação, tempestades, inundações, deslizamentos e mortes. Estas virão também por estresses de calor, enfermidades pulmonares e cardíacas, doenças infecciosas, pestes causadas por mosquitos, aumento de refugiados ambientais, miséria e fome.

Tecnologia já existe. Por isso é que a obtenção de energia eólica e solar está muito barata em relação ao momento em que surgiram os primeiros equipamentos utilizados para produzi-las. Outras coisas são praticamente gratuitas: não desmatar. Não custa nada deixar de cortar árvores. Mas aí é preciso que o governo faça a sua parte. Ninguém exige mais do que o mero e estrito cumprimento da Constituição da República, no seu artigo 225.

Talvez a receita seja recorrer à iniciativa privada. A empresa, que sobreviveu a todas as crises, suportou governos imprevisíveis e vorazes no saqueio dos recursos gerados pelo trabalho, para sustentar máquina cada vez maior e mais improdutiva, tem condições de zelar pelos interesses do futuro de maneira muito mais eficiente do que qualquer governo.

A Amazônia reveste uma importância excepcional. É baixíssimo o custo da captura de carbono pela floresta. Mas é preciso que haja imediato freio à grilagem de terras, aos incêndios criminosos, à invasão das áreas indígenas demarcadas e aquelas em fase de demarcação.

A regularização fundiária é uma política estatal que resolveria inúmeros problemas, principalmente a questão das terras públicas, hoje ocupadas por facções criminosas, em atuação acumpliciada com quem deveria zelar pelo interesse comum e não amparar delinquentes.

Preservar nossa cobertura vegetal é a maneira mais eficaz, mais barata, mais eficiente e mais fácil de se reduzir a emissão de CO2. O investimento internacional poderia ser captado para projetos de aproveitamento racional e sustentável do que resta de nossa maior floresta tropical. Aqui, o mundo todo sabe disso, o principal problema é o desmatamento planejado, premeditado e incentivado. Quando os dendroclastas ouviram “soltar a boiada”, isso foi música para seus ouvidos insensíveis e que só se comovem com cifrões.

Se o Parlamento de fato representasse a população, cobraria do governo o cumprimento da normatividade e também a observância dos compromissos assumidos na COP-26, quando o Brasil prometeu cortar em 50% as emissões até 2030. Como advertência para a gravidade da situação, já existe uma série de eventos catastróficos enfrentados principalmente pela população de baixa renda. Mas quando a perspectiva de vida terrena se debilita em virtude de atuação suicida dos próprios seres racionais, acende-se a luz vermelha do perigo extremo. Não é possível continuar como avestruz, com a cabeça enterrada na areia, para fugir ao que já é a melancólica realidade brasileira.

Mais uma vez, os cientistas deram o seu recado. Foram 278 autores do relatório que recebeu mais de 60 mil comentários de revisores especializados, de representantes de governos lúcidos, após análise e menção explícita de mais de 59 mil artigos científicos.

Será que o Brasil vai continuar cego e surdo a esse clamor? Será que de nada valeu a morte de tantas pessoas em virtude de eventos climáticos extremos, gerados pelo aquecimento global?

São só três anos. Mas agora é para valer. Depois disso, não adiantará chorar pela omissão, pela inércia, pela insensibilidade.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022