quarta-feira, 6 de abril de 2022

THE NEW YORK TIMES Oceanos estão ameaçados por 'neve' de microplásticos; entenda, FSP

 Sabrina Imbler

THE NEW YORK TIMES

Desde que existe vida marinha existe neve marinha —uma chuvinha incessante de resíduos e seres mortos que vão descendo da superfície para as profundezas do mar.

A neve começa sob a forma de ciscos, que se agregam para formar flocos densos que vão gradualmente afundando, passando pelas bocas (e semelhantes) de seres necrófagos que vivem mais abaixo. Mas mesmo a neve marinha que é devorada provavelmente voltará a ser neve outra vez. As entranhas de uma lula não passam de uma parada para descanso nesse longo percurso para as profundezas.

O termo "neve" pode sugerir algo branco e invernal, mas a neve marinha é sobretudo marrom ou acinzentada, sendo composta principalmente de material morto. Há tempos imemoriais os detritos sempre contiveram as mesmas coisas: resíduos de plantas e carcaças de animais, fezes, muco, poeira, micróbios e vírus, e eles sempre transportaram o carbono do oceano para ser armazenado no leito do mar.

Imagem da neve oceânica, formada por partículas fecais, mas também por microplásticos, no mar de Bering, no Alasca
Imagem da neve oceânica, formada por partículas fecais, mas também por microplásticos, no mar de Bering, no Alasca - Andrew McDonnell/University of Alaska via The New York Times

Cada vez mais, contudo, a neve marinha está sendo infiltrada por microplásticos: fibras e fragmentos de poliamida, polietileno e polietileno tereftalato (PET). E essa neve de material não orgânico parece estar alterando o processo milenar de resfriamento de nosso planeta.

Dezenas de milhões de toneladas de plástico entram nos oceanos da Terra todos os anos. Num primeiro momento, cientistas pensaram que o material estava destinado a boiar em grandes ilhas ou redemoinhos de lixo, mas levantamentos da superfície oceânica revelam apenas cerca de 1% do total estimado de plástico presente nos oceanos.

Um modelo recente concluiu que 99,8% do plástico que entrou no oceano desde 1950 afundou para abaixo das primeiras centenas de pés do oceano. Cientistas encontraram 10 mil vezes mais microplásticos no leito do mar que em águas superficiais contaminadas.

A neve marinha, um dos principais caminhos que ligam a superfície e as profundezas, parece estar ajudando os plásticos a afundar. E cientistas estão apenas começando a decifrar como esses materiais interferem nas redes alimentares do mar profundo e nos ciclos oceânicos naturais de carbono.

"Não é apenas porque a neve marinha transporta plásticos ou agregados com plástico", disse Luisa Galgani, pesquisadora na Florida Atlantic University. "É que a neve e os plásticos podem se ajudar mutuamente a chegar ao fundo do oceano."

A CRIAÇÃO DE NEVE MARINHA

A superfície do mar, iluminada pelo Sol, está cheia de fitoplânctons, zooplânctons, algas, bactérias e outras formas de vida minúsculas, todas se alimentando de raios solares ou umas das outras. Quando esses micróbios metabolizam, alguns produzem polissacarídeos que podem formar um gel pegajoso que atrai os corpos de organismos minúsculos mortos, pequenos pedaços de carcaças maiores, cascos de foraminíferos e pterópodes, areia e microplásticos, que se agregam para formar flocos maiores.

"Eles são a cola que conserva agregados todos esses componentes da neve marinha", disse Galgani.

Os flocos de neve marinha caem a velocidades diferentes. Os flocos menores descem mais lentamente —"pode ser apenas um metro por dia", disse a oceanógrafa biológica Anela Choy, do Instituto Scripps de Oceanografia da Universidade da Califórnia em San Diego.

Partículas maiores, como balas fecais densas, podem afundar mais rapidamente. "Esse material mergulha rápido para o fundo do oceano", comentou a pesquisadora Tracy Mincer, da Florida Atlantic University.

O plástico presente no oceano é degradado constantemente; mesmo um objeto grande e flutuante como uma jarra de leite acaba se decompondo em microplásticos. Esses plásticos desenvolvem camadas biológicas formadas por comunidades microbiais distintas —a chamada "plastisfera", segundo Linda Amaral-Zettler, cientista do Real Instituto Holandês de Pesquisas Marinhas, que cunhou o termo.

"Costumamos pensar no plástico como sendo inerte", ela disse. "A partir do momento em que entra no meio ambiente, ele é rapidamente colonizado por micróbios."

Os microplásticos podem dar carona a tantos micróbios que estes acabam neutralizando a flutuabilidade natural do plástico, levando sua "jangada" a afundar. Mas se as camadas biológicas se degradam durante o trajeto descendente, o plástico pode acabar boiando para cima novamente, potencialmente levando a um purgatório de microplásticos descrevendo um sobe e desce na coluna de água.

A neve marinha é tudo menos estável; à medida que os flocos descem em queda livre para as profundezas abissais, eles congelam e se decompõem constantemente, desfeitos por ondas ou predadores.

"Não é tão simples como ‘tudo cai o tempo inteiro’", explicou Adam Porter, ecologista marinho na Universidade de Exeter, na Inglaterra. "É uma caixa-preta no meio do oceano, porque não podemos passar tempo suficiente lá para entender o que está acontecendo."

Para explorar como a neve marinha e os plásticos se distribuem na coluna de água, Mincer começou a colher amostras de águas mais fundas, usando uma bomba do tamanho de uma máquina de lavar louça, cheia de filtros, que fica pendurada de um cabo preso a uma embarcação de pesquisas. Os filtros são organizados de malha grande a malha pequena, de modo a não permitir a entrada de peixes e plânctons. Operadas por dez horas seguidas a cada vez, essas bombas vêm revelando fibras de náilon e outros microplásticos distribuídos ao longo de toda a coluna de água abaixo do giro subtropical do Atlântico Sul.

Mas, mesmo com um navio de pesquisas e seus equipamentos caros e desajeitados, não é fácil recuperar um pedaço individual de neve marinha da água profunda no oceano real. Com frequência, as bombas dispersam a neve e as bolas fecais. E os flocos, por si sós, oferecem poucas pistas sobre a rapidez com que algumas neves estão afundando, informação essa que é vital para entender por quanto tempo os plásticos permanecem, se movimentam em sobe e desce ou afundam na coluna de água antes de assentar-se no leito do mar.

"São décadas?", indagou Mincer. "Centenas de anos? Com essa informação, poderíamos entender o que estamos enfrentando aqui e que tipo de problema iso é realmente."

NEVE MARINHA INSTANTÂNEA

Para responder a essas perguntas e trabalhar dentro de um orçamento definido, alguns cientistas têm produzido e manipulado sua própria neve marinha em laboratório.

Em Exeter, Porter colheu baldes de água marinha de um estuário próximo e colocou a água em garrafas que rolam continuamente. Então jogou microplásticos na água, incluindo minúsculas esferas de polietileno e fibras de polipropileno. A movimentação constante, além de um esguicho de ácido hialurônico pegajoso, incentivou as partículas a colidir e agregar-se, formando neve.

"É claro que não temos um tubo de 300 metros de profundidade para fazer a neve afundar", disse Porter. "Mas, rolando as garrafas, estamos criando uma coluna de água interminável pela qual as partículas podem cair."

Depois de as garrafas terem rolado por três dias, ele retirou a neve e analisou o número de microplásticos em cada floco. Sua equipe descobriu que todos os tipos de microplásticos que eles testaram se agregaram à neve marinha e que microplásticos como o polipropileno e o polietileno, normalmente flutuantes demais para afundar sozinhos, afundavam prontamente quando incorporados à neve marinha. E toda a neve marinha contaminada com microplásticos caiu muito mais rápido que a neve marinha natural.

Porter sugeriu que essa mudança potencial na velocidade de queda da neve pode ter consequências imensas para como o oceano captura e armazena carbono. Quedas mais rápidas podem depositar mais microplásticos no oceano profundo, enquanto quedas mais lentas podem deixar as partículas carregadas de plástico mais disponíveis para predadores, potencialmente empobrecendo as cadeias alimentares mais profundas.

"Os plásticos são uma pílula de dieta para esses animais", comentou Karin Kvale, cientista que estuda o ciclo de carbono na GNS Science, na Nova Zelândia.

UM BANQUETE DE PLÁSTICOS

Para entender como os microplásticos podem se deslocar pelas cadeias alimentares do fundo do mar, alguns cientistas estão buscando pistas em criaturas.

No Cânion Submarino Monterey, Anela Choy queria entender se determinadas espécies de organismos filtradores estão ingerindo microplásticos e transportando-os para as cadeias alimentares das águas mais profundas. "A neve marinha é uma das principais coisas que interliga as cadeias alimentares oceânicas", ela disse.

Choy estudou o larváceo gigante Bathochordaeus stygius. Esse larváceo se assemelha a um girino minúsculo e vive dentro de uma bolha suntuosa de muco que pode atingir até um metro de comprimento. "É pior que a maior caca de nariz que você já viu na vida", disse Choy.

Quando suas "casas de ranho" ficam obstruídas por tanto alimento, os larváceos as abandonam, e as bolhas pesadas afundam. Choy descobriu que esses palácios de muco estão cheios de microplásticos, que caem para as profundezas, juntamente com todo o carbono.

Larváceos gigantes são encontrados em todos os oceanos do mundo, mas Choy destacou que seu trabalho se concentra no Cânyon Submarino Monterey, que integra uma rede de áreas marinhas protegidas e não é representativo de outros mares mais poluídos.

"É uma baía profunda em uma costa de um país", disse Choy. "Agora pense em escala grande e visualize a vastidão do oceano, especialmente as águas profundas."

Os flocos individuais de neve marinha são pequenos, mas são muitos. Um modelo criado por Kvale estimou que em 2010 os oceanos do mundo produziram 340 quatrilhões de agregados de neve marinha, que podem transportar até 463 mil toneladas de microplásticos por ano para o leito do mar.

Cientistas ainda estão investigando exatamente como essa neve de plástico está afundando, mas sabem ao certo, disse Porter, que "tudo no oceano acaba afundando".

Lulas-vampiros-do-inferno (Vampyroteuthis infernalis) vivem, morrem e ao longo do tempo se convertem em neve marinha. Mas os microplásticos que passam por elas vão permanecer, eventualmente se assentando no leito do mar numa camada estratigráfica que vai marcar nossa passagem pelo planeta por muito tempo depois que os humanos tiverem desaparecido.

terça-feira, 5 de abril de 2022

Maia diz que desiste de disputar eleição e pede PSDB ‘à direita de Lula’, OESP

 Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

05 de abril de 2022 | 18h05

Depois de seis mandatos consecutivos no Congresso e de presidir a Câmara duas vezes, o deputado federal licenciado Rodrigo Maia (PSDB), 51, desistiu de concorrer novamente ao Legislativo e abriu caminho para sua irmã gêmea, Daniela Maia (PSDB), que deixou a presidência da RioTur. 

Maia chegou a se licenciar do governo paulista na semana passada para cumprir o prazo a Justiça Eleitoral, mas na segunda feira, 4, reassumiu o cargo de secretário de Projetos e Ações Estratégicas.

Em entrevista ao Estadão no seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, o ex-presidente da Câmara, que vai assumir a presidência da federação formada por PSDB e Cidadania no Rio de Janeiro, contou que segue como coordenador do plano de governo de João Doria e vai se dedicar a política fluminense nos finais de semana.

Após ser apontado como presidenciável no início dos debates sobre a sucessão de 2022 e visto como principal interlocutor entre os poderes nas crises provocadas por Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia mergulhou de cabeça no projeto do governador Rodrigo Garcia e decidiu ficar fora das brigas internas de sua nova legenda no plano nacional.

Rodrigo Maia
Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista  Foto: Alex Silva/Estadão

O ex-presidente da Câmara prega que o PSDB se assuma como um partido de centro-direita e rejeita o rótulo de terceira via. “O eleitor de centro pode decidir a eleição, mas não é majoritário. O PSDB é o principal partido de contraponto ao PT, para não usar o termo centro-direita, que alguns tucanos não gostam. Reclamam comigo quando eu uso”, afirmou.

Maia disse, ainda, que se Lula e Bolsonaro forem para o segundo turno, votaria no petista. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

Por que o sr. desistiu de tentar o 7° mandato como deputado federal?

Eu fui tudo na Câmara dos Deputados e quero agora uma experiência fora do Legislativo. Tive a experiência com Doria e agora com o Rodrigo (Garcia), que é de fato o meu grande amigo, e vejo a possibilidade de ajudar no governo dele esse ano. E com a provável reeleição nos próximos quatro anos também. Ser deputado a carreira inteira não é ruim, mas quem chegou à presidência da Câmara já ocupou quase todas as posições na Casa. O político tem que estar sempre aprendendo. Talvez esse seja um dos problemas da política brasileira: as pessoas acabam se acomodando no papel de parlamentar. Quero cumprir um ciclo no executivo e me reciclar. Quero aprender mais sobre gestão e orçamento público para que no futuro eu possa ter outros desafios na política ou até no setor privado.

O sr. segue também como coordenador do plano de governo de João Doria. Acredita que vai haver de fato sinergia entre a campanha dele e a do Rodrigo Garcia à reeleição em São Paulo?

Na campanha do João eu coordeno o plano de governo. Quero me restringir a isso. Entrei no PSDB, mas existem muitos conflitos no PSDB dos quais eu não quero participar. O que me dá prazer na política hoje é aprender. Sou cristão novo no PSDB. Já em relação ao Rodrigo Garcia, é uma eleição diferente. Ele é meu amigo. Na eleição nacional vou me ater aos temas técnicos para construir um plano transformador da vida das pessoas.

O sr. vai estar na campanha do Rodrigo também?

Vou ajudar o Rodrigo no que ele precisar.

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Em eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, Rodrigo Maia diz votar no petista Foto: Alex Silva/Estadão

Como avalia o cenário no PSDB?

Como deputado e um filiado que acabou de entrar no PSDB, acho esse conflito muito estranho, mas não quero participar disso. Esse conflito vem de antes da minha entrada no partido. Teve prévias e foram questionar. Foi uma votação com 44 mil pessoas. Isso deve ser tratado por quem está no partido há mais tempo. Doria se viabilizou como candidato. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o PSDB tem um problema de aceitar que está à direita do Lula. O PSDB precisa aceitar isso. É assim que a sociedade nos vê. A gente fez pesquisas por muitos anos. Se a sociedade entende que o Lula é esquerda, então o adversário tem que estar no outro polo. Precisamos resgatar o nosso eleitor e mostrar que nesse campo existe um caminho a ser ocupado.

Como o sr. avalia os encontros de tucanos como FHC, Aloysio Nunes e outros com Lula?

Como todos foram para a oposição ao Bolsonaro, que é considerado uma direita não democrática, isso confundiu a cabeça do eleitor. Se você olhar o cruzamento de pesquisas na avaliação positiva do governador João Doria, vai ver que o Lula tem 40% das intenções de voto. No cenário de São Paulo, o candidato hoje que tem os votos com perfil tucano é o Fernando Haddad, e não o Rodrigo Garcia ainda. Naturalmente o Haddad vai para a oposição e nós vamos ocupar aquele espaço da boa avaliação que o governo tem hoje. Nacionalmente, o nosso eleitor tem hoje mais restrição ao Bolsonaro do que vontade de apoiar uma candidatura fora da polarização. Um terço dos votos do Lula está no antibolsonarismo. O Churchill tem uma passagem muito interessante. Um jovem deputado chegou para ele no início da legislatura, olhou para o lado dos opositores e disse: ‘Primeiro-ministro, lá na frente eles serão nossos inimigos’. Churchill respondeu: ‘Não, lá na frente eles serão nossos adversários. Nossos inimigos estão aqui atrás’. É um pouco do que acontece hoje no PSDB e no nosso campo. Se conseguirmos ocupar um espaço, será tirando a vaga do Bolsonaro.

Qual deve ser o discurso para o PSDB entrar nesse jogo?

Não deve ser atacar o presidente Lula. Eu disse isso ao governador João Doria. Temos que dizer aos eleitores que se decepcionaram com Bolsonaro que temos uma alternativa que não seja a volta ao passado e o PT. A esquerda acha que se reduz desigualdade intervindo no Estado. Nós acreditamos que vamos redistribuir renda estimulando o setor privado.

O antipetismo deixou de ser então o grande eleitor que foi em 2018?

O antipetismo é a mola mestra do presidente do Bolsonaro, mas ninguém deu uma alternativa que o ocupe o lugar dele na centro-direita democrática. Temos que derrotar o Bolsonaro com uma candidatura que defenda aquilo que motivou o eleitor em 2018: um Estado moderno, eficiente, bom prestador de serviço e que segurança jurídica para o setor privado investir.

Qual a sua leitura sobre esse debate no PSDB sobre uma possível revogação das prévias pela convenção do partido e qual o valor dessa carta que o Bruno Araújo, presidente do partido, escreveu validando o resultado da consulta interna?

O governador Doria venceu um modelo de prévias que em tese era favorável ao governador Eduardo Leite. Ele (Doria) mesmo assim se dispôs s disputar. Não foi um voto para cada eleitor, mas com pesos diferentes para os líderes políticos. O melhor modelo era ser um voto para cada filiado ao PSDB. O processo escolheu de forma democrática o Doria e foi legitimado pelos adversários. Isso certamente tem muito mais valor que uma convenção. Mas não tenho nenhum interesse em participar desse debate, até porque isso pode enfraquecer o partido. O PSDB é o principal partido de contraponto ao PT, para não usar o termo centro direita, que alguns tucanos não gostam. Reclamam comigo quando eu uso. A gente devia ajudar o governador Doria a se viabilizar. Se lá em julho isso não acontecer, ele vai certamente construir uma solução. O nosso campo, que tem uma linha mais pró-mercado, está fora do debate. O debate está sendo feito entre valores conservadores – e muitas vezes reacionários – e por outro lado liberais demais com o PT e seus aliados. 

Por que o sr. não encaminhou o processo de impeachment contra o Bolsonaro quando era presidente da Câmara?

Porque não havia apoio político. Uma vitória de Bolsonaro poderia fortalecer demais o presidente e organizar uma narrativa contra as instituições democráticas.

Avalia que a campanha do Rodrigo em São Paulo deve ser casada com a do Doria para presidente?

O governador Rodrigo precisa primeiro mostrar a sua história e sua experiência com 5 governadores e defender o Governo de São Paulo, que teve grandes acertos. Ele tem que ser o governador do Estado de São Paulo. Não tenho dúvida que ele chega ao 2° com pelos menos 25% dos votos.

Por que João Doria tem uma rejeição incompatível com a aprovação do governo?

Todos os políticos que se colocam no centro terão uma rejeição alta. Se você projetar a rejeição do Eduardo Leite e da Simone Tebet sobre o que eles têm hoje de imagem positiva e negativa, e o alto desconhecimento, eles chegarão a uma rejeição parecida a do governador Doria. Ele fez o enfrentamento a máquina bolsonarista, o que gera uma rejeição grande. Eles operam unidos. Não é à toa que o Tarcísio cresce rapidamente.

O sr não gosta do termo terceira via?

Não tem terceira via. O Tony Blair se dizia terceira via, mas não era. Eram os trabalhistas contra os conservadores. Depois de um ciclo longo com os conservadores no poder o partido trabalhista estava mofado. Tony Blair modernizou o partido e criou o termo terceira via apenas para sair isolamento da esquerda e caminhar para o eleitor de centro, que existe. O eleitor de centro pode decidir a eleição, mas não é majoritário no processo eleitoral em nenhuma democracia do mundo. Se você olhar as eleições no Brasil vai ver que sempre sobram os dois. Em 2002 Roseana (Sarney) foi alternativa e caiu. Depois veio o Lula disputar contra o Serra, que era o candidato do governo. Em 2018 o Bolsonaro ocupou o lugar do PSDB na polarização contra o PT. A polarização comandou o processo político brasileiro desde 1994.

A tendência então é a polarização se repetir esse ano? 

Se nós não entendermos que o nosso campo é à direita do Lula, estaremos fora do segundo turno. Não é fácil ocupar esse espaço porque estamos no campo da direita com o Bolsonaro à nossa direita. Precisamos buscar esse 1/3 do eleitor do presidente Lula que não sairá com ele sendo agredido.

Em São Paulo, vê o Fernando Haddad no 2° turno e o Rodrigo disputando com Tarcísio Freitas?

O Rodrigo Garcia para mim está no 2° turno. Teremos um segundo turno entre PT e PSDB em São Paulo. É praticamente impossível que o governador não esteja no segundo turno.

Como enxergou a mudança de planos do Sergio Moro, que vai disputar algo em São Paulo, e do José Luiz Datena, que foi para um partido aliado do Bolsonaro e saiu da coligação do Rodrigo Garcia?

Moro está fora do processo nacional e vai enfrentar um processo regional, de parlamentar. Vai cuidar da vida dele. Datena é um grande comunicador e tem muita popularidade, mas vai ter muita dificuldade em transferir votos para alguém.

Como está o cenário eleitoral no Rio de Janeiro? O candidato a governador do grupo de vocês será o nome escolhido por Eduardo Paes?

Minha decisão de assumir a presidência da federação no Rio é um alinhamento com o prefeito do Rio. Estaremos juntos com a candidatura que ele apoiar. Tem o Felipe Santa Cruz (ex-presidente da OAB), e o Rodrigo Neves, do PDT, de quem o Eduardo está próximo. Mas podemos colocar aí um terceiro nome: o ex-prefeito César Maia, que aparece com 18% de intenção de votos em todas as pesquisas. Temos três alternativas nesse processo. Acho que o presidente Lula errou. a gente deveria ter tentado construir uma candidatura em torno do presidente da Assembleia, que deixaria o PT e iria para o PSD. Uniríamos todos os campos políticos do Rio para o enfrentamento com o Cláudio Castro e o Bolsonaro. Infelizmente não foi possível.

Como avalia a escolha do Geraldo Alckmin como vice de Lula?

Ele é meu amigo. Sou admirador do governador Geraldo Alckmin. Foi uma grande escolha do presidente Lula. Foi uma decisão acertada. Alckmin sabia que enfrentar uma eleição contra a máquina em São Paulo não seria simples. É importante abrir espaço para outros. Seria o 5° mandato dele. Alckmin avaliou o cenário político atual. Tomou uma decisão pessoal de fazer uma aliança da esquerda a centro direita para colaborar com enfrentamento a esse governo que não é muito democrático. Lula é nosso adversário, mas não é nosso inimigo.

No caso de um 2° turno entre Lula e Bolsonaro, quem o sr. apoiaria?

Não posso falar nem quero falar pelo PSDB. Se o governador João Doria não estiver no 2° turno, e acredito que ele estará, o natural é que eu caminhe para votar no presidente Lula no 2° turno. Mas acredito em um 2° turno Lula x Doria.