segunda-feira, 12 de julho de 2021

Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima morre aos 88 anos, OESP

 Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo

12 de julho de 2021 | 20h14

Morreu nesta segunda-feira, 12, aos 88 anos o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, onde teve um choque séptico. Flecha de Lima foi secretário-geral do Itamaraty, dirigiu o departamento de promoção comercial e ocupou as embaixadas de Londres, Washington e Roma. Chefiou ainda a missão responsável por obter no Iraque a libertação de cerca de 400 trabalhadores brasileiros retidos pelo regime de Saddam Hussein na Primeira Guerra do Golfo.

Era 7 de outubro de 1990 quando o embaixador viveu um dos momentos mais dramáticos de sua vida. Na Mercedes que o levou da embaixada em Bagdá para o aeroporto, Flecha de Lima e seu colega René Loncan ouviam em um toca-fitas o Va Pensiero, o coro dos escravos hebreus cativos na Babilônia, da ópera Nabuco, de Verdi. Era o fim de uma missão que começara 23 dias antes: resgate dos trabalhadores da construtora Mendes Júnior que Saddam Hussein pretendia usar como escudos humanos contra os bombardeios da coalizão internacional que reagiu à invasão iraquiana do Kuwait.

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O embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima. Foto: Edu Andrade/Ministério do Trabalho

O veterano diplomata conhecia o governo iraquiano como poucos no Itamaraty. Como chefe do Departamento de Promoção Comercial, ele começou a estabelecer laços comerciais com o país do Oriente Médio desde o começo dos anos 1970. Ele estava de férias no sul da França quando recebeu a missão do Itamaraty de seguir para o Iraque. O embaixador voltou a Londres, onde era o embaixador e fez as malas.

Ao pousar no Iraque, começou a negociar com a diplomacia iraquiana a libertação dos trabalhadores. Além dos trabalhadores da Mendes Júnior, um grupo de brasileiros ligados ao brigadeiro Hugo Piva também estava no Iraque assessorando o regime de Saddam na área de produção de material de defesa. A estratégia de Flecha de Lima foi evitar que os brasileiros saíssem aos poucos do país. Queria que todos saíssem juntos como instrumento de pressão sobre o governo iraquiano.

E assim foi. Ainda durante as negociações, o embaixador recebeu em Bagdá sua mulher, a embaixatriz Lúcia Flecha de Lima (falecida em 2017). A chegada de sua mulher ajudou o diplomata a acalmar os funcionários da Mendes Júnior. Em entrevista publicada pelo site Poder 360, o embaixador relatou ter dito: “Olha aqui, quero dar uma prova de que a coisa está se normalizando, tanto que mandei vir minha patroa”.

No fim, o diplomata conseguiu convencer o governo iraquiano a conceder os vistos de saída dos brasileiros libertar sem contrapartida. Um Boeing 747 da Iraqi Airways da trouxe primeiro 174 brasileiros no dia 1º de outubro. Flecha de Lima ficou para trás. Decidiu sair do Iraque com os últimos brasileiros que deixaram o país.

Mais informações em instantes

Não se iluda, se houver golpe, vai ser para roubar, Celso Rocha de Barros FSP

 Jair Bolsonaro disse que ou a eleição de 2022 vai ter voto impresso ou ela não vai acontecer. As Forças Armadas e todas as outras instituições da República deveriam ter publicado uma nota conjunta dizendo: “Jair, se der golpe, vai morrer. Abs.” Não publicaram.

Ao invés disso, na semana passada comandantes militares ameaçaram dar um golpe de Estado caso a CPI continue a investigar oficiais bolsonaristas que roubaram dinheiro de vacina.

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Pelo menos a turma de 64 tinha a decência de mentir que o golpe deles era para combater a corrupção. Era uma época em que o vício ainda prestava homenagem à virtude.

A CPI da pandemia já achou indícios fortes de que existem militares e ex-militares bolsonaristas enrolados no escândalo do roubo de dinheiro de vacina.

Roberto Dias, ex-sargento da Aeronáutica indicado por Bolsonaro para o Ministério da Saúde, é acusado de pedir suborno de um dólar por dose de vacina comprada.

O coronel da reserva Élcio Franco, homem de confiança de Pazuello no Ministério da Saúde, conduziu a negociação em que a mutreta teria acontecido. Há outros militares acusados de terem pressionado pela liberação da vacina e de terem feito a intermediação entre os picaretas e o ministério.

Até aí, era inteiramente previsível. Os militares são seres humanos como todos os outros. Há entre eles honestos e corruptos, como em toda parte.

A maciça entrada de militares na máquina administrativa brasileira, onde sempre houve os mais variados esquemas, inevitavelmente levaria alguns deles para o lado da mutreta. Aconteceu com todos os grandes partidos políticos.

Por isso, quando Omar Aziz, presidente da CPI, lamentou que as investigações tenham encontrado militares corruptos, a reação das Forças Armadas deveria ter sido dizer que corrupção existe em qualquer lugar e que o importante é prender aqueles contra os quais surgirem provas consistentes.

Ao atacar o presidente da CPI do Senado, as Forças Armadas estão sinalizando, voluntária ou involuntariamente, que protegerão seus corruptos.

Isso é ruim em si, mas é pior ainda para o futuro da instituição: se a manobra der certo e os investigadores forem intimidados, de agora em diante todos os ladrões que atualmente entram na política para roubar preferirão entrar para as Forças Armadas, onde a impunidade será garantida.

Quando Bolsonaro saiu candidato sem partido político, mas com forte apoio nos quartéis, os militares que o apoiavam disseram que estavam participando como cidadãos, não como militares.

Bom, quando pegaram corrupção nos partidos dos civis, nenhum deles teve o poder de ameaçar os investigadores com as armas e tropas da República.

A nota do Ministério da Defesa sobre a CPI e seu silêncio sobre o golpismo do presidente da República, a entrevista golpista do chefe da Aeronáutica, tudo isso é sintoma da degeneração moral que Jair Bolsonaro causou na República brasileira.

O militar que acha que as armas da República são dele é exatamente igual ao político que acha que o dinheiro público é dele. Não deve ser difícil, para o sujeito que acha uma coisa, achar a outra.

Por isso, lembre-se: nos próximos meses vai ter golpista falando de “esticar a corda”, de “comunismo”, e, é claro, de “voto auditável”. Não se iluda. Se houver golpe, vai ser para roubar.