O ataque de militantes do PCO a militantes do PSDB na manifestação do dia 3 de julho, na avenida Paulista, assim como a ocorrência de atos de vandalismo, impuseram uma inflexão na campanha de impeachment ora em curso, levando movimentos e partidos mais à direita, como MBL, Vem pra Rua e Novo, a convocarem uma grande manifestação "Fora Bolsonaro", sem a esquerda, para o dia 12 de setembro.
A luta pelo impeachment não é monopólio da esquerda, mas imperativo moral da nação. Os que a querem restringir a um único campo ideológico traem, com tal atitude, sua falta de espírito democrático. Aliás, tal pretensão monopolista pode ser tentativa de sabotagem do impeachment: na Presidência, um Bolsonaro maximamente desgastado impulsiona a candidatura de Lula; da mesma forma, o favoritismo de Lula na disputa eleitoral entrega a Bolsonaro o antipetismo como trunfo. São dois tipos de populismo em simbiose que se retroalimentam enquanto parasitam o Brasil.
Mas o campo liberal e conservador ainda está divido. Compreende-se (embora reprove-se) que burocratas e políticos que se aboletaram no poder, empresários que asseguraram privilégios e formadores de opinião que passaram a receber generosas verbas do governo tergiversem em relação à defesa do impeachment. Mas há também, nesse espectro ideológico, os bem intencionados que resguardam em um ponto cego de algum desvão do cérebro a ideia de que Bolsonaro seja o último baluarte da liberdade contra a ameaça comunista; apegados a essa fantasia, fazem vista grossa para tudo, desde as rachadinhas da família às monumentais traficâncias no âmbito do Ministério da Saúde.
Embora forçada pela intolerância de parte da esquerda, talvez não seja má a estratégia de forças ideologicamente divergentes marcharem pelo impeachment separadamente. Quem sabe mais tarde os setores civilizados da direita e da esquerda se unifiquem em benefício da vida e da democracia.