segunda-feira, 12 de julho de 2021

Supremo atropela PGR e adota medidas controversas para enfrentar bolsonarismo, FSP

 

BRASÍLIA

Em guerra com o Palácio do Planalto, o STF (Supremo Tribunal Federal) tem adotado medidas heterodoxas e atropelado a PGR (Procuradoria-Geral da República) na tentativa de conter o avanço bolsonarista contra as instituições.

As decisões da corte ajudaram a reduzir a disseminação de fake news e de ataques à democracia nas redes sociais e também culminaram, por exemplo, no pedido de exoneração de Ricardo Salles, que conduziu uma agenda antiambiental no Ministério do Meio Ambiente

Por outro lado, especialistas temem que a atuação do Supremo com ações à margem das regras habituais gere um precedente perigoso à democracia. Um dos riscos apontado trata das consequências que podem provocar os embates com o procurador-geral, Augusto Aras.

Recentemente, o tribunal autorizou uma ação policial contra Salles sem ouvir a PGR e também driblou o pedido do órgão para arquivar o inquérito dos atos antidemocráticos, apesar de a jurisprudência determinar que esse tipo de manifestação da PGR deva ser atendido.

Especialistas reconhecem a necessidade de o Supremo adotar medidas duras contra o bolsonarismo, mas dizem que tergiversar com o devido processo legal, independentemente da finalidade que se busque, pode levar à criação de precedentes perigosos que, no futuro, venham a ser usados de maneira arbitrária pelo Judiciário em geral.

Além das decisões judiciais, a corte também iniciou um movimento fora dos autos para barrar bandeiras do presidente.

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Foi o caso, por exemplo, da implementação do chamado voto impresso. O chefe do Executivo tem feito campanha em prol da medida e conta com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que tem grande influência sobre seus pares no Legislativo.

No entanto, ministros do Supremo articularam com 11 partidos um movimento contra a mudança na urna eletrônica e botaram em xeque a maioria que Bolsonaro tinha em relação ao tema.

Um dos primeiros indícios de que o STF estava inclinado a criar uma espécie de jurisprudência da crise para avançar em regras instituídas a fim de se contrapor a Bolsonaro foi em março de 2019, com a instauração do inquérito das fake news.

A investigação foi aberta de ofício, ou seja, sem requisição da Procuradoria, que, no sistema acusatório brasileiro, é a titular da ação penal.

A decisão individual do então presidente do STF, Dias Toffoli, causou estranheza porque, segundo a Constituição, o Judiciário só pode agir quando é provocado, e a responsável por pedir a abertura de apuração criminal deve ser a PGR.

Além disso, também foi alvo de críticas a designação do ministro Alexandre de Moraes como relator do caso, sem a realização de sorteio, como ocorre geralmente em investigações que são iniciadas no Supremo.

Inicialmente, o inquérito foi alvo de críticas internas na corte, com resistência de alguns integrantes em avalizar a medida. Prova disso é que Toffoli não quis levar, naquela ocasião, sua decisão para referendo do plenário.

Com o passar do tempo, o aumento da disseminação da fake news e ameaças a ministros por parte da militância bolsonarista mudou o humor do Supremo sobre o caso. Mais de um ano depois, o plenário, por 10 a 1, manteve a decisão de instaurar o inquérito das fake news.

Este caso também deixou claro como o Supremo serve de exemplo e influência nas decisões das demais instâncias do Judiciário. Isso porque, após os ministros confirmarem a possibilidade de abertura de inquérito de ofício, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) fez o mesmo.

Após o vazamento de mensagens de integrantes da Lava Jato com conversas que levantavam a suspeita de que a operação tentou investigar ministros do tribunal sem autorização judicial, o presidente da corte, ministro Humberto Martins, também determinou a abertura de um inquérito sem provocação da PGR.

A ministra Rosa Weber, do STF, porém, suspendeu a tramitação da investigação até que a Primeira Turma do Supremo tome uma decisão a respeito, o que ainda não tem data para ocorrer.

Outra estratégia adotada pelo STF que pode abrir precedente perigoso diz respeito ao uso recorrente da Lei de Segurança Nacional.

Após Moraes começar a usar a legislação para autorizar operações policiais contra aliados de Bolsonaro, passaram a surgir diversos casos de investigação contra críticos do governo com base na mesma lei.

Muitas delas, inclusive, deflagradas por ordem do então ministro da Justiça, André Mendonça, favorito para ocupar a vaga de Marco Aurélio no Supremo a partir do segundo semestre deste ano.

No caso do STF, a Lei de Segurança Nacional serviu de base, por exemplo, para a prisão em flagrante do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi decretada por Moraes e, depois, referendada pelo plenário.

O parlamentar foi detido por ter feito ataques e ameaças a integrantes do STF em um vídeo. Neste caso, porém, foi alvo de críticas o fato de a caracterização do flagrante ter ocorrido por causa da publicação de uma gravação que fica disponível na internet.

O professor da Faculdade de Direito da USP Rafael Mafei compara a relação do Palácio do Planalto com o STF a uma partida de futebol em que a temperatura fica elevada e as faltas passam a ficar mais ríspidas.

“Nesses casos, só há dois desfechos possíveis: ou a parte contrária se intimida e se retrai ou aquilo descamba para briga generalizada e o jogo não termina."

"Eu acho muito difícil afirmar hoje qual vai ser o desfecho disso, se ao final será positivo ou negativo. Depende muito de quem vai vencer as eleições de 2022”, afirma o professor.

Mafei diz que até os ministros consideram que algumas decisões recentes da corte fogem da jurisprudência habitual do tribunal.

“Eu acho muito claro que o Supremo enxerga que tem de adotar medidas que os próprios ministros sabem que são heterodoxas. Isso principalmente em relação à PGR, porque o Ministério Público não foi concebido pela Constituição para ser ignorado ou escanteado."

Na avaliação dele, o maior risco seria uma reeleição de Bolsonaro e o “aumento da ocupação no sistema de Justiça por personagens alinhados ao atual governo”.

“O problema é que esses atores poderão no futuro usar toda essa jurisprudência de exceção como parte de seu repertório: se valeu antes, por que não valeria agora?”, diz.

Mafei afirma ainda que o risco de adotar decisões heterodoxas é muito maior para o Judiciário do que para o Executivo.

“A legitimidade do Bolsonaro vem das eleições e a do STF vem principalmente da certeza das pessoas de que os juízes são pessoas tecnicamente muito bem formadas e aplicam a lei com rigor."

"O ônus reputacional é maior para o Supremo porque sua autoridade decorre da percepção de que é um órgão técnico e rígido, enquanto para Bolsonaro o ônus de agir fora das quatro linhas da Constituição é muito menor”, analisa.

Diego Werneck Arguelhes, professor de direito constitucional do Insper, afirma que seria importante que as decisões heterodoxas do Supremo fossem remetidas ao plenário.

“Independentemente do resultado das decisões, acho que é um perigo em si que elas fiquem pairando no ar com a pergunta: é a posição de um integrante ou é a posição do tribunal daqui para o futuro? Quais os limites dessa decisão, como o STF justifica isso?”, afirma.

Arguelhes também credita à omissão de Augusto Aras à frente da PGR a postura do STF de ter adotado medidas que antes eram raras de serem vistas.

Para ele, a situação deve levantar um debate mais profundo: “Quando há problemas dessa natureza, como a gente resolve: mudando as regras ou com o Supremo interpretando as regras vigentes de forma totalmente nova?"

"Não deveríamos ficar satisfeitos com soluções que o tribunal está criando agora, é oportunidade de pensar se elas funcionam para frente do ponto de vista institucional ou não”, afirma.

Ele fala, no entanto, sobre o tamanho do risco que Bolsonaro representa às instituição e pondera: “A democracia consegue conviver com decisões judiciais que considero equivocadas, mas não consegue conviver com atores que estão diretamente atacando as bases institucionais e de confiança pública”.

Procurado, o STF afirmou que "não comenta casos que estão sob análise da corte".

RELEMBRE DERROTAS DE BOLSONARO NO SUPREMO

Em 2021
CPI da Covid (8.abr) 

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, manda o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalar uma CPI da pandemia da Covid-19. Barroso afirmou que estão presentes os requisitos necessários para abertura da comissão e que o chefe do Senado não pode se omitir em relação a isso

Veto a cultos e missas na pandemia (8.abr) 
O plenário do Supremo manteve por 9 votos a 2 a decisão do ministro Gilmar Mendes de permitir que estados e municípios proíbam a realização de celebrações religiosas presenciais como forma de conter o avanço da pandemia

Medidas restritivas de combate à Covid (23.mar)
O ministro Marco Aurélio rejeitou a ação em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pede que o STF derrube decretos estaduais que restringiram a locomoção da população como forma de conter o avanço da Covid-19

Em 2020
Isolamento social (24.mar)
O ministro Marco Aurélio atende, em parte, uma ação do PDT e afirma que, apesar de medida provisória do governo exigir aval de agências reguladoras federais para o fechamento de divisas, estados e municípios têm competência para editar medidas de saúde contra o novo coronavírus. Assim, manteve a legalidade de todos os decretos pelo país que impuseram o restrições sobre a circulação da população

Proibição de campanha (31.mar) 
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, veta a circulação da campanha “O Brasil não pode parar”, do governo federal, que estimulava a volta à normalidade

Autonomia dos estados e municípios (15.abr) 
O STF decide por unanimidade que estados e municípios têm autonomia para determinar o isolamento social em meio à pandemia do coronavírus

Nomeação suspensa (29.abr) 
Bolsonaro desiste de indicação para o comando da Polícia Federal após Alexandre de Moraes, ministro do STF, atender a um pedido do PDT e suspender a nomeação de Alexandre Ramagem. O partido havia entrado com um mandado de segurança na corte alegando “abuso de poder por desvio de finalidade” com a nomeação do delegado para a PF

Lei de Acesso à Informação (30.abr)
O STF derruba medida provisória editada pelo governo Bolsonaro que restringia a LAI. O decreto havia suspendido prazos de pedidos de informações a órgãos públicos nos casos em que o setor demandado estivesse “prioritariamente envolvido com as medidas de enfrentamento” à doença

MP para proteger agentes públicos (21.mai) 
O tribunal decidiu que a medida provisória de Bolsonaro para proteger agentes públicos de responsabilização durante a pandemia não pode servir para blindar atos administrativos contrários a recomendações médicas e científicas

Divulgação de dados da pandemia (9.jun) 
Alexandre de Moraes mandou o governo retomar a divulgação na íntegra dos dados acumulados de mortes e casos de Covid-19 no site do Ministério da Saúde


domingo, 11 de julho de 2021

Golpe de mestre, Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

 Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

11 de julho de 2021 | 03h00

O presidente Jair Bolsonaro está esfarelando e, se a eleição fosse hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria eleito no primeiro turno, segundo o Datafolha. Lula, portanto, já é o grande vitorioso. É hora de reagir à ameaça de golpe com um golpe de mestre espetacular, de enorme grandeza, abrindo mão da cabeça de chapa e assumindo a vaga de vice numa chapa de união e pacificação nacional. Um gesto para a história à altura da sua biografia e do grande líder que ele é.

O que está em jogo não é apenas mais uma eleição, uma troca de presidentes, mas um verdadeiro movimento de reconstrução, diante de uma pandemia devastadora e do desmanche de Saúde, Educação, Meio Ambiente, Política Externa, Cultura... Além do esgarçamento das relações republicanas e institucionais e das fricções e angústias no mundo militar.

Lula e Bolsonaro
Lula venceria no 1º turno contra Bolsonaro, segundo Datafolha. Foto: : AMANDA PEROBELLI / REUTERS-10/3/2021 - GABRIELA BILO / ESTADÃO-17/12/2020

Com Lula disputando a volta à Presidência, e com grandes chances, aprofundam-se a polarização e esvaem-se as soluções. Com Lula trocando a vaga na chapa pelo papel histórico de arquiteto e líder da união nacional, ele mantém sua capacidade poderosa de atrair votos, mas desanuvia-se o ambiente, tira-se a motivação de parte dos votos em Bolsonaro e abre-se a porta para uma nova era, inclusive na economia.

Além de decisiva para o Brasil, a solução pode ser conveniente para o próprio Lula. Ele tem milhares de motivos para ressentimento, mas seu maior troco é a vitória, o reconhecimento, não a volta à cadeira que ocupou por oito anos, colocando em risco o saldo de 2010 e trazendo o fantasma da Lava Jato. A história mostra que a segunda vez nunca, ou dificilmente, supera a primeira.

Lula terá 77 anos em 2022 e 81 em 2026. Nada mal. Ele, porém, teve uma vida difícil e tem sérios problemas de saúde, além de... viver um novo amor. O que ganharia assumindo a rotina de presidente, com críticas, pedradas, cargos, reuniões e chateações? Não lhe convém mais o papel de garantidor, de avalista para o mundo de que o Brasil está nos eixos da democracia, busca estabilidade e quer avançar, não retroceder?

Não se trata só de Lula, mas do PT e da grandeza dos líderes, homens e mulheres públicas deste País tão sofrido. O PT teria de dar a própria cambalhota, já que jamais aderiu aos movimentos de união nacional: eleição de Tancredo Neves, Constituinte, transição com Itamar Franco, Plano Real. Agora, o inimigo é outro, as ameaças são difusas – por ora, inalcançáveis – e a melhor comparação é com as Diretas Já, em que o PT marcou forte presença, como deve marcar agora.

Ok. A questão é também, ou principalmente, quem seria o cabeça de chapa nessa complexa construção política, mas isso é para o próprio Lula e os líderes que o passado nos lega e o futuro já nos oferece, nos três Poderes, nas organizações, na iniciativa privada. Cabe a eles, e a elas, captarem a gravidade do que nós estamos vivendo e reagirem não por interesses pessoais, eleitorais, partidários ou ideológicos, mas pelo bem maior, o Brasil.

A situação é grave e o presidente não viaja mais pelo País em campanha pela reeleição, mas em defesa do golpe, seja lá que golpe ele tenha na cabeça, mas certamente ameaçando a realização de eleições em 2022. Reage com palavrão a uma carta da CPI da Covid, chama o presidente do TSE de “imbecil”, dobra a aposta contra vacinas, máscaras e isolamento e volta a atrair o seu vice, general Hamilton Mourão, para o centro da confusão.

Ou quer recorrer ao princípio da “lealdade” e imobilizar Mourão se o risco de impeachment crescer, ou tenta unir as Forças Armadas em torno de seus propósitos ainda não exatamente revelados. Fica o recado de que vai cair atirando. As instituições e entidades já resistem. Aguardam-se os grandes gestos dos grandes líderes.

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA


sábado, 10 de julho de 2021

É preciso construir uma matriz elétrica mais equilibrada e menos refém do clima, OESP

 Adriano Pires*, O Estado de S.Paulo

10 de julho de 2021 | 04h00

Os assuntos água e energia cada vez mais frequentam a mídia nacional e a mundial. A pior crise hídrica em 90 anos no Brasil, trazendo a possibilidade de falta de energia, junto com as questões climáticas, nos obriga a discutir com muito cuidado e atenção esses dois temas. Não só com um olhar sobre o Brasil, mas também para o mundo. O acesso à água e à energia será cada vez mais necessário para dar qualidade e dignidade de vida às pessoas. Com isso, a tendência é de que a oferta de água e de energia cresça numa velocidade inferior à demanda. Portanto, para manter o equilíbrio entre oferta e demanda, será cada vez mais necessário racionalizar o uso tanto da água como da energia, entendendo que os preços devem ser crescentes.

No Brasil, água e energia se confundem. Isso porque a nossa geração de energia tem na água a sua principal fonte. A protagonista das três crises de energia elétrica nos últimos 20 anos (2001/2002, 2014/2015 e, agora, 2021/2022) tem sido a água – ou, melhor, a falta de água, que é responsável ainda hoje por 70% da nossa geração de energia. E, como a água no Brasil cada vez terá mais uso múltiplo, é preciso encontrar ou, melhor, propor uma política pública que leve isso em consideração. Hoje o agronegócio, que tem sido o principal setor da nossa economia, precisa cada vez mais de água e de energia para irrigação; não podemos abrir mão da navegação nas hidrovias, nem tão pouco para atender atividades de turismo; isso sem falar no saneamento, cujo um dos maiores desafios é a captação de água.

Usina hidrelétrica de São Simão
A água, por seu uso múltiplo, não é nem será mais a fonte mais barata para gerar energia no Brasil. Foto: José Patrício/Estadão

Neste contexto, a discussão central que deveríamos travar – e já passamos da hora – é a valoração da água. No Brasil sempre tivemos um olhar de que água seria uma dádiva de Deus e, por isso, seu custo seria zero. Portanto, gerar energia com água é a forma mais barata. Esse olhar sobre a água nos leva àquele conceito de que países que são presenteados com muitos recursos naturais acabam por sofrer uma maldição. Esse conceito é muito usado em relação aos recursos naturais. A “Maldição dos Recursos Naturais” é um termo utilizado para mostrar que países ricos em recursos naturais crescem menos, pois essa fonte de riqueza tende a gerar desperdícios em meio à corrupção e a entraves burocráticos. Gastos correntes crescem em detrimento de ações na infraestrutura e no fortalecimento institucional. Isso acaba beneficiando grupos influentes e desorganiza a economia. No fim do dia, são sociedades predadoras de recursos naturais. Só sabem colher, não sabem plantar. E é dessa forma que estamos nos comportando na utilização das nossas bacias hidrográficas há bastante tempo.

A água, por seu uso múltiplo, não é nem será mais a fonte mais barata para gerar energia elétrica no Brasil. Precisamos garantir um nível mínimo de armazenamento nos reservatórios e deslocar o uso do potencial de geração hidráulica para garantir as vazões mínimas, a sazonalização da oferta de energia para as demais renováveis e o atendimento da ponta do sistema elétrico. Térmicas a gás natural com 70% de inflexibilidade e nucleares passariam a ser parte da geração prioritária de base, complementada por geração hidráulica de vazão mínima, eólicasolar, hidráulica a fio de água e por novas fontes, como o biogás.

Precisamos parar de adotar soluções de países ricos, que têm uma realidade energética diferente da nossa. Precisamos construir um projeto brasileiro para o setor de energia. Olhando para as nossas vantagens comparativas e a realidade da nossa sociedade. A Califórnia não é aqui.

Portanto, diante dessa situação de mais uma crise, em que a protagonista é mais uma vez a água, a prioridade deveria ser construir uma matriz elétrica mais equilibrada, mais confiável e menos refém do clima, aproveitando a diversidade das nossas fontes primárias de energia.

Precisamos, também, da mesma forma que foi feito com o gás natural e com o saneamento, discutir no Congresso um marco regulatório para a água no Brasil. No processo de transição energética, o desafio é aumentar a oferta de energia. Aí, sim, enfrentaremos o real problema com soluções próprias, resolvendo a questão central do uso múltiplo da água e afastando de vez o pesadelo de novos apagões e racionamentos.

*DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE)