segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Diretor do Sesc compara reabertura em São Paulo, no dia 10, a um renascimento, FSP

Quase cinco meses depois de fechar todas as unidades, em 17 de março, o Sesc reabre no estado de São Paulo no próximo dia 10, uma segunda-feira.

Só com hora marcada, começando por serviços como ginástica multifuncional e dentista. Alimentação deve reabrir mais à frente, talvez daqui a um mês.

Teatro, cinema, as artes, só em outubro, possivelmente novembro.

É o que anuncia o diretor regional, Danilo Santos de Miranda, que se prepara para uma série de videoconferências nesta semana com especialistas, visando embasar o exército de mais cem gerentes e 7.900 funcionários do Sesc para a reabertura.

Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, em casa durante o isolamento social
Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, em casa durante o isolamento social - Acervo Pessoal

Ele vê os últimos cinco meses como um aprendizado virtual para a instituição, com mais de cem lives e o lançamento de sua nova plataforma digital, mas não esconde que a vocação é outra. "Nós juntamos gente."

Os teatros abrem agora? Aí, ainda não. Ainda nem está autorizado. Nós vamos seguir o protocolo que for estabelecido. Mas não é simplesmente abrir o teatro, o cinema ou a exposição. Nós vamos ver aquilo que acessamos com a própria produção artística. Temos muitas atividades que estavam previstas e foram suspensas. Eu espero que em outubro, novembro, a gente tenha condições de fazer isso. Mas não tenho uma previsão, porque vai depender inclusive da evolução da pandamia.

A abertura no dia 10 começa por quais serviços? A academia de ginástica, provavelmente, odontologia. A ginástica multifuncional, GMF, como chamamos, vai dar para fazer em menor número etc. Isso vai ser testado durante um tempo, e aos poucos a gente vai ampliar ou eventualmente recuar, dependendo do que vier pela frente.

Alimentação? Nós vamos nos preparar, porque não temos nem gêneros estocados mais. Tudo vai começar do zero. Então vai demorar, acho que quase um mês, para voltar a ter alimentação em ordem. E vamos ter que pensar tudo, bufê, a fila, a mesa compartilhada.

Daí os especialistas, antes do dia 10? Sim. Nesta semana, é o trabalho de preparação das equipes dirigentes, de 120 a 130 gerentes titulares e adjuntos, as gerências de conceito e de ação, as gerências de apoio. Tudo isso vai ter que ser acionado para preparar as equipes técnicas que vão operar a retomada, esse quase que renascer, essa refundação institucional.

Quem serão os especialistas? São sete eixos. A Lia Diskin [da Associação Palas Athena] vai coordenar o primeiro, que fala da cultura da paz, da solidariedade. O terceiro diz respeito à questão pandêmica mesmo, com o Drauzio [Varella, médico] e Esper Kallás, que é infectologista. Outro será sobre saúde mental, emocional, uma coisa específica da confusão deste momento. O último será sobre direitos humanos e cidadania.

Como você vê os resultados da ação virtual nos últimos meses? Nós juntamos gente. Nossa vocação institucional é juntar gente. O virtual alcança até mais, mas com outro tipo de impacto, que não tem o mesmo resultado. Pode ter, em um caso ou outro. O sujeito que vê um monólogo forte, um trabalho de música. Mas para a maioria o presencial tem uma força maior. Além disso, tem a questão do partilhamento. A audiência partilha, está junto, vibra. Ou não vibra. Tudo isso faz parte. As artes cênicas, de modo particular, elas necessitam desse estado de presença.

Foram tiradas lições também dos três meses de suspensão de parte dos recursos pelo governo? Primeiro, acho importante ressaltar o estranhamento do corte. No momento em que há uma necessidade maior de que as pessoas mudem de atitude, criem hábitos novos, é fundamental que a educação e a cultura estejam presentes. É um esforço também de outras instituições, como o jornalismo, mas eu acho que é a cultura que cria valores, que cria mudança. E justamente nesse momento se resolveu cortar 50% dos recursos.

Em segundo lugar? Claro que, dessa maneira, a gente está procurando soluções. Com o virtual, a gente usou menos recursos para fazer, não a mesma coisa, mas algo semelhante, que trabalha com os atores, músicos, o pessoal de dança, de maneira intensa. Já são mais de cem lives neste período. "Ah, mas não tem alcance profundo." Não tem, mas tem alcance extensivo. As nossas ações estão atingindo o país inteiro. Pessoas estão vendo nossas lives na América Latina, na Europa, em toda parte. É um ganho significativo. Mais importante ainda é a capacitação do nosso pessoal para isso.

Sem falar da plataforma que lançamos nessa pandemia. Uma coisa são as lives, outra é a plataforma, que reúne um material imenso. São milhares e milhares de ações em todos os campos artísticos. Vamos colocar boa parte do nosso acervo de artes visuais, com recortes importantes sobre as escolas, os modos de fazer. A gente está aprendendo muito. Um ganho grande de penetração do nosso trabalho e um ganho também para os artistas, que estavam parados completamente.

Mendonça e Aras são cabo e soldado de Bolsonaro em novo ataque à democracia, FSP

O ministro da Justiça, André Mendonça, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, são o cabo e o soldado de pés chatos que Bolsonaro usa em seu novo ataque à democracia brasileira.

Mendonça, que virou ministro da Justiça quando Moro deixou o cargo, vem se destacando na perseguição contra adversários do governo.

O presidente Jair Bolsonaro chega ao Ministério da Justiça para uma cerimônia com o ministro André Mendonça - Pedro Ladeira/Folhapress

Produziu um dossiê contra “antifascistas” que incluía dois acadêmicos respeitados, Paulo Sérgio Pinheiro e Luiz Eduardo Soares, bem como policiais de esquerda, que poderiam vir a ser um obstáculo ao aparelhamento das polícias.

Aras, por sua vez, faz guerra contra a força-tarefa da Lava Jato e tenta centralizar os instrumentos de investigação para usá-los no interesse do golpismo. Enquanto Mendonça briga para prender antifascistas honestos, Aras briga para manter fascistas corruptos em liberdade.

A guerra bolsonarista contra a Lava Jato vem produzindo cenas curiosas. Na semana passada, por exemplo, o bolsonarista Alexandre Garcia usou as revelações da Vaza Jato para criticar a turma de Curitiba.

Quando o Intercept Brasil publicou as denúncias, Garcia estava entre os que atacaram os jornalistas. Pesquise o artigo “Estranhas Coincidências”, publicado em 30 de julho de 2019, em que Garcia repete a mesma lista de mentiras que os bolsonaristas lançavam na época contra Glenn Greenwald e sua família.

Na esquerda, que perdeu uma, e talvez duas Presidências da República no auge do lavajatismo, há gente comemorando a guerra de Aras contra Curitiba. Pode ser compreensível, mas é um erro.

Ninguém ficaria surpreso se, enquanto tenta desmontar a Lava Jato, Aras requentasse uma delação contra Lula para acalmar os bolsonaristas que ainda mentem que se preocupam com corrupção.

Na direita tradicional também tem gente querendo ver no desmonte da Lava Jato uma espécie de acomodação de Bolsonaro com o centrão, o que, por um raciocínio meio tortuoso, poderia ser visto como aceitação da política institucional.

A política brasileira vem sendo isso, um esforço para que um sujeito que causou cem mil mortes aceite ser menos golpista se a gente ajudá-lo com uns problemas que ele tem com a polícia.

E mesmo isso me parece otimismo demais. Não acho que o acordão vai parar o golpismo.

Bolsonaro ficou com raiva da polícia e do Judiciário porque eles pegaram Queiroz e atrapalharam seu autogolpe. Quando Judiciário e polícia tiverem sido aparelhados, Bolsonaro voltará à carga.

Talvez por isso MDB e DEM tenham saído do bloco parlamentar do centrão semana passada. A manobra parece ter sido pensada para enfraquecer Bolsonaro na eleição para a presidência da Câmara. Se for isso, MDB e DEM estão certíssimos.

Não se pode entregar o controle da presidência da Câmara, que com Rodrigo Maia foi um dos pontos de resistência ao autoritarismo, a quem se tenha vendido a Bolsonaro.

Da mesma forma, o leilão da vaga no STF para quem fizer a maior oferta de golpismo tem que acabar. É preciso ficar claro que o Senado não aprovará o vencedor da disputa.

De qualquer forma, cabo Mendonça e soldado Aras são bem mais fáceis de combater do que os cabos e soldados com quem Bolsonaro ameaçava o Brasil um mês atrás. Mas são um sinal importante para quem acreditava que Bolsonaro havia se tornado mais moderado nesse mês que ficou em casa apanhando de ema.

Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).