Em reação à resistência dentro do próprio partido, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Jilmar Tatto, buscou consolidar sua equipe, trazendo nomes de peso como o ex-prefeito Fernando Haddad e sua esposa, Ana Estela Haddad.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi procurado para gravar uma mensagem de apoio a Tatto, que intensificou as reuniões junto à militância e quer nacionalizar o pleito municipal para polarizar contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), além do prefeito Bruno Covas (PSDB).
O movimento para solidificar Tatto na disputa ocorre após Lula ter sido novamente pressionado a convencer Haddad de que ele deveria ser o candidato do PT, como mostrou a Folha. O ex-prefeito não cedeu.
No partido, existe o medo de que a candidatura de Tatto afunde, sobretudo diante do bom desempenho em pesquisas da chapa Guilherme Boulos e Luiza Erundina, do PSOL.
Em reunião nesta semana, com a participação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e de Haddad, o desenho da coordenação da campanha foi definido, embora novos nomes ainda devam entrar. O ex-prefeito e a mulher serão consultores do plano de governo e ajudarão na interlocução com acadêmicos.
Haddad, que teve Tatto como secretário de Transportes em sua gestão na prefeitura, também está escalado para participar de vídeos, comícios e atividades de rua –se a pandemia do coronavírus permitir.
Ana Estela chega a ser cotada como possível vice na chapa. Recentemente, ela organizou um manifesto de professores universitários a favor de Tatto e também o exaltou em publicação em rede social.
Tatto já manifestou preferência em ter uma mulher como candidata à vice. Uma mulher negra ligada a movimentos sociais é outra opção para os petistas.
O nome de Marta Suplicy (Solidariedade) também é aventado, mas a ex-prefeita conversa com outros candidatos visando o posto e pode ainda lançar uma candidatura própria. Nessa última hipótese, o PT enxerga um revés maior do que a candidatura de Boulos.
Já a presença de Lula é esperada pela equipe de Tatto para um momento posterior, como o de convenção e da própria campanha, em setembro. Segundo os coordenadores, a aparição do ex-presidente deve ser orientada por pesquisas qualitativas e depende da vontade do próprio, que tem se mantido publicamente afastado das eleições e dedicado à pandemia.
Aliados de Tatto minimizaram o fato de Lula não ter participado da live de lançamento de sua plataforma virtual no último dia 24. Segundo eles, o ex-presidente tem trabalhado por Tatto, aparando arestas dentro do partido e participando de conversas de campanha.
Nos bastidores, porém, a ausência foi sentida. O entendimento é de que, enquanto o ex-presidente não se posicionar publicamente a favor de Tatto, a pressão por Haddad vai permanecer no ar e, ao final, é Boulos quem se beneficia eleitoralmente.
Um dos esforços da pré-campanha é trazer de volta atores e eleitores tradicionalmente petistas que se bandearam para a pré-campanha do PSOL, sobretudo porque Boulos é próximo do ex-presidente e também representa o eleitor lulista.
Nesse sentido, a live da semana passada, com quase mil petistas na sala virtual, foi considerada um ponto de virada da pré-campanha de Tatto, assim como o manifesto de acadêmicos e apoios vindos de parlamentares e sindicalistas, que ampliaram a união em torno do ex-secretário no partido –mas o fôlego depende do desempenho nas próximas pesquisas.
“A pré-campanha deslanchou. A militância reagiu e está com muita gana pra ganhar a eleição. O PT está unido para vencer na cidade de São Paulo”, diz Tatto.
A coordenação da campanha está a cargo do presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro. Também integram o núcleo duro os deputados estaduais José Américo e Jorge do Carmo, e o deputado federal Alexandre Padilha, que disputou as prévias contra Tatto. Os líderes do partido na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa ainda serão convidados.
“Fizemos até a semana retrasada 90 reuniões com núcleos temáticos para o programa de governo. E Tatto já fez mais de 120 reuniões com a base do PT. Ou seja, nós já falamos com mais de 7.000 pessoas, entre filiados e simpatizantes”, afirma Ribeiro.
Em outra frente, Tatto buscou ao longo da semana se posicionar contra medidas da gestão Covas, como a volta às aulas em setembro. Para o petista, as aulas presenciais deveriam retornar só no ano que vem.
Pela primeira vez numa eleição em São Paulo desde 1988, o PT não ocupa um dos polos de protagonismo, o que abre caminho ao segundo turno. Boulos, Marta e Márcio França (PSB) agora dividem o campo com Tatto, considerado pouco viável eleitoralmente.
Por isso, o PT aposta na nacionalização e, até agora, vê o cenário eleitoral indefinido, com um candidato ainda a ser adotado pelo bolsonarismo. Para Padinha, a nacionalização se dará em torno da pandemia e seu impacto na vida e na renda. “Quando o PT ganhou em São Paulo, estava unido e a disputa foi nacionalizada”, diz.
“São Paulo não é uma ilha. Está sofrendo as consequências da política de Bolsonaro, de desemprego e falta de cuidado na saúde. São Paulo vai ser a cidade da resistência”, completa Tatto.
JOICE DEFINE EQUIPE E MIRA VICE CONSERVADOR
A deputada federal Joice Hasselmann, pré-candidata do PSL em São Paulo, terá Marcos Cintra, ex-secretário especial da Receita Federal como um de seus coordenadores. Está quase acertada a vinda de um segundo coordenador, que ocupou cargo na gestão FHC e foi secretário em São Paulo. Para a vaga de vice, militares e empresários estão na mira.
MARTA ESTÁ ANIMADA A CONCORRER
A ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade) afirma contar com o apoio do seu partido para lançar candidatura própria. Por enquanto, ela ainda negocia a vaga de vice e mostra disposição em encarar uma campanha. Ficará de fora, porém, se não encontrar uma chapa ideal.
SEM VERBA PÚBLICA, SABARÁ QUER FINANCIAMENTO COLETIVO
Filipe Sabará (Novo), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, afirma que não vai financiar sua campanha com dinheiro próprio. O Novo não utiliza o fundo eleitoral, que é verba pública, então Sabará conta com o financiamento coletivo. "Se a população quiser apoiar um candidato, ela deve financiar por livre vontade. Minha família tem recursos, mas eu me considero uma pessoa missionária", diz.