sábado, 1 de junho de 2019

PSDB sinaliza distância de Bolsonaro com aliado de Doria no comando, FSP

Apesar de apoio à reforma da Previdência, partido busca se afastar do presidente de olho em 2022

Daniel CarvalhoCarolina Linhares
BRASÍLIA
Na tentativa de recuperar o protagonismo contra a esquerda e com um aliado do governador João Doria (SP) no comando, o PSDB sinalizou nesta sexta-feira (31) a intenção de buscar um distanciamento do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
O ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo (PE), 47, foi aclamado presidente nacional da legenda com o objetivo de colocar em prática as diretrizes do novo PSDB, engendrado por Doria, principal líder do partido na ativa e potencial candidato ao Palácio do Planalto em 2022.
O governador de São Paulo, João Doria, ergue os braços do senador da "velha guarda" tucana José Serra (esq.) e do novo presidente do PSDB e seu aliado, Bruno Araújo
O governador de São Paulo, João Doria, ergue os braços do senador da "velha guarda" tucana José Serra (esq.) e do novo presidente do PSDB e seu aliado, Bruno Araújo - Pedro Ladeira/Folhapress
Aos correligionários, Araújo repetiu a frase de Doria de que o PSDB "não teria mais muro". "Vamos nos afastar das hesitações, vamos nos transformar no partido de posições", disse.
Logo em seguida, em entrevista, procurou citar diferenças entre seu partido e Bolsonaro e afirmou que o PSDB não adotará posição mais à direita para recuperar o eleitorado perdido nas últimas eleições.
"O PSDB é um partido de centro, que não convive com extremismo de direita e de esquerda no seu seio, dentro de si, mas respeita todas as demais posições ideológicas", disse o novo presidente tucano.
Após ter se aproximado de Bolsonaro nas últimas eleições, adotando um discurso crítico à esquerda e próximo da direita, Doria defendeu na convenção apoio total do partido à reforma previdenciária, bandeira do atual governo, mas disse ser contra um alinhamento com Bolsonaro.
Em meio ao racha entre a velha guarda e os novos dirigentes, a postura de distanciamento do presidente tem sido um ponto de convergência de interesses: no primeiro caso, para afastar a sigla de uma marca ideológica direitista; no segundo, para projetar Doria como futuro concorrente do atual chefe da República.
O ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que deixou o comando do PSDB, adotou um tom duro, chamando Bolsonaro de "oportunista" e o bolsonarismo de "grande mentira".
A convenção teve participação de representantes de DEM, MDB, PP, PL (ex-PR) e PRB, partidos de centro que podem unir forças na disputa presidencial de 2022.
Doria chegou acompanhado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e foi recebido pela militância tucana aos gritos de "Brasil pra frente, Doria presidente".
Araújo disse que, sob sua batuta, o PSDB será independente no Congresso, mas fará oposição a Bolsonaro "nos momentos em que haja discordância, e há".
"Primeiro em relação à compreensão que democracia se constrói num processo de diálogo com as instituições, de forma firme. Não é só chamando para assinar algumas folhas de um pacto. É com interlocução direta, tratando com os representantes da sociedade civil organizada."
Ele defendeu, por exemplo, que o partido feche questão em relação à reforma da Previdência, que tem o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) como relator. "O PSDB vai ter uma posição contributiva de independência e sempre, quando houver, de discordância, se opondo aos temas do governo", afirmou, com um tom semelhante ao de Doria.
"Continuo entendendo que o PSDB não deve fazer este alinhamento [com Bolsonaro], mas apoiando as boas iniciativas para o Brasil", disse o governador de São Paulo.
Ao passar o bastão para Araújo, Alckmin fez as críticas mais duras a Bolsonaro.
"Onde é que está a agenda de competitividade desse governo? Vamos ter coragem de criticar. Pôr o dedo na ferida", disse Alckmin, puxando aplausos do público.
Alckmin afirmou ainda que "querer aumentar a distribuição de arma é uma irresponsabilidade". 
"Não temos duas verdades: a extrema direita e a extrema esquerda. Temos duas grandes mentiras: o petismo e o bolsonarismo", afirmou o tucano.
Araújo sucede o ex-governador paulista comando do PSDB após ser eleito em chapa única —não por apoio a Doria, mas porque caciques fundadores da sigla não conseguiram viabilizar um nome competitivo.
Na convenção desta sexta, a tensão entre a velha guarda tucana, que defende a social-democracia, e aliados de Doria ficou evidente, por meio de discursos e de uma briga. Dois grupos da juventude do partido, um ligado ao governador paulista e outro ligado e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, trocaram agressões físicas.
Nos discursos, diversos tucanos falaram em respeitar a história do PSDB, numa espécie de recado contra a guinada planejada por Doria. O próprio ex-governador paulista, no entanto, adotou tom mais conciliador. 
Seu discurso não antagonizou com o de Alckmin, como ocorreu na convenção do PSDB paulista, por exemplo. 
Doria acenou a partidos de centro e à velha guarda tucana e falou na defesa de políticas públicas em prol dos mais pobres e da diversidade.
“As raízes devem ser mantidas. É isso que o povo espera do PSDB, que respeite sua história, mas que também seja protagonista de sua história. Não é preciso apagar a história nem negar a história, mas se queremos fazer a história será com os jovens, com as mulheres, os desvalidos, aqueles que precisam de políticas públicas”, afirmou Doria.

Ao citar os cerca de 13 milhões de desempregados, voltou seus ataques ao PT.
“O PSDB só tem uma bandeira, que é verde e amarela, não é vermelha”, afirmou, num momento em que se aproximou do tom de Bolsonaro. 
Na semana passada, Doria chegou a dizer que quem discordasse do partido deveria pedir para sair, em recado a ala esquerdista tucana. Em resposta, tucanos também falaram em tolerância. 
"O novo PSDB é o que honra suas origens, respeitando quem pensa diferente. Não ceder aos apelos de extremismos que dividem nossa sociedade. Isso não é estar em cima do muro", disse Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul.
Ausente na convenção, o ex-presidente FHC também respondeu à ideia de Doria de trocar o nome do partido. Afirmou ser preciso reafirmar a crença democrática e lutar contra injustiças e desigualdades. “O PSDB nasceu com esse propósito, pode mudar de nome, pode fazer coligação, mas o propósito não pode mudar.”

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