quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Para arrecadar mais, estados elevam ICMS de automóveis, FSP

Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Acre e Amapá preparam aumento a partir de abril

Raquel Landim
SÃO PAULO
Pelo menos cinco estados do país preparam aumentos no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado na compra de carros em uma tentativa de aliviar sua complicada situação fiscal.
Em Sergipe, Alagoas e Pernambuco, o ICMS de veículos vai subir de 12% para 14% a partir de abril, conforme admitiram as próprias administrações estaduais.
No Acre e no Amapá, os percentuais ainda não estão definidos, mas os aumentos devem variar de 12% para algo entre 14% e 18%.
Também há rumores de um reajuste em Mato Grosso do Sul, mas, por enquanto, o governo estadual diz que a tarifa está mantida em 12%.
As novas alíquotas só podem entrar em vigor em abril por causa do prazo de 90 dias exigido pela legislação para qualquer alteração no ICMS.
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Antônio Megale, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores - Danilo Verpa - 6.jun.16/Folhapress
Executivos ligados às montadoras disseram à reportagem que outros estados também estão discutindo o assunto.
Hoje, o ICMS para veículos automotores é o mesmo em todo o país: 12%. Nos casos em que a alíquota chegar a 18%, significará um reajuste de 50% no tributo a ser pago.
"Se o ICMS realmente subir, o consumidor vai pagar a diferença. Não dá para absorver essa alta sem afetar o preço do veículo", diz Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras.
Para Bernard Appy, diretor do CIF (Centro de Cidadania Fiscal), o maior risco é que esses reajustes de ICMS signifiquem o retorno de uma guerra fiscal, que, décadas atrás, levava os brasileiros a ir ao estado vizinho para comprar carro mais barato.
No caso de bens de alto valor, acaba valendo a pena para o consumidor fazer a viagem em busca de um desconto, especialmente nos estados do Nordeste, onde as distâncias são pequenas, ou nas regiões de divisa.
O estopim da confusão é o fim de um convênio do Confaz, o conselho que reúne os secretários estaduais de Fazenda de todo o país, que vigorou por mais de 20 anos e expirou em 31 de dezembro de 2018.
O convênio referendava benefícios fiscais concedidos por 13 estados da Federação para o setor automotivo: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e Sergipe.
A regra permitia que esses estados reduzissem o ICMS dos 17% ou 18% previstos em suas legislações locais para 12%. Dessa maneira, igualava o tributo em todo o país. Em São Paulo, por exemplo, o ICMS de veículos é 12%.
No fim do ano passado, representantes da indústria fizeram pressão para que o convênio fosse renovado, mas os estados resistiram.
As contas públicas estaduais vêm sofrendo com a queda da arrecadação, que ainda não se recuperou da recessão dos últimos anos, e de um problema estrutural, que é a crescente despesa com servidores ativos e inativos.
Segundo pessoas que acompanharam o assunto de perto, Pernambuco chegou a liderar uma articulação para costurar um novo convênio elevando o ICMS de veículos de 12% para 14% em todo o país, mas não houve acordo e o entendimento em vigor expirou.
Por enquanto, os aumentos de ICMS estão restritos a estados ainda pouco representativos das vendas nacionais.
Porém, o receio dos executivos das montadoras ouvidos pela reportagem é que, se os aumentos do tributo se disseminarem, os reajustes nos preços dos veículos acabem reduzindo as vendas e afetando a recuperação do setor.
Em 2018, a indústria automotiva vendeu 2,57 milhões de veículos, 14,6% a mais do que em 2017. No entanto, ainda trabalha com 45% de capacidade ociosa nas fábricas.
Governos alegam que vão manter parte do benefício
A Secretaria da Fazenda de Sergipe informou que decidiu manter parte do benefício para o setor automotivo, já que o fim do convênio do Confaz levaria o ICMS de veículos no estado a 18%.
Segundo o governo estadual, o que será feito é apenas uma ajuste de dois pontos percentuais na alíquota de 12% para 14%, a fim de "corrigir as distorções ocorridas ao longo dos 20 anos em que o convênio esteve em vigor, quando o mesmo deveria vigorar por apenas seis meses".
Já a Secretaria da Fazenda de Pernambuco informou que incluiu novos produtos --como o carro com motor 1.0 e as motocicletas de 250 cilindradas-- no Fecep (Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza).
Esse fundo destina uma alíquota adicional de 2% de ICMS a ações ligadas à assistência social, segurança alimentar e nutricional. Os automóveis que se enquadrarem terão um ICMS de 14%, enquanto os demais ficarão em 12%.
A Secretaria da Fazenda de Alagoas confirmou que vai reajustar o ICMS de veículos para 14%. A Secretaria da Fazenda de Mato Grosso do Sul informou que um decreto permite manter o tributo em 12%.
A Secretaria de Fazenda do Acre disse que a nova gestão ainda não definiu o percentual de aumento do ICMS, mas que a alíquota deve subir para algo entre 14% e 18%.
A reportagem não conseguiu contato com a secretaria do Amapá.

Governo vai fechar suas primeiras estatais: uma de ferrovias e outra de chips de boi, OESP



Valec e Ceitec são dependentes do Tesouro e não geram receitas suficientes para pagar suas despesas de pessoal e custeio; 1.177 empregados serão demitidos






Anne Warth, O Estado de S.Paulo
09 Janeiro 2019 | 14h58
BRASÍLIA - O governo deve fechar as portas até março das estatais Valec (que cuida de ferrovias e teve ex-diretores envolvidos em desvios em obras) e Ceitec (que produz chips para gado). As duas empresas são dependentes do Tesouro Nacional. Isso significa que elas não geram receitas suficientes para pagar suas despesas de pessoal e custeio. Todos os 1.177 empregados serão demitidos, e os ativos das empresas serão vendidos para pagar dívidas, segundo apurou o Estadão/Broadcast.
A liquidação deve ser aprovada pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), colegiado formado por ministérios e bancos públicos, além da Presidência da República. A reunião que deve sacramentar a decisão será realizada em fevereiro.

Ferrovias
 Valec cuida de ferrovias e teve ex-diretores envolvidos em desvios em obras Foto: Dida Sampaio/Estadão
Embora tenham entrado nas empresas por meio de concurso público, os empregados serão demitidos, pois, com a liquidação, as atividades das estatais serão encerradas. A opção pela liquidação ocorre porque não há interesse do mercado em comprar essas companhias, o que inviabiliza uma tentativa de privatização.
A intenção do governo Jair Bolsonaro é privatizar as ferrovias, o que retiraria as funções da Valec. Parte de suas funções poderia ser assumida pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). No caso da Ceitec, o governo não tem mais interesse em atuar na área.
A Valec é uma empresa pública vinculada ao extinto Ministério dos Transportes e foi reativada em 2008, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estatal atua na construção e exploração da infraestrutura ferroviária, como a Norte-Sul e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). A Valec também detém participações na sociedade da Transnordestina, com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Desde que voltou a operar, a Valec foi alvo constante de investigações sobre irregularidades em obras e denúncias que chegaram a levar um de seus presidentes à prisão.
A Valec tem hoje um patrimônio líquido positivo de R$ 11,9 bilhões. A empresa consumiu R$ 259 milhões em recursos do Tesouro Nacional em 2017, um grau de dependência de 99%, e recebeu R$ 652,1 milhões em Adiantamento para Futuro Aumento de Capital (AFAC). O prejuízo em 2017 foi de R$ 947,4 milhões, ante um resultado negativo de R$ 1,541 bilhão em 2016. A empresa tem 983 empregados, com salário médio de R$ 9,5 mil mensais.

Ceitec

Também criada em 2008 pelo ex-presidente Lula, a Ceitec é vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A empresa atua na área de dispositivos microeletrônicos e fabrica chips para identificação e rastreamento de produtos, medicamentos e animais.
A fábrica da Ceitec em Porto Alegre (RS) tem 194 empregados, com salário médio de R$ 8,6 mil. A empresa recebeu subvenção do Tesouro Nacional de R$ 75 milhões em 2017, além de um Adiantamento para Futuro Aumento de Capital (AFAC) de R$ 1,232 milhão. O grau de dependência de recursos do Tesouro é de 94% e o patrimônio líquido da empresa é de R$ 105 milhões.
Outra empresa que está nos planos de liquidação do governo é a Infraero, estatal responsável pela gestão de 55 aeroportos do País, incluindo Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ). A empresa também é sócia minoritária nos aeroportos privados de Guarulhos (SP), Campinas (SP) e Brasília (DF). Neste caso, porém, é preciso antes vender os aeroportos, para só depois encerrar as atividades da empresa, o que deve demandar mais tempo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Não adianta, Damares, Ruy Castro, FSP

Para a ministra Damares Alves, meninos devem vestir azul e meninas, rosa. Mas a vida real não é tão simples —ou simplória. Se ela leu gibis em criança ou assistiu na televisão aos filmes de certos animais famosos, talvez se surpreenda com os próximos parágrafos.
O pato Donald, por exemplo, não é um pato, mas um marreco. E, pior, uma marreca. Seu criador, o desenhista Carl Barks, estrela dos estúdios Disney, concebeu-o sem a membrana vermelha no bico, obrigatória em patos, e deu-lhe aquele rabicho proeminente e sacolejante, típico das marrecas. Barks fez de propósito. Sabia que Donald ficaria mais interessante assim e nenhuma criança perceberia a diferença. E como descobri isso? Porque, por razões profissionais, estive há tempos no mesmo recinto com uma marreca, e alguém do seu staff —sim, a marreca tinha staff— me explicou. 
Lassie, a cachorra collie que roubava as cenas de Elizabeth Taylor, era um macho chamado Pal. Já Rin Tin Tin, o pastor-alemão daqueles filmes de cavalaria, era originalmente um macho. Mas, um dia, morreu, e os filmes seguintes foram feitos com seus descendentes, entre os quais várias fêmeas —e alguém iria enfiar o nariz na tela para conferir? 
Flipper, o consagrado golfinho da TV, era uma fêmea chamada Suzie —parece que os golfinhos machos são rebeldes, agressivos e incapazes de decorar suas falas. Falando nisto, Francis, o querido mulo falante dos filmes com Donald O’Connor nos anos 50, era uma mula chamada Judy. Mas nenhum caso é mais exemplar que o de Chita, a chimpanzé dos filmes de Tarzan interpretados por Johnny Weissmuller. 
Chita era macho, como revelou em sua autobiografia, “Me, Cheeta”, publicada há anos. Aceitou ser fêmea nos filmes porque o cachê, em bananas, era muito bom. Mas, para se vingar, sempre que sabia estar em segundo plano numa cena, desapercebida, pegava o bilau e se masturbava. Não adianta, Damares.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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