Artur RodriguesGuilherme Seto
SÃO PAULO
O governador eleito de São Paulo João Doria (PSDB), que tomará posse nesta terça-feira (1º), enfrentará realidade diferente dos predecessores tucanos na Assembleia Legislativa, onde o PSDB costumava reinar com tranquilidade.
O partido sempre teve facilidade para garantir ampla maioria para aprovar projetos e barrar CPIs inconvenientes. Agora, a bancada do partido perdeu 11 cadeiras na Casa --passou de 19 para 8. A posse dos deputados é em 15 de março.
"A gente tem uma fragmentação muito grande, são 24 partidos agora, 12 com um ou dois deputados. Isso dificulta construir uma base dialogando com partido, tem que lidar com indivíduos", diz o deputado eleito Paulo Fiorilo (PT), que fará oposição a Doria.
Ele lembra que o fato de o PSL, partido de Jair Bolsonaro, querer disputar a presidência da Casa contra o tucano Cauê Macris pode gerar uma situação conflituosa com o partido, hoje o maior da Assembleia, com 15 cadeiras.
Eleita com 2 milhões de votos, a advogada Janaína Paschoal, deputada estadual mais votada da história, afirma que disputará a presidência.
Ela sinaliza independência até de Bolsonaro e pode acabar gerando obstáculos para Doria na Assembleia.
Das 94 cadeiras da Assembleia, 52 serão ocupadas por novos deputados. Apenas 42 dos 77 deputados que tentavam a reeleição conseguiram a vitória. É a maior renovação desde 1994.
A tradição governista da Assembleia durante as gestões do PSDB que administraram o estado nos últimos 24 anos facilitou a realização de projetos de governo, como privatizações, e propiciou a contenção de inquéritos possivelmente desfavoráveis.
A gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, conseguiu se blindar de assuntos negativos dentro da Casa. Um exemplo foi a instauração da CPI da merenda, para investigar irregularidades no fornecimento de alimento para escolas estaduais --nesse caso, oito de nove deputados da CPI eram governistas.
Além das possíveis dificuldades políticas, Doria enfrentará desafios nas áreas de segurança e de privatizações.
A principal plataforma de campanha do tucano foi a segurança pública. Ele prometeu que a polícia atiraria para matar e, ao assumir, sinalizou que pretende colocar em prática o discurso duro das eleições, transformando em vitrine o enfrentamento ao PCC.
Na Prefeitura de São Paulo, seu grande programa de desestatização, que prometia passar à iniciativa privada equipamentos públicos como o Anhembi, o estádio do Pacaembu e o parque Ibirapuera, não gerou nenhuma realização concreta até o momento.
Doria deixou a prefeitura em abril, faltando 1.000 dias para o fim de seu mandato, para disputar as eleições.
No estado, o governador eleito anunciou a cifra de R$ 23 bilhões em desestatizações. A estrela do pacote é o sistema prisional, responsável por um orçamento de R$ 4,5 bilhões ao ano. SP tem 227 mil presos em 170 unidades, em ambiente dominado pela facção PCC.