segunda-feira, 2 de julho de 2018

Brasileiros jogam fora comida boa e não enxergam o desperdício, FSP

Mara Gama
SÃO PAULO
Jogar comida fora é pecado, diz o ditado. E apesar da maioria das pessoas se sentir culpada quando desperdiça, um terço da comida produzida no mundo vai para o lixo.  
O consumidor tem grande responsabilidade nisso, mas não vê o desperdício que ocorre em seu modo de vida. 
É o que revela uma pesquisa que mapeia hábitos alimentares no Brasil, nos Estados Unidos e na Argentina. 
Imagem do filme "Wasted, A História de Desperdício de Comida"
Imagem do filme "Wasted! A História de Desperdício de Comida", de Anna Chai e Nari Kye - divulgação
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O estudo ouviu pessoas que são responsáveis ou estão envolvidas no processo de decisão de compras e preparo de alimentos. Foram entrevistados, por telefone, 4 mil americanos, 1.000 brasileiros e 1.000 argentinos, com idades de 18 a 64 anos, no período de agosto a setembro de 2017. Os resultados foram divulgados agora.
Apesar de 77% dos entrevistados dizerem que nunca ou raramente desperdiçam comida,  61% assumem jogar um ou dois alimentos fora semanalmente e 49% fazem isso diariamente.
O Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam comida no mundo e 14 milhões passam fome no país.
Segundo a pesquisa, entre os brasileiros, 61% dizem descartar alimentos em perfeito estado para serem consumidos. Os mais desperdiçados são saladas (74%), vegetais (73%) e frutas (73%). E 49% dos brasileiros jogam comida fora diariamente, enquanto 46% cozinham comida em excesso.
O estudo encomendado pela multinacional de alimentos, bebidas e produtos de limpeza Unilever e conduzido pela Edelman faz um mapa do desperdício doméstico e busca entender em detalhes um comportamento chamado de "cegueira da geladeira".
Como o nome indica, trata-se de não ver o que comer mesmo quando já há em casa ingredientes em perfeitas condições de uso. As razões para essa cegueira são escassez de tempo, pouca criatividade, falta de informação e comodismo. 
A maior parte das pessoas entrevistadas nunca ouviu falar no conceito de cegueira de geladeira (75%), mas, de acordo com a pesquisa, a maioria é vítima dela. 
Para americanos (86%) e brasileiros (81%), a cegueira se manifesta na falta de inspiração para cozinhar. 
Brasileiros respeitam muito os prazos de validade anotados nas embalagens: 83% descartam comida seguindo os rótulos. Americanos se preocupam um pouco menos (62%) e argentinos bem menos: 46%.  Para os argentinos, a aparência dos alimentos é o fator preponderante para o descarte (88%). 
Segundo Marina Fernie, vice-presidente da área de alimentos da Unilever no Brasil, os dados de desperdício deliberado dos brasileiros são "alarmantes". 
A radiografia da "cegueira de geladeira" surpreendeu. "Sabíamos que existia, mas não havíamos quantificado. A grande maioria (75%) declara que abre a geladeira e não consegue ver os ingredientes que tem em mãos", diz.
Na opinião dela, o aspecto positivo é que, ao conhecerem o fenômeno, 78% dizem acreditar que seja um problema a ser enfrentado e 80% assumem sentir culpa de desperdiçar alimento. O fato de pessoas passarem fome é a principal razão apontada (63%), seguido pela perda de dinheiro (60%) e pelo fato de acreditarem não ser um bom exemplo que a próxima geração cresça pensando que pode desperdiçar comida: 55%. 
"Achamos que as pessoas precisam de incentivo para mudar costumes e que este é o momento certo para agir", diz.
Como empresa da área de alimentos, a Unilever vê oportunidades na sugestão de receitas para combater a falta de iniciativa e criatividade dos consumidores, detectada pela pesquisa. Uma das ações em curso é um site Recepedia.com que usa ingredientes da empresa nas preparações. 
O CAMINHO DO DESPERDÍCIO 
Os estudos sobre segurança alimentar costumam apontar que o desperdício de alimentos se manifesta conforme o grau de desenvolvimento e se concentra em pontos diferentes do percurso que vai da produção ao consumo. 
Em países de baixa renda, as perdas geralmente estão na infraestrutura, com problemas em formas de colheita, estradas, armazenamento, embalagem e refrigeração. 
Nos locais de mais alta renda, predomina o chamado desperdício deliberado: consumidores rejeitam alimentos feios, superdimensionam suas compras, jogam fora alimentos que perderam a validade segundo embalagens, sem verificar se isto está certo, e esquecem o que têm na geladeira.
Segundo a ONU, as perdas – que acontecem principalmente nas fases de produção, armazenamento e transporte – representam 54% do que é jogado no lixo e o desperdício corresponde a 46% do total.  
COMBATE
O combate ao desperdício começaria com planejamento melhor. "As pessoas compram demais, cozinham demais e, como gostam de comida sempre nova, acabam jogando fora o que ainda está bom", diz Marina. Aprender a cozinhar menos e congelar o que se cozinha seriam passos fundamentais, segundo ela.
Para atacar a "cegueira de geladeira", Marina recomenda acondicionar os alimentos em embalagens transparentes e ter sempre à mão receitas práticas de preparos básicos.
“A vida corrida e o tempo curto em casa fazem com que os brasileiros tenham cada vez menos intimidade com a cozinha. Nessa situação, ter ideias de como combinar ingredientes é um desafio e tanto”, diz.

Uber extingue taxa fixa cobrada de motoristas, FSP



Valor não vai mudar para o usuário, que continuara pagando pelo preço estimado



SÃO PAULO
A Uber anunciou nesta segunda-feira (2) que acabou com a taxa fixa cobrada dos motoristas sobre o valor da corrida e passou a usar um sistema variável, que vai levar em consideração o tempo e a distância percorrida em cada viagem para determinar o quanto será cobrado pelo empresa. As taxas fixas variavam entre 20% (Uber Black) e 25% (outras categorias).
De acordo com a empresa de aplicativo de transporte, o valor das corridas não vai mudar para os usuários, que continuam pagando pelo preço estimado quado chamam o carro no aplicativo.
A mudança afeta o motorista. Segundo a empresa, os brasileiros reclamavam bastante sobre a taxa fixa de cobrança, pois ela não levava o trânsito em consideração.

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O novo modelo de cobrança, que já funciona há um ano nos Estados Unidos, visa corrigir isso. Com ele, se o motorista fizer uma viagem longa (em quilometragem), mas num curto espaço de tempo, a Uber vai cobrar uma taxa maior, que pode até ser acima dos 25% atuais. Mas se o condutor ficar preso no trânsito por muito tempo, o percentual em cima daquela corrida será menor, mesmo que seja uma viagem curta, de R$10. De acordo com a empresa, o percentual retido pela Uber pode ser de somente 1%, dependendo do caso.
Com o novo modelo, a Uber afirma que o pagamento será mais justo, pois será em cima do tempo e da distância percorrido e não dependerá somente da estimativa dada quando o passageiro solicita o carro. A empresa também anunciou que fará melhorias na versão do app para profissionais, que vai mostrar as taxas cobradas de maneira mais transparente.
Desde o início de 2017, além da taxa de serviço, a Uber também cobra um valor fixo de R$ 0,75 sobre cada corrida. Do valor total da corrida, também são descontados os impostos, que variam de cidade para cidade.
 A Uber tem mais de 500 mil motoristas cadastrados em sua plataforma no Brasil.
A empresa informou ainda que vai manter cobrança de preço mínimo das corridas e, "quando for o caso, o multiplicador de preço dinâmico", que eleva os preços da plataforma quando a procurar por determinada viagem, em determinado horário, é muito alta.
O diretor geral do Uber no Brasil, Guilherme Telles, afirmou que as mudanças fazem parte de "um conjunto maior de iniciativas para aumentar os ganhos de quem escolhe dirigir com nosso aplicativo, como a opção de gorjeta, que lançamos recentemente".
Desde o ano passado, a companhia tem promovido mudanças em seu relacionamento com motoristas, usuários e autoridades públicas.
Em janeiro, o presidente-executivo do Uber, Dara Khosrowshahi, disse que estava focado no "crescimento responsável", enquanto procurava encerrar uma cultura agressiva e intransigente na busca de resultados, que herdou ao se juntar no ano passado à empresa.
Com Reuters

Ministro diz que plano de logística fará ferrovias substituírem rodovias em sete anos, FSP

Julio WiziackAngela Boldrini
BRASÍLIA
O governo lançou nesta segunda-feira (2) o PNL (Plano Nacional de Logística) que, se levado adiante pelo próximo presidente, poderá gerar economia de até R$ 54,7 bilhões por ano a partir de 2025.
"É um plano que define os gargalos dos modais brasileiros e traz soluções para o Brasil avançar, principalmente nas ferrovias, para em sete anos, ultrapassarmos o transporte nas rodovias em 100%", disse Ronaldo Fonseca, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.
O PNL cruza diversos bancos de dados para definir as obras de infraestrutura prioritárias para reduzir gargalos do tráfego de cargas.
Plano prevê, até 2025, uma redução na dependência de rodovias para transporte de cargas - Joel Silva/Folhapress
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Como antecipou a Folha, o plano foi aprovado na reunião do Conselho do PPI (Programa de Parceria de Investimentos) desta segunda. Para implementá-lo, o presidente Temer assinou um decreto dando peso de lei ao plano e criando um comitê de governança que definirá as prioridades de investimento.
Farão parte do comitê representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República, os ministros de Transporte, Minas e Energia, Agricultura, Meio Ambiente, Planejamento, Casa Civil e a EPL (Empresa de Planejamento e Logística), responsável pela parte técnica do programa.
Assessores de Temer afirmam que, na prática, o plano dificultará investimentos em obras de cunho eleitoreiro.
Segundo eles, o próximo presidente poderá, via comitê, interferir na ordem das obras do PNL, mas não poderá, sozinho, decidir que obras entram na lista, que será feita pela EPL com base em cálculos a partir de dezenas de bases de dados já integradas.
Se o presidente quiser incluir uma obra fora do PNL para agradar a aliados, ele deverá registrar em ata, expondo o teor político da decisão.
Para mudar o funcionamento do programa e do comitê, será preciso baixar outra lei.
A ideia do governo foi dar ao PNL o mesmo peso do Plano Decenal de Energia Elétrica, definido pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Na área de energia, um comitê interministerial conhecido como CNPE define as diretrizes do setor que passam a nortear investimentos públicos e privados.
A primeira etapa do PNL se estende até 2025 e está em andamento. Caso o próximo presidente mantenha o cronograma de obras, haverá uma redução de R$ 54,7 bilhões dos custos de transporte até 2025, sem considerar o preço do frete —que pode cair até lá.
Hoje, esse custo é de R$ 342 bilhões e compromete a competitividade dos produtos brasileiros destinados à exportação.
Se o plano seguir a rota planejada, até 2025, a dependência de rodovias cairá dos atuais 64% de participação do volume de cargas para 50%. Essa diferença, de acordo com o PNL, será praticamente incorporada pelas ferrovias, que saltam de 18% de participação para 31%.
Na reunião do PPI, foram incluídos 14 novos projetos que, se concretizados, deverão gerar R$ 100 bilhões em investimentos. Dentre eles estão dez lotes de linhas de transmissão, novos lotes de exploração de petróleo no pré-sal, BR 153/282/470 e a RIS (Rodovia de Integração Sul).
Também ficou decidido que a Vale e a MRS terão suas concessões ferroviárias renovadas em troca de investimentos em novas ferrovias. A contrapartida da Vale será construir a Fico, que se ligará à ferrovia Norte-Sul entre Campinorte (GO) e Água Boa (MT). Caberá à MRS fazer o Ferroanel, que seguirá paralelo ao trecho norte do Rodoanel, em São Paulo.
O PPI também incluiu no programa o trecho sul da Ferrovia Norte-Sul, entre Porto Nacional (TO) e Estrela D´Oeste (SP).