quarta-feira, 6 de junho de 2018

Cresce 85% o número de passageiros no VLT do Rio, G1

O Veículo Leve sobre Trilhos do Rio completa dois anos com 1 milhão de quilômetros rodados. Há um ano, 35 mil pessoas andavam de VLT diariamente. Hoje, o número é de aproximadamente 65 mil. Nesse período, 23 milhões de pessoas foram transportadas pelos trilhos do centro.
A Obra da Linha 3 (Central do Brasil/Aeroporto Santos Dumont, passando pela Av. Marechal Floriano) ficou parada por 5 meses, por causa de exigências legais com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Segundo a CDURP, durante as escavações foram encontrados trilhos antigos, que o Iphan estava analisando. A licença foi emitida há duas semanas e a construção retomada. O consórcio espera concluir o traçado até o fim de 2018.
Bom pagador
O VLT é um atestado de que o carioca é um bom pagador. Mesmo sem cobrador, a taxa de evasão é considerada baixa, menos de 15 por cento. A multa para quem for flagrado andando no VLT, sem pagar, é de R$170 reais.
Fonte: G1
Data: 05/06/2018

Assembleia Legislativa de SP aprova lei que facilita diminuição de pena por leitura da Bíblia Leia mais: https://oglobo.globo.com/brasil/assembleia-legislativa-de-sp-aprova-lei-que-facilita-diminuicao-de-pena-por-leitura-da-biblia - O Globo

SÃO PAULO — Um projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) irá facilitar a diminuição das penas de presidiários que leem a Bíblia. Inicialmente barrado pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), o projeto voltou ao Legislativo paulista, que derrubou o veto do tucano.
A nova lei, aprovada no último dia 29, faz parte da política de remição de penas recomendada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Todos os condenados têm direito a abreviar seu tempo na prisão por meio do trabalho, do estudo ou da leitura. Neste último caso, cada obra lida possibilita a remição de quatro dias de pena, com o limite de doze obras por ano. O projeto foi apresentado por quatro deputados estaduais do PRB, partido ligado à Igreja Universal.
Para a advogada Maíra Zapater, professora de Direito Penal da FGV-SP, o projeto não deve mudar muito na prática dos estabelecimentos prisionais. A criminalista destacou que, em um ambiente de superlotação dos presídios brasileiros, medidas de redução da pena são bem-vindas.
— Não sei se precisaria estar previsto ali (a Bíblia). Não há uma vedação, o preso pode ler Harry Potter se quiser. Na prática, o que a gente vê são os estabelecimentos penitenciários arranjarem mais formas de conseguirem a remição de pena. A diminuição por trabalho, por exemplo, nunca foi suficiente: os presos querem trabalhar, mas não tem trabalho o suficiente — disse.
De acordo com o projeto, a Bíblia, que antes contaria como apenas um livro e, portanto, daria direito a quatro dias de diminuição da pena como um todo, será considerada uma coletânea de livros e, portanto, cada um de suas divisões, como Gênesis, Salmos, Provérbios e os evangelhos do Novo Testamento, contarão como uma obra literária separada. Ao todo, o texto sagrado cristão tem 66 livros.
"Sendo a Bíblia a obra literária escolhida, esta será dividida em 39 livros segundo o Velho Testamento e 27 livros integrantes do Novo Testamento, considerando-se assim a leitura de cada um destes livros como uma obra literária concluída", explica o projeto.
Assim como em relação a outros livros, o condenado apresentará uma resenha a respeito do assunto, que deverá ser avaliada por uma comissão.
De acordo com a criminalista Maíra Fernandes, ex-presidente do Conselho Penitenciário do Rio de Janeiro, o projeto de remição de pena foi pensado com o objetivo de incentivar a leitura de obras literárias, não de livros religiosos.
— Sou totalmente a favor porque a remição por leitura enriquece. É uma forma de liberdade, desenvolve a criatividade, o indivíduo pode ir para outros mundos que o livro leva. Mas não foi criada para ser o estímulo a leitura de determinada religião. Senão vamos entrar na discussão sobre qual religião deve ser estimulada.
Em seu veto, apesar de reconehcer os "nobres propósitos do legislador, expostos na justificativa que acompanha a medida", o então governador Geraldo Alckmin vetou boa parte do projeto porque o considerou inconstitucional a obrigação sobre a regulamentação da remição da pena por leitura caberia à esfera federal e não à estadual.
Para Adriana Martorelli, presidente da comissão de política criminal e penitenciária da OAB-SP, a aprovação do projeto surpreendeu.
— Sorte dessa pessoa que gosta de ler a Bíbla. É muito boa (a remição), mas acho estranho porque vai ter que colocar também o livro dos espíritas, o Corão — afirmou.
Adriana afirmou que, no estado de São Paulo, há 10 livros considerados aptos para a remição de pena. Caso o condenado leia outro, deve pedir a homologação da Vara de Execução Penal para sua diminuição de pena.
Segundo o ex-governador, 165 das 168 unidades prisionais já contam com salas de leitura para que os presos tenham acesso à remição da pena.
"Em razão do trabalho desenvolvido pela Secretaria da Administração Penitenciária, 1.035 (um mil e trinta e cinco) presos foram beneficiados com a remição de pena em razão da leitura no ano de 2016, conforme dados revelados pelos Grupos Regionais de Ações de Trabalho e Educação - GRATEs vinculados à Pasta", afirmou Alckmin.
Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária informou que "já cumpre a remição de pena por leitura nos presídios paulistas desde 2013 e que cumprirá qualquer determinação judicial"


Leia mais: https://oglobo.globo.com/brasil/assembleia-legislativa-de-sp-aprova-lei-que-facilita-diminuicao-de-pena-por-leitura-da-biblia-22744993#ixzz5He8ciTVy 
stest 

terça-feira, 5 de junho de 2018

Trabalhos-bosta, João Pereira Coutinho na FSP (ótimo, definitivo)

Tempos atrás, fui convocado para uma reunião "importantíssima". Disse que iria e perguntei a que horas começava. "Nove da manhã", responderam. E a que horas terminava?
Silêncio do outro lado da linha. Cinco segundos depois, a réplica: "Terminar? Como assim?". Entendo o pasmo.
Na cultura laboral reinante, a reunião pode começar a uma hora definida; mas só acaba quando Deus quiser.
A ideia de que as pessoas têm trabalho (verdadeiro) para fazer e uma vida (pessoal) para viver não passa pela cabeça do burocrata moderno. Ele acredita genuinamente que reuniões intermináveis —aquelas reuniões de 15 minutos que acabam durando duas ou três horas— são prova de excelência e produtividade.
Fui. A reunião durou três horas, quando teria sido possível tratar do assunto pelo telefone. Mas devo acrescentar, em minha defesa, duas coisas: primeiro, que não voltarei a pôr os pés em martírio semelhante; e, segundo, que esses martírios não fazem parte das minhas rotinas, embora façam parte da rotina do trabalhador comum.
Vamos por partes: existem "trabalhos de bosta" ("shit jobs"), "trabalhos-bosta" ("bullshit jobs") e "trabalhos que acabam virando bosta" ("jobs that were bullshitised"). Essas categorias filosóficas pertencem a Eliane Glaser em ensaio para o Guardian que merece ampla divulgação.
"Trabalhos de bosta" são trabalhos duros e necessários. Como limpar as ruas para que as nossas cidades não se convertam em antros fétidos e pestilentos. São trabalhos mal pagos que deveriam ser regiamente pagos.
"Trabalhos que acabam virando bosta" são trabalhos que não são bosta (originalmente), mas que se convertem em bosta pela burocracia demencial em que se afundam.
A academia é um excelente exemplo: em teoria, um professor universitário ensina e faz pesquisa; mas ensinar e pesquisar são hoje atividades marginais da profissão. O essencial está em mil tarefas burocráticas que transformam os acadêmicos em profissionais de "trabalhos-bosta". E o que são esses trabalhos?
Simplificando, são aqueles trabalhos que, se desaparecessem hoje, você não sentiria falta. São trabalhos sem sentido, normalmente de natureza "administrativa", que ocupam uma parcela cada vez maior do mercado laboral.
O antropólogo David Graeber, analisado por Eliane Glaser, escreveu um ensaio (que agora virou livro: "Bullshit Jobs") que resume o essencial: em 1930, J.M. Keynes profetizou que os avanços tecnológicos acabariam por permitir aos seres humanos 15 horas de trabalho semanal. Azar: nunca estivemos tão ocupados como agora. Mas ocupados a fazer o quê?
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, escreve Graeber, diminuiu drasticamente o número de trabalhadores domésticos, industriais e agrícolas. Tradução: não estamos trabalhando em casa, na fábrica ou no campo.
Ao mesmo tempo, subiu vertiginosamente o número de trabalhadores no "setor administrativo". Isso se explica por razões econômicas?
Nem por isso, defende Graeber: a maioria dos "trabalhos-bosta" não tem qualquer racionalidade econômica. A razão é moral e política: as pessoas trabalham 40 ou 50 horas semanais, e não as 15 que seriam suficientes, porque é do interesse dos poderes estabelecidos que uma multidão de gente não dedique o seu tempo e os seus esforços a cogitar um mundo melhor.
Sim, a última parte do raciocínio de Graeber não me parece convincente: no seu cripto-marxismo, Graeber parte da premissa otimista de que a multidão, sem "trabalhos-bosta", estaria devotada à construção da utopia.
Além disso, confesso, eu preferia ter um "trabalho-bosta" a um "trabalho de bosta", que era o tipo de trabalho fatal dos nossos infelizes antepassados.
Mas a inquietação continua: como explicar a profusão de "trabalhos-bosta"?
Arrisco uma hipótese descartada por Glaser e Graeber: é preciso não subestimar a militância de "trabalhadores-bosta". Falo de trabalhadores que não deploram o tipo de trabalho que têm —mas, pelo contrário, encontram na burocracia infinita um sentido que me transcende e uma marca de distinção face aos restantes.
Não se queixam. Eles existem para que os outros se queixem. Adaptando uma expressão freudiana, há muitos trabalhadores-bosta que florescem no narcisismo dos pequenos poderes.
Basta lembrar a minha reunião: três horas escutando bosta —e que belos sorrisos naquelas caras em transe!
João Pereira Coutinho
É escritor português e doutor em ciência política.