quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Análise: Escolas não são vozes indicadas para clamar por justiça e liberdade, OESP


'Está em falta um canal de expressão da revolta, da justa insatisfação e do desencanto do brasileiro com a situação do País, por isso estão aceitando inadvertidamente o grito que sai da boca errada'

Rachel Valença*
15 Fevereiro 2018 | 05h00
O que me faz refletir no momento é a intensa repercussão, na esquerda brasileira, desses dois enredos vencedores. Historicamente, as escolas de samba têm diversas manifestações de crítica social e política. Caprichosos de Pilares, São Clemente, Unidos da Tijuca, Império Serrano e tantas outras enfrentaram a censura e até o boicote, sem grande repercussão. Por que, neste momento, Beija-Flor e Tuiuti viraram ícones da luta política?
A explicação que encontro é que está em falta um canal de expressão da revolta, da justa insatisfação e do desencanto do brasileiro com a situação do País. Por isso estão aceitando inadvertidamente o grito que sai da boca errada. As vencedoras não são as vozes indicadas para clamar por justiça e liberdade, porque ambas são usuárias, na vida interna, de práticas antidemocráticas. 
1º dia de desfiles das escolas de samba no Rio - Sapucaí
"Presidente vampiro" foi visto como destaque no último carro do desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti, uma crítica a Michel Temer. Foto: Wilton Júnior/Estadão
A Beija-Flor fez enredos elogiosos à ditadura no início da década de 1970 e com isso subiu ao Grupo Especial, onde se mantém até hoje. Nos arquivos da ditadura se encontra uma carta dirigida ao general ditador, solicitando ajuda para manter a escola na elite do carnaval, para continuar louvando os feitos da “Revolução”. Chegada a democracia, não se inibiu de cantar em enredo os feitos do então presidente Lula. Há dois anos, louvou a Guiné Equatorial e seu ditador. Para mim, isso tem nome: oportunismo. Quando o samba-enredo nos conclama a “aprender com a Beija-Flor”, eu me pergunto se estou interessada nas lições que ela tem a ensinar.
Quanto ao Paraíso do Tuiuti, sua trajetória é maculada por episódios de truculência e pela adoção de práticas internas alheias à democracia. O grupo que tomou o poder na escola há cerca de 15 anos, após a chegada da escola ao Grupo Especial em 2001, foi o mesmo que, após levar a escola ao Grupo B, tramou a fusão dos grupos A e B para que a escola subisse sem vitória. No carnaval passado, última colocada, não foi rebaixada graças a um acidente que provocou a morte de uma profissional da imprensa, atropelada por um carro alegórico desgovernado do Tuiuti. Com isso, não houve rebaixamento e a escola ficou na elite.
Nos preparativos do carnaval deste ano, acabou com a disputa interna para escolha do samba-enredo, prática que faz parte das tradições e ritos das escolas e suas alas de compositores - e encomendou samba a compositores de reconhecido talento, em um atalho muito desrespeitoso com os poetas da escola. Zumbi, de onde nos assiste, deve estar envergonhado com esse “quilombo da favela”. Tanto quanto a maior parte dos brasileiros, quero justiça e igualdade. Mas, em momentos de polarização, a esquerda deve ficar atenta para não comprar gato por lebre.
*Professora, pesquisadora e escritora, autora de Serra, Serrinha, Serrano: o Império do Samba

Casos suspeitos de dengue triplicam em São Paulo em janeiro, OESP



Notificações de casos prováveis da doença aumentaram também no Sul do País; no balanço geral no País, número de suspeitas caiu






Lígia Formenti, O Estado de S.Paulo
14 Fevereiro 2018 | 17h21
Atualizado 14 Fevereiro 2018 | 23h43
BRASÍLIA - A dengue volta a chamar a atenção em São Paulo. O número de casos prováveis da doença notificados nas primeiras semanas deste ano é mais do que o triplo do que foi registrado no mesmo período de 2017. Boletim divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que o Estado contabilizou, até a terceira semana de janeiro, 2.300 pacientes com suspeita da infecção. No ano passado, no mesmo período, eram 674. O número de casos também é maior nos Estados do Sul, quando comparado com o ano anterior. 

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Total de casos prováveis caiu no País em janeiro, mas SP e Estados do sul tiveram aumento em relação ao mesmo período de 2017
No Paraná, foram identificados 775 casos prováveis, ante 263 registrados no mesmo período de 2017. O mesmo foi identificado em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, mas com números bem menos expressivos. Neste ano, 49 pacientes em Santa Catarina tiveram suspeita da doença e 58 no Rio Grande do Sul. Em 2017, eram 28 e 39, respectivamente.
Os números totais de dengue apresentados no País este ano são menores do que no ano passado. Até o momento, foram 9.399. No mesmo período de 2017, eram 16.860. Não há mortes confirmadas por dengue até o momento. Ano passado, nesse período, eram 13.
Apesar da redução nacional, os números são vistos com cautela por infectologistas. O maior receio é o do aumento da circulação do tipo 2 da dengue, considerado como o subtipo de vírus com maior potencial de levar a forma grave da doença. A última epidemia provocada pelo Dengue 2 foi em 2008. Depois disso, ele saiu de cena. No ano passado, os primeiros sinais de que ele estava retomando forças foram notados. 
Em dezembro, o Ministério da Saúde já admitia a tendência de reforço na circulação do Dengue 2. “A volta da circulação do Dengue 2 traz o risco de uma nova epidemia”, avisa o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz, André Siqueira. Ele observa que, quando o vírus reduz a circulação por um longo período de tempo, aos poucos vai se formando uma nova legião de pessoas suscetíveis. 
Além da circulação do vírus que havia tempos não provocava epidemias no País, Siqueira alerta para outros fatores que acabam favorecendo a propagação do vírus. O verão deste ano tem apresentado um bom índice de chuvas o que, aliado ao calor, propicia condições ideais para o aumento de criadouros do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti.

Chikungunya e zika
De acordo com o boletim, chikungunya e zika, doenças transmitidas pelo mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti, também tiveram uma queda significativa neste ano em relação a 2017. Até o momento, o País registrou 1.505 casos prováveis de chikungunya (ante 5.1235 identificados no mesmo período do ano passado) e 131 casos de zika, bem menos do que os 1.640 casos suspeitos informados em 2017. Neste ano, há um caso confirmado de morte por chikungunya e outros dois em investigação. 
Apesar da queda geral, o Estado de São Paulo também apresentou uma elevação de casos de chikungunya, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Até a terceira semana de janeiro, foram 105 pacientes com suspeita de chikungunya. Em 2017, no mesmo período, eram 76.

Doria negocia com DEM, mas ala tucana tenta impedir candidatura, OESP



Com Alckmin como pré-candidato à Presidência, o prefeito de São Paulo pleiteia candidatura ao governo do Estado






Pedro Venceslau e Igor Gadelha, O Estado de S.Paulo
14 Fevereiro 2018 | 22h47

Doria
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) Foto: Hélvio Romero/Estadão
BRASÍLIA - Após se aproximar do PSD, o prefeito João Doria investe agora no apoio do DEM para uma eventual candidatura pelo PSDB ao governo de São Paulo. A negociação partidária, que envolve o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA), ocorre à revelia do governador Geraldo Alckmin e no momento em que uma ala tucana tenta adiar as prévias paulistas da legenda para maio. 
Com o adiamento das prévias, o prefeito seria forçado a deixar o cargo para entrar na disputa interna. Pela legislação, os políticos que forem concorrer nas eleições deste ano devem renunciar até o dia 7 abril.

Doria e Maia conversaram sobre a sucessão em São Paulo no avião do prefeito, durante um voo entre Rio e Salvador na terça-feira de carnaval. Ao chegar à capital baiana, eles se juntaram ao prefeito ACM Neto. Questionado sobre o encontro, Maia disse ao Estadoque a palavra final sobre uma eventual aliança em São Paulo será do diretório regional do DEM.
O prefeito deve almoçar no sábado com o secretário estadual de Habitação, Rodrigo Garcia, pré-candidato do DEM ao governo, e com dirigentes paulistas da sigla. A ideia é oferecer a Garcia a vaga ao Senado. Por essa configuração, o presidente licenciado do PSD, ministro Gilberto Kassab, seria o vice de Doria na chapa e o chanceler Aloysio Nunes (PSDB), o segundo candidato ao Senado. A movimentação de Doria incomodou aliados de Alckmin.
O governador tenta evitar um racha em sua base na campanha pelo Palácio dos Bandeirantes. Pré-candidato à Presidência, Alckmin não descarta convidar o vice-governador Márcio França (PSB), que deve assumir em abril o governo e disputar a reeleição, para se filiar ao PSDB e ser o candidato único da coalizão governista.
Tucanos paulistas ventilam ainda a possibilidade de acrescentar uma cláusula ao estatuto da legenda que tornaria todos os detentores de cargo executivo candidatos “natos” à reeleição – ou seja, sem a necessidade de disputar prévias. 
Prazo. A pedido dos três pré-candidatos ao governo que se apresentaram formalmente até agora no PSDB – Luiz Felipe d’Ávila, Floriano Pesaro e José Aníbal –, a reunião da executiva que decidirá a data das prévias foi adiada do próximo dia 19 para 5 de março. Doria havia defendido na última reunião nacional da direção do PSDB a realização das prévias já no dia 4 de março.
“Defendo que as prévias sejam em maio. Assim haverá tempo para promovermos o bom debate. A política é feita de riscos”, disse Aníbal ao Estado.
Diante do impasse, aliados de Doria no PSDB afirmam agora que o primeiro turno da eleição interna deve ocorrer no dia 11 de março e o segundo, no dia 18. Dessa forma, ele ainda poderia concorrer sem ter de deixar a Prefeitura. O grupo do prefeito age para formar maioria na reunião decisiva do partido do dia 5 de março.