domingo, 24 de abril de 2016

Pagamento de dívidas dos estados leva governadores e ministro ao STF

Daniel Lima e Michelle Canes - Repórteres da Agência Brasil
Governadores de estados endividados e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, participaram hoje (19) de uma reunião no Supremo Tribunal Federal (STF). O encontro é intermediado pelo ministro do STF Edson Fachin e teve como temas a dívida dos estados e a mudança na fórmula de cobrança da taxa de juros - de composta para simples. Os estadoss querem pagar as dívidas com juros simples, mas para o governo federal o correto é o uso de juros compostos como no sistema financeiro.
Nas argumentações, os governadores disseram que, ao longo dos últimos anos, a dívida dos estados cresceu muito. Para eles, enquanto houve concentração de recursos com a criação de contribuições pela União,  os estados arcaram, cada vez mais,  com a prestação de serviços.

O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, lembrou a Lei Complementar 148/2014 pela qual, disse, a União concederia descontos no saldo devedor. “Mas o decreto modifica a forma que a lei propõe. No caso de Minas Gerais, pagou a mais e deveria receber um crédito a mais.” Minas Gerais foi um dos estados que conseguiram liminar do STF para pagar a dívida que tem com a União usando juros simples e não compostos sem sofrer sanções.

Já o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, afirmou que houve um desvirtuamento da renegociação da dívida porque os estados que deviam inicialmente um montante passaram a dever muito mais com a incidência de juros. Para ele, a taxa de juros acumulada é uma distorção e uma penalidade. Santa Catarina foi o primeiro estado a conseguir uma liminar no Supremo Tribunal Federal.

Outro unidade da Federação a ter uma decisão favorável no STF foi o Rio Grande do Sul. “Evidente que o governo federal dispõe de recursos que os estados não dispõem. Os estados não contam com [a possibilidade] de recorrer a bancos internacionais para rolar a dívida ou emitir moeda”, disse o governador Ivo Sartori, do Rio Grande do Sul. “Vivemos uma realidade em que todo o Poder Público tem dificuldades. Nós estamos fazendo nosso dever de casa, com leis que não permitem gastar mais do que se têm.”

Outros estados

Ontem (18), o Rio de Janeiro teve uma liminar concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Representando o Rio, o secretário da Casa Civil do Rio, Leonardo Espíndola, disse que grande parte dos recursos do estado vem da indústria do petróleo, mas lembrou que a Petrobras vem enfrentando uma “enorme crise financeira” e falou também dos royalties.

“Além da crise, o valor dos royalties caiu no mercado internacional. Queda bruta no valor. Não era prevista. Só a diminuição no valor do barril impactou nas contas."  O secretário lembrou que o estado está devendo salários a aposentados e pensionistas.

Além dos estados que já conseguiram liminares no STF, outros vêm levando a questão da dívida à Justiça. Estes estados também participaram da reunião. O governador de Alagoas, Renan Filho, alegou que a legislação prevê uma forma de desconto. “A lei diz que é a União autorizada a discutir desconto sobre os saldos devedores. Mas alguns estados, em vez de reduzir o estoque da dívida, as dívidas serão aumentadas. No caso de Alagoas, que paga parcelas tão altas, teria aumento”, argumentou.

Dívida
O governador de São Paulo, Geraldo Alkimin, afirmou que a situação do estado não é diferente dos demais. Ele disse que, ao repactuar a dívida na década de 90, São Paulo ficou sem empresas como o Banespa e a Comgás, por exemplo, que foram oferecidas como ativos na renegociação.  Afirmou, ainda, que o Ministério da Previdência Social, por exemplo, não paga o que deve aos estados que correm o risco de ter as parcelas da dívida sequestradas.
Argumentos da União
O governo federal se manifestou na reunião de hoje no STF. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa voltou a ressaltar que o pedido dos estados não é a melhor solução. “O problema dos governadores é real , mas essa solução simples é errada. O correto é a proposta que mandamos para o Congresso Nacional.” Na semana passada Barbosa esteve no STF para reuniões com os ministros e tem alegado que a melhor solução é a proposta que está sendo discutida pelos parlamentares.

O ministro reforçou também que o uso dos juros simples é “perigoso.” “É perigosa [a utilização] porque, se essa interpretação de que taxa acumulada corresponde a um regime de juros simples for estendida a todo contrato financeiro, isso pode criar  ações judiciais para rever encargos em contratos privados. É desequilibrada porque acaba beneficiando os estados mais endividados. Mas não tem mágica. Essa proposta significa economicamente um perdão dos contribuintes federais aos contribuintes estaduais que, na verdade, são as mesmas pessoas”, disse em
 entrevista.
Decisão dia 27
No encerramento da reunião, o ministro Edson Fachin, do STF, disse que governo federal e governadores apresentaram questões relevantes. “Não foi outro o sentido da reunião, senão o de contribuir para que a corte busque maiores informações e para que se concretize o chamado federalismo cooperativo”, disse ele.
“Tenho para mim que Vossas Excelências, partes impetrantes e partes impetradas, apresentam uma convergência substancial sobre o diagnóstico do problema e há, em nosso modo de ver, espaço, não apenas para a legítima decisão que está prevista para [o dia] 27  próximo, mas também para o diálogo que pode  frutificar entre as partes. A convergência que os senhores apresentam sobre o diagnóstico do financiamento das políticas sociais parece nos indicar que foi bem-vinda a realização dessa mesa de diálogo”, finalizou Fachim.

(*) Texto atualizado às 12h42 para acréscimo de informações

(*) Texto alterado às 12h58 para correção de informações
  

O combustível para automóveis que vem da galinha, OESP


CLEIDE SILVA - O ESTADO DE S.PAULO
02 Abril 2016 | 18h 00 - Atualizado: 02 Abril 2016 | 18h 00
Dejetos de aves, suínos e bovinos são matéria-prima para a produção de biometano, combustível mais barato do que gasolina, etanol e diesel
 
Antes desprezado ou usado como adubo sem tratamento, o grande volume de excremento produzido diariamente por 84 mil galinhas poedeiras da Granja Haacke, no município de Santa Helena, a 110 km de Foz do Iguaçu (PR), hoje vira combustível para automóveis. Ao participar de um programa que transforma os dejetos em gás biometano, o proprietário da fazenda resolveu vários problemas.
“O dejeto tinha cheiro forte, incomodava, atraía moscas e prejudicava o meio ambiente”, afirma Nilson Haacke. Ele investiu R$ 700 mil em equipamentos para decompor as fezes até virarem biogás. Seu parceiro no projeto, o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), que tem a hidrelétrica de Itaipu como principal mantenedora, entrou com R$ 400 mil na instalação de um biodigestor, cuja função é purificar o biogás e transformá-lo em biometano.
A Itaipu Binacional adquire o gás veicular de Haacke para abastecer sua exclusiva frota de 43 veículos movidos a biometano. O produto foi regulamentado pela Agência Nacional de Petróleo há cerca de um ano.
Por ser combustível verde, o biometano atrai interesse das montadoras. A Scania iniciou a produção de um ônibus a gás na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), com chassi importado da Suécia. Uma unidade será testada em São Paulo em maio, mas o grupo já tem contratos de exportação para Colômbia e México. Um ônibus da marca, também trazido da Suécia, rodou com biometano no fim de 2014, no transporte de funcionários de Itaipu e em outros cinco Estados, e comprovou a eficiência do combustível.
Abastecer a frota não é a única razão para a usina difundir o novo combustível alternativo. “O Paraná é o maior produtor de proteína animal e, no processo de confinamento, é gerada enorme quantidade de dejetos que, se descartada inadequadamente, polui águas, mata peixes e chega aos reservatórios da usina”, diz Rodrigo Regis Galvão, presidente do CIBiogás.
Segundo Galvão, as características do biometano são as mesmas do gás natural, mas a origem é verde (vem de matéria orgânica), enquanto o GNV é de origem fóssil (vem dos poços de petróleo). Além das fezes da galinha, o gás pode ser obtido de suínos, bovinos, bagaço de cana e lixo em geral. Como biogás, é muito usado na geração de energia.
Após separado o gás, o líquido que sobra pode ir direto para a lavoura como fertilizante natural. “O Brasil importa 90% do fertilizante químico usado na agricultura”, diz Marcelo Alves de Sousa, gerente de relações institucionais da CIBbiogás. O centro desenvolve projeto para transformar o líquido em flocos para ser revendido no mercado.
Com as galinhas, que também fornecem ovos vendidos na Ceasa local, Haacke consegue produzir 700 m³ por dia de biometano, que é armazenado em cilindros e levado até Itaipu, onde há um posto de abastecimento. Ele gera ainda a energia usada na granja durante o dia, por um motogerador, que resulta em economia mensal de R$ 8 mil na conta de luz. Também utiliza o fertilizante na plantação de milho e outros produtos.

Haacke começou a produzir biometano no fim de 2014 e, por enquanto, só fornece para Itaipu. “Quando tiver demanda, vou produzir em escala comercial”, afirma o agricultor de 53 anos. Ele iniciou a criação de galinhas aos 28 anos, com 600 aves. Hoje, tem 200 mil – das quais 84 mil são confinadas para o projeto biometano – e 900 cabeças de gado, cujos dejetos também viram biogás. Emprega 28 funcionários e conta com ajuda do filho, de 25 anos, e da filha, de 20.
Frota. A frota de Itaipu é formada em grande parte por modelos Siena, da Fiat, adquiridos pela hidrelétrica na versão tetrafuel – aceita etanol, gasolina com adição de etanol, gasolina pura e GNV. Três Mitsubishi L200 e um Chevrolet Cobalt foram alterados para receber o kit de gás.
Segundo a Fiat, no primeiro trimestre deste ano, foram vendidas entre 500 e 700 unidades do Siena tetrafuel. O modelo tem grande procura entre taxistas.
Até o fim do ano, a usina de Itaipu terá 86 carros a biometano, e quer incentivar o aumento da escala de produção do combustível não só para seu uso. O País tem hoje 1,18 milhão de veículos movidos a gás natural, segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). A grande maioria é de modelos que passaram por modificações em oficinas e podem usar o biometano.
De acordo com Sousa, o custo do biometano é, em média, 40% inferior ao da gasolina e 30% menor que o do etanol, além de garantir maior autonomia. Na comparação com o diesel, é 28% mais em conta, informa Silvio Munhoz, diretor da Scania. “Quando produzido em larga escala, também poderá competir em vantagem com o GNV”, diz.

A ideia do CIBiogás é que o biometano seja um combustível regional, especialmente nas áreas do agronegócio. “Ele só tem viabilidade em um determinado raio, pois não demanda estrutura de um gasoduto, que é cara”, afirma Galvão.

Dá-se um jeito , Marcelo Rubens Paiva, OESP


Tem-se a ilusão de que o comunismo é um dos maiores problemas do País, e acabar com ele, a salvação. Teme-se a Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, países que não param sozinhos em pé. Tem-se a ilusão de que o povo nas ruas, um juiz de primeira instância e promotores aguerridos acabarão com a corrupção. De que sessões de um Congresso corrupto garantirão um futuro melhor a nossos filhos e netos, que viverão num mundo sem roubalheiras. 
Temos a ilusão de que o poder emana do povo, pelo povo, para o povo. De que a Justiça é cega, que o Brasil, um “pa-tro-pi” abençoado por Deus, em que se plantando tudo dá, é o país do futuro. Sem contar que Deus é brasileiro.
Acreditamos na representatividade democrática, na Constituição, nas leis, que pagamos os impostos que nos cabem, que se o País não é a Dinamarca, é porque gastam mal nosso dinheiro. Acredita-se que os administradores públicos são corruptos e incompetentes, os funcionários públicos são preguiçosos, o Estado é refém da burocracia, e tem que ser mínimo.
Tem-se a esperança de que o craque resolva nossas deficiências táticas, gerenciais, abafem nossos dirigentes corruptos, nossas entidades podres, que o talento nato se sobreponha ao trabalho coletivo, de que surgirá um camisa 10 para nos guiar, um camisa 9 para colocar a bola nas redes, um goleiro salvador, um santo, de que somos eternamente o país do futebol, da natureza exuberante, das florestas, rios, campos e arados, da cordialidade, alegria e tolerância à miscigenação. 
Tem-se a ilusão de que de uma Ilha da Fantasia surgirá outro Guga, outra Maria Ester, que de um campo de várzea virá outro Garrincha, que na favela nascem vários Romários. Que Ademar Ferreira, João do Pulo, Daiane, Clodoaldo, Hortência, Paula, Oscar, Bernardinho e tantos outros apareçam da escuridão dos ginásios, para os holofotes da glória. 
Vamos ganhar um Oscar um dia. Vamos ganhar um Nobel, quem sabe. Vamos patentear a grande descoberta. Vamos criar a vacina salvadora, a cura, temos fé.
Acreditamos que aqui não existe racismo. Que nos tornamos independentes num 7 de setembro, uma República democrática num 15 de novembro, que a escravidão acabou em 1888. Que 13 de maio é o dia de celebrar o fim da escravidão. Que sua tutora é a Princesa Isabel. Acreditamos no Dia do Índio, em Tiradentes, em Aparecida, homenageamos os trabalhadores no Dia do Trabalho, Jesus no Natal, seu renascimento na Páscoa. Despejamos nossa fé em pacotes turísticos ou viagens para praias e montanhas em feriados prolongados, congestionando estradas.
Carregamos colares com miçangas de nossos Orixás para nos protegerem. Rezamos ao santo casamenteiro. Fazem-se promessas para arrumar emprego, curar doença, trazer de volta a pessoa amada. Fazem-se simpatias, ebós, pernas, braços, costelas de gesso, para sanar dores.
Tem-se a ilusão da existência da utopia, do paraíso, do nirvana. Meditar é pensar em nada. Pensar em nada traz paz interior. A esperança é a última que morre. Pensar positivo é um dever constante. Dá-se um jeito. Para tudo tem solução. Aos trancos e barrancos, empurrando com a barriga, o Brasil sobrevive.
Temos a impressão de que o novo estatuto do idoso trouxe conforto aos velhinhos, o do torcedor, paz nos estádios, o da criança, garantias à geração que é o nosso futuro. Que o código florestal protegerá nossas florestas, rios e mananciais. Que a Maria da Penha salvará as mulheres da ira e abusos da classe masculina.
Mas fé, só a fé, não move montanhas. O Brasil não sairá do lugar se acreditar e esperar, sem lutar diariamente, ter disposição para conhecer, debater, pesquisar, aprender, treinar, praticar, repetir, ensaiar, estudar, observar, respeitar. A ilusão é fruto da preguiça. Ela é bela como uma fantasia. É ineficiente como uma neblina.
Porque, no fundo, precisa-se de mais para acabar com a corrupção, ser um país democrático, reformar um Estado, gerar Gugas e Romários, acabar com o racismo, a intolerância, a violência contra crianças e mulheres, ganhar uma Copa do Mundo, um ouro e preservar a natureza. Temos direitos. Precisamos ter deveres. Pensarmos como um elemento de um todo, um ser republicano.