domingo, 17 de abril de 2016

Sobram 35 milhões de carros no mundo, OESP


CLEIDE SILVA - O ESTADO DE S.PAULO
17 Abril 2016 | 05h 00 - Atualizado: 17 Abril 2016 | 05h 37

Indústria automobilística global opera com 73% de sua capacidade produtiva; no Brasil, metade do parque industrial está ocioso

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O mundo todo terá uma sobra de quase 35 milhões de automóveis este ano. As montadoras de todas as regiões têm capacidade instalada para 126 milhões de veículos, mas devem produzir cerca de 91,5 milhões de unidades. As regiões mais problemáticas são o Leste Europeu, onde as fabricantes devem operar com 53% de ociosidade, e a América do Sul, com 51%, segundo estudo anual da PricewaterhouseCoopers (PwC).
O Brasil, cujo parque industrial pode produzir cerca de 5,2 milhões de veículos em três turnos de trabalho (incluindo caminhões e ônibus), participa com 70% da produção na América do Sul. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta para o ano uso de no máximo 48% desse potencial, o mais baixo em pelo menos 13 anos. Significa que o País deverá contribuir com quase 3 milhões de veículos na conta da sobra global.
Para o presidente da Anfavea, Luiz Moan, esse nível “é dramático para qualquer ramo de atuação” e, segundo ele, prejudica a sustentabilidade das empresas. O ponto de equilíbrio para uma operação rentável, de acordo com o executivo, é de 85% de uso de capacidade.
Em 2010, as montadoras do mundo todo operavam com 20% de ociosidade, porcentual que só cresceu desde então, chegando a 26,5% no ano passado e previsão de atingir 27,4% neste ano. A partir de 2017, a estimativa da PwC é de que a ociosidade comece a diminuir, até chegar aos 21,3% em 2022, quando a capacidade anual estará em cerca de 140,6 milhões de carros.
Na América do Sul, o uso do parque instalado despencou de 84,5% em 2010 para 47,5% no ano passado. Pelas projeções, chegará a 59,6% em seis anos, após recuperação lenta, porém constante. O Brasil também tende a reduzir sua ociosidade a partir de 2017, mas ainda assim a previsão é de que chegue em 2022 com 37% de subutilização das linhas de montagem.
“Nos últimos anos, o Brasil e os demais mercados emergentes foram a bola da vez no setor automotivo e receberam grandes investimentos”, lembra o sócio da PwC no Brasil, Marcelo Cioffi. Nos últimos três anos, além da ampliação da capacidade de fábricas instaladas, novas marcas abriram unidades no País, entre elas, a alemã BMW e a chinesa Chery. Nas próximas semanas, a Jaguar Land Rover deve inaugurar sua planta no Rio de Janeiro.
Alento. O Brasil abriga atualmente 22 marcas de automóveis e caminhões que mantêm 32 fábricas. Até 2017, está prevista a chegada das chinesas JAC (na Bahia) e Foton (no Rio Grande do Sul). A Honda tem uma filial pronta em Itirapina (SP), que aguarda a recuperação do mercado para abrir as portas. “Quando os novos projetos foram definidos não se esperava queda tão relevante nas vendas no País”, ressalta Cioffi.
Na opinião do presidente da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para a América Latina, Stefan Ketter, trabalhar com metade da capacidade instalada “é muito perigoso porque é difícil se sustentar” por muito tempo numa situação dessas. A fábrica do grupo em Betim (MG), a maior do mundo, com capacidade para 800 mil carros ao ano, opera hoje com 40% de ociosidade. No ano passado, a FCA abriu uma unidade da Jeep em Goiana (PE) para 250 mil veículos, e hoje opera plenamente.
O alento para as montadoras brasileiras, na opinião de Cioffi, é buscar o mercado externo, aproveitando a desvalorização do real, mas o ideal seria ir além da Argentina e do México, hoje os principais clientes. “O desafio é ir para outros mercados, notadamente o americano, mas a maioria dos modelos feitos no Brasil são incompatíveis com aquele mercado, que demanda carros de maior porte.”
Os Estados Unidos, após séria crise em 2008 e 2009, hoje operam a todo vapor. Na América do Norte, que inclui Canadá e México, as montadoras trabalham com apenas 9% de ociosidade, o que é um risco, avalia Cioffi. Na crise, pelo menos sete fábricas foram fechadas apenas em Michigan, onde está Detroit, conhecida como a cidade dos automóveis. Em compensação, o país ganhou produtividade.
Puxada pela China – hoje o maior mercado mundial de veículos –, a Ásia utilizava 81% do seu parque industrial automotivo em 2010, uso que atualmente está em 68% em razão da desaceleração do crescimento chinês e também do aumento da capacidade após a invasão de novas fabricantes. Isoladamente, a China deve operar com 35% de ociosidade neste ano.

Na Rússia, a líder do Leste Europeu, o nível de produção é 47% inferior ao potencial produtivo. A Índia, outro emergente que atraiu investimentos nos anos recentes, tem 40% de ociosidade em suas montadoras. Já a União Europeia, região que também passou por sérias dificuldades financeiras, viu o uso da capacidade das fábricas de automóveis passar de 77% em 2010 para 84% atualmente.

Felicidade Interna Bruta, OESP


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Celso Ming
06 Março 2016 | 03h 15
Renda não é tudo, como todos sabemos. Por que, então, em vez de dar tanta importância ao Produto Interno Bruto (PIB), as avaliações sobre o desempenho da economia não levam em conta também o nível do bem-estar da sociedade? Essa proposta é velha de guerra, mas foi em 1972, quando o rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck (foto), sugeriu que os economistas medissem também o nível de felicidade do seu povo: “A Felicidade Interna Bruta (FIB) é mais importante do que o Produto Interno Bruto (PIB)”, proclamou ele.
O novo critério deveria incluir outros valores, como paz, harmonia, compaixão, qualidade ambiental, saúde e educação, em vez de se ater apenas ao aumento da produção e da renda, algo que o Butão, pedaço enrugado de chão encravado no Himalaia, não podia oferecer.
A ideia pareceu boa a institutos de economia. Sem abrir mão das contas nacionais de produção e de renda, tentaram aferir também o estado geral de felicidade de um povo. Mas como se faz isso? O que, afinal, é felicidade e como pode ser medida, se este conceito varia de cultura para cultura e até, de pessoa para pessoa? Um conceito de felicidade individual não pode ser transferido automaticamente para o de felicidade social. Mas, porque um deriva do outro, convém examinar primeiro o que é uma pessoa feliz. 
O mais antigo relato da busca da felicidade está na Epopeia de Gilgamesh, rei sumério do século 27 a.C.. Ele perseguiu a imortalidade, como objetivo maior do ser humano. Não consta que tenha conseguido.
No século 5 a.C., Heródoto conta que Sólon (século 7 a.C.), o legislador de Atenas, dizia que a felicidade só poderia ser conseguida, aqui na terra, paradoxalmente ao morrer. Obviamente raríssimos o conseguiam. Sólon deixou suas leis gravadas em praça pública e saiu pelo mundo em busca de novos conhecimentos. Lá pelas tantas, foi recebido por Creso, rei dos lídios, que juntara tanto poder e tanta riqueza que se considerava o campeão da felicidade pessoal bruta. Mas quis testar sua percepção com Sólon. Este, no entanto, revelou que o mais feliz dos homens que conhecera foi o ateniense Teles, rico e com bela família, que morreu gloriosamente no campo de batalha. E o segundo mais feliz, depois de Teles, não foi um homem, mas dois irmãos, que, na falta de bois, se prontificaram a puxar o carro que levava a mãe até a festa da deusa Hera. Ao chegarem exaustos ao templo, caíram sem vida.
Assim, para o rei Creso, feliz era aquele que tinha amealhado riquezas e poder. Para Sólon, era o que tombara gloriosamente no campo de batalha em defesa da pátria ou, então, quem fosse capaz de dar a vida pela própria mãe. Passava longe do dom da imortalidade, tão ansiado por Gilgamesh.
Na versão original do poeta inglês Christopher Marlowe, Fausto, o símbolo da espécie humana, foi capaz de vender sua alma ao diabo para receber em troca três favores decisivos para ser feliz: comer até fartar-se, vestir as melhores roupas e viajar por entre as estrelas. Era satisfazer suas necessidades primárias e, depois, sonhar...
Diante do desafio imposto pelo rei do Butão, certos economistas se deram ao trabalho de elaborar uma lista de pressupostos que completassem o conceito de bem-estar de uma população: é educação com nível de excelência, saúde, boa alimentação, estado de direito, garantias sociais, como seguro-desemprego, boa aposentadoria... No entanto, são itens que não dispensam contas públicas em ordem, inflação no chão, enfim, uma economia sadia.
Embora sejam objetivos buscados pelas sociedades e carreguem alguma dose de consenso, qualquer lista de critérios baseados no bem-estar está sujeita a contestações. Um budista, por exemplo, dirá que o nirvana se obtém apenas alijando da mente todos os desejos; um muçulmano poderá argumentar que nada tem mais valor do que o martírio em defesa da fé; um artista pode passar a vida gestando uma obra prima.
Coisas bem simples também têm sido apontadas como fonte de felicidade. Para o cantor Ataulfo Alves, por exemplo, felicidade é um estado de espírito que não se percebe na hora, mas só muito depois, quando, por exemplo, sentia saudades da professorinha e soluçava ao violão: “Eu era feliz e não sabia”.
Quando trata do assunto, o nosso Guimarães Rosa também se detém em sensações efêmeras: “Felicidade se acha é em horinhas de descuido”. Não é um estado permanente da vida, nem pessoal, nem em sociedade. Nem pode ser medido por um critério qualquer de Felicidade Interna Bruta.


Gastos no legislativo estadual sobem 42%, OESP


BIANCA PINTO LIMA - O ESTADO DE S.PAULO
06 Março 2016 | 03h 00 - Atualizado: 07 Março 2016 | 09h 29

Sem limite para verbas extras, as 27 assembleias e tribunais de conta estaduais gastam mais que as 5,6 mil câmaras municipais juntas

A piora fiscal que assola os Estados desde 2012, quando a economia brasileira começou a desacelerar, passa longe do Poder Legislativo. Entre 2004 e 2014, os gastos das assembleias e dos tribunais de contas estaduais cresceram 42% acima da inflação, para R$ 13,6 bilhões. A trajetória é a inversa da observada no Legislativo Federal, cujas despesas tiveram queda real de 1,7% e representavam menos da metade do valor dos Estados (R$ 5,9 bilhões).
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Os números têm como base os últimos dados consolidados pelo Tesouro Nacional (até 2014) e fazem parte de relatório da PUC-RS e do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis (Sescon-RS). No montante do Legislativo Federal são considerados gastos da Câmara dos Deputados, do Senado e do Tribunal de Contas da União (TCU).
  
“A democracia tem um preço. Mas os gastos estaduais parecem bem exagerados, tanto frente a outros legislativos quanto a orçamentos de outras funções”, diz Gustavo Inácio de Morais, professor da PUC-RS e um dos responsáveis pelo estudo. As 27 assembleias e seus tribunais gastam mais que as 5,6 mil câmaras municipais juntas e têm quase as mesmas despesas que a função Ciência e Tecnologia, que abrange os gastos com as duas áreas n o País.
“A sangria é enorme no orçamento dos Estados. Os gastos nas assembleias e nos tribunais de contas são proibitivos”, diz o senador João Capiberibe (PSB-AP). Autor da Lei da Transparência (que prevê que todas as despesas e receitas públicas sejam publicadas na internet), ele defende que a União estabeleça um freio “no apetite exagerado” dos deputados.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 30/2014, de sua autoria, fixa um teto para os gastos de assembleias e tribunais com base em valores de 2013, sendo que os gastos só poderiam ser corrigidos anualmente pela inflação. O texto, que aguarda para entrar na pauta da Comissão de Constituição e Justiça, diz que o governador que fizer repasse superior ao limite incorrerá em crime de responsabilidade. O presidente da assembleia e os demais membros da Mesa Diretora também responderiam por despesas que ultrapassassem a determinação legal.
“Os gastos são mais controlados na esfera federal do que nos níveis estadual e municipal. E o legislativo subnacional se aproveita disso”, comenta Juliana Sakai, coordenadora de pesquisa da ONG Transparência Brasil.
Hoje, apenas os salários dos deputados estaduais têm limite determinado pela Constituição - o que não ocorre com as verbas extras. Os vencimentos não podem ultrapassar 75% do valor recebido pelos pares federais, de R$ 33,7 mil. Já no caso dos conselheiros do Tribunal de Contas, o teto deveria ser o salário do deputado estadual. Segundo Juliana, porém, os Estados e o DF ignoram essa regra e determinam que membros dos TCEs recebam o mesmo que desembargadores dos Tribunais de Justiça estaduais – R$ 30,4 mil. “Com todos os extras, alguns vencimentos de conselheiros chegam a superar R$ 50 mil.”
Campeões. Na lista dos dez Legislativos mais caros estão Estados fortemente endividados, que já chegaram a atrasar salário de servidores e a interromper a prestação de serviços básicos. O Rio de Janeiro lidera o ranking, com um gasto de R$ 1,2 bilhão em 2014. Com forte queda nas receitas em 2015, devido principalmente ao recuo no preço do petróleo, o Rio está sem dinheiro para manter até hospitais e decretou situação de emergência para a Saúde.
Para tentar fechar as contas, o governo fluminense aumentou nos últimos meses os impostos sobre veículo (IPVA), herança (ITCMD) e circulação de mercadorias (ICMS). “Numa época de recessão, os governos deveriam ser proibidos de cogitar aumento de tributos antes de enxugar os gastos públicos”, comenta Diogo Chamun, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis (Sescon-RS) e também responsável pelo estudo.
Procurada, a assembleia do Rio separou os gastos relativos à Casa para evidenciar que o Tribunal de Contas do Estado é responsável por praticamente 50% do Orçamento do Legislativo. 
Endividado, o Rio Grande do Sul aparece em quarto lugar, com gastos de R$ 945,7 milhões em 2014. Com a falta de dinheiro, o governo de José Ivo Sartori (PMDB) já teve de parcelar o salário dos servidores vinculados ao Executivo em três ocasiões e, desde abril de 2015, vem pagando com atraso a parcela mensal da dívida com a União. 
Consultada, a assembleia do RS destaca que, apesar da alta no gasto total, as verbas de gabinete não têm reajuste desde 2011 e as despesas com diárias representam só 25% do valor de 2004.

Já o Distrito Federal, que também atrasou o salário de servidores em 2015, é o nono da lista, com despesas de R$ 572,4 milhões. Questionada, a Câmara Legislativa do DF alega que possui competência estadual e municipal e que, por isso, não poderia ter o seu custo comparado com o de outras assembleias. O argumento é refutado pelos autores do estudo, que destacam o fato de ser um único executivo a ser fiscalizado, em um território bem menor que o de outras unidades da federação.