domingo, 24 de janeiro de 2016

Nem Mineirinho surfa essa onda do atraso - MARCO ANTÔNIO ROCHA


ESTADÃO - 21/01

Otimismo versus pessimismo é tema perfeitamente oportuno neste momento. E não apenas porque um novo ano está começando. Isso é normal em todos os anos, quando estão começando. As pessoas, acho que no mundo inteiro, pelo menos no mundo do calendário gregoriano, tendem a aderir ao pessimismo ou ao otimismo nas passagens de anos – e a fazer prognósticos sobre o ano que entra.

Mas este ano é especial no Brasil.

A economia brasileira está no fundo do poço. Pior do que isso. Está sem ninguém que aponte uma saída minimamente viável. Segundo pesquisa recentemente divulgada pelos jornais, atribuída ao Pew Research Center, abrangendo 40 países, 87% dos brasileiros acham que a economia vai mal e apenas 13% pensam que vai bem.

Mas na cabeça das pessoas as coisas não parecem tão mal assim. Outros dados da mesma pesquisa mostram que 66% dos brasileiros acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, 13% acham que vai ficar igual e 21% acham que vai piorar. Digamos, pois, que uma maioria de brasileiros olha a economia com certo otimismo e uma minoria, 34%, ou não crê ou está pessimista. É um contingente nada desprezível. Mas é claro que, se 2015 tivesse terminado com a economia em crescimento, mesmo que pequeno, esse contingente seria menor.

A quantidade de pessimistas e de otimistas, medida por pesquisas, tem, no entanto, menor importância do que os sentimentos que envolvem as pessoas e que as pesquisas não medem: desesperança e descrença, além da frustração. A frustração em amplas camadas da população que pensavam ter tirado o pé da lama nos governos do PT deve ser acabrunhante. Somam-se a ela os sentimentos de desesperança e descrença diante do quadro político atual. Nas TVs, o que se vê, com o início dos horários de propaganda eleitoral, é o mesmo discurso vazio de gente sem a menor categoria para liderar ou animar quem quer que seja ou de quem já passou pelo poder e não tem mais nada a dizer ou a propor. É o ramerrão costumeiro sobre promessas ou planos inviáveis. Sem falar no desanimador panorama dos que já estão encastelados no poder, no Legislativo ou no Executivo federais, e que se entregam à gafieira de salão em torno de Eduardo Cunha, Dilma Rousseff, Michel Temer e do agora mais novo suspeito na Lava Jato: Jaques Wagner.

“Sei que tivemos um ano difícil, mas estou otimista com 2016. Acredito na força do nosso povo e na agenda que traçamos para o País”, disse a chefa da Nação na sua mensagem de ano-novo ao povo brasileiro. “A agenda de reformas do Estado vai aprofundar a democracia e fortalecer as bases do crescimento sustentável.”

A crença na força do nosso povo e a crença na hipótese de o Brasil ser maior que as crises são o refrão de quem não tem mensagem e tem a obrigação de parecer otimista.

Mas, talvez, se ela recitasse ou apresentasse a “agenda que traçamos para o País” e esmiuçasse os passos concretos que o seu governo pretende dar neste ano para conseguir atravessar a turbulência, estabilizar pelo menos a economia e desanuviar o nó político que a impede de governar, o do seu impeachment, talvez conseguisse incutir algo do seu declarado otimismo “com 2016” na alma dos brasileiros que a ouviam.

Mas nada disso se ouviu. Nenhum pormenor que pudesse ser levado a sério. Essa pessoa que nos dirige vem prometendo o futuro e entregando o atraso desde que tomou posse pela primeira vez. E sob seus pés ou asas rolam os maiores escândalos de corrupção, de desrespeito à coisa pública e de desatinos administrativos de que se tem notícia.

Pode ser que o Brasil seja forte e grande o bastante para surfar essa onda perversa e sair dela como o campeão Adriano de Souza, o Mineirinho. Mas, francamente, está muito difícil. E, do jeito que este governo deixa o País, 2016 talvez seja um problema bem menor do que os anos seguintes.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Prévias tucanas, Por Merval Pereira no O Globo


POR MERVAL PEREIRA
A repetição das prévias para a escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo do PSDB parece estabelecer uma sistemática que pode vir a ser usada mais adiante, para a definição do candidato do partido à presidência da República. Essa ideia sempre esteve presente nos debates tucanos, mas nunca se concretizou, dando margem a que suas diversas correntes se digladiassem não apenas na fase de definições como, principalmente, na própria campanha eleitoral.
Formou-se um consenso entre os líderes paulistas Geraldo Alckmin, atual governador, e José Serra, senador, de que o líder mineiro Aécio Neves não se empenhara devidamente nas campanhas presidenciais de 2002 a 2010. Foi preciso que o próprio Aécio perdesse em Minas a eleição para Dilma Rousseff em 2014, resultado determinante, sem dúvida, para sua derrota a nível nacional, para esclarecer que o que os tucanos paulistas viam como relaxamento do colega mineiro não passava de um mito, ou pelo menos não era decisivo.
O que existia mesmo era um PT forte em Minas que sempre dificultou a atuação dos tucanos nas eleições nacionais, mesmo quando o PSDB vencia a disputa pelo governo. Mais uma vez agora disputa-se nos bastidores o espaço principal para a candidatura presidencial em 2018 (ou quando houver a nova eleição), com pelo menos quatro candidatos explicitados, três deles já derrotados em eleições presidenciais anteriores: o governador Geraldo Alckmin, candidato em 2006; o senador José Serra, candidato em 2002 e 2010, o senador e presidente do partido Aécio Neves, candidato em 2014 e o senador Álvaro Dias, que quer ser candidato e deve mudar de partido por se sentir sem espaço político no PSDB.
 Embora em teoria a disputa esteja ainda muito longe, os candidatos já tentam se posicionar diante da instabilidade da situação política, que pode desaguar num processo de impeachment, ou da possibilidade de que a chapa Dilma-Temer possa vir a ser impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso do poder econômico e político. 
Serra, por exemplo, é especulado para ministro da Fazenda de um eventual governo Temer, o que poderia lhe valer a candidatura à prsidencia da República pelo PMDB. 
Embora, na minha opinião, existam razões suficientes para que as duas conseqüências se materializem, no momento o ambiente político parece menos favorável do que já esteve a um desfecho antecipado. Mas a própria instabilidade política do país sugere que essa situação pode mais uma vez mudar, pois todos os atores estão sujeitos ao imponderável da Operação Lava-Jato e das delações premiadas.
O senador Aécio Neves parece estar confortável na situação de candidato prioritário do partido à presidência da República, tanto pelo favoritismo que as pesquisas de opinião lhe dão, devido ao recall da última eleição, quanto pelo controle da máquina partidária.
Sua votação na eleição de 2014 foi a maior já obtida por um candidato tucano, e sua derrota foi a pela menor diferença registrada até agora. Mas é inegável que essa performance deveu-se à unidade que o partido obteve pela primeira vez nas últimas eleições, sem que as disputas internas atrapalhassem os acordos partidários.
A diferença a seu favor em São Paulo, de cerca de 7 milhões de votos, foi maior do que a que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um político paulista, obteve nas duas ocasiões em que foi eleito presidente da República no primeiro turno. Tal dimensão deu também, no entanto, um realce à atuação do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que venceu a eleição no primeiro turno, perdendo apenas em um município paulista.
No mapa eleitoral de São Paulo desde 2010, Alckmin detectou, por exemplo, áreas de predominância petista em assentamentos organizados pelos governos tucanos, originados ainda na época de Franco Montoro no MDB. Esse mapeamento fez com que aprimorasse o programa de política agrária do Estado, através da Fundação Instituto Terras com investimentos em recuperação de estradas, poços, fossas sépticas, e agora atualizando a lei para permitir que os pequenos agricultores dos assentamentos possam passar aos filhos as terras concedidas pelo Estado.
 Alckmin agora se prepara para buscar novamente a vaga de candidato dentro do partido, mas teria um plano B, que nega: disputar a eleição presidencial pelo PSB, cujo representante em São Paulo, Marcio França, é seu vice.
No momento, tudo indica que ele procura apenas agregar forças políticas para o embate dentro do PSDB, e até mesmo a aproximação criticada com o MST tem mais de cálculo político próprio nas áreas de assentamento do Estado, que já deram resultado em 2014, do que uma tentativa de adesão, que seria não apenas inócua como prejudicial à imagem de equilíbrio que pode lhe ser útil nesse momento de radicalismo político no país.  

A festa acabou - CELSO MING


ESTADÃO - 14/01

A percepção internacional pode até ser exagerada, mas não mente; Não há como esconder a realidade crua calcada em números


A imprensa internacional se desdobra para relatar as mazelas do Brasil. O País, que já foi o B do Brics e o futuro na antessala, agora é fiasco global.

Na revista The Economist, por exemplo, o Cristo Redentor já foi o foguete em decolagem espetacular em direção ao espaço sideral (em novembro de 2009), passou a ser o mesmo foguete despencando dos céus (em setembro de 2013) e o mesmo Cristo, mãos na cara, envergonhado do que vê (na edição de 2 de janeiro). O país do futuro adia mais uma vez seus projetos, sabe-se lá para quando.


Economia brasileira. As três faces do Cristo


A percepção internacional pode às vezes ser um tanto exagerada. Com requinte de sadismo, tende a deleitar-se com as desgraças alheias. Mas não mente, quase sempre reflete a existência de problemas graves. E não há como esconder a realidade crua calcada em números: o PIB mergulhando perto de 4%; a inflação avançando em direção aos 11%; e o desemprego, na casa dos dois dígitos.

A prostração maior não é que esse quadro seja o resultado de uma catástrofe natural ou de uma guerra cruel. É unicamente o resultado de erros de política econômica em cadeia perpetrados ao longo do governo Dilma.

Um dos maiores equívocos das esquerdas brasileiras dentro e fora do PT é o de que o progresso, a distribuição de renda, a redenção da pobreza, o crescimento econômico e o avanço do emprego dependam unicamente de decisão de quem está na chefia: querer é poder.

A administração econômica do primeiro período Dilma foi comandada por keynesianos jurássicos para os quais a demanda cria a oferta. Bastaria incentivar o consumo com redução de impostos, despejo de moeda (derrubada de juros na marra), expansão das despesas públicas e distribuição de créditos subsidiados, para que a produção viesse logo atrás. E mais rapidamente ainda viria se as empresas do País fossem contempladas, como foram, com desonerações fiscais, reservas de mercado e empréstimos generosos do BNDES. A eventual disparada da dívida, a deterioração das contas públicas e a inflação seriam absorvidas pelo forte crescimento econômico. Como previra o poeta, a festa acabou, a noite esfriou, e agora José está sem mulher, está sem discurso, o bonde não veio, não veio a utopia e tudo mofou.

Em vez de resgatar a população de baixa renda, a inflação fez o serviço oposto. Encarregou-se de corroer o orçamento dos pobres e de afundá-los de volta na pobreza.

Agora não há opção senão arrumar a casa, distribuir a conta da crise, colocar os fundamentos da economia em ordem e cuidar da manutenção, até que os resultados apareçam. Mas isso não se faz sem dor.

Essa postura nada tem a ver com opção ideológica prévia. Pode-se escolher qualquer objetivo de política econômica, desde que as contas públicas estejam equilibradas.

CONFIRA:

Varejo
Aí está a evolução do volume de vendas do varejo até novembro de 2015.

Efeito Black Friday
A evolução das vendas no varejo em novembro surpreendeu. Avançou 1,5% no índice restrito e 0,5% no ampliado, que inclui materiais de construção e veículos. O resultado foi favorecido por uma novidade no País, a Black Friday, no dia 27/11. Em compensação, esse relativo sucesso deve ter produzido uma antecipação de compras que, provavelmente, prejudicou as vendas em dezembro. No acumulado dos 11 primeiros meses do ano, as vendas caíram 4,0%.