sábado, 31 de outubro de 2015

Consumo de energia tem maior queda em 10 anos, OESP


Brasileiros reduziram em 1,9% o consumo de eletricidade nasresidências em setembro em comparação ao mesmo mês de 2014

RIO - Após uma alta de cerca de 50% nas tarifas de energia elétrica neste ano, o consumo médio doméstico registrou, em setembro, a maior queda em dez anos, segundo levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). No último mês, a carga média consumida recuou 1,9% na comparação com o mesmo mês de 2014, para um patamar de 163 KW/h por mês. Até setembro, o consumo de energia elétrica geral no País caiu 2% em relação ao mesmo período do ano passado.
A redução no consumo doméstico é crescente a partir do segundo trimestre, após o pico de demanda no início do ano por causa do calor. Entre abril e junho, houve queda de 0,7%. Já no trimestre encerrado em setembro, a queda chegou a 2,7% na comparação com o mesmo período de 2014. “O agravamento das condições de emprego e renda, e do crédito mais restrito, conjugados ao reajuste elevado das tarifas de energia elétrica têm contribuído para o recuo do consumo de energia”, informou o boletim da EPE.
Na indústria, a região que registrou a maior queda foi a Nordeste: 11% no trimestre
Na indústria, a região que registrou a maior queda foi a Nordeste: 11% no trimestre
Freezer desligado. Símbolo do racionamento de energia em 2001, o freezer voltou a ser alvo de cortes nas residências. “Não lembrava o quanto ele consumia de energia, agora penso em me desfazer dele”, conta Fátima Cerolim, de 56 anos. Desde novembro, quando o eletrodoméstico foi desligado, o consumo em sua casa caiu de uma média de 250 kw/h para cerca de 100 kw/h. “Também evito usar a máquina de lavar roupas e deixar lâmpadas acesas”, comentou Fátima, sobre os novos hábitos de consumo após as altas nas tarifas.
Também o ar-condicionado se tornou vilão, segundo Ricardo Savoia, diretor da consultoria Thymos. “Nos últimos anos, houve um maior volume de vendas, principalmente nas classes mais baixas. Com aumento de desemprego e o peso das tarifas no orçamento, aquele conforto que existia deixa de existir.”
Para Savoia, a situação deve aliviar o déficit de energia esperado para o período crítico de consumo, entre janeiro e fevereiro, afastando o risco de racionamento. Ainda assim, não há perspectiva para o consumidor residencial de que o governo possa revogar a bandeira vermelha, que encarece as tarifas em função do acionamento das usinas termoelétricas para complementar a demanda de energia.
“A bandeira não foi suficiente para pagar o custo das geradoras, pois foi calculada a partir de um mercado consumidor projetado acima do que de fato ocorreu. Não há expectativa de redução até o primeiro trimestre do próximo ano”, calcula Savoia.
A EPE também indica que, somente no terceiro trimestre, o recuo do consumo total chegou a 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Em queda desde 2013, o consumo da indústria recuou 5,3% no trimestre. No Nordeste, o recuo superou 11% no período. As indústrias automotiva e siderúrgica foram as que mais reduziram o consumo, entre 14,2% e 11,7%. O resultado é reflexo do “fraco desempenho generalizado, sem sinais de melhorias sustentadas no curto prazo” da indústria, segundo a EPE.

Alvaro dos Santos: Civilizatoriamente, o mundo andou para trás. Dá medo!

publicado em 29 de outubro de 2015 às 17:11
O Grito
O Grito, de Edvard Munch
CIVILIZATORIAMENTE FALANDO O MUNDO ANDOU PARA TRÁS. ISSO AMEDRONTA
 por  Álvaro Rodrigues dos Santos  
Tudo faz crer que estamos enfrentando algo muito mais grave que uma circunstancial crise econômica, política ou ética.
Não se faz necessário desfiar e historiar exemplos, que estão aí de roldão, seja nas decorrências políticas e sociais da crise econômica global, seja nos horrores das guerras locais e suas associadas ondas de vítimas e refugiados, seja na radicalização ideológica das disputas políticas internas, seja, incrível, no próprio retorno do risco de uma guerra global…
Fato real é que em termos de valores civilizatórios o mundo vem temerariamente retrocedendo à época em que a violência, sob todos seus matizes, se oferecia como o instrumento natural para a solução de conflitos de qualquer ordem.
A sociedade brasileira é hoje um exemplo claro dessa tragédia civilizatória.
Os valores humanistas e iluministas que marcaram a recuperação da democracia ao final do século XX, representando um alentado avanço cultural civilizatório na história brasileira, perderam grande parte de seu sentido, sendo hoje até motivos de chacotas.
A maquiavélica indústria do consumismo produziu uma massa que busca compulsivamente a demonstração dos valores materiais/sociais de sucesso que lhe enfiaram mente a dentro, o egoísmo e o sentido de tirar-se vantagem de qualquer circunstância prevalecem nas relações humanas, a gentileza entre cidadãos tornou-se um acontecimento raro e estranho, crescem em poder e selvageria o banditismo marginal e sua contrapartida nos sistemas públicos de segurança, dezenas de milhões entregam-se bovinamente às pregações obtusas e intolerantes da malandragem neopentecostal, os impulsos de intolerância, ódio e exclusão dão a nota no trato das diferenças, legitimam-se os posicionamentos fascistoides, encontrando ampla guarida e repercussão em vários segmentos da sociedade, as lutas políticas e ideológicas transformaram-se em guerras de extermínio e exclusão de adversários…
Os fatores causais desse terrível fenômeno são vários e complexos. Mas não se pode, no caso brasileiro, apequenar a responsabilidade do PSDB e do PT por estarmos, após 30 anos de reconquista da democracia, em um estágio civilizatório nitidamente mais atrasado.
Se tivéssemos à mão um indicador numérico de civilidade humana, sem dúvida o brasileiro médio hoje estaria muitos pontos abaixo do brasileiro médio de 1985. Indesculpável o total descaso dos governos democráticos que se sucederam após 85 com a formação do caráter cívico do povo brasileiro, tanto por falta de ações diretas de uma educação emuladora dos valores humanistas e de ações conscientizadoras de uma verdadeira cidadania, como pelos maus exemplos éticos oferecidos pelos administradores públicos que, ao contrário, teriam como obrigação proporcionarem-se como referências sociais de abnegação e conduta, especialmente para nossa juventude.
É difícil prever-se o que, a curto e médio prazos, poderá acontecer na sociedade brasileira. Uma coisa é certa, não será boa coisa.
A recuperação, o cultivo e o fortalecimento de valores humanistas de cidadania talvez constituam a transformação de qualidade de mais dificultosa realização dentro de uma sociedade. Ainda assim, talvez se apresente como a tarefa cotidiana de maior importância para aqueles que “sobreviveram” e tem consciência de sua essencialidade.
Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos. Outubro 2015

Pedaladas no setor de energia - ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ,


O Estado de S. Paulo - 30/10

Em 2013, para o então ministro Guido Mantega conseguir fechar as contas, foi feito o primeiro leilão do pré-sal no regime de partilha. Naquela ocasião, o governo, sempre em tom populista e ufanista, anunciou que leiloaria a maior reserva de petróleo do mundo, o chamado Campo de Libra. Como seria uma joia da coroa, o governo estipulou o bônus de assinatura em R$ 15 bilhões. Uma pedalada de primeira.

Apesar de toda a propaganda que antecedeu o leilão, só apareceu um consórcio, formado por Petrobrás, Shell, a Total francesa e duas empresas chinesas. As razões para haver um só consórcio e, consequentemente, para o insucesso do leilão foram as de sempre: instabilidade regulatória e insegurança jurídica. Mas o governo atingiu seu objetivo: arrecadar R$ 15 bilhões e fechar as contas de 2013. O fim justificou os meios.

É sempre bom lembrar que a grande sacrificada foi a Petrobrás, que acabou ficando com 40% do consórcio, quando, de acordo com a Lei da Partilha, poderia ficar com apenas 30%. Mas isso foi necessário, pois, caso contrário, não haveria nenhum vencedor do leilão e o governo não atingiria o objetivo de arrecadar os R$ 15 bilhões. Este ano, o governo também precisa fechar suas contas, e, como a Petrobrás está quebrada, a solução foi apelar para uma nova pedalada, desta vez no setor elétrico.

Em 2012, no auge de suas políticas populistas e eleitoreiras, o governo publicou a Medida Provisória (MP) 579, que tinha como objetivo reduzir as tarifas por meio da renovação das concessões de usinas hidrelétricas. Na propaganda do governo, isso seria possível porque essas usinas já estavam amortizadas, então os consumidores seriam agraciados com tarifas menores, contemplando só a operação e a manutenção dessas usinas. Na época, Cesp, Cemig e Copel resolveram não aderir à MP 579, alegando, com razão, que prejudicariam seus acionistas, pois a tarifa oferecida pelo governo causaria total desequilíbrio econômico e financeiro nas empresas. As empresas do grupo Eletrobrás foram obrigadas a aderir à MP, por ordem de seu acionista majoritário, o governo federal, mesmo em prejuízo dos acionistas minoritários.

Passados dois anos (principalmente após as eleições de 2014), o governo, por meio da MP 688, muda a MP 579 e pretende cometer mais uma pedalada contra os consumidores de energia elétrica. A pedalada vai ocorrer se o Congresso Nacional aprovar a MP 688, permitindo que o governo promova o leilão das 29 usinas hidrelétricas da Cesp, Cemig e Copel.

Para atrair investidores e arrecadar R$ 17 bilhões, o governo resolveu que nós, consumidores, pagaremos uma espécie de imposto pelos próximos 30 anos. A mágica é passar da tarifa de R$ 36/MWh, definida pelo próprio governo na MP 579 como valor necessário à operação e manutenção das usinas, para R$ 137/MWh. Ou seja, um aumento de quase 300%. Com isso, cria-se uma taxa de retorno acima dos 9%, para interessar os investidores, e nós financiaremos o governo para que ele possa receber os R$ 17 bilhões e "fechar as contas".

Pode ser que o atual quadro político financeiro e a bagunça regulatória obriguem o governo a repetir a pantomima do leilão de Libra, e veremos a constituição de um único consórcio, com a presença da Eletrobrás, para vencer o leilão de todas as 29 hidrelétricas. Três observações importantes merecem ser feitas: 1) estes R$ 17 bilhões não acrescentam nenhum novo MW ao sistema elétrico; 2) o governo está nos obrigando, na forma de um imposto mascarado, a pagar mais uma vez usinas que já estariam amortizadas; e 3) essa pedalada significa um aumento de tarifa de cerca de 3% a 4%. Com a inflação mais despacho térmico e câmbio de Itaipu, calculamos aumentos médios de 20% nas tarifas ao longo de 2016.

Conclusão: o setor de energia continua sendo usado pelo governo com o único objetivo de arrecadação fiscal, sem nenhuma preocupação em resolver as questões regulatórias.

* Respectivamente, diretor do Centro Brasileiro de Insfraestrutura (CBIE) e diretor da Holtz Consultoria