Juridicamente, o título é impróprio. Ladrão é designação de quem se apropria, com ou sem violência ou ameaça, de coisa móvel e alheia. Calçadas são imóveis, não podem ser objeto dos crimes de roubo e furto. Como também chamamos de ladrão quem desonra bons costumes políticos e administrativos, a imprecisão é tolerável.
A prefeitura surrupia pedaços de calçada para ampliar faixa de asfalto e garantir mais conforto para automóveis, ônibus e, agora, bicicletas. Caiu o muro do cemitério da Consolação em dezembro? Paciência, ergue-se um tapume e a calçada desaparece.
A cidade está repleta de empreendimentos imobiliários que não reservam espaço para o passeio público.
Empresas concessionárias ou contratadas pela prefeitura deixam buracos e desníveis, serviço porco, além da desconcertante corrupção estética (na avenida São Luís, por exemplo) dos mapas estilizados de São Paulo que enfeitariam o calçamento de pedras portuguesas.
Prefeitos gostam da cidade feia. Não exigem enterramento de fios. Estimulam a multiplicação de postes.
Caminhar é um rali de dificuldades. O pedestre tem de se desvencilhar de valas e degraus, material derrapante, cocô de cachorro, mau cheiro, vendedores ambulantes, gente acampada, mesas e garçons de bares e restaurantes e dos próprios transeuntes que se acotovelam para a travessia de semáforos. De noite, é atingido por holofotes de alerta porque caminhar é muito suspeito.
Quem tem dificuldade física se arrisca pelas ruas e ciclovias: nas calçadas, cadeiras de roda e equipamentos de transporte de deficientes não rodam.
O desleixo oficial conspira contra a lógica urbana, a economia e a saúde pública. Caminhar faz bem. Calçadas amplas, generosas, despoluídas e seguras estimulariam as pessoas a caminhadas diárias e, certamente, reduziriam o tráfego de automóveis nos bairros.
A responsabilidade pela manutenção das calçadas é dos proprietários dos imóveis, mas os prefeitos não fazem a sua parte (alguém já ouviu falar em obra na cidade de São Paulo para a ampliação de calçadas?) e não exercem o poder de fiscalização. Em matéria de calçada, lei é para inglês ver.
As estatísticas assombram: 19,4% dos mortos em acidente no Brasil são pedestres. Levantamento do Hospital das Clínicas indicava, em 2005, o atendimento de 300 vítimas mensais de quedas nas calçadas, que geram despesas com resgate, tratamento médico e indenizações pagas pela prefeitura omissa.
Haddad aponta para a direção correta quando sacrifica o trânsito de automóveis, mas seu programa de ciclovias, que alegra fornecedores de tinta, é feito nas coxas e introduz mais situações de risco para os pedestres paulistanos, sobretudo idosos.
Dinheiro público serve para financiar propaganda política disfarçada, não para campanhas educativas. Em Brasília, pelo menos no Plano Piloto, pedestres têm, sim, preferência. Por que não em São Paulo?
Poderíamos falar mais de governantes que se fantasiam de ciclistas para "humanizar" suas imagens, mas que nunca serão vistos caminhando, ou de urbanistas de meia tigela, que cultuam a mobilidade e deixam a questão das calçadas para depois, mas o espaço da coluna acabou. Danem-se os pedestres.
A prefeitura surrupia pedaços de calçada para ampliar faixa de asfalto e garantir mais conforto para automóveis, ônibus e, agora, bicicletas. Caiu o muro do cemitério da Consolação em dezembro? Paciência, ergue-se um tapume e a calçada desaparece.
A cidade está repleta de empreendimentos imobiliários que não reservam espaço para o passeio público.
Empresas concessionárias ou contratadas pela prefeitura deixam buracos e desníveis, serviço porco, além da desconcertante corrupção estética (na avenida São Luís, por exemplo) dos mapas estilizados de São Paulo que enfeitariam o calçamento de pedras portuguesas.
Prefeitos gostam da cidade feia. Não exigem enterramento de fios. Estimulam a multiplicação de postes.
Caminhar é um rali de dificuldades. O pedestre tem de se desvencilhar de valas e degraus, material derrapante, cocô de cachorro, mau cheiro, vendedores ambulantes, gente acampada, mesas e garçons de bares e restaurantes e dos próprios transeuntes que se acotovelam para a travessia de semáforos. De noite, é atingido por holofotes de alerta porque caminhar é muito suspeito.
Quem tem dificuldade física se arrisca pelas ruas e ciclovias: nas calçadas, cadeiras de roda e equipamentos de transporte de deficientes não rodam.
O desleixo oficial conspira contra a lógica urbana, a economia e a saúde pública. Caminhar faz bem. Calçadas amplas, generosas, despoluídas e seguras estimulariam as pessoas a caminhadas diárias e, certamente, reduziriam o tráfego de automóveis nos bairros.
A responsabilidade pela manutenção das calçadas é dos proprietários dos imóveis, mas os prefeitos não fazem a sua parte (alguém já ouviu falar em obra na cidade de São Paulo para a ampliação de calçadas?) e não exercem o poder de fiscalização. Em matéria de calçada, lei é para inglês ver.
As estatísticas assombram: 19,4% dos mortos em acidente no Brasil são pedestres. Levantamento do Hospital das Clínicas indicava, em 2005, o atendimento de 300 vítimas mensais de quedas nas calçadas, que geram despesas com resgate, tratamento médico e indenizações pagas pela prefeitura omissa.
Haddad aponta para a direção correta quando sacrifica o trânsito de automóveis, mas seu programa de ciclovias, que alegra fornecedores de tinta, é feito nas coxas e introduz mais situações de risco para os pedestres paulistanos, sobretudo idosos.
Dinheiro público serve para financiar propaganda política disfarçada, não para campanhas educativas. Em Brasília, pelo menos no Plano Piloto, pedestres têm, sim, preferência. Por que não em São Paulo?
Poderíamos falar mais de governantes que se fantasiam de ciclistas para "humanizar" suas imagens, mas que nunca serão vistos caminhando, ou de urbanistas de meia tigela, que cultuam a mobilidade e deixam a questão das calçadas para depois, mas o espaço da coluna acabou. Danem-se os pedestres.
lfcarvalhofilho@uol.com.br