domingo, 12 de julho de 2015

Não sou PT, nunca fui. Mas, só de birra, está começando a me dar vontade de deixar crescer uma barba e/ou a sibilar". por Bárbara Gancia

Não sou PT, nunca fui. Mas, só de birra, está começando a me dar vontade de deixar crescer uma barba e/ou a sibilar. O que vier com mais facilidade, eu mando ver.
Explico. Esse ódio crescente e tão palpável quanto um transatlântico que jorra do coração dos “conservadoressauros” na direção daqueles que, juntos são milhões, mas não conseguem nunca acumular mais riqueza do que o famoso 1% dos ricos já deu.
Pessoal alega que foi o Lula que começou a “luta de classes”, mas, sejamos sinceros, já se vendia carro blindado e já existia cadeia superlotada, rebelião na Febem, tiro na cara pra roubar Rolex na Oscar Freire bem antes de o Lula ir trabalhar na Villares.
Mas voltemos a essa gentalha pobre que incomoda.
Hoje, eles não só ocupam espaço e saem gritando no shopping em rituais primitivos chamados de rolezinhos, como passaram a ser identificados por “massa de manobra” ou “vagabundos que votam no PT pra ganhar Bolsa Família”.
Pois então, esse ódio que antes ficava lá contido, ele começa a mostrar a fuça. Seja lá pelo motivo que for. Não, eu não acho o Zé Dirceu santo e, sim, eu creio que, deixado livre para dispor do poder que tinha, ele teria realizado uma pequena revolução bolchevique a seu modo, por meio de uma reforma fiscal na surdina.
Se isso seria bem-vindo? Não creio, se fosse feito sem consultar a população e se não fosse à luz do dia.
Mas, voltemos à crua realidade do que temos em mãos, e não daquilo que poderia ter sido.
Agora que o PT e o Lula não metem mais medo no empresariado, o pessoal que costumava se restringir a frases econômicas como “eu voto na Arena” ou “eu votei no PSDB” começa finalmente a explicar melhor as razões pelas quais sempre teve como princípio nunca jamais nemfu votar num partido de esquerda.
Isso acontece porque a feroz desigualdade que impera no país impõe, digamos, “estilos de vida” deveras conflitantes.
Você se encontra de um lado ou do outro.
Se mora na periferia, não tira selfie com policial e não participa e panelaço contra nenhum político. Seja ele de que partido for, já que ninguém que está acima de você ou que você seja obrigado a chamar de “doutor” inspira confiança.
E se você não mora na periferia e tem a sorte de possuir um jogo de panelas para brincar de imitar o Cartel de Medellin na hora do jantar -ueba!- ou se se ufana de vestir a camisa do 7×1 pra cantar aquela musiquinha insossa, ” …com muito orgulho, com muito amor… Eu, sou…” … se você tira foto com polícia, se nenhum PM nunca olhou feio pra você, nunca arrastou seu irmão no meio da noite da cama em que ele dormia e o levou embora de camburão porque ele se parece muito com um traficante do bairro; se você acha que vence na vida quem estuda e trabalha e que todos nós podemos fazer isso -sem discriminar entre ricos e pobres-, sem essa de vitimização, já que basta olhar para os Estados Unidos ou, quem sabe, pra Índia onde há inúmeros exemplos de gente humilde que venceu sem recorrer ao crime, vai dizer que não há?
Parece então que o que nós temos é um problema imenso de comunicação entre duas populações distintas obrigadas a coexistir.
Trata-se de uma diferença de pontos de vista e de experiências de vida tão vultuosa, que acaba produzindo um mar de preconceito, indiferença, desconfiança, ignorância e desdém.
Seria lindo se fosse só isso. E olha que isso já seria uma catástrofe depois de 515 anos empreendendo esta nossa aventura civilizatória.
Mas provavelmente não é à toa que Pero Vaz de Caminha já tenha conseguido enfiar um pedido de emprego para um parente na sua famosa missiva, no primeiro episódio de nepotismo da história do nosso país, aos 10 minutos do primeiro tempo, naquele que depois viria a ser o paraíso da vantagem em benefício próprio e do desprezo pela coletividade, o bem maior e o interesse público.
Na minhas páginas nas redes sociais, todo dia tomo porrada (forte) de indivíduos que se auto intitulam “reaça” disto e “reaça” daquilo. Ontem um quadrúpede desses tentou me explicar que “reaça” e “esquerdista” são coisas equivalentes.
E é esse o pior dano que se está perpetrando ao eliminar sem dó nem piedade o PT da face da terra -como já se fez antes com Collor, Jânio, Vargas etc
Sem um lado de cá e uma oposição para contra balancear não existe possibilidade de haver uma fagulha que dê (re) início ao processo democrático.
Golbery do Couto e Silva, ministro chefe da Casa Civil de Geisel e Antônio Delfim Neto deram força para o surgimento de Lula como liderança sindical antevendo um futuro democrático de raiz bipartidária.
A despeito dos problemas com a propaganda e o financiamento das campanhas políticas, sem o equilíbrio Labour/Tory, Democratas/Republicanos, Democrazia Cristiana/Partito Socialista não pode haver nem sequer esboço de arremedo de fiofó de burro de democracia pra inglês ver.
Já não são bem tolerados no país fenômenos que nós não captamos, temos trauma ou consideramos (vá entender) démodé.
“Conservador” por exemplo, é algo que desce mal para o brasileiro. Em outras sociedades, o termo tem vários significados. Estritamente na política, sinaliza que o camarada é a favor de menos interferência do Estado na economia, da valorização dos direitos do indivíduo e da não interferência de instituições como a igreja ou quaisquer outras na vida privada. Soa como uma descrição da filosofia do Bolsonaro ou do Tuminha pra você? Pois é, pra mim também não. E Serra, exilado do regime militar e Dilma, presa política da mesma turma, trocarem gentilezas com antigos algozes e fazerem alianças que ultrapassam qualquer limite de vergonha na cara com o inimigo de ontem, faz sentido?
Não será talvez por esse tipo de “licença poética” que o sonho de um Estado democrático está naufragando e, mais uma vez, grileiros, corruptores manjadíssimos, patrocinadores de candidatos marionetes, falsos profetas, contrabandistas, pilhadores e gente que usa o governo como mero entreposto para seus fantásticos negócios está vencendo a parada novamente e pela undécima vez?
Faz sentido ainda não ter sido julgado o mensalão mineiro? Faz sentido os senhores Renan e Cunha ainda estarem lá firmes e fortes? Reafirmo: não sou petista, nunca fui, e nem me julgo particularmente de esquerda.
Mas esse desequilíbrio é indicação grave de golpe branco em andamento, treta por baixo do pano, arranjo de que tipo não se sabe, mas coisa boa dali não sai.
Ou por bem julgam tantos deste lado e também do outro e medimos forças e o país sai lambendo suas feridas, ou anistiamos a todos e vai todo mundo fritar pastel.
Esta caça às bruxas, em que o camarada está se transformando em milícia odiosa que sai à caça do “inimigo” na internet e no boteco da esquina do escritório, e acusa quem quer que lhe dê na telha de bandido e ladrão e filho de um égua só porque o outro (que até ontem era seu amigão) não compartilha de sua ideologia começa a se parecer demais com a Alemanha de Hitler circa 1934.
Cadê o Renan, gente, lembra do processo cabeludo que caiu naquela cabeça cheia de fio implantado por conta de um caso extraconjugal?
E o envolvimento dele no Petrolão, não há nada ainda? Claro que há, em abundância. Só não vê e não mostra quem não quer!
E o problema lá de Furnas e do Aécio? Há uma montanha de coisas em estados de todas as mais variadas importâncias, está faltando dizer isso a quem, ao Papai Noel? Sim, porque ao papa, pode crer, sendo argentino e odiando a Kirchner como odeia, a esta altura, ele já está ao par de tudo.
E o Sarney, onde andará, por sinal? Lembra quando o Lula dizia que ele até não era de todo mau e que nós devíamos respeitar a experiência que o bigode tinha acumulado nestes anos todos?
Pois não é que, depois que ele desapareceu, eles deram um jeito de cobrir com uma lona.
Agora virou circo de verdade, completinho.

O sensacional desabafo de Zeca Camargo,log do Marcelo Rubens Paiva


MARCELO RUBENS PAIVA
02 Julho 2015 | 12:22
4oq7r2oz5k_10nb5hhn2d_file Chico-Science8.BlogCultural

Zeca Camargo é um jornalista cultural de primeira linha.
Passou por grandes órgãos, foi editor da Capricho, Ilustrada, passou pela TV Cultura, esteve no começo da MTV e foi para a Rede Globo.
Entende de músicas como poucos. Seu blog no G1 é referência, denso, robusto e preciso.
Sua presença no Fantástico, como no quadro Medida Certa, era um desperdício. Merecia mais.
Não emplacou como apresentador do Vídeo Show.
Mas emplacou uma “coluna” sensacional no JORNAL DAS DEZ, da Globo News, que deu no que falar e foi insanamente atacada dentro e fora da emissora.
O lide era a morte do cantor sertanejo Cristiano “Ronaldo” Araújo e sua espantosa repercussão, cantor conhecido pelo “grande público” e desconhecido pela “elite cultural”.
Na sua vídeo-crônica, Zeca não desqualificou o cantor ou seu público, muito menos desdenhou a tragédia. Mas virou o vilão da semana, num debate regido pela emoção, intolerância, preconceito e leitura torta.
E teve que vir a público se desculpar na emissora, retratação em que cometeu deslizes, gaguejou e “talvez” se explicou que “talvez” tenha sido mal-entendido.
Foi nada. O que ele disse na crônica faz todo o sentido.
Falou da surpresa da comoção nacional, do “evento triste”, e citou a enormidade do País, a diversidade cultural e o “talento” natural para a música.
O “abraço coletivo” em torno da dor simbolizaria uma catarse coletiva, como se todos nós estivéssemos atrás de uma união pela emoção, para expurgar nossas dores.
Como se o choro tivesse uma capacidade purificadora.
Então veio o que incomodou fãs, mercado, a TV aberta, a indústria e seu empregador.
Como nos deixamos seduzir pela morte de um artista relativamente desconhecido?
“A resposta está nos livros de colorir”, atestou Zeca.
Segundo ele, a nova moda “literária”, acusada de representar a pobreza da atual alma brasileira, é a vilã do cenário pop e mostra um vazio cultural no país de Machado, Lima Barreto, Modernistas, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Nelson Rodrigues e Noel Rosa, Tom Jobim, Tropicália, Jovem Guarda, Clube da Esquina, Renato Russo, Cazuza, Mangue Beat e Chico Sciense.
A comoção pela morte do cantor estaria ligada à ausência de “fortes referências culturais que experimentamos”.
A “INSANA” cobertura de sua despedida vestiu a carapuça do vazio de figuras esperando a tinta e significado, “só esperando a tinta da emoção”.
Como “robôs coloristas”, preenchemos desenhos na ilusão de estarmos criando alguma coisa, afirmou.
Para quem começou a trabalhar quando Legião Urbana, Titãs, Cazuza e Plebe Rude dividiam o palco de programas de auditório da TV aberta com Raul Seixas, Gil e Caetano, Mutantes, Milton Nascimento e Elis Regina, a monotonia da nossa música, que já dura algumas décadas, esvazia o mercado, dá poucas oportunidades a outros estilos e à renovação.
Zeca disse o que está entalado na garganta dos fãs da boa música:
“Nossa canção popular é dominada por uma música só. O nosso pop não precisa ser assim… Não precisa ser assim, precisamos de novos heróis, mas está todo mundo ocupado pintando Jardins Secretos [obra que começou a onda de livros para colorir]”.
Alguém discorda?
Não sei se Zeca será retaliado ou irá para a geladeira. Seria uma burrice da emissora encostá-lo, não apoiá-lo. Deveria sim ter mais colunas na Globo News.
Afinal, o vazio não está só na música.
Veja a crônica aqui:
http://globotv.globo.com/globo-news/jornal-das-dez/v/cristiano-araujo-arrastava-multidoes-pelo-interior-do-pais/4283896/

As dores do crescimento, do Estado de Minas

 
    

 postado em 28/06/2014 07:00 / atualizado em 27/06/2014 14:10
Beto Novais/EM/D.A.Press

Muitas crianças reclamam de dores difusas pelo corpo. Popularmente conhecidas como "dores do crescimento", são descritas pela medicina como fruto de um desequilíbrio entre o desenvolvimento dos ossos, tendões e músculos. Essa metáfora talvez ajude a entender o certo clima de insatisfação que há hoje no Brasil contra o próprio Brasil. Quem explica esse cenário é Renato Meireles, presidente do Instituto Data Popular, instituição de pesquisa especializada em entender o que pensam os brasileiros que emergiram da pobreza e hoje constituem o que é popularmente conhecido como a nova classe média. Para ele, a insatisfação decorre do fato de que as mudanças produziram um excesso de expectativa que não se confirmou e que acabou produzindo a sensação de não se saber ao certo em qual direção o país está indo. Algo semelhante ao incômodo que sentem as crianças pelo fato de o ritmo de crescimento do corpo delas como um todo não ter sido previamente acertado entre músculos, ossos e tendões. Porém, independentemente dos humores do brasileiro, Renato Meireles é otimista. Para ele, a mudança na estratificação social brasileira é um caminho sem volta. 

Patrícia Cruz/Instituto Data Popular/Divulgação
O que é o Brasil hoje?
O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil de ontem. Somos um país que veio de uma trajetória de crescimento da economia e aumento do otimismo muito grande nos últimos anos. O auge desse movimento foi 2010, ano em que tivemos um overpromise (excesso de expectativa) com relação à melhoria da qualidade de vida do brasileiro. O problema é que esse crescimento começou a ocorrer hoje em uma velocidade menor que a de alguns anos atrás e isso traz uma certa insegurança de não se saber ao certo para onde o Brasil está indo.

Teria ocorrido um erro de planejamento da velocidade de crescimento da economia?
Imagine que você esteja em uma estrada a uma velocidade de 120 km/h e, de repente, do nada, aparece na sua frente uma placa indicando que é preciso reduzir a velocidade para 70 km/h. Você reduz e, imediatamente, a sensação que tem é de que está parado. Com o Brasil, o que ocorreu foi isso. Vinha-se em uma expectativa de crescimento que não se realizou e isso gerou um processo de medo, de insegurança e de mau humor. Não tenho dúvidas de que o brasileiro está mal-humorado porque o crescimento não está indo na velocidade que esperava que fosse. Fora isso, temos dois outros fenômenos relativamente novos: a volta da inflação, que atinge mais fortemente os mais pobres, e um crescimento desigual da renda, o que, por mais que seja excelente para a redução da desigualdade, deixa a elite tradicional bem incomodada.

Nos últimos anos, ocorreu no Brasil a ascensão à classe média de um contingente de brasileiros que pertenciam às classes D e E. Existe um certo desconforto em relação a isso, principalmente de parte dos setores que são comumente definidos como elite. Como você analisa isso? Existe uma luta de classes no Brasil?
O que ocorreu no Brasil é que hoje nós temos uma classe média robusta, formada por mais de 100 milhões de brasileiros e que movimenta, por ano, algo em torno de R$ 1,17 trilhão. Se esse contingente fosse tratado como um país, estaria no G20 do consumo mundial. O problema é que o aumento do consumo ocorreu em uma velocidade muito maior do que a dos espaços do consumo, como os shoppings, aeroportos e a própria rua. A elite brasileira estava acostumada a trabalhar na lógica da exclusividade. Com a ascensão desse contingente de brasileiros à classe média, ela passou a ter que compartilhar espaços, uma vez que esses novos consumidores estão, agora, conseguindo viajar de avião pela primeira vez, fazer compras no shopping center, ter carro. E tudo isso incomoda radicalmente a elite.

Esse estranhamento vai durar muito tempo ainda? Quanto tempo será preciso para que essas diferenças se apaguem, ou isso não vai ocorrer?
Não acredito que a classe AB tradicional vá simplesmente "se acostumar" com a democratização do consumo. A mudança ocorrerá de outra forma: por substituição. O que a gente tem visto é que começa a surgir uma nova classe AB, oriunda da classe C. Na próxima década, esta "nova elite" vai crescer mais que a "nova classe média". Estamos falando do dono da padaria da esquina, do cara que distribui água, do pequeno empreendedor, que, hoje, ainda tem o jeito de comprar da classe C, mas tem o bolso da A. São pessoas que ganharam dinheiro com o aumento da renda e do consumo no país ocorrido nos últimos anos. Esse estranhamento e esse processo de adaptação à nova realidade do país só vai terminar quando as pessoas que vieram da classe C forem a maioria absoluta das classes A e B. Hoje, elas já são 44%. Porque, quando uma pessoa muda de classe, leva os valores de sua classe de origem.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press
Ele não vai ter mais preconceito com a repetição da história dele?
Esta "nova elite" é diferente do novo-rico do passado. O antigo fazia o possível para esquecer a sua origem. O novo traz consigo uma série de outras pessoas: é o vizinho, o parente. Ele não tem vergonha de sua história. Ele tem orgulho de seu passado e não tem motivos para esconder sua história. Essa é a diferença.

Quais comportamentos a classe média original rejeita em relação à nova classe média?

Cinquenta e cinco por cento da elite brasileira acha que deveria haver produtos separados, específicos, para ricos e pobres; 17% acham que pessoas mal vestidas deveriam ter o acesso barrado em certos lugares; 26% são contra o metrô no bairro, porque isso aumentaria a circulação de pessoas indesejadas na região; 17% acham que todo estabelecimento comercial deveria ter elevadores separados para patrões e empregados. Tudo isso mostra o quanto a elite brasileira está, efetivamente, incomodada com a democratização do consumo.

E o contrário? O que a nova classe média pensa da elite?
Ela acha que a elite é perdulária, que não tem valores familiares consolidados, que a elite os julga com preconceito.

Quanto tempo vai levar para que esse processo de migração de classes termine?
Isso deve se resolver nos próximos 10 anos. Mas terminar, não termina, não. Pois esse fim não ocorreu nem nas sociedades mais modernas, que, há muito tempo, têm uma classe média forte, quanto mais no Brasil.

O Brasil é, ou era, tido como um país marcado pela cordialidade, pela convivência pacífica entre os diferentes. O que se observado, nos últimos tempos, é o aparecimento de um certo ódio de classes. A cordialidade do brasileiro está chegando ao fim?
A cordialidade, acho que não. O que não se pode é confundir o ser cordial, que é uma característica do brasileiro, com a submissão, que significa aceitar com naturalidade qualquer coisa que se impõe contra ele. Nós estamos agora em um momento em que o brasileiro está cada vez mais exigente. Em nossas pesquisas encontramos um brasileiro que vai correr atrás de seus direitos, mas que vai tentar fazer isso com muita graça, com muita doçura, como sempre fez. Acho que a cordialidade, como característica intrínseca do brasileiro, não vai terminar, o que não significa que a população não vai protestar cada vez que sentir que algum direito está sendo violado.

Os protestos que ocorreram nos últimos meses foram um sinal dessa mudança de postura do brasileiro em relação aos seus direitos?
Os motivos para a população se manifestar foram e são muito diversos. O que une é um amplo mau humor com a situação de desaceleração do Brasil. Com o aumento do emprego formal, as pessoas passaram a ter imposto retido na fonte. Elas começaram a entender, na prática, que o que elas recebem em serviços públicos não é favor. É a contrapartida do imposto que elas pagam. Passaram a entender, também, que elas podem reclamar. A régua de qualidade mudou. Hoje, a população não quer mais cesta básica, quer banda larga; não quer mais dentadura, quer o ProUni para o filho fazer a faculdade. Começa a sentir falta de um Código de Defesa do Cidadão, que defenda seus direitos como o Código de Defesa do Consumidor defende. Quando o brasileiro está no banco e a fila demora, ele reclama no Procon. Para quem ele reclama quando enfrenta uma fila interminável em um posto de saúde? O gestor público e a classe política não têm uma percepção muito clara dessa realidade, pois ainda funcionam muito no modo analógico, no qual estavam acostumados a falar muito e ouvir pouco. O novo cidadão funciona na lógica digital. Ele quer ser protagonista de sua própria história. Quer falar mais e também ser ouvido.

Como será o Brasil dentro de 10 anos?
Vai ser um Brasil muito melhor. Isso não é apenas uma questão de otimismo. Quando se dá um passo como o que foi dado na sociedade brasileira nos últimos anos, é muito difícil voltar atrás. Em 10 anos, vamos ter um contingente de jovens que estudaram mais que seus pais, vamos ter um Brasil mais conectado, com um aumento de repertório considerável, vamos ter um Brasil onde o consumidor vai saber reclamar da qualidade dos serviços públicos da mesma forma que aprendeu a reclamar dos serviços privados.