sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Davos: Nada de novo no Ocidente , por Ladislau Dowbor


“O Fórum mostrou que está comprometido com melhorar o estado do mundo, conquanto nada mude realmente.” 
O ano de 2015, em termos de destinos planetários, aparece como chave para mudanças sempre adiadas. Os nossos desafios são hoje mais do que estudados e explicitados, tanto em termos de diagnóstico como de remédios. O aquecimento global terá reuniões decisivas em Paris, e estamos no limite. Envolve nada menos do que a mudança da matriz energética que carregou as inovações do século XX. Em Nova Iorque iremos desenhar os novos rumos do planeta em termos de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Em Addis Abeba iremos traçar diretrizes para o financiamento das novas orientações.

O grande avanço que se constata por enquanto, é o da tomada de consciência da catástrofe em câmara lenta que se desenha. O mundo produz hoje o equivalente a 8 mil reais de bens e serviços por mês por família de 4 pessoas, o suficiente para uma vida digna e confortável para todos. Mas 1,3 bilhões de pessoas estão sem acesso à luz elétrica, e por tanto excluídas do mundo moderno. A fome atinge 800 milhões de pessoas, das quais 180 milhões de crianças, isto quando grande parte dos grãos do planeta são destinados a produzir ração animal e mover carros de luxo. A WWF mostrou que entre 1970 e 2010, em 40 anos, conseguimos destruir 52% da vida vertebrada da terra, rios e oceanos. Desmatamento, contaminação do solo e das águas e tantas outras mazelas se acumulam em escala planetária. Mas não temos governo em escala planetária.

Com problemas em escala global e governança fragmentada entre 192 Estados que brigam por vantagens pontuais, temos hoje um desajuste estrutural entre a dimensão dos desafios e os instrumentos de decisão. Assim, com um certo recuo, vemos como patéticas reuniões como os G8, G20, conferências internacionais de diversos tipos onde se constata, de ano para ano, os mesmos dramas e a mesma impotência. Davos trouxe o esperado: Ban Ki Moon falou do desafio climático, François Hollande do terrorismo, a Oxfam trouxe o drama da desigualdade para uma plateia que justamente a gera e aprofunda: 80 famílias detêm uma riqueza maior do que a metade mais pobre do planeta. São essencialmente intermediários financeiros.

Este clube dos ricos e poderosos traz à mente as antigas reuniões dos coroados em Viena, com bailes e champanhe, se sentindo os donos do mundo, sem ver a desagregação em curso. A consciência avança, sem dúvida, e até as transnacionais começaram a se preocupar. Mas a janela de tempo para iniciativas muito mais sérias está se fechando.

Ladislau Dowbor
Professor PUC-SP



quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Falta de água e de respeito, Rogério Gentili, FSP


"O racionamento de cinco dias não pode ser encarado como uma mera fatalidade, decorrente da pouca colaboração do céu. É uma consequência direta da falta de planejamento". O comentário é de Rogério Gentili, jornalista, em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 29-01-2015.
Eis o artigo.
São Paulo enfrentará uma situação só imaginável em regiões desérticas, áreas de conflito armado ou carentes de civilização se, de fato, for preciso implantar o tal modelo de racionamento no qual a população ficará sem água durante cinco dias por semana.
Medida tão drástica assim já foi adotada, por exemplo, em Amã, capital na Jordânia, um dos países mais secos do mundo, onde cerca de 92% das terras são desérticas. Amã tem um regime de chuvas baixíssimo, de cerca de 270 milímetros por ano --na região do Cantareira, no árido 2014, houve cerca de 3,5 vezes mais.
Na maior cidade de um país que possui cerca de 12% das reservas de água doce do mundo, ainda que concentrada em sua maior parte na Bacia Amazônica, racionamento de cinco dias não pode ser encarado como uma mera fatalidade, decorrente da pouca colaboração do céu.
É uma consequência direta da falta de planejamento, da incapacidade administrativa e da irresponsabilidade política, problemas, aliás, que não são exclusivos do Estado. Não foi por falta de avisos, como provam dezenas de estudos sobre o consumo exagerado na região metropolitana e a baixa disponibilidade hídrica, que São Paulo chegou aonde chegou --uma cidade onde moradores precisam recorrer a água da sarjeta para garantir a descarga nos banheiros.
A própria divulgação do esquema draconiano de racionamento é um sintoma do despreparo do governo paulista para lidar com questões importantes. Não foi o governador, nem o secretário de Recursos Hídricos, nem o presidente da Sabesp que anunciou publicamente a possibilidade de se adotar a medida.
Foi um funcionário de segundo escalão da empresa que falou sobre o assunto, sem prestar grandes explicações ou informações complementares, durante uma inspeção em uma obra na qual Alckmin fez questão de utilizar um bonezinho da Sabesp.
Além de chuva, São Paulo precisa de bom senso e respeito.

A casa sustentável: o futuro que já chegou (Superinteressante)



 1 de agosto de 2014
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Aquecimento global e mudanças climáticas são termos que deixaram de fazer parte somente da conversa de cientistas. Hoje estão integrados no nosso dia a dia. Sabemos que para enfrentar a transformação que o planeta vem sofrendo, precisamos nos adaptar e viver de forma diferente.
Para atender esta demanda, pesquisadores da Universidade da California Davis (UC Davis), a fabricante de veículos Honda e uma equipe de arquitetos e engenheiros criou a Honda Smart Home, a casa com emissão de carbono zero.
A construção foi erguida na cidade universitária de Davis, a cerca de 25 quilômetros de Sacramento. Tem 180 m², com três quartos e dois banheiros. No total, o projeto levou dois anos para ser concluído.
A concepção da planta partiu da técnica conhecida como passive design. Ao estudar o movimento da rotação da Terra e, consequentemente, a direção dos raios do sol nas diferentes épocas do ano sobre o terreno onde a casa iria ser construída, os arquitetos projetaram a planta, que utiliza da melhor forma possível a luz solar. Com isso, reduziu-se a necessidade do uso de aquecimento ou ar-condicionado.
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Máximo uso da luz natural para economizar energia
Desta maneira, durante o verão, o telhado da casa bloqueia mais o sol e mantém o ambiente fresco e no inverno possibilita o maior uso de calor natural. “É fundamental otimizar a colocação de janelas, portas e escadas ao projetar um ambiente eficiente energeticamente”, explica Michael Koenig, líder do projeto.
A mesma lógica do ciclo natural - dia versus noite – foi utilizada para a iluminação, que respeita e acompanha o ritmo e o relógio biológico dos moradores. Lâmpadas LEDcinco vezes mais eficientes que as tradicionais, se revezam automaticamente com tons mais quentes nas primeiras horas da manhã, tornando-se mais frias durante a tarde e mudando para um tom mais azulado e calmante à noite, para que os moradores possam relaxar e ter uma boa noite de sono.
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Iluminação LED digital muda os tons conforme passam as horas do dia
O telhado de metal – mais durável e reciclável – recebeu uma centena de painéis solares. Toda a madeira utilizada para erguer o “esqueleto” da casa é certificada. No piso, concreto polido, que além de durar mais e ser fácil de limpar, acumula menos poeira e provoca menos alergias respiratórias.
A água da chuva e das tempestades que cai do telhado, escorre através de calhas em pequenas rochas no quintal. À medida que a água penetra na terra, a poluição é naturalmente filtrada pelo solo. Além disso, as plantas escolhidas para o jardim são nativas da região e praticamente não precisam ser regadas. Quando isso se faz necessário, é utilizada água de reuso purificada, proveniente de pias, vasos sanitários e máquina de lavar.
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Plantas nativas e água de reuso no jardim
Um dos pontos mais impressionantes do projeto é que através do uso inteligente de recursos naturais - sol, vento e água – a casa produz mais energia do que consome. No subsolo, foram instaladas bombas de energia geotérmica. O sistema de aquecimento e resfriamento distribui esta energia uniformemente através da  circulação de água, feita por uma rede de tubos instalados nos pisos, paredes e tetos.
Na garagem, uma bateria de lítio de 10kWh armazena energia solar para que ela possa ser usada à noite, quando normalmente ocorre o pico da demanda doméstica e veículos elétricos são geralmente recarregados.
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O mais bacana é que projeto sustentável foi feito para ser disseminado. No site da Honda Smart Home é possível fazer download de todas as plantas da casa inteligente e saber mais sobre os materiais empregados. “Nossa intenção é que todas as pessoas conheçam nosso projeto e de alguma maneira possam aplicar alguma coisa em suas casas”, revela Koenig.
Mas o americano ressalta que governos devem estimular aqueles que investem em construções sustentáveis. “Deve haver algum incentivo financeiro, redução nas contas ou ainda, que seja criado um mercado de compra e venda de energia para estes tipos de casas”.
A casa do futuro já existe. Agora precisamos colocar em prática o mercado regulado pela economia verde.
Fotosdivulgação