segunda-feira, 19 de maio de 2014

Txt não é texto


É outra forma de linguagem. Espalhada via SMS, WhatsApp, Skype, games e tantas outras redes, esse novo idioma assusta muitos, que veem uma deterioração da língua.
É verdade que a troca de mensagens, em especial entre mais jovens, é bastante hermética. E que meios como SMS e Twitter, com restrição no volume de caracteres associado ao imediatismo que demandam, limitam elaborações. Mas até que ponto esse tipo de mensagem surgiu como substituto para a escrita?
Esqueça por um instante a birra que você tem de adolescentes com seus telefones e pense no uso que fazem do idioma falado. A gíria é um tipo de linguagem mais voltado à expressão do que à comunicação. Como um palavrão, transmite emoções de forma direta e sintética.
A forma com que uma pessoa se expressa é hoje tão ou mais importante do que a forma como se apresenta fisicamente. A escolha das palavras reflete aspectos da personalidade, e é fundamental para identificar origens e preferências.
O dialeto das mensagens é mais parecido com a gíria do que com outras formas de comunicação. Não visa a facilitar a troca de ideias, mas a transmitir um pastiche cultural com várias camadas, de interpretação restrita aos membros do grupo. É uma linguagem em formação.
Especialistas definem linguagem como um instinto, habilidade natural. Algoritmos, diagramas, fala, escrita, matemática e gestos são formas de tradução de ideias pensadas, que muitas vezes compartilham elementos, mas nem sempre. Não há equivalente verbal para :)
Há cerca de 8.000 línguas. Sua preservação é importante para a compreensão da cultura, mas não por causa da comunicação. Um mundo mais conectado torna inevitável a ideia de uma só língua –que provavelmente será muito mais rica do que a conhecida hoje.
Libras é um bom exemplo. Não é português, nem é restrita a sons e gestos. Seus usuários, ao se tornarem fluentes nesse sistema, passaram a usar os recursos de expressão facial e corporal para criar.
Mensagens de texto, em sua complexidade emergente, são fascinantes. Língua sem dono, cresce estabelecendo suas próprias referências poéticas e sintáticas, como hashtags e emoticons, a conviver com a norma culta e a gíria, expandindo o repertório simbólico dos usuários.
Marshall McLuhan defendia, quando disse que "o meio é a mensagem", que qualquer nova estrutura para codificar a experiência e movimentar a informação tem o poder de impor seus conceitos e caráter estrutural a todos os níveis da vida privada e social, mesmo que essa aceitação não seja consciente.
Mensagens de texto, como gírias, acrônimos e jargões, deverão ser cada vez mais presentes nas linguagens, tornando-as mais ricas à medida que todos passam a ter ferramentas para a construção instantânea de mensagens sinestésicas.
Nesse aspecto, projetos como a "simplificação" da obra de Machado de Assis devem ser vistos como interpretações literárias, da mesma forma que uma novela inspirada em um romance de Jorge Amado ou um filme inspirado em Ariano Suassuna podem ser bons ou ruins. De qualquer forma não deveriam ameaçar nem substituir o original, mas fazer referência a ele, chamando a atenção de suas riquezas para quem não o conheceria de outra forma. 
luli radfahrer
Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro 'Enciclopédia da Nuvem', em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas no caderno 'Tec' e semanalmente no site.

    Um ano de papado latino

    18 de maio de 2014 | 2h 05

    Mac Margolis
    Pouco mais de um ano depois de eleito papa, o carismático Francisco continua fazendo onda. Foi capa da Rolling Stone e Personagem do Ano da revista Time. Até a badalada The Advocate, porta-voz da comunidade homossexual americana, estampou o pontífice na sua capa, num fundo azul celeste.
    Teólogos, líderes políticos e vaticanistas não param de comentar o primeiro ano de Francisco. O religioso argentino ostenta 13 milhões de seguidores na sua conta Twitter. Seu antecessor, o sisudo Bento 16, que assumiu o posto em abril de 2005 e renunciou em fevereiro de 2013, tinha 3 milhões acompanhando seus tuítes.
    Menos claro é o que o primeiro papa latino-americano pretende fazer com todo esse capital político para encantar a um rebanho contundido e cada vez mais vacilante.
    Para alguns, Francisco está renovando a casa de São Pedro. Outros o veem como revolucionário, com seus brados contra o capitalismo selvagem e votos para "uma igreja pobre para os pobres". Para os fiéis em crise, soam moralizantes suas declarações contundentes tanto contra a pedofilia quanto contra os sacerdotes que a acobertam.
    No gesto e nas palavras, o jesuíta faz jus à fama de despojado. Que outro pontífice telefonaria para a residência de uma fiel, como fez o papa semanas atrás? "É o padre Bergoglio chamando", anunciou-se.
    Poderia parecer populismo religioso. De fato, foi estratégia pastoral. A fiel argentina havia escrito a Roma para perguntar se ela, apesar de casada com um homem divorciado, poderia receber a comunhão.
    O Vaticano não confirma nem nega a conversa. Foi o marido da fiel que a divulgou na sua página no Facebook, assim como a resposta afirmativa do papa. Mas ninguém ignorou o sismo doutrinal. Não será Francisco a acusar de adúltera - como reza a tradição católica - uma devota que está a procura de bênção.
    Por essas e outras, Francisco criou a fama de desbravador - e de camaleão. Seu antecessor fez de tudo para blindar a Igreja contra heresias modernas, tais como ordenar mulheres ou admitir a união entre homossexuais. Francisco, político hábil, não desmente a doutrina, mas calibra sua missão pastoral para os novos tempos.
    Se quando prelado na Argentina ele travou briga de foice contra a legalização da matrimônio entre os sexos, batalha que perdeu para a Cristina Kirchner, agora contemporiza. "Se alguém é gay e procura o Deus quem sou eu de julgar", disse, para aplausos da bancada arco-íris.
    Arriscado é. Para a ala ultraconservadora da igreja, Francisco é um herege. Já para quem anseia revolucionar a fé, ele é uma promessa tíbia de mudanças, com tudo ainda por fazer. Mas é essa vocação, de acolher um mundo em transição sem romper com o ensinamento milenar, que carimba o papado do argentino.
    Regime militar. Esta é uma prática bem latino-americana. Foi fornida nos tempos de chumbo, quando o jesuíta Jorge Mario Bergoglio teve de conciliar o arrocho da ditadura militar argentina com os anseios de um bispado politizado.
    Ora conseguiu escorar seus sacerdotes que desafiavam a ordem militar, ora aplacar a fúria dos generais, que não admitiam desaforo de batina. Ainda houve quem o acusasse de fazer jogo duplo e até de entregar dois de seus subordinados à masmorra da junta.
    Essa dúvida anuviou sua carreira e a seguiu até Roma, até que um dos padres, vítima dos militares, se pronunciou, isentando-o de qualquer culpa.
    Pastoral num país conflagrado não é fácil. Mas foi bom treinamento para as trincheiras de Roma. Francisco segue na corda bamba, entre a doutrina empoeirada e uma congregação em debandada.
    Segundo uma pesquisa da Latinobarometro, o número de católicos na América Latina caiu de 80% em 1995 para 67% no ano passado, mas a confiança na igrejas subiu dez pontos, para 78%. Francisco ainda não conseguiu reverter o êxodo. Mas já levantou o astral de quem ficou.
    É COLUNISTA DO 'ESTADO' E CHEFE DA SUCURSAL BRASILEIRA DO PORTAL DE NOTÍCIAS 'VOCATIV'

    Navio da USP que custou R$ 23 milhões está parado há seis meses


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    O navio oceanográfico Alpha Crucis, da USP, que custou aos cofres públicos por volta de R$ 23 milhões há mais de dois anos, está parado faz seis meses no porto de Santos, litoral paulista.
    Com verba tanto da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) quanto da USP (Universidade de São Paulo), o navio precisa de mais R$ 2,6 milhões para voltar ao mar e cumprir sua função vital para a oceanografia nacional.
    No total, a USP investiu quase R$ 9 milhões na compra, reforma e instalação de equipamentos científicos no navio, fabricado em 1973. A USP comprou a embarcação da Universidade do Havaí.
    Mesmo com o navio parado, a USP gasta também cerca de R$ 250 mil por mês com a tripulação.
    Técnicos que conhecem o interior do navio afirmam que existem problemas em áreas vitais dele, como nos tanques de combustível. Por isso, seria necessária uma nova reforma na embarcação, que consumiria mais dinheiro.
    A direção do Instituto Oceanográfico da USP, responsável pela administração do navio, nega que haja avarias, mas admite que o Alpha Crucis está parado há mais tempo do que deveria e diz que o problema é de ordem burocrática e financeira.
    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    Navio comprado pela USP está parado há seis meses no porto de Santos
    Navio comprado pela USP está parado há seis meses no porto de Santos
    Como é praxe em navios grandes –o Alpha Crucis tem 50 metros de comprimento–, a cada cinco anos ele precisa passar por uma vistoria de uma empresa autorizada a dar a certificação de segurança da embarcação.
    Como isso exige que o navio seja levado a um estaleiro, o instituto precisa abrir uma licitação e obter recursos para fazer a inspeção.
    "É uma vistoria, e não uma reforma. Nós começamos esse processo em julho de 2013. Tivemos que elaborar o edital, fazer pesquisa de preços que demorou seis meses por causa dos fornecedores e enviar dois pareceres para a Procuradoria-Geral", afirma Michel Mahiques, professor e vice-diretor do instituto responsável pelo navio.
    Segundo ele, o edital deve ser publicado nesta semana e o navio deve estar liberado para navegar em agosto.
    A troca recente de reitores na USP (João Grandino Rodas, que assinou a compra do navio, deixou o cargo no fim do ano para que Marco Antonio Zago assumisse) e a crise financeira da instituição atrapalharam a liberação de recursos para a vistoria, afirma Mahiques.
    Ele nega que houve uso inadequado do dinheiro.
    "O Alpha Crucis foi a melhor relação custo benefício depois de investigar 19 navios", afirma o cientista.
    Enquanto esteve funcionando, afirma Mahiques, o Alpha Crucis permitiu que a ciência brasileira rompesse barreiras importantes do ponto de vista científico.
    "Apenas os dados de um único cruzeiro meu estão sendo suficientes para dois pós-doutorados, cinco doutorados e pelo menos oito mestrados", diz Mahiques.