É outra forma de linguagem. Espalhada via SMS, WhatsApp, Skype, games e tantas outras redes, esse novo idioma assusta muitos, que veem uma deterioração da língua.
É verdade que a troca de mensagens, em especial entre mais jovens, é bastante hermética. E que meios como SMS e Twitter, com restrição no volume de caracteres associado ao imediatismo que demandam, limitam elaborações. Mas até que ponto esse tipo de mensagem surgiu como substituto para a escrita?
Esqueça por um instante a birra que você tem de adolescentes com seus telefones e pense no uso que fazem do idioma falado. A gíria é um tipo de linguagem mais voltado à expressão do que à comunicação. Como um palavrão, transmite emoções de forma direta e sintética.
A forma com que uma pessoa se expressa é hoje tão ou mais importante do que a forma como se apresenta fisicamente. A escolha das palavras reflete aspectos da personalidade, e é fundamental para identificar origens e preferências.
O dialeto das mensagens é mais parecido com a gíria do que com outras formas de comunicação. Não visa a facilitar a troca de ideias, mas a transmitir um pastiche cultural com várias camadas, de interpretação restrita aos membros do grupo. É uma linguagem em formação.
Especialistas definem linguagem como um instinto, habilidade natural. Algoritmos, diagramas, fala, escrita, matemática e gestos são formas de tradução de ideias pensadas, que muitas vezes compartilham elementos, mas nem sempre. Não há equivalente verbal para :)
Há cerca de 8.000 línguas. Sua preservação é importante para a compreensão da cultura, mas não por causa da comunicação. Um mundo mais conectado torna inevitável a ideia de uma só língua –que provavelmente será muito mais rica do que a conhecida hoje.
Libras é um bom exemplo. Não é português, nem é restrita a sons e gestos. Seus usuários, ao se tornarem fluentes nesse sistema, passaram a usar os recursos de expressão facial e corporal para criar.
Mensagens de texto, em sua complexidade emergente, são fascinantes. Língua sem dono, cresce estabelecendo suas próprias referências poéticas e sintáticas, como hashtags e emoticons, a conviver com a norma culta e a gíria, expandindo o repertório simbólico dos usuários.
Marshall McLuhan defendia, quando disse que "o meio é a mensagem", que qualquer nova estrutura para codificar a experiência e movimentar a informação tem o poder de impor seus conceitos e caráter estrutural a todos os níveis da vida privada e social, mesmo que essa aceitação não seja consciente.
Mensagens de texto, como gírias, acrônimos e jargões, deverão ser cada vez mais presentes nas linguagens, tornando-as mais ricas à medida que todos passam a ter ferramentas para a construção instantânea de mensagens sinestésicas.
Nesse aspecto, projetos como a "simplificação" da obra de Machado de Assis devem ser vistos como interpretações literárias, da mesma forma que uma novela inspirada em um romance de Jorge Amado ou um filme inspirado em Ariano Suassuna podem ser bons ou ruins. De qualquer forma não deveriam ameaçar nem substituir o original, mas fazer referência a ele, chamando a atenção de suas riquezas para quem não o conheceria de outra forma.
É verdade que a troca de mensagens, em especial entre mais jovens, é bastante hermética. E que meios como SMS e Twitter, com restrição no volume de caracteres associado ao imediatismo que demandam, limitam elaborações. Mas até que ponto esse tipo de mensagem surgiu como substituto para a escrita?
Esqueça por um instante a birra que você tem de adolescentes com seus telefones e pense no uso que fazem do idioma falado. A gíria é um tipo de linguagem mais voltado à expressão do que à comunicação. Como um palavrão, transmite emoções de forma direta e sintética.
A forma com que uma pessoa se expressa é hoje tão ou mais importante do que a forma como se apresenta fisicamente. A escolha das palavras reflete aspectos da personalidade, e é fundamental para identificar origens e preferências.
O dialeto das mensagens é mais parecido com a gíria do que com outras formas de comunicação. Não visa a facilitar a troca de ideias, mas a transmitir um pastiche cultural com várias camadas, de interpretação restrita aos membros do grupo. É uma linguagem em formação.
Especialistas definem linguagem como um instinto, habilidade natural. Algoritmos, diagramas, fala, escrita, matemática e gestos são formas de tradução de ideias pensadas, que muitas vezes compartilham elementos, mas nem sempre. Não há equivalente verbal para :)
Há cerca de 8.000 línguas. Sua preservação é importante para a compreensão da cultura, mas não por causa da comunicação. Um mundo mais conectado torna inevitável a ideia de uma só língua –que provavelmente será muito mais rica do que a conhecida hoje.
Libras é um bom exemplo. Não é português, nem é restrita a sons e gestos. Seus usuários, ao se tornarem fluentes nesse sistema, passaram a usar os recursos de expressão facial e corporal para criar.
Mensagens de texto, em sua complexidade emergente, são fascinantes. Língua sem dono, cresce estabelecendo suas próprias referências poéticas e sintáticas, como hashtags e emoticons, a conviver com a norma culta e a gíria, expandindo o repertório simbólico dos usuários.
Marshall McLuhan defendia, quando disse que "o meio é a mensagem", que qualquer nova estrutura para codificar a experiência e movimentar a informação tem o poder de impor seus conceitos e caráter estrutural a todos os níveis da vida privada e social, mesmo que essa aceitação não seja consciente.
Mensagens de texto, como gírias, acrônimos e jargões, deverão ser cada vez mais presentes nas linguagens, tornando-as mais ricas à medida que todos passam a ter ferramentas para a construção instantânea de mensagens sinestésicas.
Nesse aspecto, projetos como a "simplificação" da obra de Machado de Assis devem ser vistos como interpretações literárias, da mesma forma que uma novela inspirada em um romance de Jorge Amado ou um filme inspirado em Ariano Suassuna podem ser bons ou ruins. De qualquer forma não deveriam ameaçar nem substituir o original, mas fazer referência a ele, chamando a atenção de suas riquezas para quem não o conheceria de outra forma.
Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro 'Enciclopédia da Nuvem', em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas no caderno 'Tec' e semanalmente no site.
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