quinta-feira, 10 de abril de 2014

Captação do ‘volume morto’ do Sistema Cantareira traz poluentes

Especialistas alertam para o risco das substâncias tóxicas no fundo das represas

10 de abril de 2014 | 3h 00

Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo
CAMPINAS - A captação de água do volume morto do Sistema Cantareira ameaça trazer à tona poluentes depositados no fundo das represas, onde se concentram contaminantes que não são tratados por sistemas convencionais para o abastecimento. Três especialistas em biologia e toxicidade em corpos d’água fizeram o alerta ao Ministério Público Estadual (MPE), que abriu inquérito civil para investigar a crise hídrica do sistema responsável pelo abastecimento de 14,3 milhões de habitantes na Grande São Paulo e no interior.
"Quando se cogita fazer o uso do volume morto, por causa das condições emergenciais de necessidades hídricas, antes que esteja disponível para o abastecimento público, deve passar por análise criteriosa e tratamento adequado para atendimento dos padrões normatizados de qualidade de água", afirmam, em parecer, Dejanira de Franceschi de Angelis e Maria Aparecida Marin Morales, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Silvia Regina Gobbo, da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
O documento embasou o pedido feito pelos promotores do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) para que a Agência Nacional de Águas (ANA), o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e a Companhia do Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) informem quais os critérios de uso do volume morto. O MPE exige quais garantias foram pedidas para não haja movimentação do lodo das represas durante a captação e quais exames de qualidade da água serão feitos.
Segundo as pesquisadoras, "quanto mais baixo o nível dos reservatórios, maior é a concentração de poluentes, recomendando maiores cuidados com seus múltiplos usos". Entre os elementos citados que contaminam os mananciais há compostos inorgânicos (metais e outros agentes tóxicos), orgânicos altamente reativos com os sistemas biológicos (hidrocarbonetos aromáticos, biocidas e fármacos), microbiológicos (bactérias, fungos e protozoários patogênicos) e vírus.
"Muitos dos poluentes que contaminam os rios apresentam potencialidade de alterar o material genético dos organismos expostos, até mesmo do homem, e, consequentemente, desencadear problemas de saúde, como desenvolvimento de doenças crônicas (tais como alterações nas funções da tireoide, do fígado, dos rins), agudas (tais como intoxicações, alergias, diarreias), degenerativas (Parkinson, Alzheimer etc.) e o câncer", relataram as pesquisadoras da Unesp e da Unimep.
Para os promotores do Gaema, a mortandade de mais de 20 toneladas de peixe no Rio Piracicaba, em fevereiro, provocada pela baixa vazão do manancial, foi "apenas um dos primeiros indicadores visuais da gravidade da situação, que, se persistir, poderá acarretar em impactos gravíssimos, muitas vezes irreversíveis". Ontem, diante da situação, o MPE negou à ANA e ao DAEE pedido de prorrogação de 30 dias para que eles respondessem quais critérios serão adotados para a retirada da água do volume morto.
Autorizações. A Sabesp informou que apenas se pronunciará sobre os questionamento após ser notificada pelo MPE. No entanto, a empresa afirmou que tem todas as autorizações ambientais para a execução da obra de captação de água do volume morto.
De acordo com a Sabesp, as obras foram iniciadas no dia 17 do mês passado nas Represas Atibainha, em Nazaré Paulista, e Jaguari, em Bragança Paulista. A intervenção vai custar R$ 80 milhões e será concluída em dois meses. "O volume de água que estará à disposição para abastecimento público é de 200 bilhões de litros. A reserva total é de 300 bilhões de litros", informou a Sabesp.



Banco Central muda discurso em ata do Copom e sinaliza fim da alta do juro



Ata do Copom retirou ‘continuidade’ ao falar de ser apropriado ajuste nas condições monetárias

10 de abril de 2014 | 8h 30

Victor Martins, Adriana Fernandes e Renata Veríssimo, da Agência Estado
BRASÍLIA - Em um discurso mais ameno, o Banco Central sinalizou que a alta do juro básico da economia pode estar perto do fim. Na ata do do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC retirou a palavra "continuidade" ao falar de ser apropriado ajuste nas condições monetárias. Na semana passada, o Copom elevou a Selic para 11% ao ano. O juro vem subindo desde abril de 2013.
A ata também retirou a palavra "especialmente" ao falar da vigilância da política monetária. O documento ainda reafirmou que os efeitos de política monetária são cumulativos e se manifestam com defasagem. A instituição ainda chamou a atenção para o choque de preços dos alimentos in natura e, assim como o presidente do BC, Alexandre Tombini já havia dito, garante que esse choque é temporário e tende a se reverter nos próximos meses.
Nesta quarta-feira, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou uma aceleração da inflação para 0,92% em março, sendo que o grupo Alimentos foi responsável por mais da metada da alta.
O Copom ponderou na ata, no entanto, que a elevada variação de preços nos últimos 12 meses contribui para a inflação ainda resistente. O Copom repetiu informação da ata anterior, de que a depreciação e volatilidade da taxa de câmbio vista nos últimos meses permite uma natural e esperada correção de preços relativos e que os movimentos nos mercados de divisas são reflexos da transição dos mercados financeiros.
Em uma ata cheia de novidades, o Copom informou que a trajetória de indicadores está em linha com o que se poderia antecipar e que, para os próximos trimestres, eles também se apresentam em linha. Na ata anterior, da reunião de fevereiro, não havia essa informação.
O documento informou ainda que os impulsos monetários introduzidos na economia, o aumento de juros iniciado em abril do ano passado, têm se propagado normalmente por intermédio dos canais de transmissão. A instituição reafirmou, em seguida, que os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação são cumulativos e se manifestam com defasagens. "O Comitê entende que parte significativa da resposta dos preços ao atual ciclo de aperto monetário ainda está por se materializar", informou o documento. A instituição ainda destacou que é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária tendem a ser potencializados.
Inflação. A ata também excluiu do documento a expressão "moderação na margem" quando tratou de inflação ao consumidor em 12 meses. Segundo o documento, o custo de vida tem se mostrado ligeiramente acima do que se esperava. A instituição observa ainda que se faz necessário, com a devida tempestividade, reverter o processo inflacionário.
O documento traz uma avaliação sobre demanda, informa que o consumo das famílias tende a continuar em "ritmo moderado de expansão". A ata explica que esse arrefecimento ocorre em função do crescimento da renda e da expansão moderada do crédito e das condições financeiras relativamente favoráveis.
A instituição ainda destaca que as condições financeiras são "relativamente favoráveis", sobretudo pela concessão de serviços públicos, ampliação das áreas de exploração de petróleo e de um cenário que sugere a expansão dos investimentos.
O Copom aumentou a projeção para o IPCA de 2014 no cenário de referência em relação ao valor considerado na reunião de fevereiro, permanecendo acima do centro da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). No cenário de mercado, a projeção de inflação para 2014 também subiu em relação ao valor considerado na reunião de fevereiro e seguiu acima da meta para o IPCA. Para 2015, em ambos os cenários, a projeção de inflação também elevou-se e se posiciona acima do valor central da meta.
No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado no fim de março, o BC informou que a expectativa de inflação ao final de 2014, pelo cenário de referência, era de 6,1%, embora ainda não considerasse a última elevação dos juros, para 11%. No cenário de mercado, a projeção do RTI para o final de 2014 era de 6,2%.
Dólar. A ata reduziu sua premissa para o câmbio para R$ 2,30 pelo cenário de referência. Na ata anterior, divulgada em fevereiro, a projeção era de R$ 2,40. O Banco Central já tinha reduzido essa estimativa para R$ 2,35 no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em março.
O valor considerado para o dólar está acima do valor negociado no dia em que o colegiado decidiu elevar a Selic para 11% ao ano, quando o dólar fechou em R$ 2,2720. No mercado futuro, o dólar para maio fechou no dia da reunião do Copom, na semana passada, em R$ 2,2850.
Para a taxa básica de juros, o colegiado ampliou o patamar considerado de 10,50% para 10,75% ao ano em todo horizonte relevante.
Superávit primário. O Copom voltou a informar, no trecho da ata que fala sobre a avaliação prospectiva das tendências de inflação, que considera como indicador fiscal o superávit primário estrutural que deriva das trajetórias de superávit primário, tanto para 2014 quanto para 2015, conforme parâmetros estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) desse ano. "Dessa forma, em determinado período, o impulso fiscal equivale à variação do superávit estrutural em relação ao observado no período anterior", afirma, repetindo a ata de fevereiro.

Jorge Gerdau sugere que população se ‘rebele’


Para empresário, que também preside a Câmara de Políticas de Gestão do governo, a infraestrutura e a qualidade dos serviços no País são inaceitáveis

08 de abril de 2014 | 21h 47

Elder Ogliari, de O Estado de S.Paulo
PORTO ALEGRE - O empresário Jorge Gerdau Johannpeter criticou a insistência do Brasil em se aproximar do Mercosul, propôs que o próximo governo brasileiro tenha apenas seis ministérios e chegou a sugerir que a população se rebele diante da falta de infraestrutura e da qualidade dos serviços do País.
As afirmações do empresário foram feitas durante palestra para os participantes da 27.ª edição do Fórum da Liberdade, ontem em Porto Alegre. O evento é promovido anualmente pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), entidade de jovens empresários de tendências liberais.
"Uma placa que vi e achei interessante diz que a Central do Brasil há 30 anos é igual", citou. "Tem de ter rebelião, gente", prosseguiu. "Quem tem esposa e uma filha e tem de enfiar dentro daquele trem não dá para aceitar."
Ao longo dos 40 minutos da palestra, Gerdau insistiu na necessidade de o Brasil aumentar sua poupança, investir em infraestrutura e melhorar sua governança e produtividade para crescer mais dos que os índices próximos a 2% dos últimos anos. Também sugeriu metas ousadas, como dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita até 2030.
O empresário - que preside, desde o início do governo Dilma Rousseff, a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo -, também revelou que, na conversa reservada que teve com o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, na segunda-feira, foi questionado sobre o número de ministérios que considera ideal para o Brasil. "Eu disse que com seis dá", confidenciou. E citou cinco pastas, sem mencionar qual seria sexta: para a área social, área econômica, segurança, parte internacional e condução política.
Gerdau deu a entender, ainda, que preferiria ver o Brasil menos ligado aos países vizinhos e mais atento ao mercado global. "Enquanto os países do grupo do Pacífico têm crescimento de 5% a 6% ao ano, aproximando-se do bloco americano, que está se integrando com a Europa, nós ficamos brincando de Mercosul bolivariano", comparou. "Será que a Cristina Kirchner (presidente da Argentina) tem que dizer o que o Brasil tem que fazer? Não dá!", concluiu.
Procuradas para comentar as declarações de Gerdau, a Casa Civil e a Secretaria de Comunicação da Presidência da República não responderam até o fechamento desta edição.
Eficiência. Jorge Gerdau é conselheiro da presidente Dilma desde a campanha eleitoral de 2010. A Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, que comanda, tinha o objetivo de aperfeiçoar a condução da máquina pública, eliminando gargalos e tornando mais eficiente o atendimento ao cidadão. Sem resultados aparentes, a câmara reduziu o ritmo dos trabalhos desde o ano passado.
O colegiado chegou a elogiar programas de monitoramento remoto, por vídeo, implementados pelos ministérios da Previdência Social, da Saúde e pelo grupo de acompanhamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Gerdau sempre foi crítico do número de ministérios do governo Dilma. (Colaborou Iuri Dantas)