segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Xisto reduz venda da Petrobrás aos EUA


Alternativa mudou a matriz energética do país, que ficou menos dependente de importações e cortou compras de petróleo do Brasil em 60%

12 de janeiro de 2014 | 22h 13

Cláudia Trevisan, correspondente
WASHINGTON - A alta velocidade com que os Estados Unidos ampliam sua produção de petróleo de xisto mudou o cenário geopolítico global associado ao combustível e contribuiu para uma redução de 60% nas exportações brasileiras do produto para o mercado americano em um período de dois anos. Em 2013, pela primeira vez, a Petrobrás vendeu mais para a China do que para os EUA, que durante anos foi seu maior comprador.
Desde 2008, os Estados Unidos ampliaram em 50% a sua produção, graças à tecnologia que permite a retirada de petróleo de rochas de xisto. Só no ano passado, a expansão foi de 1 milhão de barris/dia, mais que a soma do aumento registrado em todos os demais países, segundo dados oficiais.

A previsão do governo é que aumento semelhante se repetirá em 2014, o que elevaria a produção americana a 8,5 milhões de barris/dia. Com expansão adicional de 800 mil barris esperada para 2015, o volume chegaria a 9,3 milhões de barris dia, próximo ao recorde de 9,6 milhões alcançado em 1970.

A maior produção diminuiu a dependência dos americanos de importações do instável Oriente Médio e colocou a China na pouco invejável posição de maior importador mundial de petróleo, inclusive do Brasil. Em 2005, os Estados Unidos importavam 60% do combustível que consumiram. No ano passado, o porcentual caiu a 36% e as projeções apontam para um índice de 25% em 2016.

Esse movimento, aliado à maior demanda no Brasil, diminuiu os embarques de petróleo para os Estados Unidos de US$ 8,7 bilhões em 2011 para US$ 6,8 bilhões no ano seguinte e cerca de US$ 3,4 bilhões em 2013, com redução de 60% em dois anos. Nesse mesmo período, as exportações totais de petróleo recuaram 40%, para US$ 12,96 bilhões no ano passado.

Segundo a Petrobrás, a redução mais acentuada das vendas para os EUA foi provocada por maior nível de processamento de petróleo em suas refinarias, aumento da demanda em outros países, como China e Índia, e mudanças estruturais no mercado americano, provocadas pela intensa produção de petróleo de xisto (shale oil, em inglês).

A previsão da estatal para 2014 é que as exportações para os Estados Unidos continuem no mesmo patamar registrado no ano passado. 


Petrobrás. Enquanto os EUA ampliaram rapidamente a sua produção nos últimos seis anos, a Petrobrás avançou em ritmo mais lento. Em 2008, a estatal produzia uma média de 1,85 milhão de barris/dia de petróleo. No ano passado, o número foi de 2,2 milhões, o que representou uma alta de 19%.

Para alguns analistas, as distintas velocidades refletem a complexidade tecnológica envolvida na exploração do pré-sal, mas também a diferença de modelos regulatórios adotados pelos dois países e a redução da capacidade de investimentos da Petrobrás decorrente da maior intervenção do governo em sua administração. "A Petrobrás tem um potencial enorme, mas é necessário recuperar sua gestão", avalia Pedro Galdi, analista da corretora SLW.

Alen Good, da consultora de investimentos Morning Star, acredita que o pré-sal avançou em ritmo razoável até agora, dada as diferenças de infraestrutura entre os países. Mas ele acredita que haverá limitações no futuro em razão do modelo que exige a Petrobrás como operadora dos projetos de exploração, com participação mínima de 30% nos consórcios.

Nos Estados Unidos, a exploração do xisto é feita por empresas privadas, que competem entre si e atuam de acordo com regras de mercado.

Déficit. No ano passado, o Brasil importou US$ 40,5 bilhões em petróleo, combustíveis e lubrificantes, o que provocou um rombo de US$ 20,27 bilhões na balança comercial do setor, já que as exportações corresponderam a apenas metade das compras do país. O déficit foi quatro vezes superior aos US$ 5,38 bilhões de 2013.

O cenário deve melhorar neste ano, com a entrada em operação de novas plataformas, que pode elevar a produção em até 1 milhão de barris/dia. Mas a dependência de gasolina e diesel do exterior deve continuar.

Ao mesmo tempo em que as regras do pré-sal exigem elevada capacidade de investimentos da Petrobrás, o governo sangra o caixa da estatal com uma política de preços de combustíveis que provoca prejuízo, obrigando a companhia a importar a preços superiores do que pode vender no mercado interno.

Em dois anos, essas perdas chegaram a R$ 30 bilhões, mais que os R$ 20 bilhões em investimentos previstos para a construção da refinaria Premium II, no Ceará.

No anúncio do resultado do terceiro trimestre, a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, ressaltou que a desvalorização do real a partir de maio acentuou a defasagem de preços nos últimos meses, com impacto sobre o fluxo de caixa e a "alavancagem" da empresa.

Segundo ela, a convergência entre os preços de importação e os praticados no País é uma "premissa" para a sustentabilidade do programa da Petrobrás até 2017, que prevê investimentos de US$ 236,7 bilhões.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Os riscos da sociedade imediática - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR


GAZETA DO POVO - PR - 12/01

Não sei se o neologismo já foi utilizado e se não o tiver sido, reivindico a prioridade: uma sociedade imediática é aquela que é guiada pelo imediato e pelo midiático (ou mediatico na sua grafia original em inglês). Acredito que o neologismo define bem esses dois traços cada vez mais presentes na sociedade contemporânea: a busca da satisfação imediata, a impaciência, a falta de tempo para refletir, pensar duas, dez, cem vezes a respeito do que fazer e menos ainda de calcular as consequências do que se faz; e a busca dos holofotes, do reconhecimento público, da celebridade instantânea a qualquer custo.

O episódio mais recente, mas longe de ser único, é a história de uma pessoa que postou numa rede social um comentário a respeito dos maus-tratos com os animais do Jardim Zoológico, que estariam passando fome e dependendo de vaquinhas organizadas por funcionários para comprar a comida do leão (as vaquinhas seriam obviamente no sentido figurado, pois se o fossem no literal, o leão estaria satisfeitíssimo...). Dito e feito: em poucas horas, mais de oito mil almas bondosas manifestaram sua indignação na mesma rede social por tanta crueldade.

Acontece que a informação era falsa: a pessoa que realizou a postagem agiu de maneira irresponsável ao repercutir algo que – segundo ela – ouviu dizer. Mas ainda se encheu de razões achando que nada fez de errado e que simplesmente exerceu seu direito de se manifestar sobre qualquer assunto.

O caso, em si, é risível e a prefeitura municipal rapidamente desmantelou a farsa, prometendo interpelar a autora da postagem inverídica. Mas, pense bem o paciente leitor, no potencial disruptivo que informações falsas, exageradas, inventadas ou distorcidas podem ter sobre a vida das pessoas. Hoje é o leão que não estaria se alimentando dignamente, amanhã pode ser uma acusação mais séria contra alguém, condenado previamente a tentar, inutilmente, desmanchar o imbróglio.

Já tivemos várias demonstrações do poder de difusão viral das redes da internet. Os pobres moradores da Praça da Espanha se veem às voltas periodicamente com um “réveillon fora de época”, convocado pelas redes, que concentram milhares de pessoas em um lugar em que elas não cabem, deixando um rastro de bebedeiras, vômito, urina, jardins pisoteados e patrimônio público danificado, em nome de uma suposta “liberdade de reunião”. O dia seguinte? Ora, o dia seguinte é para inventar alguma nova performance midiática (ou imediática).

A nossa sorte é que neste país tropical, abençoado por Deus, ninguém leva nada a sério por muito tempo e tudo se desmoraliza rapidamente e as redes não serão exceção. Aliás, o que aconteceu outro dia com o tal “toplesslaço”, onde oito mil cariocas desinibidas prometeram tirar os sutiãs na praia para manifestar sua indignação contra a repressão da liberdade individual? Na hora, apareceram dez madames de seios de fora e oito mil curiosos, doidos para curtir a cena.

Bruxarias do mercado em ano eleitoral - ELIO GASPARI


O GLOBO - 12/01

Tem gente que acredita em pajé ou em agências de risco, mas as bruxas existem e suas vassouras estão por aí


O fato de um sujeito ser paranoico não impede que ele esteja sendo seguido. A doutora Dilma reclamou que seu governo sofre uma "guerra psicológica". Nada mais natural para um comissariado que vive sob a mentalidade do sítio, julgando-se perseguido pela imprensa, pelos aliados e pelo mercado. Mesmo assim, o paranoico pode estar sendo seguido.

Outro dia a agência de risco Moody's anunciou que poderá baixar a cotação do Brasil. Isso foi o suficiente para provocar um leve piripaque no mercado financeiro. O fato de a Fitch ter dito o contrário não teve qualquer importância.

As três grandes empresas desse mercado (Standard & Poor's, Moody's e Fitch) são uma espécie de oráculo. Por mais que possam ser neutras, a verdade é que com esses anúncios pode-se ganhar um dinheirinho fácil. Compra-se hoje, vende-se amanhã e embolsa-se algum. Na crise de 2007 elas passaram por um vexame histórico. Lambuzaram bancos quebrados e iludiram a boa-fé do público. Essa foi a conclusão a que chegou uma comissão de inquérito do governo americano.

Faz melhor negócio quem acredita nas agências de risco e não presta atenção ao que diz o ministro Guido Mantega, mas coisas estranhas acontecem no mundo das previsões econômicas.

No final de abril de 2008 Lula decidiu tirar o doutor Henrique Meirelles da presidência do Banco Central, convidou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que aceitou. No dia 1º de maio a agência Standard & Poor's elevou a cotação do Brasil, concedendo-lhe o "investment grade". Meirelles ficou no BC.

Durante a campanha eleitoral de 2002 o banco JP Morgan rebaixou a cotação do Brasil diante da possibilidade de Lula vencer a eleição presidencial. Nessa época o Morgan fazia negócios com o gênio Bernard Madoff, que vendia vento, numa fraude de US$ 65 bilhões, a maior da história americana. Há pouco o banco concordou em pagar uma indenização de US$ 2,6 bilhões às suas vítimas. Seus diretores não fizeram isso por altruísmo, mas para encerrar um processo que poderia levar alguns deles à cadeia.

Já o banco Goldman Sachs criou em 2002 uma gracinha chamada "Lulômetro". Era uma bonita equação onde o interessado preencheria as variáveis ao seu gosto e obteria o valor do dólar caso Lula fosse eleito. (A moeda americana ameaçava chegar a R$ 4.)

Divide-se a galera da psicologia das previsões em três grupos. Um quer advertir a clientela para a situação econômica ou os riscos de um resultado eleitoral num determinado país. É esse o seu papel. Outro quer influenciar a plateia e faz de bobo a quem acredita na neutralidade de sua previsão. No terceiro grupo estão aqueles que pouco se interessam pelos resultados econômicos ou eleitorais. Querem apenas ganhar algum. Na crise do real sobrevalorizado de 1998, um banco americano publicou um artigo propondo que Fernando Henrique Cardoso confiscasse a poupança nacional, como fizera Fernando Collor. (Sugestão idêntica veio do presidente da Argentina, Carlos Menem.) Era maluquice, mas um conhecedor do mercado estudou as cotações dos papéis brasileiros nos dias anteriores e posteriores a essa sugestão e concluiu que um espertalhão poderia ter ganho algo como US$ 5 milhões em poucos dias.

SALVEM A FACULDADE

A Universidade Gama Filho, onde funciona a maior faculdade de medicina do país, está apodrecendo. A doutora Dilma, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes comportam-se como se esse problema fosse do Qatar, sede da Copa do Mundo de 2022.

A trinca quer fama pelas obras que faz para grandes eventos. Fariam melhor se preservassem uma faculdade que tem 2.400 alunos. Não lhes convêm ficar como governantes que construíram estádios e assistiram ao fechamento de uma faculdade de medicina.

(Desde que os controladores não recebam um só tostão da Viúva e sejam obrigados a pagar o que devem.)

DE OLHO

O presidente do conselho federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Coêlho, é candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

Espera que o senador José Sarney ajude a levar seu pleito à doutora Dilma.

E-BOOKS

No Brasil ainda não se chegou a um acordo entre as editoras e as bibliotecas públicas para regular a circulação de livros eletrônicos para os contribuintes.

A coisa pode funcionar assim: a biblioteca empresta os livros por um prazo determinado, ao fim do qual o link morre.

Todo mundo ganha. Os livros custam a metade, as despesas com armazenamento e manutenção tornam-se desprezíveis, e o freguês recebe a obra sem sair de casa.

Já nos Estados Unidos, onde criam-se poderosas bibliotecas eletrônicas, foi inaugurada no Texas a primeira biblioteca sem livros de papel. No condado de Bexar, a Bibliotech oferece não só as obras, mas empresta também as tabuletas.

EREMILDO, O IDIOTA, FOI AO MARANHÃO

Eremildo é um idiota e soube pela repórter Andréia Sadi que a governadora Roseana Sarney, donatária do Maranhão, queria abrir uma licitação para adquirir mais de uma tonelada de camarões, 750 quilos de patinhas de caranguejo e um estoque de lagosta fresca. A feira custaria cerca de R$ 1 milhão e abasteceria a despensa da doutora tanto no palácio como em sua casa de praia.

Depois o cretino soube que o governo de Roseana Sarney divulgou uma nota repudiando a divulgação de um vídeo "com apelo sensacionalista". Eremildo convenceu-se que alguém havia filmado as lagostas e patinhas de caranguejo da governadora. Achou que o repúdio era mais do que justo.

Só depois ele soube que o vídeo mostrava presos decapitados numa prisão maranhense. O governo da senhora disse que ocorreu uma "ação criminosa (...) que fere todos os preceitos dos direitos humanos". O idiota ficou com uma dúvida: se o vídeo não tivesse sido divulgado, os direitos humanos dos presos degolados teriam sido preservados?

Eremildo fez umas contas de economia doméstica com a despensa da doutora Roseana. Ela pretendia gastar R$ 1 milhão para abastecer seu palácio e a casa de verão durante um ano. Isso dá uma conta de US$ 418 mil. (Isso para não se falar no caviar para visitantes ilustres.) Como disse a doutora, o Maranhão tem problemas porque "está mais rico", e rico sem caviar é um miserável.

O bilionário Michael Bloomberg foi prefeito de Nova York durante 12 anos e a conta dos almoços e cafés da manhã de seu gabinete ficou em US$ 890 mil, ou US$ 74 mil por ano.

Uma diferença: Bloomberg, que já era bilionário quando entrou para a política, pagou a fatura com dinheiro do próprio bolso.