domingo, 5 de janeiro de 2014

A destruição do sonho americano de Detroit


Antiga capital do carro vê mazelas sociais se multiplicarem

04 de janeiro de 2014 | 22h 23

Cláudia Trevisan, enviada especial de O Estado de S.Paulo
 

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Das inúmeras ruínas do Século 20 que revelam a decadência de Detroit, a mais grandiosa é a antiga fábrica da Packard, a marca que foi símbolo máximo dos carros de luxo americanos até a Segunda Guerra Mundial e que desligou suas linhas de montagem em 1958. A estrutura de 325 mil metros quadrados é um monumento involuntário ao período áureo da industrialização dos Estados Unidos, quando a cidade era conhecida como a capital mundial do carro.
Nos anos 50, Detroit produzia metade dos veículos vendidos no planeta e tinha 1,85 milhão de habitantes, o que fazia dela a quarta maior cidade americana. Desde então, sua população caiu de maneira constante e hoje está em 685 mil pessoas - redução de 65%.
Glórias do passado. A indústria automobilística enfrentou a concorrência dos japoneses e coreanos, passou por uma dolorosa reestruturação e se globalizou, espalhando linhas de produção por todas as partes do planeta, o que reduziu Detroit a uma posição coadjuvante.
Dos cerca de 2,7 milhões de veículos que a General Motors vendeu nos Estados Unidos em 2013, apenas 4% foram produzidos em Detroit. A maior montadora americana mantém sua sede na cidade, no Renaissance Center, um conjunto de sete torres às margens do rio Detroit. Mas apenas uma de suas 11 fábricas americanas permanece na antiga capital do automóvel.
Indústrias de outros setores também desapareceram, no processo que tirou dos EUA o posto de maior nação manufatureira do mundo. Mas em Detroit o movimento foi especialmente perverso. Entre 1970 e 2007, a cidade perdeu 80% de suas fábricas e 78% das lojas de varejo. O êxodo deixou para trás casas desabitadas, edifícios vazios, escritórios desertos, escolas obsoletas e levou à redução cada vez maior da receita de uma prefeitura obrigada a administrar uma área geográfica que não encolheu com a população.
Concordata. O desequilíbrio financeiro foi agravado por alguns governos desastrosos e outros corruptos, que contribuíram para empurrar Detroit à insolvência, com uma dívida de US$ 18 bilhões. No dia 3 de dezembro de 2013, ela se tornou a maior cidade americana a entrar em concordata, dando início a um processo de negociação com credores que será acompanhado de perto por municípios como Chicago e Los Angeles, que enfrentam problemas semelhantes em seus deficitários fundos de pensão.
As estatísticas apresentadas no pedido de concordata revelam uma cidade incapaz de prover serviços básicos aos moradores, imersos em alguns dos piores indicadores sociais dos Estados Unidos. O porcentual de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza é de 36%, mais que o dobro da média de 15,7% do Estado de Michigan. Apenas 12,2% da população concluiu a faculdade, comparado a 25,3% no Estado. O índice de desemprego é de 16,2%, quase dez pontos porcentuais acima dos 7% registrados nacionalmente.
Mas é na estrutura urbana que a decadência se revela a olho nu. O governo estima que há pelo menos 78 mil casas e edifícios vazios na cidade. Números oficiais mostram que 40% dos postes de iluminação não funcionam.
Lembranças. Carl Miller, de 40 anos, mora em um bairro que é o retrato da desolação. Do outro lado de sua calçada, estão os restos mortais de duas casas incendiadas depois de terem sido abandonas. Logo serão demolidas, mesmo destino das que existiam no passado ao seu redor.
"Esse bairro era lindo", lembra Miller, que vive na casa onde sua mãe passou grande parte de sua vida. Na rua, não há nenhum poste de luz público. "À noite não dá para ver nada por aqui." A escuridão e os espaços vazios acobertam usuários de drogas e delinquentes e contribuem para que Detroit seja a mais violenta cidade do país entre as que possuem mais de 200 mil habitantes. A ocorrência de crimes violentos é cinco vezes maior que a média nacional.
A casa ao lado da de Donald Mitchell, de 34 anos, está abandonada. Depois dela, há dois terrenos vazios e mais casas abandonadas. Mitchell vive no mesmo lugar há 25 anos e diz que a situação melhorou um pouco com a destruição de muitas das casas que estavam desocupadas. Mas esse é só o começo do que deve ser um longo processo de recuperação. "As coisas estão melhorando lentamente. Acho que vai demorar de cinco a dez anos para Detroit voltar a ser a grande cidade americana que foi no passado."

Detroit: mais de 78 mil casas e prédios serão postos abaixo

04 de janeiro de 2014 | 22h 29
Cláudia Trevisan, enviada especial de O Estado de S.Paulo
DETROIT - Por um breve período na década de 20, o edifício Book foi o mais alto de Detroit, cidade que tem uma das mais importantes mostras de arquitetura pré-Depressão de 1929 dos Estados Unidos. Hoje, seus 38 andares estão vazios. A alguns quilômetros de distância, fica a estação de trem de Michigan, que serviu a cidade de 1913 até 1988, e atualmente é uma de suas milhares de estruturas abandonadas.

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Por seu porte e relevância histórica, é provável que os dois prédios sobrevivam e encontrem uma nova vocação na onda de recuperação que se esboça na região central de Detroit. Mas dezenas de milhares de casas e edifícios vão desaparecer. A demolição em massa é considerada uma medida necessária para o renascimento da cidade, que deve passar por um processo de downsizing (termo em inglês que define redução de estrutura) para se adequar ao tamanho atual de sua população.
Mas destruir 78 mil locais abandonadas custa dinheiro e demanda tempo. Se cada uma tivesse uma média de quatro moradores, elas seriam suficientes para abrigar toda a população do Guarujá, no litoral de São Paulo. O preço da operação é estimado em US$ 1 bilhão por Matthew Cullen, presidente da Rock Ventures - holding que congrega várias empresas com sede em Detroit, entre as quais a líder americana na concessão de financiamentos imobiliários online.
Metade desse valor poderá vir do orçamento da cidade, nos termos do plano de reestruturação apresentado aos credores pelo interventor Kevin Orr. Outros US$ 150 milhões estão no pacote federal de socorro anunciado em setembro, que tem o valor total de US$ 300 milhões. O restante terá de vir de fundações e da iniciativa privada, que se movimenta para participar do processo, diz Cullen.
A Rock Ventures trabalha no mapeamento de todas as propriedades da cidade, que deverá mostrar quais são irrecuperáveis. Na avaliação do executivo, o ritmo atual de demolições de 3 mil estruturas por ano é demasiado lento. "O problema é que surgem novas a cada ano. É como um câncer que cresce mais rápido do que nós podemos demolir." Cullen e outros empresários de Detroit propõem uma ofensiva que leve à destruição de todas as estruturas irrecuperáveis em três anos.
A Pulte Capital Partners dedica-se a investimentos no setor imobiliário e diz ter sido responsável pela construção de 1 milhão de residências em vários locais do mundo. Mas em Detroit, o presidente da empresa, Bill Pulte, capta recursos para financiar as demolições, estimadas em US$ 10 mil por estrutura.
Pulte levantou US$ 750 mil em doações privadas e está usando os recursos para financiar a destruição de 700 unidades. "Estamos fazendo isso sem fins lucrativos, para nos livrarmos da criminalidade, do entulho e melhorar a qualidade de vida das comunidades", diz ele.
Mas as demolições criam outro problema: o que fazer com os poucos habitantes que permanecem nas casas sobreviventes, para os quais a cidade dificilmente conseguirá prover serviços públicos de maneira eficiente. O ideal seria que a população se concentrasse em áreas viáveis. A questão é como fazer isso, observa o demógrafo Kurt Metzger: "Não há como forçar as pessoas a deixarem suas casas." E desapropriá-las exigiria algo de que a cidade não dispõe: dinheiro.

O renascimento da cidade fantasma

Detroit, berço da indústria automobilística americana, vê suas fábricas abandonadas serem ocupadas por artistas e até pequenos agricultores

21 de janeiro de 2012 | 22h 59
Cleide Silva, enviada especial de O Estado de S. Paulo

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DETROIT - Ao som de uma música frenética, quatro jovens se revezam com agilidade na tarefa de coletar matéria-prima, levá-la ao forno para fundir em um canudo de aço, modelar uma bola incandescente e, enfim, obter uma peça de vidro.
A artista de vidros Kristine Rumman, de 27 anos, é uma das 150 locatárias de um dos ateliês do Centro Industrial Russell, complexo instalado no centro de Detroit, em Michigan, até há algum tempo um dos milhares de prédios abandonados na cidade, castigada pela decadência da indústria automobilística local ao longo das últimas décadas.
O complexo de 2,2 milhões de metros quadrados abrigou uma fábrica de autopeças que montava carros para a Ford e a Chrysler. Foi desativado no fim dos anos 50, quando a empresa faliu. Prestes a ser demolido, foi resgatado em 2003 por US$ 1,5 milhão pelo empresário Dennis Kefallinos, de 57 anos. Ele migrou da Grécia ainda adolescente e seu primeiro emprego foi de lavador de pratos. Hoje, é um grande investidor do setor imobiliário, especializado em comprar prédios abandonados, reformar, dividir em compartimentos e alugá-los a baixo custo.
Conhecida como a cidade dos automóveis, Detroit já foi chamada de cidade fantasma por causa do elevado número de imóveis vazios. Recentemente, um movimento de revitalização, sustentado em parte pela recuperação das montadoras nos últimos dois anos, transforma prédios e casas abandonadas em ateliês de artistas, escritórios, lojas e até hortas comunitárias.
O resultado do movimento que envolve empresários, organizações não governamentais, moradores e governo ainda não é suficiente para reverter a degradação sofrida pela cidade nas últimas décadas. Caminha, porém, para ser impactante na economia local, que segue dependente da indústria de carros.
O mais recente golpe no setor, com corte de produção e empregos, ocorreu na reestruturação promovida por grupos tradicionais como a gigante General Motors para evitar a falência durante a crise internacional de 2008. Com a recente recuperação das vendas, algumas montadoras estão reabrindo fábricas e recontratando. "Vai levar tempo para uma recuperação consistente, mas Detroit ainda é uma cidade de oportunidades", diz Kefallinos.
"Meu trabalho é adquirir prédios mortos e trazê-los de volta à vida", explica o sorridente Kefallinos. Desde os anos 90, ele adquiriu 40 imóveis degradados e os transformou em restaurantes, hotéis, prédios comerciais e residenciais.
"Quando compramos o Russell, não sabíamos o que fazer - até recebermos consultas de interessados em alugar pequenos estúdios", conta Chris Mihailovich, administrador do complexo. Parte do prédio abriga os 150 ateliês de variados artistas, marceneiros, arquitetos, costureiras e designers, que pagam em média US$ 400 a US$ 500 por mês por cem metros quadrados de área, valor que inclui infraestrutura e segurança. "Em dois anos, vamos dobrar o número de ateliês", informa Kefallinos.
Com ajuda de três funcionários, Kristine prepara peças em vidro fundido para uma exposição que fará em junho. "Aluguei o espaço porque é muito flexível", diz a artesã. O acesso às salas do edifício está liberado durante 24 horas, todos os dias da semana.
Outra parte do centro Russell abriga um shopping de pequenos boxes onde são vendidas mercadorias variadas como bolsas, bijuterias, roupas e bebidas. No local ocorre um bazar às sextas-feiras e aos sábados. "Temos 70 lojas no momento, mas o número às vezes é maior", diz Shantell Jackson, gerente da área comercial há um mês e meio.
Sabrina Stovall, ex-bancária de 29 anos e dona da Minas Handbags, fechou uma loja de rua e foi para o shopping há três semanas vender acessórios. "O local é seguro", justifica. O aposentado Larry Thomas, de 57 anos, complementa a renda operando uma franquia de produtos orgânicos da Organo Gold. "Também estamos no Brasil", afirma.
‘Viva em Detroit’. Ao lado do centro Russell está outro prédio ícone de Detroit, onde funcionou a montadora Packard. Em ruínas, continua abandonado.
Um grupo de empresas criou em 2011 o programa "Viva em Detroit" e subsidia para os funcionários a locação ou compra de residências na cidade.
Lideradas pela Quicken Loans, do ramo de hipotecas, as empresas Bleu Cross (seguros), Compuware (tecnologia), DTE Energy (energia), Strategic Staffing Solutions e Urban Science (consultoria) patrocinam a mudança com oferta de US$ 2,5 mil no primeiro ano de locação e US$ 1 mil no segundo. Para a compra da casa, o valor sobe para US$ 20 mil. O empréstimo é perdoado se o funcionário permanecer dois anos no imóvel alugado e cinco no comprado.
Segundo Jennifer Rass, gerente de comunicação da Quicken, o grupo vai investir US$ 4 milhões em cinco anos. O consórcio já adquiriu sete imóveis e tem como alvo seus 16 mil trabalhadores. Só a Quicken tem 119 propostas de interessados em mudar-se.

A campanha da moda, por Janio de Freitas


DE SÃO PAULO
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Quem não discute gosto anda na moda, que é um modo de não ter gosto (próprio, ao menos). Até por solidariedade aos raros que não se entregam à moda eleitoreira de dizer que 2013 foi um horror brasileiro e 2014 será ainda pior, proponho uns poucos dados para variar.
Com franqueza, mais do que a solidariedade, que tem motivo recente, é uma velha convicção o que vê importância em tais dados. Um exemplo ligeiro: todo o falatório em torno de PIB de 1% ou de 2% nada significa diante da queda do desemprego a apenas 4,6%. Menor que o da admirada Alemanha. Em referência ao mesmo novembro (últimos dados disponíveis a respeito), vimos as manchetes consagradoras "EUA têm o menor desemprego em 5 anos: cai de 7,3% para 7%". O índice brasileiro, o menor já registrado aqui, excelência no mundo, não mereceu manchetes, ficou só em uns títulos e textos mixurucas.
Mas o índice não pode ser positivo: "O índice caiu porque mais pessoas deixaram de procurar emprego". Se mais desempregados conseguiam emprego, como provava o índice antes rondando entre 5,6% e 5,2%, restariam, forçosamente, menos ou mais desempregados procurando emprego? PIB horrível, falta de ajuste fiscal, baixa taxa de investimentos, poucas privatizações, coitado do país. E, no entanto, além do emprego, aumento da média salarial, a ponto de criar este retrato do empresariado de São Paulo: a média salarial no Rio ultrapassou a dos paulistas.
A propósito: com as alterações do Bolsa Família pelo Brasil sem Miséria, retiraram-se 22 milhões de pessoas da faixa dita de pobreza extrema. Com o Minha Casa, Minha Vida, já passam de um milhão as moradias entregues, e mais umas 400 mil avançam para a conclusão neste ano. A cinco pessoas por família, são 7 milhões de beneficiados com um teto decente, água e saneamento.
Sobre dados assim e 2014, escreve o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale: "Infelizmente, veremos mais promessas de ampliação do Bolsa Família e do salário mínimo, que, no frigir dos ovos, é o que tende a reeleger a presidente". Da qual, aliás, acha que em 2014 "deverá se apequenar ainda mais". Da mesma linhagem de economistas —a que domina nos meios de comunicação—, Alexandre Schwartsman dá à política que produziu aqueles resultados o qualificativo de "aposta fracassada", porque só deu em "piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo".
"Infelizmente" e "aposta fracassada" para quem? Para os 22 milhões que saíram da pobreza extrema, os 7 milhões que receberam ou receberão um teto em futuro próximo, os milhões que obtiveram emprego, os milhões ainda mais numerosos que tiveram melhoria salarial?
E, claro, ideologia existe só no que se volta para os problemas e possíveis soluções sociais. Quem se põe de costas para o que não interesse à elite financeira e ao poder econômico, não o faz por ideologia, não. Por esporte, talvez.
Foi a esse esporte, quando praticado orquestradamente nos meios de comunicação, que Dilma Rousseff se referiu como uma "guerra psicológica", e gerou equívocos críticos. Não se trata de "expressão antidemocrática", nem própria dos tempos da ditadura. É a denominação, técnica ou científica, como queiram, de métodos de hostilidade não militares, diferentes das campanhas por não serem declarados em sua motivação e seus fins, e buscando enfraquecer o adversário por variados tipos de desgaste.
Não é o caso da pregação tão óbvia no seu propósito de prejudicar eleitoralmente Dilma Rousseff. E prática tão evidente que, já no início de artigo na Folha, o empresário Pedro Luiz Passos definiu-a como "o negativismo que permeia as análises sobre a economia brasileira, em contraste com a percepção de bem-estar especialmente da base da pirâmide de renda". Ou seja, há um negativismo, intenção de concentrar-se no negativo, real ou manipulado, e a desconsideração do que deu à "base da pirâmide" social alguma percepção de bem-estar.
O elemento essencial na existência de uma Nação é o povo. Não é o território, não é o Estado, ambos inexistentes em várias formas de nação ao longo da história e ainda no presente (os curdos, diversos povos nômades, povos indígenas). O PIB e os ajustes feitos ou reivindicados nunca fizeram nada pelos brasileiros que são chamados de povo. A cliente do PIB, dos gastos governamentais baixos e dos juros bem altos são os que compõem a mínima minoria dos que só precisam, para manter o país, do povo.
janio de freitas
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

Estações ferroviárias da antiga rota do 'ouro verde' viram sucata em SP

05/01/2014 - 02h20

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MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
ISABELA PALHARES
DE RIBEIRÃO PRETO

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Antigo símbolo do desenvolvimento paulista, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que já transportou o "ouro verde", como era chamado o café no início do século passado, preserva só resquícios de estações, pontos de parada e trilhos.
As antigas estações praticamente inexistem ou estão, em muitos casos, abandonadas ou servindo de moradia. A malha ferroviária, alternativa possível de transporte no Estado, leva passageiros apenas em trens turísticos, ligando pequenos trechos.
Das 52 estações que existiram entre Campinas, onde começava a Mogiana, e Ribeirão Preto, então capital do café, 17 foram demolidas, nove estão abandonadas e outras nove servem de moradia, algumas em péssimo estado.

As estações ferroviárias no interior de SP

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Silva Junior/ Folhapress
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Estação Barracão, em Ribeirão Preto, que é tombada por órgãos de preservação e está sem uso
Outras 17 são usadas por órgãos públicos e servem como museu, prefeitura, escola ou repartição policial.
A maioria não tem trilhos desde a década de 80 e apresenta mato alto e pichações. Muitas têm vidros quebrados e falta de telhado.
Casa Branca (a 229 km de São Paulo) chegou a ter oito estações. Cinco delas foram demolidas ou abandonadas. Uma serve de moradia e outras duas abrigam uma associação e um órgão público.
"A recuperação [das estações] é um trabalho muito difícil e sabemos que não tem a menor chance de o poder público nos ajudar, porque falta interesse", diz Vanderlei da Silva, gerente da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).
A entidade opera a linha turística de 24 km entre estações de Campinas e Jaguariúna (a 123 km de São Paulo).
Presidente do Instituto da História do Trem, de Ribeirão Preto, Denis William Esteves criticou o que considera falta de interesse da administração pública sobre o caso.
"Ribeirão jogou no lixo sua história, o ano de 1883 [quando a Mogiana chegou] é um marco para a cidade. Foi quando a vocação comercial da cidade nasceu", afirma.
O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), órgão responsável pela preservação de bens históricos no Estado, informou que estuda o tombamento de cinco estações ferroviárias no interior de São Paulo.
05/01/2014 - 03h00

Antiga estação ferroviária central é abrigo para usuários de droga em Bauru

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CAMILA TURTELLI
DE RIBEIRÃO PRETO
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A situação de abandono da memória ferroviária não é uma característica somente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
A cidade de Bauru (329 km de São Paulo), que já abrigou uma das maiores estações ferroviárias do Estado, hoje tem o prédio também abandonado.
Inaugurada em 1939, a Estação Central chegou a contar com três plataformas de embarque. Teve 28 trens, das companhias Paulista, Noroeste e Sorocabana, circulando diariamente para diversos destinos.


05/01/2014 - 03h00

Ex-símbolo do desenvolvimento, Mogiana exibe destruição da memória ferroviária

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MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
ISABELA PALHARES
DE RIBEIRÃO PRETO
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Outrora símbolo do desenvolvimento econômico do interior do Estado, a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro preserva hoje só resquícios de estações, pontos de parada e trilhos.
As antigas estações, surgidas a partir de 1875, praticamente inexistem ou estão, em muitos casos, abandonadas ou servindo de moradia.
A malha ferroviária, se preservada e melhorada, poderia servir para o transporte, mas foi abandonada e praticamente não há passageiros –a não ser alguns trens turísticos, em pequenos trechos.
Das 52 estações que existiram entre Campinas, onde começava a Mogiana, e Ribeirão Preto –então capital do café–, a situação é desoladora, com 17 estações demolidas, nove abandonadas e outras nove servindo de moradia, algumas em estado ruim.

As estações ferroviárias no interior de SP

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Silva Junior/ Folhapress
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Estação Barracão, em Ribeirão Preto, que é tombada por órgãos de preservação e está sem uso
Só 15 são usadas por órgãos públicos –museus, prefeituras, escola ou repartições policiais–, e outras duas abrigam depósito e oficina.
Folha percorreu as antigas estações da Mogiana entre Campinas e Ribeirão. A maioria não tem trilhos desde a década de 80 e é tomada por mato alto, pichações, vidros quebrados e falta de telhado. É o caso da estação Santos Dumont, em Santa Rosa de Viterbo, por exemplo.
"Com bom uso são poucas estações. Geralmente as reformadas são as estações centrais, mas mesmo algumas delas foram demolidas", afirmou o pesquisador ferroviário Ralph Giesbrecht.
Casa Branca é um exemplo: das oito estações que chegou a ter, cinco foram demolidas ou estão abandonadas. Uma é moradia e outras duas abrigam uma associação e um órgão público.
"Encontramos as estações destruídas, invadidas. A recuperação delas é um trabalho difícil e sabemos que não tem chance de o poder público nos ajudar, porque falta interesse", disse Vanderlei Alves da Silva, gerente da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).
A ABPF opera a ferrovia turística de 24 quilômetros entre a estação Anhumas, em Campinas, e Jaguariúna. São das poucas preservadas.
Presidente do Instituto da História do Trem, Denis William Esteves criticou o que considera falta de interesse do poder público e ressaltou o caso de Ribeirão.
"Ribeirão jogou no lixo sua história. O ano de 1883 [chegada da Mogiana] é um marco para a cidade."
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Instituto pede construção de museu ferroviário em Ribeirão Preto

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DE RIBEIRÃO PRETO
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O Instituto História do Trem encaminhou em 2009 um projeto à Prefeitura de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) para a construção de um museu ferroviário com a implantação de um trem para passeios turísticos na cidade.
O instituto chegou a acionar o Ministério Público para estudar o plano de restauração por conta das indefinições da prefeitura.
O projeto depende do estabelecimento de um convênio com a administração municipal para que o governo federal autorize a restauração da estação Barracão, que está fechada, e da linha-tronco da Mogiana, no trecho entre os bairro Ipiranga e Quintino Facci 2, na zona norte.
O projeto, segundo Denis William Esteves, presidente da instituição, seria custeado por patrocinadores. Cinco empresas privadas já teriam demonstrado interesse.
"Como é um patrimônio do governo federal, nós teríamos que ter algum convênio com o poder público para viabilizá-lo. A prefeitura não teria que pagar nem R$ 1 pelo projeto. Não ajuda nem deixa que outras entidades nos ajudem", disse Esteves.
O projeto prevê a recuperação da linha férrea e da estação Barracão. O governo federal analisa o pedido para o fornecimento do trem que atuaria no trecho. A previsão inicial era de que o projeto custasse entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões.
A Prefeitura de Ribeirão informou, por meio de nota, que tem o interesse de firmar o convênio e ainda não o fez porque depende de uma resposta da União e do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) para a concessão temporária do imóvel, que é do governo federal.
Segundo a prefeitura, existe uma ação judicial de inventário dos bens que pode, além de agilizar as conversações, garantir um acervo de peças históricas para o museu.

05/01/2014 - 03h00

Estações de trem no interior podem ser tombadas pelo Estado

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DO ENVIADO A CAMPINAS
DE RIBEIRÃO PRETO
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O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) estuda o tombamento de cinco estações ferroviárias no interior de São Paulo –Araraquara, Barretos, Brodowski, Pirassununga e São Simão.
A abertura dos estudos ocorreu em março de 2009 para a estação de Araraquara e em setembro de 2011, para as estações das outras quatro cidades.
O Condephaat informou que não tem prazo legal para a finalização dos estudos. Mesmo assim as estações já estão protegidas até a decisão final do conselho e qualquer intervenção deve ser previamente aprovada pelo Condephaat, segundo a direção do instituto.
Já existem estações tombadas no interior, como em Ribeirão Preto e em Santa Rita do Passa Quatro.
Os tombamentos nem sempre se limitam às estações. O Conppac (Conselho Municipal de Preservação Artístico Cultural), órgão similar ao estadual, mas com abrangência só em Ribeirão Preto, tenta o tombamento dos trilhos que cortam a cidade.
O conselho aguarda a relação do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) das propriedades onde se encontram os trilhos para que a análise prossiga.
Um dos poucos exemplos de preservação, o trecho turístico entre Campinas e Jaguariúna, operado pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), chega a transportar 2.000 pessoas por dia de operação.
"Nós não temos lucro. O dinheiro da bilheteria é para custear a operação e, quando há excedente, encaminhamos para a oficina de recuperação de trens", disse Vanderlei Alves da Silva, gerente da associação.
A maria-fumaça funciona aos sábados, domingos e feriados. Os passeios são de meio percurso e percurso completo, e custam R$ 50 e R$ 70, respectivamente.
CENÁRIO
Em meio a grandes árvores e com um silêncio típico do campo, mais de uma dezena de vagões bem cuidados e locomotivas estão prontos para iniciar sua viagem pelos trilhos do interior do Estado.
Nem parece que a estação Anhumas, dona do bucólico cenário descrito acima, em Campinas, fica próxima à movimentada rodovia Dom Pedro, que dá acesso a outras vias como a Anhanguera, Bandeirantes e Fernão Dias.
Conservada pela ABPF, ela foi fundada em 1926, tem a sala do chefe da estação e até uma sala de senhora, e marca o início do passeio turístico até Jaguariúna.
A estação, chamada Anhumas Nova, substituiu outra, Anhumas, de 1875 e já demolida.
As estações seguintes da Mogiana, no entanto, são marcadas pelo abandono. Em Santo Antônio de Posse, a estação Posse de Ressaca está fechada e tem problemas de conservação.
Em Estiva Gerbi, há duas estações: a nova abriga uma delegacia de polícia, enquanto a velha não tem telhado e é tomada por mato alto e pichações nas paredes.

05/01/2014 - 03h00

Expansão de cidades transformou linhas férreas em obstáculos no interior de SP

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DE RIBEIRÃO PRETO
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A expansão desenfreada dos municípios fez com que as linhas férreas passassem de impulsionadoras do desenvolvimento econômico do interior de São Paulo a obstáculos ao progresso da vida urbana.
Em 21 cidades do Estado, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) tem projetos e realizou obras para a retirada dos trilhos das áreas urbanas.
Uma delas é São José do Rio Preto, onde um descarrilamento de vagões de cargas causou a morte de oito pessoas no último dia 24 de novembro.O projeto do contorno ferroviário do município ainda está em desenvolvimento e não há previsão para a execução.
Na região de Ribeirão Preto, as obras estão em andamento em duas cidades. Em Araraquara, a obra do contorno ferroviário está atrasada há seis anos.
A obra está em fase final com previsão de entrega para o segundo semestre de 2014.
Já em São Carlos está em execução a transposição de um trecho da linha férrea e há projeto para a transposição de outras áreas no município. Em Matão foi concluída uma obra de transposição.
PASSAGEIROS
Um projeto do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) de 1998 pretendia recuperar linhas férreas ociosas em 11 regiões do Brasil para que fossem utilizadas para o transporte de passageiros. O projeto foi arquivado por falta de interessados.
Cada um dos trechos reativados teria entre 100 e 200 quilômetros de extensão.
"Existe uma demanda na área de transporte coletivo que pode ser muito bem atendida com a ativação desse setor ferroviário ocioso", disse Carlos Malburg, técnico do departamento de mobilidade e desenvolvimento urbano da área de infraestrutura social do BNDES.
O estudo apontou a viabilidade do projeto em linhas férreas do Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e duas no Rio Grande do Sul.
No Estado de São Paulo dois trechos foram estudados: um ligava Campinas a Poços de Caldas (MG) e outro, a zona rural ao centro de Piracicaba.
"Nós tentamos articular com empreendedores a implementação desse projeto, mas não houve interesse", afirmou Malburg.