segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Fenômeno não é acidente


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - O Estado de S.Paulo
A ascensão de Celso Russomanno (PRB) na corrida municipal em São Paulo é um fenômeno, mas não é um acidente. Não tem causa única, nem motivo principal. É uma conjunção de fatores. Vão de sua origem malufista até a ajuda dos adversários, passando por religião, consumismo e desejo de mudança. Tudo misturado no momento certo deu em Russomanno.
Ele é um fenômeno (por ora) porque, pelo retrospecto, teria uma chance em 93 de chegar ao segundo turno. Em 2008, nas eleições das capitais, só um candidato com menos de 50 comerciais por semana conseguiu ficar entre os dois primeiros - e perdeu. A correlação entre tempo de propaganda eleitoral e sucesso nas urnas é tão forte que se deu de barato que Russomanno seria mais um sem-TV a sumir tão rápido quanto apareceu.
Embora a correlação seja estatística, essa assunção é sempre reforçada pelo marketing. Sendo os estrategistas das campanhas quase sempre marqueteiros que produzem os programas para TV, tendem a dar desproporcional importância ao palanque eletrônico e deixar tudo o mais em segundo plano.
É uma jabuticaba eleitoral. Nos EUA, os estrategistas pensam, os marqueteiros executam - para não haver conflito de interesses entre quem aloca o dinheiro e quem se beneficia dessa alocação. No Brasil, o marqueteiro cobra o escanteio e aparece na área para cabecear - às vezes contra o próprio gol. Não fosse assim, os adversários de Russomanno em São Paulo não teriam demorado tanto para acreditar que ele veio para ficar. Com dez dias de campanha na TV, petistas e tucanos ainda acreditavam que se enfrentariam no segundo turno. Só depois de a segunda bateria de pesquisas mostrar que Russomanno não só resistia como ameaçava crescer mais que a ficha caiu.
De onde veio esse fenômeno?
Não haveria Russomanno se o eleitor paulistano não estivesse farto do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e quisesse mudar. O candidato do PRB lidera entre quase todos os segmentos do eleitorado, mas vai especialmente bem entre aqueles que acham o governo do atual prefeito ruim ou péssimo. Russomanno conseguiu personificar o desejo de mudança, mesmo sendo muito conhecido.
Não haveria Russomanno se ele tivesse aparecido agora para a política. O eleitor quer novidade, mas não quer surpresa. E Russomanno orbita o mundo político há 32 anos. Só acha que ele nasceu ontem quem não está prestando atenção. O candidato do PRB veio à luz sob José Maria Marin (atual presidente da CBF), batizou-se sob Paulo Maluf (foi assessor do braço direito e caixa do malufismo, Calim Eid) e crismou-se apadrinhado pelo último vice-presidente do regime militar, Aureliano Chaves.
Comunicador. Não haveria Russomanno se ele não fosse um exímio comunicador. Na mais recente troca de padrinho, deixou o ninho do decadente Maluf para acomodar-se sob o bispado de Edir Macedo na TV Record e no PRB, partido cujo presidente trabalha na Igreja Universal do Reino de Deus e na emissora de TV. No seu "Patrulha do Consumidor", Russomanno usa o que aprendeu apresentando memoráveis bailes de carnaval na Gazeta e o "Aqui Agora" do SBT.
Não haveria Russomanno se ele não caísse no gosto de alguns nichos do eleitorado, como os evangélicos. Eles são donos de quase 30% dos votos paulistanos. Apesar de outros candidatos terem negociado o apoio de seus pastores, bispos e apóstolos, o eleitor evangélico optou majoritariamente por Russomanno - seja porque ele vai bem entre os pobres, onde há mais pentecostais, seja porque o seu discurso "família" lhes cai bem. Ou seja: os líderes evangélicos estão sendo conduzidos por seu rebanho.
Não haveria Russomanno se o Brasil não tivesse sofrido uma explosão do mercado interno e o eleitor não tivesse virado consumidor antes de virar cidadão. Afora Lula, que detonou o processo, nenhum outro político brasileiro compreendeu e soube usar tão bem o consumismo de massa a seu favor. O discurso de defesa dos direitos do consumidor foi adaptado com maestria por Russomanno à política - e de quebra lhe rendeu um cadastro com centenas de milhares de eleitores registrados no seu Inadec.
Não haveria Russomanno se não fossem os adversários. Não só o deixaram em paz até anteontem, como ajudaram ao ponto de lhe arrumar um vice. Tucanos apostando que ele só atrapalharia os petistas e vice-versa. Criaram um clima de disputa tão pesado quanto repetitivo, até saturarem o eleitor com suas picuinhas. A cada vez que José Serra (PSDB) ataca o PT ou o contrário, um eleitor olha Russomanno com mais simpatia - além jogar o rival no colo do candidato do PRB num eventual segundo turno.
E aonde o fenômeno vai chegar? Só o eleitor sabe.

Rede elétrica paulista, José Anibal


O Estado de São Paulo acrescentou quatro novas subestações de grande porte no sistema de transmissão que abastece a rede de distribuição de energia elétrica em 2012. Juntas, Piratininga II, Salto, Jandira e Itatiba totalizam o montante de 3,6 mil MVA de potência instalada, beneficiando uma população equivalente a 6 milhões de pessoas, um recorde para os últimos 20 anos.
As realizações não param por aí: está prevista para este ano - possivelmente ainda para setembro - a energização da subestação Atibaia, com potência de adicionais 400 MVA. Com investimentos próximos a R$ 450 milhões, todas essas novas subestações visam dar confiabilidade ao serviço de transmissão de energia e aumentar a flexibilidade operacional.
Mais do que isso, permitem a ampliação da malha elétrica e, assim, o atendimento ao crescente consumo de energia, impulsionado pela força da economia paulista e pelo aumento da renda per capita dos seus moradores.
Desde a implementação da Secretaria de Energia, no início de 2011, nossa equipe vem trabalhando firmemente nos desafios de fazer cumprir os planos de obra definidos para o Estado e que vinham sofrendo atrasos sistemáticos. Neste sentido, estamos trabalhando no planejamento de longo prazo para o atendimento elétrico aos grandes centros urbanos, já que eles respondem por 80% do consumo.
Outra importante medida adotada nesse período foi o avanço da implantação do Eletroanel, conexão de terminais que possibilita a transferência de carga entre as subestações que abastecem a região metropolitana de São Paulo. Essa ação não aumenta a potência instalada, mas dá uma enorme flexibilidade e segurança à rede. 
O Eletroanel permite o reestabelecimento da energia elétrica para os consumidores, em caso de emergência, de forma automática ou instantânea.
A Secretaria de Energia acompanha de perto as obras em andamento e participa ativamente de grupos de trabalho que estudam a necessidade de novas fontes ou de reforços na rede de energia, sempre em busca de melhorias no sistema. Recentemente, por exemplo, um desses levantamentos foi finalizado e recomendou a implantação de duas novas substações no litoral paulista, uma na Praia Grande e outra na região do Guarujá.
Vale ressaltar que boa parte da geração dessa energia consumida no estado provém da nossa Companhia Energética de São Paulo (CESP), que foi constituída com o esforço e o empenho de todo o povo paulista. 
Os investimentos feitos na empresa ao longo de todas essas décadas deram o suporte necessário para viabilizar o desenvolvimento do nosso estado. A CESP tem hoje seis usinas, que somadas têm potência instalada de 7.455 MWh, 61% da energia de São Paulo e 11,5% do Brasil. Trata-se de um grande patrimônio, que orgulha a todos nós.
Por tudo isso, podemos afirmar com tranquilidade que a rede elétrica paulista está cada vez mais segura e confiável. Nosso compromisso é garantir que seja entregue um serviço com qualidade à população e às empresas.

domingo, 9 de setembro de 2012

Brigas judiciais atrasam obras de norte a sul do País


RENÉE PEREIRA - O Estado de S.Paulo
Da conturbada Altamira, no Pará, passando pela pequena Piancó, no sertão da Paraíba, até a florida Joinville, em Santa Catarina, são mais de 5 mil quilômetros de distância. Cada uma está localizada numa região do País. Tem características físicas, culturais e econômicas distintas. Nos últimos tempos, porém, conviveram com um mesmo dilema: a dificuldade para conseguir tirar um investimento do papel.
Os problemas variam de impactos em aldeias indígenas, mudança no visual da região, espécies em extinção até pegadas de dinossauros. Independentemente da queixa, tudo vira briga judicial ou embargo nos órgãos ambientais - fato que explica, em parte, por que os investimentos não decolam no País. "É o chamado custo Brasil. Quanto maior o risco de judicialização, mais o investidor se afasta", avalia a economista Elena Landau.
As ações judiciais, embora reflitam o direito da democracia, podem atrasar e encarecer uma obra essencial para a população. A Hidrelétrica de Belo Monte, na região de Altamira, é um ícone de como pode ser árdua a missão de levantar um empreendimento no País. Depois de 35 anos de muitas idas e vindas, a terceira maior usina do mundo foi autorizada. Começou a ser erguida em junho de 2011 e já passou por quatro paradas, que somam 35 dias.
A última delas foi decorrente de uma ação judicial, que deixou 14 mil trabalhadores (diretos e indiretos) parados. A liminar foi cassada cinco dias depois. Mas a usina, de R$ 26 bilhões, não está imune a novas decisões. Outros 14 processos em andamento na Justiça podem parar a hidrelétrica (11.233 MW) a qualquer momento. Além do licenciamento ambiental, as ações questionam convênios feitos pelo grupo Eletrobrás e a postura do servidor do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) que aceitou o estudo de impacto ambiental.
A Hidrelétrica de Teles Pires, entre Mato Grosso e Pará, que já foi paralisada por decisão judicial, segue o mesmo caminho: tem 12 ações em andamento na Justiça contra as obras. "O Judiciário, às vezes, confunde o princípio da precaução com paralisação. Em qualquer questionamento para tudo", diz o advogado Floriano de Azevedo Marques Neto, do escritório Manesco, Ramirez, Perez, Azevedo Marques.
Para ele, o resultado pode ser a inviabilidade do investimento, o atraso e o aumento do custo do projeto. Os empreendedores, normalmente, embutem nos preços das obras todos esses riscos. "Mas, às vezes, a realidade extrapola as provisões feitas", completa o advogado Fernando Marcondes, da L.O. Batista. Por esse motivo, muitos investidores não aceitam entrar num negócio com taxa baixa de retorno.
No último pacote de concessão, lançado no mês passado, o governo calculou uma taxa de cerca de 6% como adequada para os projetos de rodovias e ferrovias, uma vez que a Selic (taxa básica de juros) está no menor nível da história - 7,5% ao ano. Mas os riscos de uma obra de infraestrutura vão muito além dos juros. No meio do caminho, podem surgir espécies raras, como a rã de 2 centímetros que parou o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, ou pegadas de dinossauros.
Foi o que ocorreu com a pavimentação e construção das BRs 426 e 434, no sertão da Paraíba, incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em julho, o Ministério Público Federal conseguiu suspender as obras para proteger sítios arqueológicos existentes. Segundo a ação judicial, foram destruídos "2,5 quilômetros de rochas riquíssimas em materiais paleontológicos, algumas com registros de pegadas de dinossauros".
O procurador da República Bruno Barros de Assunção afirma que o MPF não é contra a obra, mas argumenta que precisa ser feita de forma responsável e com acompanhamento técnico. Nesse caso, o projeto está sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura Rodoviária (Dnit), que ainda não conseguiu retomar as obras, consideradas de relevância social por causa das dificuldades do sertanejo para se locomover até grandes centros urbanos.
A BR-426, que vai ligar as cidades de Piancó e Santana dos Garrotes, começou a ser construída no fim de 2008; a BR-434, de Uiraúna a Poço Dantas, em 2010. Embora sejam pequenas, as obras não têm horizonte para serem concluídas. "Paralisar uma obra não é como dar um 'pause' num filme. Há mudanças de custos da matéria-prima e no tempo de mobilização do canteiro de obras. Na retomada, às vezes o empreendedor tem de voltar uma fase de construção", diz Eduardo Damião Gonçalves, sócio do escritório Mattos Filho, especialista na área ambiental.
Na Hidrelétrica de Cubatão, em Joinville (SC), as obras ainda não foram iniciadas, mas os prejuízos não são menores. A usina, de 50 MW, foi concedida em 1996 e chegou a ter as licenças prévia e de instalação, cassadas em seguida. "Durante esse tempo, não houve forma para tirar o projeto do papel. A saída foi mudar o projeto", diz José Antunes Sobrinho, vice-presidente da Engevix, sócia da usina.
Segundo ele, embora esteja numa área de mata reflorestada e não afete espécies em extinção, a usina será subterrânea para não prejudicar o visual da região, uma das críticas da ONGs contrárias a obra. Serão 8 km de túneis e 3 km² de lago. Além de um novo licenciamento, o empreendedor terá de resolver outra questão essencial para a viabilidade da obra: negociar a extensão da concessão da usina, já que se passou metade do prazo sem ter gerado um único MW.