quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Entrevista: Gilberto Meirelles - Mercado de reciclados


Entrevista: Gilberto Meirelles - Mercado de reciclados


Apesar de leis que exigem prioridade ao agregado reciclado em obras públicas e privadas, falta de estímulo ao consumo e de regulamentação nos preços inibem desenvolvimento do mercado


Por Luis Ricardo Bérgamo

Marcelo Scandaroli
"Uma recicladora é viável apenas se tiver matéria-prima de excelente qualidade. Para haver coerência, o agregado reciclado deveria ser mais caro que o natural, o que forçaria a redução do valor da destinação"

Segundo levantamento da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), são produzidos 100 milhões de toneladas de entulho de construção por ano. Estima-se que 5% dessa soma é entulho não mapeado. Dessa quantidade, em avaliação otimista, menos de 10% é reciclada em usinas móveis ou fixas.
Obras de grande porte em geral contratam serviços de reciclagem no local e, assim, eliminam gastos com transporte. Já em obras menores costuma compensar mais separar os resíduos por tipo e enviar o material para a empresa recicladora. Na entrevista a seguir, o presidente da Abrecon Gilberto Meirelles traça um cenário do mercado de reciclagem e aponta as principais dificuldades para a ampliação dessa prática nas obras.
Qual o panorama atual do mercado de reciclagem de Resíduos da Construção Civil (RCC)?
Os Sindicatos da Indústria da Construção (Sinduscons) e os governos atuam de forma estratégica, porém perigosa para o setor que a Abrecon representa, pois fomentam a implementação de novas usinas. Para as construtoras, isso significa preços menores, pois há mais locais para destinar os resíduos; para as prefeituras, significa o atendimento à resolução 307/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Porém, não se vê consumo desse material e nem perspectiva de aumento de preço do agregado reciclado, o que levaria ao equilíbrio financeiro em médio prazo. Afinal, uma recicladora é viável apenas se tiver matéria-prima de excelente qualidade e com predominância de concreto. Então, para haver coerência, o agregado reciclado deveria ser mais caro que o natural, o que forçaria a redução do valor da destinação.
Nesse contexto, qual o papel das construtoras?
Se elas querem reduzir o preço pago pela destinação do entulho, deveriam se esforçar mais para consumir [o agregado reciclado]. Da mesma forma, as prefeituras, que são responsáveis pela fiscalização da destinação do entulho, também deveriam consumir.
O que incentivaria o aumento do consumo de agregados reciclados?
O Estado de São Paulo tem uma capacidade instalada para reciclagem de Resíduos da Construção Civil (RCC) da ordem de 800 mil t mensais. Entretanto, são comercializadas cerca de 200 mil t por mês. Desse levantamento, realizado pela Abrecon no início de 2012, concluímos que a iniciativa privada está preparada para atender grande parte da demanda por agregado reciclado. Bastaria haver a exigência de consumo de agregado reciclado na proporção de 30% em todas as obras, públicas e privadas, que a equação estaria resolvida para o Brasil. Com uma ponta compradora forte, o entulho passa a ter valor e não mais seria depositado de forma clandestina.
Se existem leis prevendo preferência no uso de agregado reciclado, por que as construtoras não estão comprando maiores volumes?
A distância de leis e decretos para a realidade é enorme. Na prática, a legislação não é devidamente regulamentada ou fiscalizada. É comum ouvir de mestres de obras ou engenheiros a seguinte frase: "usar agregado reciclado dá trabalho". É essencial entender o ciclo da construção civil e seus impactos quando olhamos os itens areia, pedrisco, pedra, rachão e bica corrida, desde sua origem nos portos de areia e pedreiras até sua destinação final, pois soma-se à redução do custo das obras o ganho de minimizar passivos ambientais futuros.
Quais as lacunas das normas que regulamentam o setor, como a resolução do Conama?
As leis que existem podem ser aprimoradas. Por ser um setor novo, existem muitas lacunas e, a meu ver, o foco deveria estar em fazer acontecer o que existe hoje e, paralelamente, aprimorar a legislação. A Resolução Conama foi um marco importante, funcionou como uma cenoura que se coloca para que os empresários e o poder público nas esferas estaduais e municipais corram atrás. Mas o mercado não tinha esse apetite na época. Sete anos depois, após praticamente nada ter sido feito, o PNRS trouxe um novo sabor, tornando o setor um pouco mais apetitoso.
Qual foi o diferencial do PNRS?
Certamente foram os prazos claros para a realização dos Planos Integrados de Gerenciamento de Resíduos em 2012 por parte dos municípios, além da meta de que, até 2014, todo resíduo passível de ser reciclado não seja mais destinado a aterro para deposição final. O que assusta é a qualidade desses planos e a dúvida sobre quem está capacitado para avaliar sua exequibilidade, além da questão da origem e destino dos recursos.
Como o poder público pode interferir no setor empresarial para estimular a reciclagem e reutilização de materiais?
Tanto o Governo Federal quando os Estaduais e Municipais poderiam incentivar a cadeia da reciclagem na construção civil obrigando seus contratantes a utilizarem o agregado reciclado, por meio de editais e licitações. De acordo com a Resolução Conama 307/2002, todo resíduo inerte deve, obrigatoriamente, ser enviado a uma usina de reciclagem de resíduos da construção ou aterro de inertes.
USINAS DE RECICLAGEM DE RCC NO BRASIL

Fonte: Abrecon: 23/03/2012


Da caçamba da obra à nova utilização, qual o caminho do resíduo da construção?
Tudo se inicia na extração mineral, pois os agregados reciclados são minérios. Uma vez aplicados nas obras, em algum momento futuro servirão de matéria-prima para reciclagem. Entre o gerador (construtoras) e o destino final (aterro), temos as figuras do transportador e do reciclador. Para que o produto volte à construção civil, precisamos identificar transportadores idôneos e que cumpram as leis, fazendo com que o material chegue às recicladoras e desta forma feche a cadeia de valor do produto.
Quais os pontos críticos desse processo?
Transformar "lixo" em produto com valor é tarefa dificílima e que exige conhecimento profundo da atividade. Poucas empresas têm essa expertise. A triagem é o ponto chefe do processo e está presente em todas as fases: separação na geração, gestão da coleta, gestão no aterro e na área de reciclagem.
Quais erros comuns as construtoras cometem na destinação de resíduos?
Contratam planos de gerenciamento de resíduos, porém não os monitoram de forma eficaz. Assim, cumprem exigências burocráticas, mas não se preocupam em rastrear os resíduos que geram. Por outro lado, o poder público, que deveria fiscalizar a destinação ilegal, pouco consegue fazer. Tal deficiência fez surgir no mercado uma nova modalidade de serviços, que denomino de gestão operacional de resíduos. Ou seja, empresas gerenciadoras que garantem a execução desses planos de gerenciamento.
Qual a previsão da Abrecon para crescimento das empresas recicladoras?
Estimamos que até 2014 sejam mais de 600 usinas de médio porte, com produção de 5 mil t/mês, o que significa quadruplicar a produção atual. Para viabilizar uma recicladora sem subsídios, temos de observar o volume gerado pelo município e o desenvolvimento econômico da região. Depois, analisar a qualidade do resíduo que chega à recicladora. Com esses dois fatores entendidos - quantidade e qualidade - podemos saber se a usina é viável ou não. Cidades abaixo de 100 mil habitantes terão muita dificuldade em se estabelecer com usinas privadas. Acima de 300 mil habitantes, é viável uma usina se houver fiscalização, se a qualidade do entulho for adequada e se houver consumo constante.
É possível estimar valores para o agregado reciclado?
A conta é simples. Para que uma usina de porte médio, na faixa de 4.500 t/mês, tenha sustentabilidade econômica, é preciso praticar um valor médio de R$ 40,00 por tonelada. A experiência de mercado demonstra que 40% desse valor deve ser a receita pelo recebimento do resíduo e os 60% restantes vêm da venda de agregado reciclado. Pensar em uma usina de reciclagem de RCC sem o mix de receitas é uma aventura empresarial, salvo se garantidos materiais em quantidade e qualidade satisfatórias e sua compra a R$ 40,00 t na usina.
Como o conceito de logística reversa pode facilitar o retorno dos resíduos às obras na forma de agregados?
Temos diversos exemplos de empresas que contrataram serviços de reciclagem, levando entulho para a unidade de beneficiamento e, no mesmo caminhão, transportando de volta para a obra o produto reciclado. Com isso, é possível reduzir 3.500 t/ano de CO² em uma usina média e ainda contribuir para a mobilidade urbana ao diminuir o número de caminhões e a distância percorrida por eles.
É possível dizer que a logística é o que mais encarece o processo de reciclagem? Os postos de reciclagem são afastados dos centros das cidades?
Não necessariamente. Além dos pontos de descarte de entulho, oficializados pela prefeitura, há empreendimentos chamados Áreas de Transbordo e Triagem (ATTs), onde geralmente os resíduos são selecionados e destinados aos recicladores, tais como usinas de reciclagem de entulho e cooperativas de coleta seletiva. Porém, além de uma estrutura inteligente de coleta, a atividade deve ser comparada em termos de distância com pedreiras e portos de areia que, estes sim, estão cada vez mais distantes dos centros urbanos. Nossa vantagem competitiva quanto à localização é enorme e a dificuldade maior está em identificar áreas licenciadas ou licenciáveis.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Brasil entra pela primeira vez no ranking dos 50 países mais competitivos


Beatriz Bulla, da Agência Estado
SÃO PAULO - Pela primeira vez, o Brasil entrou para o ranking dos 50 países mais competitivos no Relatório Global de Competitividade, divulgado nesta quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial. Para chegar à 48ª posição desta edição do ranking, o País subiu cinco lugares desde o ano passado.
No topo do ranking, pelo quarto ano consecutivo, está a Suíça. Cingapura ficou em segundo lugar, seguido por Finlândia, Suécia, Holanda e Alemanha. Já os Estados Unidos caíram da quinta posição que ocupavam em 2011 para o sétimo lugar. Em oitavo, nono e décimo lugares ficaram Reino Unido, Hong Kong e Japão, respectivamente.
De acordo com o responsável pela análise dos dados brasileiros, Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, o ranking foi afetado pela incerteza crescente por conta da crise na Europa, da vulnerabilidade norte-americana e da desaceleração da China. A Fundação coordena a coleta e a análise de dados brasileiros.
Avaliação brasileira
A melhor avaliação sobre a macroeconomia nacional ajudou a puxar o País para a lista dos 50 mais competitivos. Este ano, o Brasil subiu 53 posições no critério "ambiente macroeconômico", saindo da 115ª colocação em 2011 para a 62ª. O salto, segundo a Fundação Dom Cabral, pode ser consequência da exclusão do indicador "spread bancário" do estudo deste ano. O indicador costuma ser "problemático" para o País, de acordo com a fundação, mas foi retirado da análise de 2012 por ser considerado ineficiente para comparar o grau de eficiência bancária nos diversos países.
Arruda explica que as medidas tomadas pelo governo Dilma Rousseff de redução da taxa básica de juros e consequente na queda dos juros bancários teriam impacto positivo para a colocação do País no ranking, mas não conseguiriam fazer com que o "ambiente macroeconômico" subisse tantas posições.
Além da macroeconomia, o "uso de tecnologias de informação e comunicação" também ajudou a tornar o País mais competitivo, de acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial. O indicador sobre "sofisticação dos negócios", apesar de ter caído dois pontos de 2011 para 2012, ainda é positivo - o Brasil ficou em 33º lugar.
Do outro lado, os níveis de "confiança nos políticos" e "eficiência das políticas de governo" colocam o País em 121ª e 111ª posição, respectivamente. O Brasil também fica mal posicionado na avaliação da "qualidade da infraestrutura de transportes" (79ª posição), da "qualidade da educação" (116ª posição) e do "volume de taxação como limitador ao trabalho e investimentos" (144ª posição). No pilar "inovação", o Brasil caiu da 44ª para 49ª posição. O resultado, avalia Arruda, está ligado à falta de mão de obra qualificada.
O relatório é feito com dados estatísticos nacionais e internacionais, além de pesquisa de opinião feita com executivos. Em 2012, o estudo analisou a competitividade de 144 países.

Ficha Limpa, Voto Limpo, por Arnaldo Jardim


Está chegando a hora de decidirmos o futuro das nossas cidades. Por meio do voto, vamos escolher qual o candidato (a) vereador (a) que merece a nossa confiança para fiscalizar o Executivo, e o candidato (a) prefeito (a) com o melhor perfil para administrar o município,  solucionar problemas estruturais e garantir a qualidade dos serviços públicos de saúde, educação, transporte e segurança.
A eleição deveria ser um momento de prestação de contas, de debates sobre soluções a serem adotadas para tornar a cidade mais habitável, justa e sustentável do ponto de vista econômico e ambiental. A cada eleição, a sociedade fica cada vez mais consciente da necessidade da escolha de candidatos comprometidos com o interesse público, com a ética na política.
A mobilização popular tem sido um dos pilares para consolidação da democracia no Brasil por eleições livres, limpas e sem a prevalência do poder econômico. A Lei da Ficha Limpa é fruto dessa vontade que, definitivamente incorporada a partir dessas eleições, impede que condenados por órgãos colegiados possam disputar cargos eletivos.
A lei, que surgiu de uma iniciativa popular em 2010 e recebeu o apoio de mais de 1,3 milhões de pessoas, torna inelegível por oitos anos quem for cassado ou renunciar para evitar a perda do mandato. Na Câmara dos Deputados, a proposta foi subscrita por um reduzido número de parlamentares e eu tive esta honra de apoia-la. A Ficha Limpa foi fruto da pressão social e acabou sendo aprovada pela maioria dos parlamentares. A Lei da Ficha Limpa enseja o Voto Limpo, que significa a opção pelo candidato comprometido com uma plataforma democrática de governança local para assegurar a eficácia da gestão pública.
O Voto Limpo garante a transparência e a ética pelo estímulo à participação da população nos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Cultura, Educação, Saúde e de Transportes. É cobrar dos candidatos a prefeito compromisso com a “Plataforma Cidades Sustentáveis”(http://www.cidadesustentaveis.org.br), um plano de metas para os quatro anos de gestão voltado para ações de consumo responsável, melhoria da mobilidade urbana, educação, cultura e planejamento das cidades.
Impõe aos candidatos a vereador compromisso com a elaboração do plano municipal de resíduos sólidos, proposta que faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos; o apoio à coleta seletiva do lixo urbano; a educação ambiental;  o equipamento de prédios públicos para economizar energia elétrica; a construção sustentável; a elaboração do Plano Municipal de Saneamento e a implantação de programa para reduzir o consumo de água tratada (http://www.sosma.org.br/projeto/plataforma-ambiental/plataforma-ambiental-para-o-brasil/).
O Voto Limpo exige ainda dos candidatos a prefeito e vereador ações voltadas ao empreendedorismo como prioridade de gestão; a difusão de projetos de inclusão digital (acesso a internet de banda larga e equipamentos); de compensação tributária para quem mantém taxas e impostos municipais em dia; o IPTU ambiental; a ampliação do tempo de permanência do aluno nas escolas e as parcerias entre as Policias Militar e Civil para aumentar a segurança pública e intensificar programas de combate às drogas como ideias iniciais para esta “plataforma municipal”.
A escolha daqueles que irão nos representar no Executivo e nas Câmaras Municipais é uma oportunidade para mudar o rumo das cidades nos próximos quatros anos, daí a necessidade de levarmos em conta o passado e o compromisso dos candidatos que é assumido durante a campanha eleitoral.
O debate de ideias e propostas no período que antecede as eleições deve ir além das questões imediatas e discutir o futuro das cidades pelo caminho da sustentabilidade e da qualidade de vida da população. O voto é uma ação política e por isso deve ser pensado e refletido para que possa garantir a transparência e a ética na administração pública.
Mais do que fiscalizar e propor, no caso do Legislativo, e de ser o “gerente da máquina pública”, função do Executivo, os eleitos em 7 de outubro devem unificar e liderar a cidade com responsabilidade para planejar o seu futuro com sustentabilidade e qualidade de vida.