Em "Janela Indiscreta", filme de Alfred Hitchcock, de 1954, James Stewart, perna engessada até à virilha, está limitado a observar o mundo por sua janela. E, das janelas do prédio em frente, saem os retalhos da vida de seus vizinhos. Como a romântica quarentona que, todas as noites, põe uma sedutora mesa para dois ---louça, pratas, guardanapos, luz de velas, uma flor. Mais tarde, ele a vê toda feliz, conversando com o homem que, supõe-se, está sentado à sua frente, de costas para a janela. Mas esse homem não existe. Só em imaginação. De repente, ela explode e chora. E, vencida, dorme sobre a mesa.
O japonês Akihiko Kondo, 33 anos, administrador de uma escola em Tóquio, não quis correr esse risco. Ao saber que uma empresa chamada Gatebox poderia criar-lhe uma mulher-robô —um holograma, capaz de interações envolvendo emoções e sentimentos— com que poderia "casar-se" e conviver, viu nisto sua realização. Até então, todas as suas tentativas de relação com mulheres de verdade haviam fracassado. E ele tinha muito, muito amor a dar. Ele o daria a Hatsune, sua esposa-holograma. Ela o amaria de volta, e os dois seriam felizes. Foram.
O perigo de uma experiência como esta é que ela dispensa o sujeito de enfrentar o mundo, vencer ou não suas deficiências e ser um adulto na vida. Uma esposa-holograma é como uma boneca inflável, só que ela é virtual. A diferença é que, quando a boneca fura e faz fssssss, é só jogá-la fora e comprar outra igual. Mas, com uma esposa-holograma, não é assim. Ela fala, ouve e "sente" como nenhuma outra. Não haveria duas como Hatsune.
E se, sem aviso prévio, por razões de mercado ou normas, a dita Gatebox, responsável pela manutenção da robô, resolver desativá-la? De repente, ela fará pfffttt e sairá do ar, para nunca mais. O que teremos então? Um inconsolável viúvo hologrâmico. Foi o que aconteceu com Akihiko Kondo. Bem-feito.
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