Nos anos 1970 e 1980, Paris era o meu quintal. A qualquer hora do dia eu flanava pela cidade. À noite, com um anorak preto para passar desapercebida, não chamar atenção. Naquele tempo, só quem morava na rua era o clochard que precisava da cidade como cenário permanente –inclusive no inverno. O clochard não era um excluído, ele se excluía voluntariamente.
Hoje, há muitos moradores de rua, e a desigualdade social é flagrante. Não é mais possível flanar como antigamente por isso e também porque o ciclismo se tornou um meio privilegiado de transporte sem ser devidamente regulamentado. O risco de ser atropelado por uma bicicleta é grande.
Tudo mudou. As ruas sinuosas do Marais, onde eu me radiquei, em 1989, eram vazias, e eu andava por elas para descobrir o meu bairro e saber do passado. Ora visitar uma mansão do século 17, ora sentar-me num jardim.
No square Georges–Cain, escrevi o primeiro capítulo de "O que é o amor", um livro que se impôs quando eu concebi o meu filho. Com o menino no ventre, o amor se tornou o meu tema.
O square foi criado no começo do século 20 em cima de um jardim do século 13. Fica ao lado do museu consagrado à história de Paris, Carnavalet, e dá para a rua Payenne através de uma grade. Serve de depósito do museu. Nas paredes que o delimitam e nos cantos, há peças arqueológicas que remetem à história de Paris, como o frontão do palácio do Jardin des Tuileries, que, depois de ter sido a residência de vários reis, foi incendiado no século 19 pela comuna.
No centro do square e no meio de um canteiro de flores, há uma estátua de Aristide Maillol, uma jovem nua que segura um cachecol nas costas. O nome da estátua é Île de France, região onde Paris se encontra. Por que a região é representada assim? Talvez pelo fato de a parisiense –que frequentemente usa um cachecol– também simbolizar a França.
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