Na década de 1990 a vida já não estava tão dura para Toninho Geraes, em sua terceira tentativa de deixar Belo Horizonte e se estabelecer no Rio como compositor e cantor de samba. Não trabalhava como flanelinha nem dormia na rua, dissabores de sua primeira estadia na cidade, ao fugir de casa, com um violão embaixo do braço, aos 16 anos. Gravara uma participação na coletânea "Na Aba do Pagode" e seu nome artístico, dado por Zeca Pagodinho em substituição a Toninho Ribeiro, era conhecido no Cacique de Ramos.
Mesmo assim, o dinheiro não chegava para o aluguel. Resolveu pegar o violão —não mais aquele da adolescência, que havia sido levado pela polícia— e compor "a música da minha vida". Não saiu nada. Até ele abrir uma gaveta e encontrar fotos de antigas namoradas: "Caramba, já tive mulheres de todas as cores!".
"Mulheres" foi o carro-chefe do CD "Tá Delícia, Tá Gostoso" (1995), de Martinho da Vila, que vendeu mais de um milhão e meio de cópias. Apesar do enorme sucesso, algumas mulheres não gostaram. Em 2019, o grupo Samba que Elas Querem lançou uma paródia feminista da canção: "Mulheres cabeça/ E muito equilibradas/ Ninguém tá confusa/ Não te perguntei nada".
Pois agora, dois anos e meio após tornar pública sua acusação de plágio contra Adele, Toninho processou a cantora britânica. Ele afirma que a melodia de "Million Years Ago" é igual à de "Mulheres" e pede R$ 1 milhão de indenização. Fãs brasileiros de Adele correram às mídias para perguntar ironicamente "quem é Toninho Geraes?".
Pode-se responder que ele é da mesma terra de Ary Barroso, Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Noite Ilustrada. São tantos os bambas mineiros que se instala mais uma polêmica: o samba não só teria surgido na Bahia e no Rio como também nas Alterosas. Sofisticado e popular, o autor de "Mulheres" —que está longe de ser a sua melhor obra— é hoje a alma das rodas cariocas.
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