Por acaso em Buenos Aires na semana das eleições na Argentina, tive vários déjà-vus diante da vitória de Javier Milei. Por mais que seu adversário Sergio Massa fosse um desastre, era óbvio que, ao votar em Milei, os argentinos não sabiam o que estavam fazendo. Nós sabemos. Do seu tipo de político, já tivemos no Brasil três devastadoras amostras: Jânio Quadros (1961), Fernando Collor (1990) e Jair Bolsonaro (2019).
Assim como estes, Milei se promove como um antipolítico, caído do céu para fazer uma faxina. Cada qual com seu gimmick: Jânio tinha uma vassoura como símbolo, Collor disparava contra os "marajás" e Bolsonaro se fazia de vestal. Milei se exibe com uma motosserra. E cada qual tinha um estilo da comunicação: Janio falava pelos "bilhetinhos", Collor, pela televisão, e Bolsonaro, pelas redes sociais. Talvez Milei use seu falecido cachorro como boneco de ventríloquo.
Assim como os três, que prometiam mudar tudo, Milei vem aí com um projeto de lei com 351 páginas e 664 artigos. Os três eram liberais ou se faziam de. Milei é ultra e quer privatizar tudo. Mas, se acabar com o Estado, o que lhe restará para administrar?
A diferença é que Milei é economista e se diz entendedor de finanças. Jânio, Collor e Bolsonaro só entendiam das próprias finanças. Jânio, Collor e Bolsonaro começaram dando uma banana para os políticos com quem conviviam. Milei também não quer saber dessa gente e, assim como os nossos, vai tentar governar por decreto. Como suas medidas serão rejeitadas pelo Congresso, apelará para plebiscitos marotos.
E todos visaram ao autoritarismo, mas perderam. Jânio blefou com a renúncia e se deu mal, Collor foi impichado e Bolsonaro só não caiu porque tinha os PGRs na coleira. Há quem dê um ano para Milei.
Jânio, Collor e Bolsonaro, um de cada vez, eram o pior dos mundos. Com Milei, a Argentina pode ter o pior dos três mundos de uma vez.
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