terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Influenciadores digitais nas páginas policiais, Rosana Hermann , FSP

 Muitos nomes entraram nos noticiários, não por seus conteúdos relevantes, mas por possíveis envolvimentos em ações criminais

Mel Maia foi uma das influenciadores que divulgou a plataforma de jogos de azar Blaze - AgNews

Nos últimos dias os nomes de muitos influenciadores entraram nos noticiários, não por seus conteúdos relevantes ou conquistas pessoais, mas por possíveis envolvimentos em ações criminais.

O grande acontecimento foi a denúncia do Fantástico sobre os jogos de azar que estão sendo investigados pela Polícia Federal e que pagam quantias altíssimas para que esses influenciadores divulguem seus produtos que lesam usuários, como o 'Jogo do Tigrinho' e 'Jogo do aviãozinho'.

Depois do programa de domingo à noite, muitos dos influenciadores destacados sairam correndo para rescindir contratos com a empresa Blaze, em modo 'barata voa'. O Fantástico incluiu em sua reportagem nomes muito conhecidos como Mel Maia, Viih Tube, Jon Vlogs, Juju Salimeni, Rico Melquíades. Mas a lista é bem maior, tem muita gente ganhando rios de dinheiro, cifras absurdas como um milhão de reais por mês. Imagine o quanto a empresa lucra e o quanto de dinheiro os usuários desses joguinhos perdem.

No Pará, na operação "Truque de Mestre", foram feitos doze mandados de prisão temporária em condomínios de luxo e casa de prostituição em Belém. Uma das influenciadoras teria movimentado vinte e três milhões de reais em dois meses nesses cassinos online, além de estar ligada a um esquema de lavagem de dinheiro através de uma casa de prostituição.

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Mas as denúncias vão além dos cassinos online. Outro destaque nas notícias criminais foi o influenciador fitness e fisiculturista Renato Cariani, que tem mais de sete milhões de seguidores só no Instagram e que foi indiciado pela Polícia Federal por associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Ele alega inocência.

A pergunta que nos vem à mente diante desses fatos é por que tantos influenciadores brasileiros estão agindo de forma criminosa? Como pode ter tanta gente disposta a cometer ilegalidades? Seria uma epidemia de falta de caráter?

Uma das possíveis respostas é estatística. O Brasil tem cerca de meio milhão de influenciadores, segundo o Brazilian Report, que coloca nessa categoria os perfis com mais de dez mil seguidores que usam suam conta para fazer publicidade. É muita gente. E, com uma amostragem tão grande, faz sentido encontrar tanta gente disposta a cometer ilícitos e enganar seguidores de forma remota em nome do lucro fácil.

Esse mesmo artigo diz que os "influenciadores digitais moldam o consumo brasileiro mais do que em qualquer outro lugar" do mundo, mais do que na China, inclusive. Quase metade dos consumidores escolhem marcas e produtos com base no endosso de celebridades online. E, diante da possibilidade de ganhar em um único story ou post o equivalente a dezenas de salários mínimos, muita gente aceita fazer coisas suspeitas ou ilegais. Anos e anos de pensamentos condenáveis como 'pagando bem, que mal tem?' incutidos em nossa cultura, mais a facilidade e imediatismo dessas ações e pagamentos podem ter resultado nesse cenário lamentável.

É tudo muito triste, mas ainda temos aquele fio de esperança que vem com o final de cada ano. Quem sabe em 2024, alguns dos produtores de más influências melhorem. Ou, quem sabe, a gente tome vergonha na cara e pare de seguir todos eles.

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