domingo, 17 de dezembro de 2023

Hélio Schwartsman A imaginação no poder fsp

 São as ideias que movem o mundo. Essa é a tese central de Felipe Fernández-Armesto em "Out of Our Minds", livro em que ele se propõe a fazer uma história dessas ideias. O resultado é bastante interessante, mas, antes de entrar nos meandros, convém enfrentar algumas preliminares.

"Out of Our Minds" é mais um exemplar de "big history", a tentativa de explicar ou pelo menos organizar grandes nacos da história recorrendo a alguns poucos princípios ordenadores, quase sempre de base multidisciplinar. Se você pensou em "Armas, Germes e Aço", de Jared Diamond, é isso mesmo. O pessoal das humanidades pode pelo menos se regozijar com o fato de que Fernández-Armesto não vai buscar as explicações últimas em forças físicas como as da geografia, mas no que há de mais tipicamente humano, que é imaginar coisas, isto é, criar representações mentais, e tentar colocá-las em prática.

A ilustração de Annette Schwartsman mostra, sob um fundo escuro, o planeta Terra sendo movido por um balão composto por lâmpadas, representando ideias - Annette Schwartsman

Vale observar que uma ideia não precisa estar certa ou ser boa para tornar-se influente, do que dão prova os muitos regimes autoritários que brotaram de ideologias. E há um detalhe irônico. Confiamos muito em nossas memórias, que são péssimas em termos de acuidade. Cada vez que lembramos de algo, modificamos essa memória, o que acaba funcionando como uma formidável força criativa. Operamos com poucas ideias realmente originais, mas que são continuamente recicladas.

Com isso, Fernández-Armesto nos põe a passear pela história, começando com ideias bem antigas, como a de enterrar os mortos, que está na base de religiões, até as teses de filósofos, economistas e cientistas modernos. Ao fazê-lo, ele produz muitos insights estimulantes, além de transmitir uma boa quantidade de informações valiosas.

Fernández-Armesto não esconde sua visão de mundo, que é mais conservadora e religiosa do que a minha. Mas isso não chega nem perto de ser um problema, já que o propósito do livro é nos fazer pensar por nós mesmos.

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