Aos 99 anos, o mundo perdeu Robert Solow, economista norte-americano laureado com o Prêmio Nobel em 1987. Na aula magna celebratória da sua conquista, Solow situou sua pesquisa ao longo da década de 1950 como um produto intelectual da Grande Depressão –e dos esforços que se seguiram a ela para tentar entender as condições capazes de sustentar crescimento econômico de longo de prazo.
Nos anos 1930 e 1940, os economistas Roy Harrod e Evsey Domar estavam debruçados sobre essa pergunta. Concluíram que uma economia só cresceria a uma taxa constante se a sua taxa de poupança –uma constante, ancorada em preferências individuais– fosse igual ao produto da relação entre capital e produto –uma constante tecnológica– e da taxa de crescimento populacional –outra constante, de natureza demográfica e cultural. Como uma relação de igualdade entre constantes só ocorreria por um grande acaso, esse equilíbrio frágil (de "fio de navalha") levaria a ciclos permanentes, alternando períodos de crescimento desenfreado –caracterizados por escassez de trabalhadores– com outros de crise acentuada –caracterizados por desemprego em massa.
Solow relatava um incômodo com essa lógica: "Uma expedição de Marte recém-chegada à Terra que tivesse lido essa literatura esperaria encontrar os destroços de um capitalismo dilacerado há tempos. [...] Contudo, crescimento sustentado –mesmo que perturbado por esses ciclos– não era uma raridade".
Seu trabalho seminal foi um modelo matemático que não pressupunha uma relação constante entre capital e nível de produção. Concretamente, pense numa fábrica na qual trabalhadores são responsáveis por processos totalmente manuais. Quando essa fábrica introduz as primeiras máquinas, experimenta enormes aumentos de produção, na medida em que essas máquinas permitem substituir os trabalhadores menos produtivos naquelas funções. Conforme mais e mais máquinas são introduzidas, contudo, os ganhos de produção são cada vez menores –seja porque os trabalhadores que permanecem são mais efetivos do que os que saíram antes naquelas funções, seja porque certas funções não podem ser substituídas por aquelas máquinas. Transportando a lógica dessa fábrica para o agregado, o modelo de Solow previa que uma economia com pouco capital tenderia a crescer mais rápido que outra com muito capital, para um dado nível de poupança e crescimento populacional, convergindo para uma trajetória de crescimento estável –fundamentalmente diferente daquela descrita por ciclos constantes.
Solow enfatizava que seu trabalho não se tratava de atribuir menor importância às flutuações de curto prazo, nem sobre a primazia de sua abordagem matemática de equilíbrio sobre outras. Mergulhado nessas e em outras controvérsias ao longo das décadas que se seguiram, o fato é que sua inovação metodológica abriu as portas para uma série de outras contribuições que modificaram fundamentalmente a Histórica da ciência do crescimento econômico.
Nos anos 1960, David Cass e Tjalling Koopmans se livraram de uma outra constante do modelo –a taxa de poupança, que passou a ser resultado de decisões individuais de alocação de recursos ao longo do tempo–, para dar ainda mais riqueza às dinâmicas previstas pelo modelo. Foi somente nos anos 1990 que Gregory Mankiw, David Romer e David Weil estenderam o modelo de Solow para que ele incorporasse também capital humano, ampliando sua capacidade de explicar diferenças de trajetórias de crescimento entre países.
Solow também inovou no que diz respeito ao uso dos dados, quando as estatísticas nacionais ainda estavam em sua fase infante. Em artigo de 1957, analisando a correlação entre as trajetórias do PIB per capita e do estoque de capital dos EUA ao longo das quatro décadas anteriores, Solow documentou que mais de 85% do crescimento do país teria sido devido a inovações tecnológicas –a capacidade de combinar as mesmas quantidades de capital e trabalho de formas cada vez mais produtivas.
As implicações de seu modelo, sobretudo a de que países com menor estoque de capital deveriam crescer mais rapidamente que os demais (dentre aqueles com taxas de poupança e crescimento populacional similares) continuam sendo testadas até hoje. Em estudo de 2021, Michael Kremer (Prêmio Nobel de 2019), Jack Willis e Yang You documentaram que, nos últimos vinte anos, países com menos capital de fato cresceram mais rápido (mesmo sem condicionar a comparação a economias similares; convergência absoluta!) –em linha com as previsões mais audaciosas do modelo de Solow.
Para além de seu legado como pesquisador, Solow foi também um grande professor. Foi contratado pelo MIT em 1949, onde permaneceu até sua aposentadoria, em 1995. Muitos de seus alunos, como Peter Diamond, Joseph Stiglitz e George Akerlof, também foram laureados com o prêmio Nobel nas décadas seguintes.
Professor de Educação da Universidade de Stanford e PhD em Economia Política e Governo pela Universidade de Harvard.
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