Há exatamente um ano, no dia 29 de dezembro de 2022, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, nos deixava.
Símbolo máximo da excelência no futebol. Eleito o atleta do século 20. Campeão de três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970). Perto de 1.300 gols na carreira. Venerado aqui e lá fora.
O maior responsável pelo respeito que a seleção brasileira ganhou no planeta dificilmente imaginaria que os 12 meses seguintes à sua morte fossem de tamanha penúria para os selecionados nacionais.
O Rei do Futebol, do lugar onde está desde que partiu (eu acredito em vida após a morte), viu um dos piores anos, quiçá o pior, de desempenho do Brasil no esporte que o consagrou.
O país foi relegado ao papel de coadjuvante, de figurante, de desempolgante. De plebeu.
Sem rumo desde a Copa do Mundo do Qatar, a seleção brasileira principal teve não um, mas dois treinadores interinos em 2023. Primeiro, Ramon Menezes. Depois, Fernando Diniz, que continua no posto.
Ramon, o tampão no primeiro semestre, disputou três amistosos com africanos. Perdeu dois (Marrocos e Senegal), ganhou um (Guiné) e voltou para a seleção sub-20.
Diniz, possivelmente o melhor treinador em atividade no Brasil, assumiu para acumular duas vitórias, um empate e três derrotas (consecutivas, nas três partidas mais recentes), sempre em confrontos das Eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2026.
Superando Bolívia (com goleada) e Peru (1 a 0, no finalzinho), tropeçando em casa na Venezuela (1 a 1) e perdendo de Uruguai (2 a 0), Colômbia (2 a 1, de virada) e Argentina (1 a 0 no Maracanã), o Brasil fecha o ano em um vergonhoso sexto lugar na tabela que tem dez concorrentes –no limite da qualificação para o Mundial.
Em metade da partida contra os uruguaios, e também diante de colombianos e argentinos, a seleção não teve Neymar, lesionado no joelho. Aos que não gostam do camisa 10 (que um dia carregou Pelé no colo, na época de Santos, em encontro entre os dois), se parecia ruim com ele, ficou muito pior sem ele.
Passemos à seleção feminina, que chegou à Copa do Mundo da Oceania com algum favoritismo.
Marta (em sua última Copa) e companhia, treinadas pela afamada sueca Pia Sundhage, depois de golearem o Panamá (4 a 0) e perderem da França (2 a 1), precisavam só passar pela inexpressiva Jamaica para ir aos mata-matas.
Com uma atuação sofrível, sem articulação nas jogadas e aparentemente sem brio, o time amargou um 0 a 0 e a eliminação precoce. Infelizmente, memorável. (Na final, deu Espanha.)
Passemos à seleção sub-20, aquela treinada por Ramon, na disputa do Mundial na Argentina.
Cinco vezes campeão, o Brasil tentava o título para se igualar aos maiores vencedores, os argentinos, anfitriões do torneio.
Na fase de grupos, derrota para a Itália e vitórias sobre República Dominicana e Nigéria. Nas oitavas de final, goleada contra a Tunísia (4 a 1).
Nas quartas de final, pela frente, a inexpressividade de Israel (antes da guerra). Deveria ser moleza, mas a zebra prevaleceu: 3 a 2 para os israelenses, na prorrogação. (Na final, deu Uruguai.)
Passemos à seleção sub-17, na disputa do Mundial da Indonésia.
Quatro vezes campeão, o Brasil defendia o título obtido em 2019, quando atuou em casa e teve como destaques Kaio Jorge e Gabriel Veron. Caso uma nova conquista viesse, o país se igualaria à Nigéria como o maior vencedor da competição.
Na primeira fase, derrota para o Irã e vitórias diante da Nova Caledônia e Inglaterra. Nas oitavas de final, um 3 a 1 no Equador.
E então, como aconteceu com o time sub-20, veio a queda nas quartas de final, um contundente 3 a 0 para a arquirrival Argentina. Fim da linha para a equipe do treinador Phelipe Leal. (Na final, deu Alemanha.)
Ou seja, nos principais campeonatos disputados, as seleções brasileiras nem sequer flertaram com a chegada à decisão. Foi decepção atrás de decepção.
Algum leitor se lembrará de que o Brasil teve sim uma conquista em 2023, o ouro no Pan-Americano do Chile, com a seleção sub-23, também comandada por Ramon.
Em um Pan que ninguém sabe, ninguém viu, foi uma vitória sofrida, nos pênaltis, contra os anfitriões chilenos na partida final.
A verdade é que historicamente dá-se pouco valor ao título do futebol no Pan, diferentemente de um triunfo em Olimpíadas. Assim, esse ouro ameniza pouco ou outros reveses. Soa como prêmio de consolação.
Ademais, não só em termos de seleções o Brasil ficou devendo no ano que está para terminar.
O Fluminense, ressalte-se, teve uma conquista espetacular ao faturar pela primeira vez a Libertadores, comandado pelo mesmo Fernando Diniz que se dividia entre o clube e a seleção brasileira.
Mas no Mundial, que é o campeonato em que os clubes sul-americanos podem medir forças com os europeus, o tricolor carioca perdeu feio na final na Arábia Saudita: 4 a 0 para o Manchester City, levando o primeiro gol com menos de um minuto de jogo. Foi um massacre.
Individualmente (que foi como Pelé mais brilhou), 2023 também não deixará saudades para o Brasil.
A cada ano são entregues dois prêmios para o melhor jogador da temporada, ambos de grande prestígio: a Bola de Ouro (da revista France Football) e o The Best (da Fifa).
Na lista de indicados para concorrer aos troféus, um único brasileiro: Vinicius Junior, e apenas para a Bola de Ouro, que já foi entregue e teve o argentino Messi como ganhador.
O The Best, cuja cerimônia será realizada em janeiro, deve ir para o norueguês Haaland.
Na Bola de Ouro feminina, conquistada pela espanhola Aitana Bonmatí (com 266 pontos na votação), a brasileira que concorria, Debinha, ficou em 28º lugar (1 ponto). Não houve indicadas do Brasil para o The Best feminino.
Ou seja, a fase brasuca não é boa. Tanto que o principal, talvez único, destaque do ano nem joga na linha. Méritos para o goleiro Ederson, campeão inglês, europeu e mundial com o Manchester City.
Para um país que ofereceu inúmeros expoentes que faziam maravilhas com a bola nos pés, é motivo de reflexão um atleta que se destaca mais pelo uso das mãos ser o único merecedor de enaltecimento.
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