Um dos melhores romances do ano não entrou, salvo erro, nas listas de melhores romances do ano organizadas por críticos literários, jornalistas culturais, leitores apaixonados e, não por último, os infalíveis influencers, hoje consultados para tudo.
A obra ausente é "Vida ao Vivo", cuja inclusão entre os dez mais importantes romances brasileiros de 2023 seria uma ação normal e legítima. Ao mesmo tempo, seria uma surpresa. É que seu autor, Ivan Angelo, desde que começou a publicar ficção, em 1961, com o volume de contos "Duas Faces", em parceria com Silviano Santiago, destaca-se por uma abordagem que o diferencia de toda a literatura produzida entre nós. Aos 87 anos, sem pressa e alheio à autopromoção, é difícil classificá-lo em rótulos e modismos, os quais costumam determinar o elenco das listas.
Como em outros títulos de Ivan Angelo –"A Festa", "A Casa de Vidro", "Amor?"–, "Vida ao Vivo" está marcado pela alteridade. Um empresário de televisão à beira da morte interrompe a estreia da novela das nove e surge na tela, usando um fular bordô, para contar sua vida e a fixação por uma mulher que só conhece de uma única fotografia. Durante 18 noites, 30 milhões de pessoas vão se ligar na confissão —que é um passeio pela história recente do Brasil–, dialogando com o personagem pelas redes sociais.
Também como em outras obras do autor, é um exercício de invenção formal, em que o prazer da leitura se sustenta no humor e na ironia, na trama com reviravoltas e construída em suspense até a última linha. O segredo é o estilo de Ivan Angelo, impecável em sua naturalidade, o que levou um crítico a dizer que tal mestria poderia ser até um defeito se todos os escritores escrevessem tão bem.
As listas o esqueceram, mas quem conhece o riscado, não. "Saiu livro novo do Ivan Angelo, cuja relevância só não é maior que sua modéstia e mineiridade", tuitou Marçal Aquino.
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