O fim do ano deu notícias animadoras para a economia e é ocasião de lembrar algumas outras, que se confirmaram ao longo deste 2023. Dão alguma esperança de que o PIB de 2024 não seja tão mais fraco, se não fizermos besteira.
Não quer dizer que o país esteja se virando do avesso, que a economia passe a crescer bem mais rápido e de modo duradouro —quanto a isso, o desânimo ainda é grande, por causa de doenças crônicas. Mas as melhoras podem nos ajudar a enfim sair do grande trauma da década passada, da Grande Recessão de 2014-2016 e das trevas de 2019-2022. Quais as notícias, não necessariamente pela ordem de importância?
Primeiro, a conversa sobre taxas de juros nos Estados Unidos mudou rapidamente e para melhor, depois de idas e vindas nervosas durante este ano todo, com implicações até agora ruins para o Brasil. A taxa básica de juros americana pode começar a cair mesmo em março.
Taxas menores por lá tornam possíveis taxas menores aqui —não é determinante, não é uma relação direta e depende também da política econômica brasileira e do restante da conjuntura mundial, da China em particular. Mas, em tese, é boa notícia para juros e, talvez, câmbio e inflação no Brasil.
Como resultado, enfim as taxas básicas de juros mais longo prazo no Brasil (maiores que dois anos) enfim ficaram abaixo de onde estavam no começo de agosto, quando a Selic começou a baixar.
Segundo, o governo conseguiu aprovar boa parte do pacote de impostos de Fernando Haddad. Tudo mais constante, significa déficit um pouco menor nas contas federais de 2024. Se a arrecadação recorrente melhorar e em março não se fizer mais besteira com a meta de déficit primário (oficialmente zero), pode ser mais um empurrãozinho para baixo nas horríveis taxas de juros brasileiras.
Terceiro, confirmou-se um ano de saldo excepcional no comércio exterior (exportações maiores do que importações), por causa do aumento da quantidade de vendas de petróleo e grãos. As importações estão meio deprimidas, pois o investimento produtivo anda muito mal das pernas. O saldo não deve ser tão grande em 2024, mas o aumento duradouro do volume de vendas pode ajudar a termos, no curto prazo (até dois anos), aumento de consumo doméstico e investimento sem problemas maiores.
Quarto, foi possível reduzir a inflação sem perda maior de PIB. A economia esfria. Deve passar por uns três trimestres de quase estagnação (até meados do ano que vem). A recuperação depende do avanço de investimentos produtivos, que depende por sua vez de juros, conjunturas políticas e econômicas e de insondáveis ânimos empresariais —talvez, agora, dependa até da definição de alíquotas dos novos impostos de consumo (mas isso é apenas uma especulação razoável). Tem uma incerteza aí, mas houve queda de inflação com algum aumento de emprego. Quaisquer que tenham sido os motivos (em debate), melhor assim.
Quinto, foi aprovada a reforma tributária. A implementação vai levar entre meia e uma década. Pode haver malandragens na regulamentação, que piorem o teor da mudança. A reforma foi em parte desfigurada no Congresso, em particular no Senado, que distribuiu favores a setores empresariais e regiões: atraso, iniquidade, ineficiência. Ainda assim, é enorme avanço. O efeito imediato é difuso e leve, mas a administração econômica do país vai ficar menos incompetente: já é uma melhora de imagem. Outras reformas microeconômicas foram aprovadas, em particular no crédito.
Há ameaças no horizonte, pois ano de eleição propicia besteira e o Congresso e até o governo têm no gatilho um monte de projetos de avacalhar o gasto e fazer favores a empresas e estados amigos. Mas, para variar, no espírito de festas, vamos ficar no melhorzinho.
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