Uma antiga brincadeira-desafio entre cariocas metidos a sabichões consistia em citar as estações dos ramais ferroviários. Perdia quem pulasse ou esquecesse um nome.
De um lado, Praça da Bandeira, São Cristóvão, Maracanã, Mangueira, São Francisco Xavier, Rocha, Riachuelo, Sampaio, Engenho Novo, Méier, Engenho de Dentro, Piedade, Quintino, Cascadura, Madureira, Oswaldo Cruz, Bento Ribeiro... De outro, Triagem, Jacarezinho, Del Castilho, Cintra Vidal, Tomás Coelho, Cavalcante, Magno, Rocha Miranda, Honório Gurgel, Barros Filho, Costa Barros, Pavuna... De outro ainda, Manguinhos, Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Penha Circular, Brás de Pina, Cordovil, Lucas, Vigário Geral... Muitas dessas estações foram desativadas e só existem na memória de um tempo mais eficiente.
Todo o transporte ferroviário do Rio –inaugurado em 1854, com a Estrada de Ferro Dom Pedro 2º– está em colapso. Acionista majoritária da Supervia, a empresa japonesa Mitsui informou ao governo do estado não ter mais interesse em prosseguir com o negócio. Alega que as contas não fecham e só tem caixa para operar até agosto.
Controlado pelo setor privado desde 1998, o sistema —com 103 estações e cinco ramais— já mudou de dono três vezes, mantendo o histórico de práticas demofóbicas. Os trens transportam cerca de 350 mil passageiros (chegaram a levar 1,2 milhão de pessoas nos anos 1980, antes da privatização), que se queixam da superlotação e dos atrasos diários, mesmo pagando uma das tarifas mais caras do país (R$ 7,40), a qual em parte é subsidiada pelo estado.
O governador Cláudio Castro reconhece que "o serviço é péssimo", mas não sabe como resolver o impasse. Nem mesmo tem um plano para manter os trens em circulação. Em março, a CCR Barcas também anunciou que ia interromper a operação. Fez um acordo e recebeu R$ 750 milhões. A chantagem da Supervia pode acabar da mesma maneira.
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